Dois grandes compositores cariocas abrilhantam a centésima-oitava edição do Grand Record Brazil: Alvaiade e Djalma Mafra. Alvaiade, na pia batismal Oswaldo dos Santos, nasceu na Estrada da Portela, no subúrbio carioca de Oswaldo Cruz, a 21 de dezembro de 1913. Órfão de pai aos cinco anos, começou a trabalhar aos treze, como empregado de uma tipografia, assim sustentando a família. Desde criança interessou-se por música, e sua primeira composição data de 1926: o choro “O que vier eu traço”,em parceria com Zé Maria, só gravado em 1945 por Ademilde Fonseca. Em 1928, a convite de Paulo da Portela, deixou o pequeno bloco carnavalesco de que participava em Oswaldo Cruz para integrar a escola de samba dirigida por Paulo, a Vai Como Pode, que mais tarde se transformou na atual Portela. Inicialmente, Alvaiade (apelido que recebeu de companheiros de futebol, tendo jogado no time da própria Portela e na Associação Atlética Portuguesa) apresentava-se fazendo um cavaquinho (que tocava de ouvido) de centro, acompanhando o samba, e mais tarde passou a compor para a escola. Era também percussionista. Na Portela, desempenhou funções várias, inclusive administrativas, e tendo também lançado compositores como Manaceia, Walter Rosa, Candeia e Chico Santana. Apresentou-se nas rodas de samba do Teatro Opinião, na década de 1970, fez parte da ala de compositores da Portela e foi um dos fundadores da UBC (União Brasileira de Compositores). Alvaiade faleceu em seu Rio natal em 23 de junho de 1981, já aposentado da UBC e dos serviços tipográficos, e seu corpo permaneceu dois dias no IML (Instituto Médico Legal), antes de ser reconhecido, sendo depois sepultado no cemitério do Irajá. E foi justamente o bairro carioca do Irajá o berço natal de Djalma Mafra, que veio ao mundo no dia 2 de novembro de 1916, e faleceu, também no Rio de Janeiro, em plena véspera de Natal de 1974, ou seja, a 24 de dezembro. Djalma sempre esteve muito ligado ao carnaval, especialmente de Madureira, do qual foi grande folião. Teve inúmeras composições gravadas, especialmente sambas e marchinhas, em parceria com outros nomes de prestígio: Geraldo Pereira, o próprio Alvaiade, que também abordamos aqui, Ataulfo Alves, Joel de Almeida, etc. Nesta edição do GRB, um pouco do expressivo legado de Alvaiade e Djalma Mafra, em catorze preciosas gravações. Abrindo-a, o samba “O coração ordena”, de Alvaiade e Paquito, do carnaval de 1939, gravação Victor de J. B. de Carvalho, em 27 de setembro de 38, lançada ainda em dezembro sob n.o 34392-A, matriz 80906. Do carnaval seguinte é outro samba de Alvaiade, agora em parceria com Alcides Lopes, “Eu chorei”, gravado na Odeon por Joel e Gaúcho em 4 de dezembro de 1939 e lançado um mês antes da folia de 40, em janeiro, disco 11820-B, matriz 6286. De ambos os nossos focalizados, Alvaiade e Djalma Mafra, em parceria, é o samba-canção “Brigas de amor”, gravado na Sinter por Flora Matos (não confundir com a “rapper” brasiliense), com lançamento em maio-junho de 1955, disco 00-00.400-A,matriz S-889. Flora, também compositora, gravou 16 discos 78 com 32 músicas, entre 1946 e 1960, e participou de LPs coletivos. De Alvaiade e Ari Monteiro é o samba “De sol a sol”, do carnaval de 1942, gravação Victor de Linda Batista em 12 de novembro de 41, lançada um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, com o n.o 34860-B, matriz S-052419. De Djalma Mafra sem parceiro é o samba “Banco de réu”, que o mestre de Miraí, Ataulfo Alves, com suas Pastoras a tiracolo, lança pela Star em maio de 1949, disco 132-B. Logo em seguida, acompanhado por sua Academia de Samba, Ataulfo interpreta outro samba, “Deus me ajude”, do carnaval de 1943, de autoria de Alvaiade, Estanislau Silva e Humberto de Carvalho, gravação Odeon de 11 de setembro de 42, lançada ainda em dezembro, disco 12232-A, matriz 7063. Novamente com as Pastoras, Ataulfo interpreta em seguida “Brasil”, outro samba de Alvaiade, agora com a parceria de Nílson Gonçalves, do carnaval de 1945, também gravado na “marca do templo” em 19 de outubro de 44 e lançado ainda em dezembro, disco 12525-A,matriz 7682. O paulista Risadinha (Francisco Ferraz Neto, 1921-1976), interpreta depois um samba só de Alvaiade, “Eu ainda sou eu”, outra gravação Odeon, esta de 14 de abril de 1952, lançada em maio do mesmo ano com o n.o 13292-B, matriz 9282. Na faixa 9, volta Ataulfo Alves, com sua Academia de Samba, agora para interpretar o samba “Leonor”, dele próprio com Djalma Mafra, em registro Odeon de 9 de setembro de 1943, lançada em novembro seguinte sob n.o 12372-B, matriz 7376. Djalma Mafra assina em seguida,com Joel de Almeida, a marchinha ‘Cavalinho bom”, do carnaval de 1944, que Joel grava com Gaúcho na mesmíssima Odeon em 5 de agosto de 43 com lançamento ainda em novembro, disco 12373-B, matriz 7354. Marilu (Maria de Lourdes Lopes), carioca da Vila Isabel, aqui comparece com o samba “Réu primário”, de Djalma Mafra e Amaro Silva, também destinado ao carnaval de 1944. Gravação Victor de 12 de outubro de 43, lançada ainda em dezembro com o n.o 80-0137-A,matriz S-052854. O eterno ‘Formigão”, Cyro Monteiro, interpreta em seguida o samba “Dentro da capela”, parceria de Djalma Mafra com Alcides Rosa, gravado na RCA Victor ao apagar das luzes de 1946, 20 de dezembro, indo para as lojas em março de 47 com o n.o 80-0502-B, matriz S-078703. O cantor José Ribamar, que deixou uma escassa discografia (apenas cinco discos 78 com dez músicas, entre 1954 e 1958), vem aqui com o lado B de seu primeiro disco, o Todamérica TA-5479: o samba “Falsidade”, de Djalma Mafra e João Pereira de Lucena, gravado em 17 de agosto de 1954 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz TA-720. Para encerrar, o trombonista e maestro Astor Silva, à frente do grupo Rio Melodian’s, executa o choro “Comprando barulho”, de Djalma Mafra e Jorge Tavares, gravação da marca Rio, de existência efêmera, disco 10-0034-B, datado de 1951. Aqui fica a homenagem do GRB a estes compositores que muito contribuíram para nossa música popular, Alvaiade e Djalma Mafra, para a alegria e o deleite de todos os que apreciam o que é bom!
* Texto de Samuel Machado Filho