Em sua edição de número 146, o Grand Record Brazil apresenta mais uma seleção de gravações com cantoras que fazem parte da história de nossa música popular, mesclando nomes consagrados com outros que o passar do tempo foi esquecendo, e perfazendo um total de 16 faixas, autênticas raridades que são reveladas para os amigos cultos, ocultos e associados de nosso TM. – Abrindo a seleção musical desta quinzena, temos o samba-canção “Amigos”, de autoria de Paulo Marques e Aylce Chaves, na interpretação de Linda Batista, acompanhada de conjunto no qual o violino, certamente, é de Fafá Lemos. A gravação foi feita na RCA Victor em 27 de janeiro de 1955 e lançada em março do mesmo ano, sob número de disco 80-1429-A, matriz BE5VB-0651. Em seguida, temos Aracy de Almeida, a inesquecível “dama da Central” e “do Encantado”, interpretando outro samba-canção, este clássico e bastante regravado: “Bom dia, tristeza”, lançado pela Continental em maio-junho de 1957 sob número 17437-B, matriz 11947. E a música tem uma história bem interessante: os versos, de autoria do Poetinha Vinícius de Moraes, foram enviados por ele de Paris (ele trabalhava na embaixada brasileira na França), por correio, a Aracy de Almeida, a fim de que ela fizesse o que bem entendesse com eles. Aracy, então colega de Adoniran Barbosa na Rádio e Televisão Record de São Paulo, solicitou então a ele que os musicasse. Mestre Adoniran desincumbiu-se plenamente da tarefa, e o resultado foi mais uma página antológica de seu trabalho autoral, no qual se destacam sambas como “Saudosa maloca” e “Trem das onze”, entre outros. Ângela Maria, a festejada Sapoti, aqui comparece com um tango bastante expressivo e de sucesso: “Mentindo”, de Eduardo Patané e Lourival Faissal. Foi lançado pela Copacabana em setembro-outubro de 1956, com o número 20032-A (dentro da série “de exportação” da companhia), matriz M-1671, mais tarde abrindo o LP de dez polegadas “Sucessos de Ângela Maria, número 2”. A cantora também interpretou “Mentindo” em dois filmes: “Com água na boca”, da Cine TV Filmes (mais tarde Herbert Richers), e “Rio fantasia”, de Watson Macedo. Paulista de Santos, Eladyr Porto iniciou sua carreira interpretando sambas e marchinhas. Mas, após residir na Argentina, passou a cantar tangos. É desta fase a gravação escalada para esta edição do GRB, “Cantando”, um clássico do gênero, escrito por Mercedes Simone, com letra brasileira de Virgínia Amorim. Quem o conhece na interpretação em dueto de Silvana e Rinaldo Calheiros, agora vai poder conferir sua primeira gravação em português, com Eladyr Porto, lançada pela Mocambo em 1956 sob número 15016-A, matriz R-537, aparecendo também no LP de dez polegadas “Tangos em versão”. Logo depois, Norma Ardanuy interpreta “Alma de boêmio (Alma de bohemio)”, outro tango clássico, de autoria de Roberto Firpo e Juan Andrés Caruso, em versão de Vanda Ardanuy, por certo irmã da intérprete. Foi gravado na Polydor em 13 de abril de 1956, e o disco recebeu o número 149-A, matriz POL-1116. Grande destaque do rádio de São Paulo nos anos 1940/50, e também pioneira da televisão no Brasil, Rosa Pardini aqui interpreta o bolero “Nunca, jamais (Nunca, jamás)”, de autoria de Lalo Guerrero, norte-americano do Arizona, mas descendente de mexicanos, em versão de Nélson Ferreira. Gravação Polydor de 31 de agosto de 1956, em disco número 173-B, matriz POL-1215, e que também abriu o LP de dez polegadas n.o LPN-2013, sem título. Em seguida, volta Eladyr Porto, interpretando “Silêncio”, versão dela própria para um tango clássico de Carlos Gardel, Alfredo Le Pera e Horacio Pettarosi. Outra gravação Mocambo , lançada em dezembro de 1956 sob número 15117-A, matriz R-740, sendo também faixa de abertura do já citado LP de dez polegadas “Tangos em versão”. Luely Figueiró interpreta depois “Até (Prière sans espoir)”, versão de Oswaldo Santiago para um fox de origem francesa, de autoria de Charles Danvers e Pierre Benoit Buisson, sucesso em todo o mundo na letra norte-americana de Carl Sigman, com o nome de “Till”. A gravação de Luely saiu pela Continental em setembro-outubro de 1958, sob número 17589-B, matriz 12120, entrando também no primeiro LP da cantora, “Gauchinha bem querer”. No mesmo ano, esta versão foi também gravada por Julie Joy, com o nome de “Até que…”. A recifense-pernambucana Maria Helena Raposo bate ponto aqui com “Antigamente”, samba-toada de Vadico e Jarbas Mello, faixa de seu único LP, “Encantamento”, lançado em 1958 pela Mocambo, gravadora que inclusive tinha sede em seu Recife natal. Isaura Garcia, a sempre lembrada “Personalíssima”, aqui interpreta “Falaram de você”, samba-canção dos irmãos Hervê e Renê Cordovil, gravação RCA Victor de 13 de novembro de 1953, lançada em março de 54 sob número de disco 80-1258-B, matriz BE4VB-0304. O clássico “Conceição”, de Waldemar “Dunga” de Abreu e Jair Amorim, imortal sucesso de Cauby Peixoto, é aqui apresentado na voz de Dircinha Batista. A gravação dela para esse samba-canção foi feita na RCA Victor em 29 de maio de 1956, e lançada em agosto do mesmo ano sob número 80-1646-B, matriz BE6VB-1178, e, em virtude da enorme repercussão do registro de Cauby, ficou esquecida. Portanto, o GRB agora oferece uma oportunidade de ouvir e reavaliar esta interpretação de Dircinha Batista para “Conceição”. Logo depois, Dóris Monteiro interpreta “Quando tu passas por mim”, samba-canção que, embora tenha sido integralmente composto pelo Poetinha Vinícius de Moraes, letra e música, teve parceria por ele mesmo concedida a Antônio Maria. Originalmente gravado por Aracy de Almeida, em 1953, é oferecido aqui na interpretação da sempre notável Dóris, lançada pela Continental em março de 1955, sob número 17092-B, matriz C-3555, com orquestração e regência do mestre Tom Jobim, outra importantíssima credencial. “Quantas vezes”, samba-canção de Peterpan, e outro sucesso de Dóris Monteiro (1952), aqui aparece na voz da eterna “Favorita”, Emilinha Borba (por sinal cunhada do compositor), em gravação extraída de acetato da Rádio Nacional carioca, então vivendo seu período áureo. Uma das “cantorinhas” reveladas pelo programa “Clube do Guri”, da Rádio Tamoio, também do Rio de Janeiro, Zaíra Cruz interpreta graciosamente a valsa “Anjo bom”, de Lourival Faissal em parceria com o jornalista Max Gold, em homenagem ao Dia das Mães. Gravação RCA Victor de 15 de março de 1956, lançada em maio do mesmo ano sob número 80-1600-B, matriz BE6VB-1022. Um ano mais tarde, apareceu no LP-coletânea de dez polegadas “Mãezinha querida”. Entre 1952 e 1961, Zaíra Cruz gravou 21 discos de 78 rpm com 42 músicas, quase todos pela RCA Victor, e o último na Tiger. A também atriz Heloísa Helena (Rio de Janeiro, 28/10/1917-idem, 19/6/1999) bate ponto nesta edição com uma verdadeira raridade: “N’aimez que moi”, canção de Joubert de Carvalho e Maria Eugênia Celso, com letra me francês, originalmente lançada em disco por Marlene Valleé, em 1932. A presente gravação, em que Heloísa Helena é acompanhada ao piano por Benê Nunes, foi tirada diretamente da trilha sonora do filme “É fogo na roupa”, de 1952, produzido e dirigido por Watson Macedo, verdadeiro craque das chanchadas. E por último, da escassa discografia da cantora Míriam de Souza, resgatamos “Noite de chuva”, samba-canção do maestro Lindolfo Gaya em parceria com Pascoal Longo. É o lado A de seu segundo disco, o Odeon 13684, gravado em 28 de maio de 1954 e lançado em julho do mesmo ano, matriz 10144. Míriam gravou apenas seis discos 78 com doze músicas, cinco pela Odeon, entre 1953 e 1956, e o último na obscura Ciclone, em 1960. Enfim, esta é mais uma contribuição do GRB e do TM para a preservação da memória musical do Brasil, tarefa árdua porém extremamente gratificante. Divirtam-se!
*Texto de Samuel Machado Filho