Olá, amigos cultos, ocultos e associados! Hoje o TM apresenta a vocês o primeiro LP-solo de um artista completo (cantor, compositor, ator), que interpretava o samba de maneira particular e bem-humorada: Nadinho da Ilha. Com o nome de batismo de Aguinaldo Caldeira, nosso focalizado de hoje veio ao mundo no dia 11 de junho de 1934, no Rio de Janeiro. Seu apelido não era referência à Ilha do Governador, como muitos imaginam, mas à Ilha dos Velhacos, comunidade situada na Muda, subdistrito da Tijuca. Tinha 1,90m de altura, estatura pra lá de alta, e por isso mesmo foi diversas vezes comparado a Monsueto, com quem tinha impressionante semelhança física. Intérprete da linhagem dos cantores negros de voz encorpada, como Jamelão, Abílio Martins e, claro, o próprio Monsueto, ia da nota alta à mais baixa com muita facilidade. Nosso Nadinho começou na música muito cedo, sob influência familiar, uma vez que era sobrinho de nada mais nada menos que Nilo Chagas, que integrou o Trio de Ouro, liderado por Herivelto Martins, nas duas primeiras fases (com Dalva de Oliveira e, mais tarde, com Noemi Cavalcanti). Criado no Morro do Borel, lá mesmo na Tijuca, aos 12 anos foi levado pelo mítico Geraldo Pereira para tocar tamborim em seu programa de rádio. O contato com os sambas sincopados do mestre Geraldo ajudou o pequeno Nadinho a desenvolver um apurado senso rítmico. Ainda jovem , atuou como cantor no grupo de Heitor dos Prazeres, ao lado de outros nomes ilustres do samba, caso de Mestre Marçal, ingressando, logo em seguida, na ala de compositores da Escola Unidos da Tijuca. Antes de viver de música, trabalhava também como soldador elétrico e serralheiro na White Martins. Além do possante vozeirão, Nadinho da Ilha tinha outras qualidades que o tornaram um artista versatilíssimo, como eloquência, marcante presença de palco, elegância e suingue. E logo seria convidado para trabalhar como ator e humorista no teatro e na televisão. Atuou nos espetáculos teatrais “Deus lhe pague”, de Procópio Ferreira, e “´Ópera do malandro”, de Chico Buarque. Na TV , participou da “Buzina do Chacrinha”, na Globo, dos humorísticos “Balança mas não cai” (também na Globo) e “Cabaré do Barata” (Manchete), este último ao lado de Agildo Ribeiro, além do especial infantil “Tem criança no samba”, dirigido por Augusto César Vannucci para a Rede Globo. No cinema, atuou no filme ‘Loucuras cariocas”, de Carlos Imperial. Nadinho da Ilha teve sua primeira oportunidade fonográfica em 1971, quando participou do LP coletivo “Quem samba fica… Adelzon Alves mete bronca e a moçada do samba dá o recado”, interpretando as faixas “Caminhante solitário” e ‘Lapa”. Dois anos mais tarde, vem o primeiro compacto simples, com as músicas “Baianeiro” e “É o mal de muita gente”. Lançou quatro álbuns-solo (entre eles “Cabeça feita”, de 1977, considerado verdadeira obra-prima) e inúmeros compactos, além de participar de inúmeros projetos coletivos. Fez shows também ao lado de outros bambas do sambas, tais como Beth Carvalho, D. Ivone Lara, Monarco e Délcio Carvalho. Pois é justamente o primeiro álbum-solo de Nadinho da Ilha que o TM oferece com a mais grata satisfação a vocês hoje: é “O samba serestou”, lançado pela EMI-Odeon em 1975. Produzido para a Odeon pelo “cracão” Adelzon Alves, e com arranjos dos maestros Nelsinho e Luiz Roberto, este último violonista e contrabaixista, é um trabalho primoroso, com Nadinho mostrando o seu lado intérprete em todas as dez faixas, assinado por nomes respeitáveis, como Mano Décio da Viola (“Obsessão”), as duplas Délcio Carvalho-Avarese (“O maior show da terra”) e Maurício Tapajós-Mauro Duarte (“Sacrifício”) e Zinco (“Neuza”). Da discografia de Nadinho como cantor-solo ainda fazem parte os álbuns “O samba bem-humorado de Nadinho da Ilha (1995) e “Meu amigo Geraldo Pereira” (2009), uma homenagem a seu mestre e mentor, que acabaria sendo seu último trabalho em disco, pois, a 4 de agosto desse ano, ele faleceria, de complicações com diabetes e um câncer no abdômen. Enfim, apresentando este primeiro álbum-solo de Nadinho da Ilha, o TM presta uma merecida homenagem a um dos maiores sambistas que o Brasil já teve.
*Texto de Samuel Machado Filho