Arquivo da categoria: Selo Som da Gente
Hermeto Pascoal – Por Diferentes Caminhos (1989)
“Todo blog que se preza precisa ter estampado em suas listas discos do Hermeto Pascoal”, já escreveu o amigo Augusto, administrador do Toque Musical. E, não por acaso, o TM já postou alguns trabalhos do chamado “bruxo dos sons”. Aí vai, portanto, mais um álbum do mestre Hermeto para nossos amigos cultos e ocultos: “Por diferentes caminhos”, lançado em 1989 pela Som da Gente em LP duplo. Trata-se do primeiro (e até agora único) disco de piano-solo do músico alagoano. E, em dezesseis faixas, Hermeto apresenta um repertório não apenas de composições próprias (“Bebê”, “Macia”, “Pixitotinha”) como também de outros autores, que executa à sua maneira (“Rosa”, “Amanhã”, “Eu e a brisa”, o tango “Nostalgias”). E tudo com excelente qualidade técnica (o disco foi gravado em sistema digital), mais a espantosa habilidade de Hermeto ao piano, que dispensa quaisquer comentários. Em suma, um trabalho primoroso em tudo, digno de ser conferido. Afinal de contas, Hermeto Pascoal é um músico nota mil!
*Texto de Samuel Machado Filho
O Som Brasileiro Do Bamerindus (1981)
Em 1929, ano de grave crise financeira mundial, o empresário e político Avelino Antônio Vieira resolveu fundar uma empresa bancária na cidade paranense de Tomazina, em sociedade com amigos: o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná, incorporado, em 1944, ao Banco Comercial do Paraná, do qual Avelino tronou-se diretor comercial. Em 1951, Avelino Vieira comprou o Banco Meridional da Produção, que tinha apenas quatro agências, mudando seu nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná, que ficaria conhecido pela sigla Bamerindus. Tanto que, em abril de 1971, a empresa passou a ser Banco Bamerindus do Brasil S.A., e tornou-se uma das maiores instituições do setor na América do Sul durante os anos 1970/80. Quem não se lembra do jingle “O tempo passa, o tempo voa, e a Poupança Bamerindus continua numa boa”? Ou então da série de minidocumentários “Gente que faz”, patrocinada pelo banco e veiculada em horário nobre da televisão, que teve 230 episódios, e foi até premiada? Entretanto, nos anos 90, o Bamerindus entrou em dificuldades financeiras e acabou liquidado pelo Banco Central, sendo parte de seu espólio incorporada pelo HSBC, de capital britânico (mais tarde, o HSBC é quem deixaria o Brasil, sendo suas agências incorporadas pelo Bradesco, processo esse ainda não concluído quando da elaboração desta resenha). Agora, o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados um raríssimo álbum oferecido como brinde aos clientes do extinto banco da família Andrade Vieira. É “O som brasileiro do Bamerindus”, produzido como parte da campanha “Integração”, criada pela agência de publicidade Umuarama, e lançada em 1981 nas emissoras de rádio de todo o Brasil, aproveitando regionalismos e outras características próprias de determinadas cidades e estados. O objetivo era mostrar a proximidade do Bamerindus com a cultura local, e o presente álbum se enquadra nele perfeitamente. Nessa época, o principal garoto-propaganda do banco (e também seu cliente) era o eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que participa com duas faixas, a de abertura (“O homem da terra”, que foi até jingle do Bamerindus) e a de encerramento (“Erosão”), tendo na sanfona, em ambas, o não menos eterno Dominguinhos. São, ao todo, dez faixas, com arranjos de Luiz Arruda Paes, Nélson Ayres, Heraldo do Monte e Luiz Roberto, e ainda contando com as participações especiais do acordeonista Oswaldinho e do regional de Evandro. A capa dupla é muitíssimo bem ilustrada, e tem um ótimo texto de apresentação do pesquisador e jornalista Zuza Homem de Mello, que nessa época também apresentava o programa “Com música nas veias”, na Rádio Jovem Pan AM de São Paulo. Este foi também um dos primeiros lançamentos (se não o primeiro) da gravadora Som da Gente, criada pelo casal de músicos Walter Santos e Tereza Souza (autores, por sinal, de todas as faixas deste álbum que o TM hoje oferece), e até hoje referência obrigatória quando se fala em produção musical independente. Enfim, um trabalho primoroso, de qualidade, sob medida para quem aprecia o que há de melhor em nossa música popular.
homem da terra
para sempre
natal
homem de palavra
vinte e cinco anos
um grande abraço
amanhã, com certeza
viver a vida
essas coisas simples
erosão
*Texto de Samuel Machado Filho
Hugo Fattoruso – Oriental (1991)
Nelson Ayres – Mantiqueira (1981)
Taí mais um ótimo disco de música instrumental brasileira. Nelson Ayres reuniu-se com mais onze instrumentistas geniais para criar um trabalho que pela capa já indica se tratar de uma obra arte. E realmente o disco é impecável. São sete faixas inspiradas nas reminiscências de Nelson Ayres, as lembranças de sua infância na região da serra da Mantiqueira.
A música instrumental, no Brasil, sempre teve uma certa dificuldade para chegar a um público mais amplo (não é exatamente o caso deste álbum). Sua difusão, talvez, não aconteça por culpa dos próprios músicos que insistem em repetir velhos e importados formatos, se mantendo distantes da realidade brasileira. Quando existem afinidades, a aceitação acontece de forma natural. O povo canta, solfeja, batuca, assovia e faz a festa.