Hoje, o TM oferece a seus amigos cultos e ocultos um LP que a RCA (selo Camden) lançou em 1962, reunindo doze sucessos de um dos maiores expoentes da MPB nos primórdios da era do rádio. Estamos falando de Gastão Formenti. Foi em Guaratinguetá, SP, no dia 24 de junho de 1894, que ele veio ao mundo, filho do italiano Cesare Alessandro Formenti, pintor, decorador e cantor lírico amador, e da escultora Sara Formenti. Aos nove anos de idade, começou a estudar pintura com seu pai, artista decorador de mansões e igrejas, e com Pedro Strina. Em 1895, a família se transfere para São Paulo. Gastão fez o primário na Escola Fiorette Fondacari, na capital bandeirante, e o secundário no Ginásio São Bento, no Rio de Janeiro, para onde sua família se mudou em 1910. Nessa ocasião, passa a trabalhar na firma do pai, pintando vitrais, frisos e painéis. Em sua casa tudo era propício à arte, inclusive ao bel-canto. Em 1927, já casado com Otília de Oliveira, em visita à pioneira Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, de surpresa, surge uma oportunidade para nosso Gastão cantar. A aprovação dos ouvintes determinaria o início de sua carreira. Logo em seguida, vem a ser um dos primeiros cantores a serem contratados pela Odeon, na nova fase da gravação elétrica. Em novembro de 1927, a “marca do templo” lança o primeiro disco de Gastão Formenti, apresentando a canção sertaneja “Anoitecer” e o tango sertanejo “Cabocla apaixonada”. Foi o pontapé inicial para inúmeros sucessos, sempre permanecendo no primeiro patamar da admiração e do respeito do público: “Tutu Marambá”, “Casa de caboclo”, “Sussuarana”, “Nhá Maria”, “Nhapopé”, “Boca pintada”, “Lua branca”, “Glória”, “Sabiá mimoso”, “Maringá”, “De papo pro á”, “Zíngara”, “Joia falsa”, “Boi bumbá”, “Cobra grande”, “Samba da saudade”, “Jangadeiro do Norte”, “Retalhos d’alma”, “Moleque sarará”, “Eternamente”, “Folhas ao vento”, “Maria Fulô” e outros mais, além dos incluídos no presente álbum. No rádio, atuou na Mayrink Veiga e na Transmissora, ambas do Rio. Talvez seja o intérprete de mais técnica que tivemos, sem, todavia, deixar de lado a emoção. Em 1941, Gastão Formenti praticamente encerra a carreira, que sempre conduziu mais pelo amor à arte. Seria, daí por diante, somente o pintor de quadros a óleo, que nunca deixou de ser, de talento consagrado por vários prêmios. Voltaria ao disco em ocasiões esporádicas, inclusive lançando, em 1959, pela RCA Victor, seu único LP-solo, “Quadros musicais”, no qual regravou alguns de seus maiores sucessos, ainda com a mesma voz de antes. Após esse vinil, Formenti retirou-se definitivamente da vida musical, e faleceria em 28 de maio de 1974, no Rio de Janeiro, um mês antes de completar 80 anos de idade. Em 78 rpm, Gastão Formenti registrou um total de 153 discos com 299 músicas. Este álbum oferecido hoje pelo TM, com o orgulho e a satisfação costumeiros (postagem, aliás, solicitada pessoalmente por este vosso resenhista), tem doze preciosas faixas, gravadas na antiga Victor entre 1931 e 1937, e recuperadas tecnicamente após paciente trabalho de laboratório. É um repertório brasileiríssimo e de excelente qualidade, do qual podemos destacar “Foi boto, Sinhá”, “Tem pena do nêgo” (ambas da dupla Waldemar Henrique-Antônio Tavernard), “Um agradinho é bom” (tema popular adaptado pelo mestre Almirante), “Coração, por que soluças?” (bela valsa de José Maria de Abreu e Saint-Clair Senna), “Pai João” (toada de Almirante e Luiz Peixoto) e “Na Serra da Mantiqueira”, clássico de Ary Kerner, que faz referência ao movimento constitucionalista de 1932, acontecido em São Paulo. Em suma, um disco de valor histórico inestimável, imprescindível nos acervos de quem aprecia o melhor de nossa música popular.
Gastão Formenti – Os Grandes Sucessos (1962)
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foi bôto, sinhá
o segredo dos teus olhos
um agradinho é bom
tem pena do nêgo
azulão
coração, porque soluças?
no baile de máscaras
pai joão
teu olhar
alma do sertão
para a ventura imensa de te amar
na serra da mantiqueira
*Texto de Samuel Machado Filho