Aurora Miranda – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 31 (2012)

Prosseguindo em sua brilhante trajetória, o Grand Record Brazil chega a seu trigésimo-primeiro volume, apresentando alguns dos melhores momentos da cantora Aurora Miranda, irmã mais nova de Cármen.

Ao contrário da irmã famosa, que era portuguesa de nascimento, Aurora Miranda da Cunha nasceu no Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1915. Assim como suas irmãs (havia também Cecília, que não seguiu carreira de cantora), nossa Aurora gostava de cantar desde a mais tenra idade, alegrando os frequentadores da pensão dirigida pela mamãe, a dona Emília (esta, portuguesa, com certeza). Embora, na opinião de muitos, ela tenha sido a melhor voz entre as Mirandas, o destino fez Aurora começar no rádio à sombra do êxito retumbante da mana Cármen. Ainda aos 18 anos, foi convidada por Josué de Barros, o mesmo descobridor de Cármen, para cantar um número na Rádio Mayrink Veiga e, com o sucesso, passou a se apresentar no programa de Ademar Casé (avô da atriz e comediante Regina Casé), na PRAX, Rádio Philips. Em 1933, levada pelo próprio Josué de Barros, gravou seu primeiro disco, na Odeon, com duas faixas em dueto com Francisco Alves: a marchinha junina “Cai, cai, balão”, de Assis Valente (considerada pioneira desse gênero entre nós), e o samba “Toque de amor”, de Floriano Ribeiro de Pinho. Um mês depois, novo dueto com Chico Alves no fox “Você só… mente”, dos irmãos Hélio e Noel Rosa, que Aurora interpretaria, em 1989, no filme “Dias melhores virão”, de Cacá Diegues. Aos 25 anos, casou-se com o comerciante Gabriel Richaid, e ambos depois decidiram residir nos Estados Unidos junto com Cármen Miranda. É Aurora, inclusive, quem canta “Os quindins de Iaiá”, de Ary Barroso, no filme “Você já foi á Bahia? (The three caballeros)”, de Walt Disney (1944), misturando “live action” com animação. Nessa época, também participou de programas radiofônicos ao lado de Orson Welles e Rudy Vallee, e fez apresentações no Teatro Roxy e na Boate Copacabana, em Nova York. Voltou ao Brasil em 1952, e após a morte da irmã Cármen, em 1955, contribuiu em muito para perpetuar a memória da “pequena notável”, tendo participado, em 1995, de uma homenagem a Cármen no Lincoln Center de Nova York, além de dar entrevistas quando dos 90 anos de seu nascimento, em 1999, ocasião em que inaugurou inúmeras mostras alusivas ao evento.

Aurora Miranda faleceu de forma discreta, em sua casa no Rio de Janeiro, a 22 de dezembro de 2005, de ataque cardíaco, deixando uma discografia de 81 discos de 78 rpm com 161 músicas, além de um LP na Sinter. Desse legado, o GRB foi buscar onze fonogramas bastante representativos. Para começar, temos a marchinha “Ano novo”, de Custódio Mesquita e Zeca Ivo, gravação Odeon de 23 de outubro de 1935, lançada em dezembro seguinte, disco 11292-A, matriz 5174. Em seguida, o samba-canção “Nêgo… neguinho”, de Custódio Mesquita e Luiz Peixoto, gravado em 27 de abril de 35, com lançamento em junho (11227-B, matriz 5023). A terceira faixa é o samba ‘Câmbio de amor”, também de Custódio Mesquita em parceria com Paulo Orlando, destinado ao carnaval de 1935 (gravação de 7 de agosto de 34, lançada ainda em novembro, disco 11165-B, matriz 4888). Para o Natal de 1935, Aurora gravou a marchinha “Natal divino”, de Mílton Amaral, em  4 de dezembro desse ano, com lançamento a toque de caixa pela Odeon, disco 11288-A, matriz 5173. A faixa 5 é o samba-canção clássico de Ary Barroso, “Risque”, lançado por Aurora na Continental após sua volta ao Brasil, depois de 15 anos de permanência nos Estados Unidos, em março-abril de 1952, disco 16540-B, matriz C-2818 (na faixa 11 vem o lado A, matriz C-2817, uma regravação do samba “Faixa de cetim”, também de Ary, originalmente lançado em 1942 por Orlando Silva). O disco tem orquestração e regência do maestro Radamés Gnattali, com o pseudônimo de Vero, mas “Risque” não fez sucesso na voz de Aurora, segundo ela mesma por  falta de empenho da Continental na divulgação do disco, e só no início de 1953 é que a música fez sucesso, com Linda Batista. A faixa 6 apresenta, do quinto disco de Aurora, e pela Odeon (11074-B, matriz 4733), um grande sucesso do carnaval de 1934, “Se a lua contasse”, de Custódio Mesquita (e, segundo alguns estudiosos, em parceria com o médico e radialista Paulo Roberto, não creditado na edição e no disco), gravação de 21 de outubro de 1933 lançada ainda em novembro desse ano. Há uma participação vocal de João Petra de Barros (“a voz de 18 quilates”), também não creditada no selo original. Em seguida seis gravações feitas nos EUA pela Decca, com acompanhamento do Bando da Lua: a da marchinha “Seu condutor”, de Herivelto Martins, Alvarenga e Ranchinho (sucesso destes dois últimos no carnaval de 1938), que Aurora realizou em 14 de agosto de 1941,  alguns dias antes, 17 de julho, ela fez a de “Meu limão, meu limoeiro”, tema folclórico adaptado por José Carlos Burle que voltaria a fazer sucesso no final dos anos 1960 com Wilson Simonal. Ambas as gravações não foram lançadas na época nem mesmo nos Estados Unidos, e só chegariam ao Brasil em LP de 1975. Dessa fase também é o registro de Aurora para a clássica marchinha carnavalesca que leva seu nome, de Roberto Martins e Mário Lago, originalmente sucesso de Joel e Gaúcho em 1940 e regravado por Aurora em 20 de agosto de 1941, registro esse lançado no Brasil pela Odeon com o número 18186-A, matriz DLA-2666. A seguir, outro clássico,“Cidade maravilhosa”, marchinha de André Filho que reproduzimos aqui em seu registro original (faixa 14), feito na Odeon em dueto com o próprio autor em 4 de setembro de 1934, com lançamento em outubro seguinte (11154-A, matriz 4901). Hit no carnaval de 1935, foi oficializada como hino da cidade do Rio de Janeiro em 1960, e vale como lembrança de uma cidade que perdeu todo o glamour do passado (mas quem sabe um dia volta?). A faixa 13 é outro registro da Decca americana com Aurora e o Bando da Lua, e outro clássico carnavalesco: “Pastorinhas”, de João “Braguinha” de Barro e Noel Rosa, hit na folia de 1938 com Sílvio Caldas e regravado pela cantora em 20 de agosto de 1941, no Brasil o lado B de “Aurora”, matriz DLA-2666. Na faixa 12, mais um flagrante de Aurora Miranda na Decca: “A jardineira”, marchinha de Benedito Lacerda e Humberto Porto que tomou os salões em 1939 na voz de Orlando Silva e regravada por Aurora nos EUA em 20 de agosto de 1941, tendo o disco saído no Brasil pela Odeon com o número 50029-A, matriz DLA-2642. Para encerrar, uma faixa do primeiro disco de Aurora Miranda, em dueto com Francisco Alves: o já citado samba “Toque de amor”, de Floriano Ribeiro de Pinho, gravação Odeon de 22 de maio de 1933, lançada em junho seguinte sob número 11018-B, matriz 4675. Enfim, uma pequena retrospectiva do trabalho de Aurora Miranda, que, ao contrário da irmã Cármen, nunca mereceu uma ou mais coletâneas individuais de suas gravações, nem em LP nem em CD. Esperamos que, com esta edição do GRB, essa injustiça comece desde já a ser reparada!

TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO.

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 30 (2012)

E chegamos à trigésima edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil! Esta semana, estamos apresentando alguns registros significativos da primeira fase do rock and roll em nosso país (chamada por especialistas de pré-Jovem Guarda), e algumas músicas em homenagem ao Dia dos Pais, já transcorrido este ano, mas que deve ser todos os dias.
Iniciamos esta seleção com um desses roqueiros pioneiros: Carlos Gonzaga. Interpretando basicamente versões de hits internacionais, o cantor deixou sua marca na história de nosso incipiente rock and roll. Eis aqui duas destas versões, gravadas na RCA Victor em 9 de outubro de 1959 e lançadas em janeiro de 60 no disco 80-2155: “Oh! Carol”, de Neil Sedaka e Howard Greenfield, vertida para o português por Fred Jorge, é o lado A, e o verso, matriz 13-K2PB-0801, nos traz uma composição de Paul Anka, vertida por Odair Marzano, “Rapaz solitário” (no original, “Lonely boy”). Ambas as gravações também sairiam no LP “The best seller”.
 O disco seguinte, o Odeon 14328, lançado em junho de 1958, é um testemunho de início de carreira de outros dois grande s nomes roqueiros da época: os irmãos Tony e Celly Campello. No dia 11 de abril daquele ano, eles inciaram sua trajetória em disco gravando uma faixa cada um no mesmo 78! E com duas musicas de autoria do acordeonista Mário Gennari Filho em parceria com Celeste Novaes, ambas em inglês.e especialmente compostas.  De um lado, Celly canta “Handsome boy” (Belo rapaz), matriz 12468, e do outro Tony ataca de “Forgive me” (Perdoa-me), matriz 12467. Interessante é que o disco saiu também em compacto simples de 45 rpm, o primeiro editado pela Odeon no Brasil! E ambas as músicas iriam também sair, em 1959, nos primeiros álbuns em vinil dos irmãos, “Forgive me” no de Tony Campello, sem título, e “Handsome boy” no de Celly (“Estúpido Cupido”, que trouxe no selo o título “Come rock with me”!). O acompanhamento é do conjunto do próprio Mário Gennari Filho, com coro formado pelos Titulares do Ritmo. Será impossível não se divertir…
Em seguida voltaremos bem mais no tempo, mais exatamente a 1954. É exatamente desse ano o disco Copacabana 5286, com Betinho e seu Conjunto. Betinho, aliás, Alberto Borges de Barros, era filho de Josué de Barros, descobridor de Cármen Miranda, e, ainda adolescente, acompanhou a cantora ao violão muitas vezes. Já nos anos 1950, formou um conjunto que logo se tornou o mais solicitado para animar os bailes então “modernos”. No lado A, matriz M-866, o conhecidíssimo fox “Neurastênico”, parceria dele com Nazareno de Brito, sucesso inesquecível que seria revivido, em 1976, na novela “Estúpido Cupido”, escrita por Mário Prata para a TV Globo, como tema do velho Guimarães, personagem interpretado pelo ator Oswaldo Louzada, que gravava as vozes dos mortos… No lado B, matriz M-867, o mambo “Burrinho leiteiro”, só do Betinho. Ambas as músicas, claro, chegariam ao LP, naquele tempo de dez polegadas, um ano depois. Betinho chegou a ser considerado “o rei da noite”, mas abandonou tudo para cumprir missão evangelizadora.
O “Clube do Guri” foi um programa radiofônico que marcou época nos anos 1950, apresentado nas manhãs de domingo pelas emissoras do grupo Diários Associados, então o maior conglomerado de mídia do país (a edição portoalegrense do programa, na Rádio Farroupilha, revelou nada mais nada menos que Elis Regina). No Rio de Janeiro, era apresentado pela Rádio Tamoio, outra emissora Associada. Pois o  coral infantil do programa aqui está com o disco Odeon 14485, gravado em 17 de junho de 1959 e lançado em julho seguinte, com duas músicas de Silvino Neto, compositor e humorista, homenageando o Dia dos Pais: o samba “Papai é o maior”, matriz 13590, e a canção “Parabéns pro papai”, matriz 13591.
O carioca Pelópidas Brandão Guimarães Gracindo ganhou a imortalidade com o pseudônimo de Paulo Gracindo (1911-1995). Foi apresentador e ator de rádio e televisão dos mais conceituados, e, nas novelas da TV Globo, interpretou personagens inesquecíveis, como o Tucão de “Bandeira 2”, o Odorico Paraguaçu de “O bem-amado” (depois seriado), o João Maciel de “O casarão” e o coronel Ramiro Bastos na primeira versão de “Gabriela”. Marcou época igualmente como o Primo Rico do humorístico “Balança, mas não cai”, na lendária Rádio Nacional (mais tarde também apresentado na TV pela Globo), contracenando com o Primo Pobre, Brandão Filho. Gracindo aqui comparece em outra homenagem ao Dia dos Pais, declamando um poema de mesmo nome, assinado por seu colega na Nacional, Giuseppe Ghiaroni, lançado pela Sinter em abril de 1956 com o número 464-B, matriz S-1035.
Angela Maria e João Dias, que já haviam feito sucesso estrondoso gravando em dueto a valsa “Mamãe”, de Herivelto Martins e David Nasser, em 1956, registrariam em 57 outra valsa dos mesmos autores, agora homenageando os pais, nada mais justo. Trata-se de “Deus te abençoe, papai”, matriz M-1986, lançada no disco 20038-A, dentro de uma série considerada “internacional”, ou seja, de exportação.
Por fim, apresentamos uma das “cantorinhas” reveladas na edição carioca do “Clube do Guri”, da Rádio Tamoio. Trata-se de Zaíra Cruz, que homenageia, curiosamente, os avós, nesta valsa de Arcênio de Carvalho e Lourival Faissal, intitulada justamente “Dia dos nossos avós”, gravação RCA Victor de 15 de março de 1956, lançada em maio seguinte, disco 80-1600-A, matriz BE6VB-1021 (lembrando que o Dia dos Avós é festejado a 26 de julho, dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria Santíssima e, por tabela, avós de Jesus). É esta faixa que encerra o nosso trigésimo GRB, que certamente proporcionará momentos proveitosos de entretenimento. Quem lembra, vai adorar recordar, e quem nunca ouviu poderá conhecer. Bom divertimento!
TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 29 (2012)

Após uma semana de ausência, motivada pelo aniversário do nosso Toque Musical, estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 29. O coquetel da semana tem quinze fonogramas com os mais variados intérpretes, para enriquecer os acervos de muitos colecionadores.

Para começar, apresentamos uma cantora incluída entre as pioneiras na interpretação e gravação de temas folclóricos: Elsie Houston (Rio de Janeiro, 1902-Nova York, EUA, 1943), soprano que era filha de um dentista americano do Tennessee, no Rio desde 1892, e de uma carioca descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Estudou canto lírico na Alemanha em 1922 e tomou o gosto por nosso folclore ao conhecer o maestro e compositor Luciano Gallet. Casou-se, em 1927, com o poeta e militante trotskista Benjamin Peret, durante temporada em Paris, e tiveram um filho em 1931. No mesmo ano, hostilizado pelo governo getulista, o casal mudou-se para a França. Em 1936, Peret foi lutar na Guerra Civil Espanhola e se envolveu com uma pintora hispano-americana, motivo que faria Elsie, um ano mais tarde, mudar-se para Nova York. Em 1939-40 apresentou na rede de rádio NBC o programa “Fiesta pan-americana”, onde divulgava nossa música. No dia 20 de fevereiro de 1943, Elsie Houston foi encontrada morta em seu apartamento na Park Avenue, não se sabe até hoje se por assassinato ou suicídio! Aqui, poderemos ouvi-la numa gravação de 26 de setembro de 1933, feita na Gramophone Company de Paris,  na qual interpreta dois temas harmonizados por ela mesma: “Berceuse africano-brasilienne” e Óia o sapo”, disco original K-7055-B, matriz OPG 1017-1. Em seguida, Gastão Formenti (Guaratinguetá, SP, 1894-Rio de Janeiro, 1974) apresenta um de seus mais queridos e conhecidos sucessos: o cateretê (que mais parece rumba) “De papo pro á”, da parceria Joubert de Carvalho-Olegário Mariano, em gravação Victor de 28 de agosto de 1931, lançada em outubro do mesmo ano, disco 33469-A, matriz 65226. Convém lembrar aliás que jereré, citada na letra, não é uma cidade mas sim um tipo de rede de pesca. Pescar de jereré equivale a pescar de anzol. Editado como “canção regional”, “De papo pro á” tem vários registros e é até hoje muito conhecida e lembrada. O contracanto é feito por Castro Barbosa, sem crédito no selo e o acompanhamento por “orquestra típica”. Dilú Mello (Maria de Lourdes Argollo Oliver, Viana, MA, 1913-Rio de Janeiro, 2000) também foi séria pesquisadora de nosso folclore, e deixou mais de cem composições. Aqui, um de seus hits, bastante conhecido: a toada “Fiz a cama na varanda”, dela em parceria com Ovídio Chaves, lançada pela Continental em abril de 1944, disco 15126-A, matriz 724, com acompanhamento do Conjunto Tocantins, que também faz coro. Outra peça que tem inúmeros registros, entre eles os de Stelinha Egg, Inezita Barroso e Nara Leão. De ascendência alemã, o carioca Breno Ferreira Hehl (1907-1966) foi cantor enquanto estudava direito, e abandonou a advocacia depois de se formar. Também foi pioneiro do cooperativismo no Brasil, tendo publicado vários livros técnicos, e foi o descobridor de Dolores Duran. Eis Breno Ferreira em sua obra mais conhecida, por certo: a embolada “Andorinha preta”, por ele composta em 1925, e que gravaria sete anos depois, na Columbia, neste registro lançado em maio de 1932, disco 22136-B, matriz 381255. Foi regravada mais tarde, entre outros, por Nat King Cole, Trio Irakitan e (vejam vocês!) Hebe Camargo. Os Trigêmeos Vocalistas aqui comparecem com um corimá (gênero afro-brasileiro) de João da Baiana, “Ogum Nilê”, por eles gravado na Odeon em 31 de maio de 1950, com lançamento em agosto seguinte com o n.o 13033-A, matriz 8633. No selo original, é dado como co-autor Raul Carrazatto, um dos Trigêmeos, mas em 1957, quando o próprio João da Baiana regravou a música, Raul sumiu da parceria, nem sequer sendo creditado! Por que será? Vamos agora comentar sobre três gravações do GRB desta semana, feitas em 7-8 de agosto de 1940, a bordo do navio “S.S.Uruguai”, então atracado no porto carioca, sob a supervisão do maestro britânico Leopold Stokowski (Londres, 1882-Hampshire, 1977), que então excursionava com sua All American Youth Orchestra. A nata da MPB naqueles tempos foi escalada para fazer uma série de 40 gravações, com plateia formada pelos músicos da orquestra de Stokowski. Destas, dezessete saíram em disco nos EUA pela Columbia, no início de 1942, em dois álbuns de 78 rpm com quatro cada um, intitulados “Native brazilian music”. O GRB apresenta, desta série que só saiu no Brasil em 1987, em LP da Funarte, três registros preciosíssimos: o ponto de macumba “Caboclo do mato”, de Getúlio “Amor” Marinho e João da Baiana, interpretado por ele mesmo em dupla com Janir Martins, sendo a flauta do mestre Pixinguinha (disco 36504-B, matriz CO-30151),  a embolada “Bambo do bambu”, de Donga e Patrício Teixeira, interpretada por Jararaca e Ratinho (disco 36505-B, matriz CO-30156), e o samba, também de Donga, “Passarinho bateu asas” (disco 36508-B, matriz CO-30149), na voz de Zé da Zilda. Histórico! Isaura Garcia, a “personalíssima”, cantora de longa carreira e inúmeros sucessos, vem aqui com um deles, em dueto com o mineiro (de Viçosa) Hervê Cordovil: o baião “Pé de manacá”, de Hervê com Mariza Pinto Coelho, em gravação RCA Victor de 22 de junho de 1950, lançada em setembro do mesmo ano, disco 80-0686-A, matriz S-092695. Eles já cantavam a música em dueto na Rádio Record de São Paulo, e o sucesso se repetiu em disco. Conhecidos como “os reis do riso”, Alvarenga e Ranchinho aqui estão em uma das páginas mais conhecidas e apreciadas de seu repertório: a “valsa fúnebre” “Romance de uma caveira”, deles próprios mais Chiquinho Sales, em gravação Odeon de 2 de fevereiro de 1940, lançada em março seguinte, disco 11831-A, matriz 6301. No acompanhamento, o conjunto do violonista Rogério Guimarães. Quem nunca ouviu que atire a primeira pedra! A seguir, duas gravações lançadas somente em LP: a primeira é a conhecida toada “Chuá, chuá”, de Pedro de Sá Pereira, Ary Pavão e Marques Porto, os três por coincidência gaúchos. Foi lançada na revista teatral “Comidas, meu santo!”, em 1925,  por Roberto Vilmar, sendo depois levada a disco pelo cantor Fernando. Aqui, quem a interpreta, acompanhada pela orquestra de Rafael Puglielli, é a dupla Cascatinha e Inhana, em registro lançado pela Todamérica em 1958 no álbum “Os sabiás do sertão” (LPP-TA-316). A outra é a canção “Azulão”, de Hekel Tavares e Luiz Peixoto, cuja primeira gravação, na voz de Paraguassu (1930), apresentamos na edição anterior do GRB. Aqui, a regravação de Patrício Teixeira, feita em 1956 para o LP de dez polegadas da Sinter “Festival da velha guarda” (SLP-1074), o único registro por ele feito após seu último 78 rpm, que saiu em 1944. Stefana de Macedo (Recife, PE, 1903-Rio de Janeiro, 1975) também foi séria pesquisadora do folclore brasileiro. Ela aqui comparece com o coco “Ronca o bisouro na fulô”, recolhido por ela mesma, em gravação lançada pela Columbia em fevereiro de 1930, disco 5147-A, matriz 380432. Pra finalizar esta nossa edição do GRB, duas composições do mestre baiano Dorival Caymmi. A primeira, interpretada por ele mesmo, é a clássica canção praieira “O mar”, em registro Columbia de 7 de novembro de 1940, lançado em dezembro seguinte, disco 55247, matrizes 328-329, ocupando os dois lados do disco. O acompanhamento orquestral foi concebido por Guerra Peixe, conduzido com maestria por Lírio Panicalli. A segunda é uma canção de ninar interpretada pelo Trio de Ouro em sua primeira fase (Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas): “História pra sinhozinho”, gravação Odeon de 15 de março de 1945, lançada em maio seguinte com o n.o 12573-B, matriz 7779, e acompanhamento de conjunto de estúdio da “marca do templo”, faixa esta que encerra com chave de ouro o nosso GRB da semana. Para apreciar e sobretudo guardar!

*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

**ESTA SELEÇÃO MUSICAL FOI EXTRAÍDA DO SITE GOMA-LACA, RESPONSÁVEL PELA DIGITALIZAÇÃO DOS FONOGRAMAS.

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 28 (2012)

Fratura no joelho é um troço bem complicado… O nosso Augusto TM que o diga! Mas depois de mais um período de ausência forçada (até eu senti saudades), eis aqui a vigésima-oitava edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil, apresentando mais dez preciosos fonogramas da era das 78 rotações por minuto para enriquecer os acervos de nossos amigos cultos e associados. E começamos com um sucesso de Patrício Teixeira (1893-1972), carioca da Rua São Leopoldo, na lendária Praça Onze, que começou a gravar ainda pelo processo mecânico e continuou de maneira bem sucedida na fase elétrica, até quando saiu seu último disco, em 1944. (depois disso, ainda gravaria a canção “Azulão”, de Hekel Tavares e Luiz Peixoto, para um LP da Sinter).  Foi até professor de violão, e entre suas alunas mais ilustres estão Nara Leão e as irmãs Linda e Dircinha Batista. E Patrício aqui comparece com um clássico: o samba “Gavião calçudo”, do mestre Pixinguinha, com letra de Cícero “Baiano” de Almeida, cujo sucesso desaguaria no carnaval de 1930. Saiu em duas gravações de Patrício: a primeira no selo Parlophon, em março de 1929, e esta segunda, com o selo Odeon, lançada em agosto do mesmo ano com o n.o 10436-A, matriz 2685, na qual o intérprete canta a letra completa, acompanhado de piano e violão (no registro original era com orquestra, e nele só foram apresentados o estribilho e uma das estrofes). “Azulão” também está aqui, mas no registro original do “cantor das noites enluaradas”, Paraguassu (Roque Ricciardi, 1894-1976), lançado pela Columbia em fevereiro de 1930, disco 5141-A, matriz 380474.

Em seguida, um monólogo divertidíssimo interpretado pelo ator Pinto Filho. Trata-se de “Guerra ao mosquito”, de Luiz Peixoto e Marques Porto, lançado pela Parlophon em agosto de 1929 com o n.o 12989-A, matriz 2670. Mais atual impossível, uma vez que o Brasil tem sido, nos últimos tempos, atingido por endemias tropicais como a dengue, especialmente no verão. Não faltam farpas a políticos de prestígio na época, como o então candidato a presidente da República Júlio Prestes.

A próxima faixa vem a ser o primeiro grande sucesso nacional de Ary Barroso como compositor: a marchinha “Dá nela”, interpretada por Francisco Alves com a Orquestra Pan American de Simon Bountman, e um dos hits do carnaval de 1930. Gravação de 9 de janeiro daquele ano, lançada pouco depois sob n.o 10558-A, matriz 3258. No dia 18, a música venceu um concurso promovido no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, e com o dinheiro ganho (cinco contos de réis!), Ary Barroso teve condições de se casar (com Yvonne Belfort Arantes) e ainda recebeu seu diploma de advogado. De letra extremamente machista (característica da época), “Dá nela” também deu nome a uma revista do Teatro Recreio, nela interpretada (de calça comprida!) por Zaíra Cavalcanti.

Um dos clássicos de Ary Barroso em parceria com Luiz Peixoto, o samba-canção “Na batucada da vida” (subintitulado “A canção da enjeitada”) tornou-se inovador na época do lançamento, pelo realismo com que tratava uma temática de cunho social. Originalmente saiu em 1934, na voz de Cármen Miranda, e aqui é apresentada no registro de Dircinha Batista, feito na Odeon em 14 de abril de 1950 e lançado em agosto seguinte, disco 13031-B, matriz 8685, com acompanhamento de piano do próprio mestre de Ubá. Como bem sabem os fãs de Elis Regina, em 1974 ela também fez um registro memorável desta composição.

O inesquecível Kid Morenguera, o grande Moreira da Silva (1902-2000), insubstituível rei do samba de breque, aqui comparece com o raríssimo disco Star 225, datado de 1951, com acompanhamento do conjunto do violonista Claudionor Cruz, destacando-se o saxofone de Portinho (Antônio Porto Filho), também maestro e arranjador de prestígio. De um lado, o samba-choro “Entrevista”, do próprio Moreira, e no verso, nesse mesmo ritmo, a homenagem do GRB aos motoristas na semana do dia deles e de seu santo padroeiro, São Cristóvão: “Sou motorista”!

Humberto Marsicano fez parte da geração de artistas paulistas surgidos no final dos anos 1920. De sua escassa discografia como cantor (apenas 16 fonogramas distribuídos em nove 78 rpm), apresentamos o disco Columbia 5051, lançado em julho de 1929, com acompanhamento da orquestra de Álvaro Ghiraldini. Abrindo-o, matriz 380143, o samba-choro “Mulher sem coração”, composto por um nome que iniciava então sua carreira, José Maria de Abreu (1911-1966), paulista de Jacareí, responsável por sucessos inesquecíveis, tais como “E tome polca”, “Alguém como tu”, “Dançando com você” e muitos outros. No verso, matriz 380144, o delicioso “sambinha-embolada” Tico-tico vuô”, de Juca Paulista e Juvenal de Abreu.

Para encerrar, uma marchinha do carnaval de 1957, lançada pela Continental em janeiro desse mesmo ano, com o n.o 17375-B, matriz C-3912. É “Seu Romeu”, de João Rosa, Arnaldo Moraes e do paulistano Ruy Rey (1915-1995), sendo este último o intérprete. Ruy, que se chamava Domingos Zeminian, foi também exímio “bandleader”, e especializou-se em ritmos hispano-americanos, precursores da atual salsa. Enfim, um belo apanhado com o qual o GRB mata as saudades de todos que estavam aguardando esta retomada. Divirtam-se e recordem!

*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Sílvio Caldas – Seleção Grand Record Brazil – Vol. 27 (2012)

Este é o segundo volume do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil, o vigésimo-sétimo  no geral, dedicado a este grande nome da MPB que foi o carioca Sílvio Narciso de Figueiredo Caldas. Além de cantar e contar interessantes histórias da MPB com um pique invejável, o “titio” possuía espírito aventureiro, gostava de caçar e pescar, e até se embrenhou nos sertões para garimpar ouro, vejam só! Era também um cozinheiro de mão cheia (suas peixadas, por exemplo, eram bastante apreciadas), e obviamente foi proprietário de restaurantes e casas noturnas. Sílvio Caldas era também um especialista em… despedidas. “Aposentou-se” várias vezes oficialmente, mas quando menos se esperava… lá estava ele de novo! Aposentadoria mesmo, só com a sua morte, em 1998.

Aí vão, para deleite e apreciação de tantos quantos apreciem nossa música popular no que ela tem de melhor e mais expressivo, mais doze preciosas gravações de Sílvio. Em ordem cronológica de lançamento, temos, para começar, o lado A do disco Victor 33911,  gravado em 12 de outubro de 1934 e lançado em março de 35: a famosa valsa “Serenata”, matriz 79729, de sua profícua parceria com Orestes Barbosa, cuja introdução, sem palavras, tornou-se prefixo pessoal de Sílvio.  Dois violões e um bandolim (o de Luperce Miranda) acompanham Sílvio nessa gravação, sem dúvida uma das melhores e mais importantes de sua carreira. Logo depois, do Odeon 11255, gravado em 25 de junho de 1935 e lançado em setembro seguinte, apresentamos o lado A, matriz 5082: o samba “Inquietação”, uma das obras-primas do mestre Ary Barroso, que Sílvio também interpretou no filme “Favela dos meus amores”, de Humberto Mauro. No acompanhamento, a Orquestra Odeon, do palestino Simon Bountman, que também teve os nomes Pan American, Copacabana, Parlophon (quando gravava nessa marca, coligada da Odeon)e Simão e sua Orquestra Columbia. Quer dizer, todas eram a mesmíssima orquestra. Falando na Columbia, eis um  importantíssimo disco de Sílvio nessa marca, lançado em dezembro de 1938 com o número 55002 e acompanhamento do regional do multi-instrumentista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955), trazendo duas joias de altíssimo quilate: no lado A, matriz 3716, a canção “Mágoas de um trovador”, de J. Cascata e Manezinho Araújo (o “rei da embolada”, aqui mostrando seu lado sentimental). O verso, matriz 3715, traz mais uma conhecidíssima página da parceria de Sílvio com Orestes Barbosa: a clássica valsa “Suburbana”. Curiosamente, em 1943, quando a Columbia converteu-se na Continental, esse disco foi escolhido para inaugurar a nóvel marca, sendo relançado com o número 15001, inclusive os primeiros cem títulos da Continental foram relançamentos da antiga Columbia. De volta à Victor, temos depois o lado B do disco 34804, gravado em 4 de julho de 1941 e lançado em outubro seguinte, matriz S-052258, apresentando o fox-canção “Sempre você”, de Cristóvão de Alencar e Newton Teixeira. Em seguida, outro disco de Sílvio na marca do cachorrinho Nipper, o de número 80-0080, gravado em 2 de março de 1943 e lançado em maio seguinte, com duas valsas-canções de Georges Moran, russo que se radicou entre nós, e autor de outro hit de Sílvio, “Kátia”, além de outros dois clássicos imortalizados por Orlando Silva, “Balalaika” e “Zíngaro”. Abrindo-o, matriz S-052732, “Não voltarás nem voltarei”, parceria de Moran com Walter Nogueira da Silva e, no verso, matriz S-052733, “Ninotchka”, em que desta vez o parceiro é Cristóvão de Alencar, certamente inspirada no filme de mesmo nome, da MGM, de 1939, estrelado por Greta Garbo e Melvyn Douglas, sob a direção de Ernst Lubistch. Completando nosso roteiro da semana, dois discos gravados por Sílvio Caldas na Continental, em 1949, com acompanhamento da orquestra do maestro, compositor e flautista Nicolino Cópia, o Copinha. O primeiro deles é o de número 16034, lançado em março-abril desse ano, com duas composições do paulista (de Jacareí) José Maria de Abreu (1911-1966). No lado A, matriz 2030, o samba (estruturalmente um samba-canção) “Não me pergunte”, parceria de Abreu com outro consagrado nome da MPB, Jair Amorim. No verso, matriz 2031, a toada “Você de mim não tem dó”, de Abreu sozinho. O outro é o de número 16086, abrindo com outra composição de José Maria de Abreu, agora com a parceria de Alberto Ribeiro, a valsa “Chuva e vento”, matriz 2121. Alberto também assina, em parceria com Osvaldo Sá, a música do lado B, matriz 2120, o samba-canção “Tarde de maio”. Enfim, é tudo isso que apresentamos esta semana com Sílvio Caldas, e eu, particularmente, espero que ele volte a ser focalizado pelo GRB, dada a extensa bagagem fonográfica que deixou registrada em cera. Ouçam esta seleção e irão concordar comigo: ela nos dá aquele irresistível gostinho de quero-mais!

 

Texto Samuel Machado Filho

Sílvio Caldas – Seleção Grand Record Brazil – Vol. 26 (2012)

Nesta vigésima-sexta edição, o Grand Record Brazil começa a nos trazer alguns dos momentos mais expressivos de um cantor e compositor que marcou época: Sílvio Narciso de Figueiredo Caldas, o sempre festejado “caboclinho querido”, também carinhosamente chamado de “titio”. Era carioca do bairro de São Cristóvão, onde veio ao mundo no dia 23 de fevereiro de 1906, mas só seria registrado em 1908, segundo ele próprio declarou ao pesquisador, de saudosa memória, Abel Cardoso Júnior. Seu pai, Antônio (autor da valsa “Neusa”, hit de Orlando Silva), era dono de uma pequena loja de instrumentos musicais, e sua mãe, a gaúcha Dona Neném, era afamada modista. Nosso Sílvio foi um talento precoce, pois já com cinco anos de idade apresentou-se no Teatro Fênix, sendo presença requisitada também nas festas e nos clubes de São Cristóvão. No carnaval, era saudado como “o rouxinol” do bloco Família Ideal. Embora macérrimo, foi o primeiro Rei Momo do carnaval carioca! Após deixar  o grupo escolar, trabalhou como mecânico de automóveis na Garagem Esperança, nessa condição transferindo-se para São Paulo em 1924. Mas não esqueceu o violão. Quando volta ao seu Rio natal, atraído pelo desenvolvimento por que então passavam o rádio e o disco, Sílvio resolve entrar pra valer na carreira artística, e é levado pelo cantor de tangos Milonguita (Antônio Gomes) para cantar na Rádio Mayrink Veiga. No disco, iniciou-se em fevereiro de 1930 na Victor, alternando gravações nessa marca e na Brunswick, até ficar apenas na Victor, em virtude do fechamento da Brunswick. A princípio, Sílvio cantava basicamente marchinhas e sambas, e seu talento seresteiro iria se revelar a partir de 1934, através de sua importantíssima parceria com Orestes Barbosa, que produziu clássicos inesquecíveis, tais como “Serenata”, “Chão de estrelas” e “Suburbana”. Um dos maiores defensores da MPB, Sílvio Caldas jamais deixava de enfatizar a necessidade de sua preservação, e até preconizava a inclusão de seu ensino nas escolas. Nos últimos anos de vida, residiu em um sítio na cidade de Atibaia, interior de São Paulo, onde morreu no dia 3 de fevereiro de 1998.
Nesta nossa primeira edição do GRB com o grande Sílvio Caldas, oferecemos a nossos amigos cultos, ocultos e associados doze preciosíssimas gravações. Abrindo esta seleção, esta joia de valsa, de autoria de Newton Teixeira e Jorge Fáraj, a clássica “Deusa da minha rua”, imortalizada por Sílvio na Victor em 10 de julho de 1939, matriz 33118, e editada em setembro seguinte com o número 34485-A. Muitíssimo gravada, até mesmo por Roberto Carlos. A segunda faixa também é muito conhecida e regravada: o samba (ou choro) “Da cor do pecado”, principal produto da inspiração do carioca Alberto de Castro Simões da Silva, o Bororó (1898-1986). Vem a ser o lado B da faixa anterior, porém gravado quatro dias antes, a 6 de julho de 1939, matriz 33110. Logo depois, da fase de Sílvio na Continental, trazemos o choro “Pastora dos olhos castanhos”, do violonista Horondino Silva, o Dino Sete Cordas, com letra de Alberto Ribeiro, e acompanhamento do regional do clarinetista potiguar (de Taipu) K-Ximbinho (Sebastião de Barros, 1917-1980). Gravação de 5 de agosto de 1946, porém só lançada em julho de 47 com o número 15786-B, matriz 1565. Trazemos também o lado A, que é o samba “Não chores assim”, do próprio Sílvio Caldas mais Alberto Ribeiro, em gravação de 28 de agosto de 46, matriz 1585, e desta vez quem acompanha Sílvio é o regional do violonista Laurindo de Almeida (Miracatu, SP, 1917-Los Angeles, EUA, 1995), que desenvolveu bem-sucedida e premiada carreira nos EUA. Voltando à Victor, um disco com duas regravações, o de número 34496, lançado em outubro de 1939. No lado A, um nome que começa na palma da mão de todo mundo: o samba-canção “Maria”, dos mestres Ary Barroso e Luiz Peixoto, originalmente registrado pelo próprio Sílvio em 1932 e aqui em regravação de 10 de julho de 1939, matriz 33119. O outro lado, gravado em 6 de julho desse ano, matriz 33115, é outro clássico de Ary, e também samba-canção, agora com letra de outro mestre, Lamartine Babo: “No rancho fundo”, originalmente lançado em 1931 por Elisa Coelho e regravado até mesmo por Chitãozinho e Xororó! A preciosidade seguinte é o samba “Algodão”, de Custódio Mesquita com letra do jornalista David Nasser, também parceiro de Francisco Alves em inúmeros hits. Aludindo ao sofrimento dos negros à época da escravidão no Brasil, foi imortalizado por Sílvio na Victor em 7 de junho de 1944 com lançamento em agosto seguinte, disco 80-0200-A, matriz S-052972. No lado B, que apresentamos em seguida, matriz S-052973, “Noturno em tempo de samba”, também de Custódio Mesquita, agora com seu parceiro mais constante, Evaldo Ruy. Em ambas as faixas, Sílvio é acompanhado pela orquestra do próprio Custódio. Recuando no tempo, encontraremos outro clássico da valsa tupiniquim, “Sorris da minha dor”, do niteroiense Paulo Medeiros, compositor e professor falecido prematuramente, aos 30 anos de idade, em 1941. Gravação Victor de 18 de agosto de 1938, lançada em outubro seguinte, disco 34367-B, matriz 80872, do qual apresentamos em seguida o lado A, do mesmo autor, matriz 80871, a valsa-canção “Falsa felicidade”. Encerrando esta primeira parte, duas composições de Joubert de Carvalho, lançadas em outubro de 1946 pela Continental no mesmo disco, o de número 15712, gravado em 2 de agosto desse ano: a conhecida canção “Minha casa”, matriz 1563, clássico regravado aos cachos, até mesmo por Agnaldo Timóteo, e a valsa “Nunca soubeste amar”, matriz 1564. Vocês não acham que está muito bom pra começar uma retrospectiva do grande Sílvio Caldas? Então recordem, apreciem e aguardem, que na semana que vem tem mais. Até lá!

* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO.

Vocalistas Tropicais – Vol. 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical (2012)

E eis aqui a terceira edição (no geral, a de número 25) que o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil dedica a este grande conjunto vocal-instrumental que foram os Vocalistas Tropicais. Mais doze fonogramas raros que certamente irão parar nos arquivos de muitos colecionadores. Continuando nossa retrospectiva, ainda com originais Odeon, abrimos esta terceira parte com o samba “Como é que vai ser?”, de Marino Pinto e Mário Rossi, dupla respeitável da MPB, gravado em 3 de setembro de 1948 com lançamento em novembro seguinte sob número 12883-B, matriz 8410 (o outro lado de “Ester”, de nossa edição anterior). Em seguida, uma versão bastante conhecida: “Trevo de quatro folhas (I’m looking over a four leaf clover)”, de Harry Woods e Mort Dixon, fox composto em 1927 e sucesso na voz de Al Jolson, cantor americano que costumava pintar o rosto de preto, interpretado por Larry Parks em dois filmes da Columbia: “Sonhos dourados” e “O trovador inolvidável”, sendo a música reapresentada neste último. Nilo Sérgio fez a letra brasileira e a gravou na Continental em 1949, com grande sucesso. Logo em seguida, em 13 de maio desse ano, os Vocalistas Tropicais fizeram nosso registro desta edição, lançado pela “marca do templo” em julho seguinte com o número 12934-A, matriz 8493. No verso, matriz 8492, a faixa seguinte, “Irmão do samba”, de Nestor de Holanda (também escritor e jornalista, pernambucano de Vitória de Santo Antão) e Jorge Tavares. Eles também foram parceiros, vale ressaltar, no samba-canção “Quem foi?”, gravado por Aracy de Almeida exatamente com os Vocalistas Tropicais junto. A quarta faixa, que até eu queria ter na coleção, é o samba “A maior Maria”, de Waldemar Ressurreição e Gerôncio Cardoso, lado B do disco de “Minha terra”, de nossa edição anterior, o Odeon 12952, gravado em primeiro de agosto de 1949 e lançado em outubro seguinte, matriz 8540. Temos depois outro samba, agora para o carnaval de 1950: “Supremo poder”, de Fernando Martins e Victor Simon (este último autor dos clássicos “Bom dia, café” e “O vagabundo”), gravado pelos Vocalistas em 4 de novembro de 1949 e lançado um mês antes da folia, em janeiro, com o número 12979-B, matriz 8580 (é o verso de “Ela é falsa”, de nossa edição anterior). A faixa seguinte é o maracatu “Maracatucá”, de Geraldo Medeiros e Jorge Tavares. É o lado B do disco em que saiu a versão “Bebê (Baby face)”, apresentada em nossa edição anterior, o Odeon 12989, gravado em 16 de dezembro de 1949 e lançado bem depois do carnaval de 50, em março, matriz 8608. Depois tem o samba “Não devemos mais brigar”, do cantor Gilberto Milfont em parceria com Mílton de Oliveira, lado B do disco de outra faixa de nossa edição anterior, “Ilha dos amores”, o Odeon 13005, gravado em 13 de junho de 1949 mas só lançado em março de 50, matriz 8519. Continuando a completar os discos de nossa edição anterior, vem o samba “Trinta dinheiro” (assim mesmo, sem “s”!), também de Waldemar Ressurreição, agora em parceria com Amaro Gonçalves. É o lado B do 78 de “Diamante Negro”, o Odeon 13024, gravado em 20 de março de 1950 e lançado em julho seguinte, matriz 8656. Em seguida completamos o 78 de “Desculpa”, o Odeon 13042, apresentando o lado A, “Quem é que não sente?”, samba assinado pelo mestre Ataulfo Alves. Gravação de 3 de julho de 1950, lançada em setembro seguinte, matriz 8718. A próxima faixa é simplesmente um clássico de nosso cancioneiro carnavalesco: a famosa marchinha “Tomara que chova”, de Paquito e Romeu Gentil, da folia de 1951. Foi criada pelos Vocalistas Tropicais na Odeon em 6 de setembro de 1950, com lançamento ainda em dezembro sob número 13066-A, matriz 8792 (como se sabe, Emilinha Borba fez outro registro desta composição na Continental, também com sucesso, e  a cantou no filme “Aviso aos navegantes”, da Atlântida). Apresentamos também o lado B de “Tomara que chova”, o samba “Já é noite”, de Fernando Lobo, Paulo Soledade e Nestor de Holanda, gravado dias depois, em 12 de outubro de 1950, matriz 8823. E, para encerrar esta terceira parte, completamos o disco da “Marcha da vizinhança” (de nossa edição anterior), o Odeon 13081, oferecendo o lado B, outra composição de Waldemar Ressurreição: o samba “Mulher de carnaval”, gravação de 12 de outubro de 1950, lançada em janeiro de 51, matriz 8822, e obviamente também destinada à folia daquele ano. Como vêem os amigos cultos e ocultos do Toque Musical e do GRB, mais doze preciosas gravações dos Vocalistas Tropicais, para enriquecer os acervos de tantos quantos apreciem a boa música brasileira. Imperdível! 


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Vocalistas Tropicais – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 24 (2012)

E aqui está a vigésima-quarta edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil, apresentando a segunda parte da antologia dedicada aos Vocalistas Tropicais, de cuja trajetória e carreira vocês já tomaram conhecimento na edição anterior. Começando a seleção desta semana, ainda pela Odeon, temos o samba “Ester”, de Haroldo Lobo e Mílton de Oliveira, gravação de 3 de setembro de 1948, lançada em novembro seguinte com o número 12883-A, matriz 8409, certamente visando ao carnaval de 1949, considerado pelos estudiosos um dos mais ricos em matéria de produção musical, e foi mesmo. Vem também a ser o caso do samba “Não vou dizer”, de João Corrêa da Silva e Walter de Oliveira, gravado na “marca do templo” em 21 de outubro de 1948 e lançado bem em cima da folia, em janeiro de 49, com o número 12893-B, matriz 8426, apresentando no lado A o hit “Jacarepaguá”, marchinha de Paquito, Romeu Gentil e Marino Pinto que já revivemos anteriormente nesta série. Temos em seguida o balanceio “Maricota é a tal”, composto por Aleardo Freitas e Danúbio, em gravação de 16 de dezembro de 1948, e prudentemente lançado em março de 49 com o número 12925-B, matriz 8469. Logo depois, uma regravação: a da canção “Minha terra”, de autoria do paraense Waldemar Henrique, nascido (1905) e falecido (1995) na capital do Pará, Belém. Originalmente esta música, composta por Waldemar na plenitude de seus 17 anos de idade, foi gravada em 1935 pelo cantor Jorge Fernandes, também na Odeon. Em 1946, novo registro, na voz do Rei Francisco Alves e, finalmente, este aqui, com os Vocalistas Tropicais, datado de primeiro de agosto de 1949 e lançado em outubro seguinte com o número 12952-A, matriz 8540. E tem mais música de carnaval, com o disco 12963-A, gravado em 30 de setembro de 1949 e lançado ainda em dezembro, visando, claro, à folia de 1950. No lado A, matriz 8561, um megahit, a marchinha “Daqui não saio”, de uma dupla colecionadora de êxitos carnavalescos, Paquito e Romeu Gentil, retratando o problema da moradia, já grave naquela época, quer dizer, mais atual impossível! No verso, matriz 8562, o samba “Remorso”, de Arnõ Canegal e Amaro do Espírito Santo. Também de Paquito e Romeu Gentil e para o mesmo carnaval é o samba “Ela é falsa”, gravado pelos Tropicais em 4 de novembro de 1949 com lançamento em janeiro de 50 sob número 12979-A, matriz 8579. A faixa seguinte é “Bebê”, versão do especialista Haroldo Barbosa para o fox “Baby face”, dos americanos Harry Akst e Benny Davis, composto em 1926 e lançado nesse mesmo ano pelo bandleader Jan Garber, sendo depois registrado por inúmeros outros artistas, entre eles Al Jolson e Bobby Darin. Os Vocalistas Tropicais gravaram esta versão na Odeon em 16 de dezembro de 1949, com lançamento em março de 50, disco 12989-A, matriz 8607 (o curioso é que há uma outra versão, de Fred Jorge, gravada em 1961 por Elis Regina em seu primeiro LP, “Viva a brotolândia”). A faixa seguinte, “Ilha dos amores”, samba de Waldemar Silva e Marino Pinto, foi gravada em 13 de junho de 1949, mas a Odeon a pôs na “geladeira” por quase um ano, sendo lançada somente em maio de 1950 com o número 13005-A, matriz 8518. Leônidas da Silva (Rio de Janeiro, 1913-Cotia, SP, 2004), um dos maiores jogadores de futebol de seu tempo, artilheiro da Copa do Mundo de 1938 (7 gols) e criador da pirueta conhecida como “bicicleta”, é homenageado em seguida com o samba de Marino Pinto e David Nasser muito apropriadamente intitulado “Diamante Negro”, apelido dado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista “Paris Match”, que também deu a Leônidas o apelido de “homem-borracha”, por sua elasticidade (em sua homenagem, a Lacta lançou o chocolate Diamante Negro, que existe até hoje). Gravação Odeon de 20 de março de 1950, lançada em julho seguinte com o número 13024-A, matriz 8655. Em seguida, o samba “Desculpa”, de Waldemar Gomes, gravação de 3 de julho de 1950, lançada em setembro seguinte, disco 13042-B, matriz 8719. E encerramos esta segunda parte no maior alto astral, com a “Marcha da vizinhança”, dos então “hitmakers” carnavalescos Paquito e Romeu Gentil,visando à folia de 1951, lançada em janeiro desse ano com o número 13081-A, e gravada ainda em 6 de setembro de 50, matriz 8791 (nessa época eles também lançaram o clássico “Tomara que chova”, da mesma dupla, já revivido anteriormente em nossa série). Como os leitores-ouvintes já perceberam, todas estas gravações saíram pela Odeon, onde os Vocalistas Tropicais ficariam até 1954, quando se transferiram para a Continental. Assim, o GRB apresentou, somando-se estas duas partes, 23 fonogramas do grupo vocal nordestino para a “marca do templo”, além de “Jacarepaguá” e “Tomara que chova”, já anteriormente apresentadas, perfazendo um total de 25 gravações deles no nosso GRB. Creio que em, todos eles, está o que existe de mais representativo e histórico dos Vocalistas Tropicais na Odeon. Ouça e recorde com carinho!


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO 

Vocalistas Tropicais Vol. 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical (2012)

Em sua vigésima-terceira edição, o Grand Record Brazil apresenta a primeira parte de uma retrospectiva das mais expressivas gravações dos Vocalistas Tropicais. Grupo vocal e instrumental, formou-se em 1941 na capital do Ceará, Fortaleza, e teve inúmeras formações até se definir com os seguintes componentes: Nilo Xavier da Mota (líder, violonista e arranjador), Raimundo Evandro Jataí de Souza (vocal, viola americana e arranjos), Artur Oliveira (percussionista e vocalista), Danúbio Barbosa Lima (percussionista), todos de Fortaleza, mais o recifense Arlindo Borges (vocalista e  solista de violão).
Eles se apresentaram, até 1944, na Ceará Rádio Clube, depois foram para São Luís do Maranhão, cantando na Rádio Timbira e no Hotel Cassino Central, e depois para Manaus, capital do Amazonas, onde se apresentaram na Rádio Baré.
Em 1945, acontece a inevitável mudança do grupo para a então Capital da República, o Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Ali chegando, foram contratados pela Rádio Mundial e pela gravadora Odeon. Exatamente em 6 de fevereiro de 1946, o quinteto comparece aos estúdios da “marca do templo” para gravar seu primeiro disco, lançado em março seguinte com o número 12681. No lado A, a matriz 8004 apresentava o fox “Papai, mamãe, você e eu”, de Paulo Sucupira (que também integrou o conjunto nessa ocasião e gravou com eles seus primeiros discos), e no verso, a matriz 8005 trouxe o balanceio “Tão fácil, tão bom”, do também cearense Lauro Maia. Foi aquele sucesso!
 Terminado o contrato com a Mundial, os Vocalistas Tropicais passam-se para a PRG-3, Rádio Tupi (“o cacique do ar”), e também atuaram em diversos cassinos cariocas, antes do governo Dutra proibir o jogo, além de participar de cinco filmes brasileiros. Em 1949/50, atuaram em duas revistas com Dercy Gonçalves, encenadas no Teatro Glória: “Quem está de ronda é São Borja” e “Confete na boca”. Ainda em 49, emplacam seu primeiro hit no carnaval, a marchinha “Jacarepaguá”, de Marino Pinto, Paquito e Romeu Gentil, vencedora do concurso oficial da prefeitura carioca, realizado no Teatro João Caetano. Sua discografia inclui 49 discos em 78 rpm, gravados nos selos Odeon, Continental, Copacabana e Indisco, além de um compacto simples pela RGE, em 1966, com as músicas “Hello, Dolly” e “Tô nesse bolo”. Esse foi o último disco deles, pois o grupo se desfez logo em seguida por falta de espaço na mídia, a exemplo de outros artistas contemporâneos deles. Neste primeiro volume, começamos a desfrutar um pouco da arte dos Vocalistas Tropicais, em registros de sua primeira fase, na Odeon. De início, as músicas do primeiro disco, já mencionadas aqui, “Papai, mamãe, você e eu” e “Tão fácil, tão bom”. Do segundo, de número 12691, gravado em 21 de março de 1946 e lançado em maio seguinte, o lado B, matriz 8011, outra composição de Lauro Maia, o “miudinho” “Tabuleiro d’areia”. Do terceiro disco, de número 12725, gravado em 6 de junho de 1946 e lançado em outubro seguinte, vem o lado B, matriz 8058, com o samba “Motivos musicais”, de Assis Valente e Alfredo de Proença. Do quarto disco, número 12740, gravado em 24 de setembro de 1946 e lançado em novembro seguinte, vem o lado A, matriz 8104, com a marchinha “Isto é que é amor”, de Matos Neto e Valter Silva. Evidentemente, a música visava o carnaval de 1947, assim como a faixa seguinte, o samba “Helena arrependida”, de Aristides Silva e J. Dutra, gravação de 19 de setembro de 1946 lançada um mês antes da folia, janeiro, com o número 12749-A, matriz 8096. Temos em seguida uma faixa histórica: ‘Tio Sam no samba”, que foi a primeira composição gravada de Zé Kéti (José Flores de Jesus, 1921-1999), um dos futuros monstros sagrados da MPB com hits do porte de “A voz do morro”, “Diz que fui por aí” e “Máscara negra”. Neste seu “debut” como autor, ele tyeve a parceria de Felisberto Martins, que então era também diretor artístico da Odeon. Os Vocalistas o gravaram em 16 de julho de 1946, mas a “marca do templo” só lançou a música em março de 47, com o número 12769-B, matriz 8074. Logo depois, as músicas do oitavo disco do grupo, número 12808, gravado em 2 de abril de 1947 e lançado em setembro seguinte, com dois sambas. Abrindo-o, matriz 8202, “Não manche o meu Panamá” (alusão a um tipo de chapéu em moda na época), de Alcebíades Nogueira, e, no verso, matriz 8203, “Exaltação a Noel”, de Waldemar Ressurreição, como indica o título, uma homenagem ao eterno Noel Rosa, morto prematuramente (26 anos) de tuberculose dez anos antes. Do nono disco dos Vocalistas, número 12818, gravado em 25 de agosto de 1947 e lançado em novembro seguinte, vem o lado B, matriz 8257, apresentando o samba “Perdoar nunca mais”, de Wilson Goulart, Álvaro Xavier e Romeu Gentil, visando ao carnaval de 1948, assim como a faixa seguinte, a marchinha “Pachá”, de Arnô Canegal e J. Piedade, gravação de 8 de outubro de 1947 lançada um mês antes dos festejos momescos, janeiro, com o número 12827-A, matriz 8278. Finalizando esta primeira parte, temos o samba “Apanhei do boogie woogie” (referência a um ritmo musical americano em voga na época), de Luiz Guilherme e Walter Teixeira, gravação de 31 de março de 1948 lançada em maio seguinte sob número 12856-A, matriz 8345. Enfim, é tudo que estamos apresentando para nossos amigos cultos e ocultos nesta primeira parte que o GRB dedica aos Vocalistas Tropicais. Aguardem que vem mais por aí!  

* texto SAMUEL MACHADO FILHO

Antenógenes Silva, Edú Da Gaita, José Menezes, Waldir Azevedo E Dilermando Reis – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 22 (2012)

Easy listening tupiniquim da melhor qualidade. É o que nos oferece esta vigésima-segunda edição do Grand Record Brazil, apresentando instrumentistas brasileiros que deixaram sua marca em nossa música popular.Começamos com um autêntico mago do acordeão: Antenógenes Silva (1906-2001), mineiro de Uberaba. Ele também exerceu profissões paralelas: comerciante de queijos e químico industrial, tendo sido fundador, no Rio de Janeiro, do Laboratório Creme Marcília, que existe até hoje. Os discos de Antenógenes, quando cantados (gravou com muitos intérpretes, tais como Gilberto Alves, Alcides Gerardi e Jamelão), traziam seu nome em destaque, aparecendo embaixo do de quem cantava, tamanho era seu prestígio popular. Da extensa discografia de Antenógenes, foi escalado para esta edição o disco Odeon 11739, gravado em 19 de junho de 1939 e lançado em julho seguinte, com duas valsas adaptadas por ele próprio. Abrindo o disco, a matriz 6113 apresenta a tradicional “Saudades de Ouro Preto”, gravada e regravada por inúmeros intérpretes, entre eles outro sanfoneiro, o grande Luiz Gonzaga (de quem Antenógenes, aliás, afinava ocasionalmente a sanfona, conforme revelou em entrevista a um programa de rádio). No verso, matriz 6114, vem “Saudades de Uberaba”, de autoria de Oscar Louzada, cuja primeira gravação foi feita ainda na fase mecânica pelo Grupo Vienense, em 1917. O acompanhamento em ambas as faixas é do violonista Rogério Guimarães.Em seguida, aquele que sem dúvida foi o maior virtuose da gaita que o Brasil já teve: Eduardo Nadruz, aliás, Edu da Gaita (Jaguarão, RS, 1916-Rio de Janeiro, 1982). Ele aqui aparece com “Capricho nortista”, uma seleção de baiões compostos por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, numa época em que o baião estava no auge do sucesso. Saiu pela Continental em maio-junho de 1950, ocupando os dois lados do 78 rpm 16192, matrizes 2259 e 2260. O arranjo e a regência do acompanhamento de cordas são de Alexandre Gnattali, irmão de Radamés.Trazemos depois o multi-instrumentista José Menezes de França, cearense de Jardim, nascido em 6 de setembro de 1921. O disco aqui apresentado é o Sinter 00.00-053, lançado em meados de 1951, em que Menezes executa seu cavaquinho à frente de seu conjunto e com a participação ao clarinete de outro grande instrumentista brasileiro, Abel Ferreira. Abrindo o disco, matriz S-107, o choro “Encabulado”, do próprio Menezes em parceria com Luiz Bittencourt, então diretor artístico da Sinter. No verso, matriz S-108, o clássico “De papo pro á”, de Joubert de Carvalho, em ritmo de baião, e lançado em 1931 por Gastão Formenti, com letra de Olegário Mariano. José Menezes, nos anos 1960, criou a orquestra dos Velhinhos Transviados, que tocava músicas atuais com arranjos antigos e vice-e-versa, lançando mais de 15 LPs.O nome seguinte é uma autêntica referência quando se fala em solistas de cavaquinho: Waldir Azevedo (Rio de Janeiro, 1923-São Paulo, 1980). Autor e intérprete de choros que marcaram época (como “Brasileirinho”, “Carioquinha”, “Pedacinhos do céu”, “Vê se gostas” e “Amigos do samba”, além do baião “Delicado”, hit internacional), Waldir aqui comparece com o disco Continental 16428, gravado em 27 de junho de 1951 e lançado entre julho e setembro do mesmo ano. No lado A, matriz 2635, Waldir sola o tango “Jalousie”, clássico de autoria do dinamarquês Jacob Gadé, composto em 1925 e sucesso instantâneo em todo o mundo. No verso, matriz 2637, o choro “Camundongo”, do próprio Waldir em parceria com o pandeirista Risadinha, então músico do conjunto do notável cavaquinista.E, para encerrar com chave de ouro, um violonista que também é referência obrigatória: Dilermando Reis (Guaratinguetá, SP, 1916-Rio de Janeiro, 1977). Ele manteve durante anos na lendária Rádio Nacional carioca o programa “Sua majestade, o violão”, além de ter dado aulas de seu instrumento a Juscelino Kubitschek de Oliveira, quando este era presidente do Brasil. Dilermando, um autêntico mago do violão, comparece aqui com duas gravações Continental: do disco 17522-A, lançado em janeiro-fevereiro de 1958, matriz C-4075, ele sola sua valsa “Se ela perguntar”, que fora sucesso em 1952 na voz de Carlos Galhardo, com letra de Jair Amorim. E do 78 de número 17604-A, lançado em novembro-dezembro do mesmo ano, matriz 12154, ele apresenta a canção (na verdade, um estudo em mi) “Romance de amor”, de autoria controvertida. Nesse disco, aparece como autor o nome de outro violonista e guitarrista, Vicente Gómez (Madri, Espanha, 1911-Los Angeles, EUA, 2001). Outras fontes atribuem a paternidade de “Romance de amor” a um misterioso Antonio Rovira, de biografia desconhecida, provavelmente um pseudônimo (fala-se até que ele nunca existiu). Ambas as faixas também saíram no LP “Sua majestade, o violão”, o segundo de Dilermando e o primeiro no formato-padrão de doze polegadas. Enfim, uma primorosa edição do GRB, para aqueles que sabem o que é bom e apreciam a arte de nossos maiores músicos. Não deixe de ouvir e guardar! 



*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 21 (2012)

E chegamos à vigésima-primeira edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brasil. E esta particularmente me orgulha, pois foi feita com a minha humilde colaboração. Alguns dos fonogramas preciosos que a compõem são de minha coleção particular, e nesse caso sinto-me feliz em ter ajudado a fazer a edição desta semana do GRB.
Para começar, apresentamos um disco do Quarteto Quitandinha, que teve uma atuação curta porém marcante. Era formado pelos gaúchos Alberto Ruschel (mais tarde ator de cinema), Francisco Pacheco, Luiz Teles e o violonista Luiz Bonfá, autêntico precursor da bossa nova que, evidentemente, integrou-se ao movimento, e é autor de clássicos como “De cigarro em cigarro” e “Manhã de carnaval”, este em parceria com Antônio Maria. O nome do grupo foi dado pelo produtor Carlos Machado quando o mesmo se apresentava no Hotel Quitandinha, na cidade serrana de Petrópolis, RJ. Em 1946, com o fim dos cassinos no Brasil, por decreto do então presidente Dutra, o conjunto foi para o Rio de Janeiro em busca de novos horizontes para continuar sua carreira, apresentando-se em rádios como a lendária e então poderosa Nacional. Seu primeiro disco saiu pela Continental, em setembro de 1946, apresentando o samba-jongo “Vou vender meu barco” e a popular canção mexicana “Malagueña”. Nesta edição do GRB, o segundo disco dos Quitandinhas, o Continental 15835, gravado em 25 de setembro de 1947 e lançado em outubro seguinte. O lado A, matriz 1729,  é a clássica toada “Felicidade”, um dos maiores hits de Lupicínio Rodrigues como compositor, e que voltaria a fazer sucesso em 1974, mesmo ano da morte do autor, numa regravação de Caetano Veloso. No verso, matriz 1730, uma canção típica gaúcha, da autoria de Artur Elzner e Ney Messias, “Minuano”, vento frio e gelado, típico da Região Sul. O Quarteto Quitandinha, depois Quitandinha Serenaders, gravaria mais tarde seis discos pela Odeon, e se desfez em 1952.
Sílvio Caldas, o sempre festejado “caboclinho querido”, aqui comparece com o disco Sinter 00.00-186, lançado em abril de 1953, com duas composições de Joubert de Carvalho, e acompanhamento da orquestra do sempre eficiente Lírio Panicalli. Abrindo o disco, matriz S-413, a pungente canção “Silêncio do cantor”. Os versos de David Nasser foram escritos a pedido de Francisco Alves, que imaginava com tristeza o dia em que se aposentasse da carreira artística. Chico musicou a letra, mas a melodia se perdeu, sem ser gravada, justamente por causa do acidente automobilístico que o vitimou, em 27 de setembro de 1952. A letra estava dentro do violão de Chico, e salvou-se milagrosamente do fogo do acidente. Então David Nasser recorreu a Joubert de Carvalho, que fez nova melodia, e “Silêncio do cantor” acabou se tornando uma homenagem póstuma àquele que foi o Rei da Voz. Completando o 78, matriz S-395, a valsa “Flamboyant”, de Joubert sozinho.
Em seguida apresentamos o pernambucano e recifense José Tobias de Santana, que veio ao mundo no dia 6 de março de 1928. Iniciou sua carreira na Rádio Jornal do Commércio, e pouco depois mudou-se para o Rio de Janeiro, contratado pela PRG-3, Rádio Tupi (“o cacique do ar”), atuando na também na Rádio Record de São Paulo, PRE-8 (então “a maior”). Estreou em disco na Star, em 1952, interpretando dois baiões de Zé Dantas, “Acauã” e “Chora baixinho”. O disco daqui é o Copacabana 5276, lançado em meados de 1954, provavelmente em junho. No lado A, matriz M-605, o samba (tendendo mais para toada) “Criança má”, de Luiz Gonzaga em parceria com o escritor e radialista Giuseppe Ghiaroni. E o lado B, matriz M-606, é um verdadeiro clássico: a rancheira “Você vai gostar”, muitas vezes regravada, e também conhecida com os títulos “Casinha branca” e “Lá no pé da serra”. Seu autor, Elpídio dos Santos, apelidado de Conde (1909-1970), era paulista de São Luiz de Paraitinga, cidade que, lamentavelmente, teve seu patrimônio histórico destruído por enchentes, mas atualmente em processo de reerguimento. Elpídio era também o compositor predileto do comediante Mazzaropi, tendo feito inúmeras músicas para seus filmes.
Em seguida apresentamos as músicas do disco de estréia do cantor Carlos Antunes, sobre o qual há pouquíssimas informações biográficas disponíveis. Mineiro de Guarani, chamava-se Joaquim Sérgio Ferreira, e residiu por muitos anos em São Paulo, onde ganhou a vida como professor. Depois disso, voltou à sua Guarani para desfrutar da aposentadoria, direito aliás de qualquer cidadão, e faleceu por volta de 1998. Sua discografia como cantor, que vai de 1952 a 1959, tem apenas 7 discos com 13 músicas, a maioria pela Continental e apenas um na RCA Victor. E sua estréia deu-se justamente com nosso disco desta semana, o Continental 16525, gravado em 28 de agosto de 1951, porém só lançado em março-abril de 1952 , com duas composições de João Manoel Alves (português de Monção, que se radicou no Brasil em 1929) e Arlindo Pinto (São Paulo, 1906-idem, 1968), este parceiro de Mário Zan e Palmeira em inúmeros sucessos. Abrindo o disco, matriz 11251-R, o tango-canção “Farrapo humano”, ao que parece inspirado em um filme americano de mesmo nome, de 1945, dirigido por Billy Wilder e estrelado por Ray Milland, retratando de forma realista o problema do alcoolismo. A película ganhou quatro Oscars: filme, ator (Milland), direção (Wilder) e roteiro original. No verso, matriz 11250-R, a canção “Cigana”. Ambas as músicas, com acompanhamento do regional do violonista Nélson Miranda, alcançaram expressivo sucesso, em particular no Nordeste, graças à interpretação única que Carlos Antunes lhes soube dar, e ainda hoje comovem o sentimento popular, sendo muito lembradas e procuradas por colecionadores.
Por fim, apresentamos o grande Tito Madi, verdadeiro ícone de nosso cancioneiro romântico. E seu disco desta semana no GRB, o Continental 17416, lançado em março-abril de 1957, apresenta dois clássicos de sua autoria, muito lembrados até hoje. Abrindo o disco, matriz C-3917, a valsa “Chove lá fora”, sucesso fulminante, inclusive no exterior, sendo gravada em inglês pelo grupo vocal americano The Platters com o título “It’s raining outside”. No verso, matriz C-3916, o samba-canção “Gauchinha bem querer”, que Tito compôs quando participou de festejos promovidos pela Rádio Farroupilha de Porto Alegre. Ambos os registros têm acompanhamento orquestral do gaúcho Radamés Gnattali, e são portanto bem diferentes dos que estão nos LPS disponibilizados pelo Toque Musical. Nunca tiveram qualquer relançamento, e portanto são verdadeiras relíquias, como aliás todos os que compõem esta edição do GRB, para você guardar com carinho e desfrutar de verdadeiras joias raras de nossa música popular. Bom divertimento! 

Samuel Machado Filho

A Era Getúlio Vargas Vol. 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 20 (2012)

O Grand Record Brazil está de volta com a segunda e última parte da crônica musical da era Getúlio Vargas. Obedecendo à cronologia dos fatos, começamos com a deposição de Getúlio pelos militares, acontecida em 29 de outubro de 1945. O “pai dos pobres” teria de deixar o poder, após quinze anos, pois as eleições estavam marcadas para 2 de dezembro daquele ano. Mas Getúlio articulava sua candidatura e mesmo um novo golpe, como em 1937, e a campanha “Queremista” (“Queremos Getúlio”) estava nas ruas. Os militares entraram em cena e tiraram Getúlio do poder à força. Nem bem Getúlio saía do Catete, Herivelto Martins e Ciro de Souza compuseram uma marchinha para o carnaval de 1946: “Palacete no Catete”. Apenas um dia depois, 30 de outubro de 45, lá estava Francisco Alves no estúdio da Odeon para gravar, acompanhado da orquestra de Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro), “Palacete no Catete”, em que Getúlio é apresentado como o “inquilino”que se mudou de lá após morar nele quinze anos. Em dezembro de 1945, o disco já estava nas lojas com o número 12649-A, matriz 7927. Nas eleições daquele ano, a vitória foi do candidato apoiado por Getúlio, o marechal Eurico Gaspar Dutra.
Cinco anos depois, a 20 de janeiro de 1950, Jorge Goulart grava na Continental, para o carnaval desse ano, a marchinha “Ai, Gegê”, de João “Braguinha” de Barro e Alberto Ribeiro, expressando a saudade que o povo então sentia de Getúlio e mostrando como a situação piorou depois de sua saída do poder, até mesmo a inflação. O disco saiu pela Continental com o número 16172-A, matriz 11110, em março-abril de 1950, detalhe intrigante, uma vez que o carnaval já havia passado…
 A deposição de Getúlio fez com que seu retrato oficial, com a faixa de presidente, datado de 1934, fosse retirado das repartições públicas e até mesmo das paredes de muitos lares, sendo que até não simpatizantes o mantinham pendurado em casa, por precaução. Mas o tempo passou e, em 1950, Getúlio foi o grande vitorioso das eleições presidenciais, acontecidas em 3 de outubro daquele ano. Ironizando os anti-getulistas, Haroldo Lobo e Marino Pinto compõem a espirituosa marchinha “Retrato do velho”, concitando a volta do mesmo. Gravada por Francisco Alves na Odeon, em 16 de outubro de 1950, com acompanhamento de regional, e lançada um mês antes do carnaval de 51, janeiro, com o número 13078-A, matriz 8826, “Retrato do velho” foi um grande sucesso na folia daquele ano, e na edição impressa dos irmãos Vitale os autores homenageiam o jornal “O Radical”, então “líder dos órgãos trabalhistas brasileiros”.
Em seu segundo mandato, Getúlio cria o Ministério da Economia, e isso inspira Geraldo Pereira e Arnaldo Passos a compor um interessante samba-crônica a respeito, com perspectivas bastante otimistas, inclusive com barateamento do custo de vida. A música, também chamada “Ministério da Economia”, é lançada pelo próprio Geraldo na Sinter, em agosto de 1951, com o número 00-00.071-B, matriz S-150, e mereceu mais tarde inúmeras regravações, uma delas inclusive com Bebel Gilberto, em dueto com Pedrinho Rodrigues.
E, como a moradia sempre foi problema, Horácio Felisberto, o Dácio, compõe para o carnaval de 1952 o samba “Coisa modesta”, na qual um operário, morando embaixo da ponte por causa de despejo, pede a Getúlio uma moradia bem simples, nada sofisticada, apenas um barracão para poder morar com um mínimo de conforto. Alcides Gerardi o gravou na Odeon em 22 de outubro de 1951, com lançamento um mês antes da folia de 52, janeiro, com o número 13213-A, matriz 9165.
 O bordão com que Getúlio Vargas iniciava seus discursos, “Trabalhadores do Brasil”, inspira o humorista e compositor Silvino Neto a lançar um samba mostrando que naquela ocasião a vida estava “de amargar”. Ele próprio o lança na Copacabana, em janeiro de 1953, com vistas, claro, ao carnaval desse ano, disco 5035-B, matriz M-301. O próprio Silvino Neto é quem imita Getúlio no início do registro, como fazia no programa de rádio “Pimpinela escarlate”.
 Já naquele tempo, o funcionalismo público já era aquilo que chamamos de “cabide de emprego”. É o que comprova a marchinha de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti aqui incluída: “Se eu fosse o Getúlio”, na qual, através do vozeirão do grande Nélson Gonçalves, eles pedem que toda essa gente seja mandada para a lavoura, ou seja, o setor agro-pecuário. Gravação RCA Victor de 16 de novembro de 1953,  lançada para o carnaval de 54 um mês antes do mesmo, janeiro, com o número 80-1248-B, matriz BE3VB-0308. Creio que seja adequada para qualquer presidente brasileiro que esteja no poder, até mesmo a atual titular do posto…

Em 5 de agosto de 1954, ocorre um atentado em frente ao prédio em que residia o jornalista e político Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Getúlio Vargas, em frente ao edifício em que residia, na Rua Tonelero, no bairro carioca de Copacabana. Lacerda é ferido no pé  e o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, que o acompanhava, acabou morto. O atentado foi atribuído a membros da guarda pessoal de Getúlio, sendo seu líder, Gregório Fortunato, acusado de ser o mandante do crime, e além disso a FAB, à qual pertencia o major Vaz, tinha como grande herói o brigadeiro Eduardo Gomes, derrotado por Getúlio nas eleições de 1950. Isso desencadeia grave crise política, na qual o povo e os militares pedem a renúncia de Getúlio. Não tendo outra alternativa, e após aquela que seria sua última reunião ministerial como presidente da República, Getúlio se suicida com um tiro no coração, na fatídica madrugada de 24 de agosto de 1954, deixando uma famosa carta-testamento e causando forte comoção em todo o pais. Por isso mesmo, encerramos esta retrospectiva musical da era Vargas com duas homenagens póstumas. A primeira é o rojão (espécie de baião mais acelerado) “Ele disse”, lançado na Copacabana por Jackson do Pandeiro dois anos após a morte de Getúlio, em 1956, com o número 5579-A, matriz M-1503, citando inclusive uma frase dessa carta: “O povo de quem fui escravo jamais será escravo de ninguém”. E a segunda, composta por João “Braguinha” de Barro, é o “Hino a Getúlio Vargas”, lançado por Gilberto Milfont na Continental em setembro-outubro de 1958 com o número 17579-A, matriz C-3478. Curiosamente, no verso do disco, a música aparece em versão apenas instrumental, com a Orquestra Continental. Enfim, esta é a segunda e última parte de uma retrospectiva que apresentou interessantes crônicas musicais da era getulista, inclusive mostrando a comoção que seu trágico suicídio desencadeou. Mas, como diz o hino de Braguinha, Getúlio ficará para sempre no coração do Brasil! 


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

A Era Getúlio Vargas – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol.19 (2012)

Nenhum outro presidente da República no Brasil ficou tanto tempo no poder quanto o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas (São Borja, RS-1882-Rio de Janeiro, 1954). Ele chegou à presidência em 1930, após a deposição de Washington Luís, de quem ironicamente havia sido ministro da Fazenda, e consequente fim da “política café com  leite”, em que São Paulo e Minas Gerais se.alternavam no comando da Nação. Daí em diante, ficou quinze anos ininterruptos, até ser deposto em 1945. Em 1951, Getúlio voltou ao poder, desta vez pelo voto direto, mas em virtude de forte oposição a seu governo (no qual inclusive foi criada a Petrobrás), acabou se suicidando no dia 24 de agosto de 1954, provocando comoção geral em todo o país. Somando-se esses dois períodos, Getúlio ficou no poder durante dezoito anos e sete meses, um recorde absoluto.
O Grand Record Brazil começa hoje a nos transportar para esse que foi um dos mais importantes períodos da História brasileira: a era getulista. Tudo começa com a derrota de Getúlio Vargas para Júlio Prestes, na eleição de 1930. A 26 de julho daquele ano, João Pessoa, candidato a vice na chapa derrotada, foi assassinado a tiros na Confeitaria A Glória, do Recife, por seu desafeto João Dantas, por motivos estritamente pessoais. Apesar disso, a oposição transformou o fato em instrumento político, jogando o povo contra o governo. Daí nasce a Aliança Liberal, formada pelos estados do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de Minas Gerias, que depõe Washington Luíz e põe Getúlio no poder, a famosa Revolução de 30.
O disco que abre nossa seleção musical desta semana é o Columbia 5117, lançado em dezembro de 1929, com duas marchinhas de Hekel Tavares e Luiz Peixoto (parceiros na clássica canção “Casa de caboclo”) para o carnaval de 30, interpretadas pelo paulistano Jayme Redondo (1890-1952), com acompanhamento de grupo regional, e que refletem muito bem os momentos acirrados da sucessão de Washington Luís.  No lado A, a matriz 380430 apresenta “Harmonia! Harmonia!”, e o verso, matriz 380431, “Comendo bola”. Nessas duas músicas, há todo um rico documentário político de fatos e personagens: Barbado (Washington Luís), Antônio Carlos (então governador mineiro), as cartas turcas, 17 Estados a favor de Prestes e só três contra, etc. “Comendo bola” é nitidamente a favor de Júlio Prestes: “Getúlio, você tá comendo bola/ Não te mete com seu Júlio/ Não te mete com seu Júlio/ que seu Júlio tem escola”.
Evidentemente, por questão de bom senso, mostramos aqui também o outro lado, ou seja, o dos getulistas. Vitoriosa a Revolução de 30, com Getúlio já no poder, Lamartine Babo lança, para o carnaval de 1931, a marchinha “G-E-Gê (Seu Getúlio)”, fazendo velada propaganda do novo chefe da nação, com a exaltação da nova ordem para o povo brasileiro, a mudança custe o que custar. Possivelmente teria sido executada como “jingle” político na construção do apoio ao golpe contra Prestes. Almirante e o Bando de Tangarás ficaram incumbidos de lançá-la, pela Parlophon, em janeiro de 1931, no disco 13274-B, matriz 131057, com acompanhamento da Orquestra Guanabara.
Seis anos mais tarde, durante o chamado “governo provisório” getulista, fala-se na possibilidade de eleições para a escolha do sucessor de Getúlio na presidência, com dois fortes candidatos: o então governador de São Paulo Armando Salles de Oliveira (o seu Manduca), este com a candidatura já lançada, e o ministro Osvaldo Aranha (o seu Vavá), que na verdade nem sequer chegou a se candidatar. A 28 de novembro de 1936, Sílvio Caldas grava na Odeon, para o carnaval de 37, com lançamento em janeiro (11450-A, matriz 5468), a marchinha “A menina presidência”, de Nássara e Cristóvão de Alencar, vencedora de um concurso chamado “Quem será o homem?”, antecipando o desfecho nos versos finais do estribilho: “Na hora H quem vai ficar é seu Gegê”. E, de fato, as eleições não aconteceram, pois a 10 de novembro de 1937, Getúlio implanta no país o Estado Novo, com maior centralização do poder, ficando na presidência até sua deposição, em 1945.
Do Estado Novo já é a faixa seguinte, a marchinha “Glórias do Brasil”, de Zé Pretinho e Antônio Gilberto dos Santos. Foi gravada na Odeon em 16 de agosto de 1938, com lançamento em outubro seguinte com o número 11646-A, matriz 5902, na interpretação de Nuno Roland (Reinold Correia de Oliveira, 1913-1975), catarinense de Joinville, então em princípio de carreira. É uma verdadeira exaltação de cunho patriótico ao então chefe da Nação.
Mais tarde, seguindo o exemplo do governo fascista italiano, Getúlio decreta o aumento do imposto de renda dos solteiros, e incentiva com benefícios as famílias numerosas. Isso inspira o  poeta de Miraí, Ataulfo Alves, a compor com Felisberto Martins o samba “É negócio casar!”, que ele próprio grava na Odeon em 12 de junho de 1941, com acompanhamento da orquestra do maestro Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro), sendo o disco lançado em outubro seguinte com o número 12047-A, matriz 6686. Uma autêntica e interessante crônica.
Um ano mais tarde, foi lançado um sem número de canções patrióticas, refletindo a tensão provocada pela Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939  e que já preocupava e afetava o Brasil, visando levantar o orgulho e a consciência nacionais. Dessa época é o samba “Brasil brasileiro”, gravado por Carlos Galhardo na Victor com acompanhamento da orquestra do maestro Passos, em 9 de junho de 1942, com lançamento em agosto seguinte, disco 34951-A, matriz S-052546. Pouco tempo antes, em maio de 42, a Columbia lançou, na voz de Déo (Ferjallah Rizkallah, “o ditador de sucessos”), acompanhado por Chiquinho e seu ritmo, o samba “O sorriso do presidente”, de Alcyr Pires Vermelho e Alberto Ribeiro, disco 55336-A, matriz 525. Nesse mesmo ano, por força do torpedeamento de navios mercantes brasileiros, o Brasil declarava guerra aos países do Eixo, Alemanha, Itália e Japão, assim entrando no conflito.
Finalizando esta primeira parte, temos o grande Moreira da Silva, o eterno Kid Morenguera, inimitável rei do samba de breque, interpretando, de Henrique Gonçalez, “Diplomata”, gravado na Odeon em primeiro de outubro de 1942, com a declaração brasileira de guerra já consumada,  e lançamento em janeiro de 43 sob número 12252-A, matriz 7075. Devidamente acompanhado pelo regional do multi-instrumentista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955, autor de “Duas contas”, “São Paulo quatrocentão” e “Gente humilde”), Moreira exalta a figura de Getúlio, um “homem de fibra”, e conclama o povo brasileiro à luta.

Enfim, são autênticas crônicas musicais desse período importante de nossa História. E fiquem ligados, pois semana que vem tem mais. Até lá!


TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Dalva De Oliveira, Dolores Duran, Lana Bittencourt, Linda Batista, Neide Fraga, Nora Ney – Seleção 78 RPM Do Toque Musical (2012)

Após uma semana de ausência (involuntária, pelos motivos conhecidos de todos), aqui está a décima-oitava edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Desta vez apresentamos cantoras que deixaram sua marca na história de nossa música popular, em alguns de seus melhores momentos.

Abrindo nossa seleção desta semana, temos a grande Nora Ney (Iracema de Souza Ferreira, Rio de Janeiro, 1922-idem, 2003), uma das precursoras da bossa nova, com seu canto quase falado e sua voz calma e grave. E em um de seus melhores discos, o Continental 16728, gravado em 23 de janeiro de 1953 e lançado em março-abril do mesmo ano, com dois sambas-canções clássicos. No lado A, a matriz C-3043 apresenta esta obra-prima de Luiz Bonfá, “De cigarro em cigarro”, uma das mais apreciadas páginas do repertório de Nora, e que foi gravada até em Espanhol por Gregório Barrios. No verso, matriz C-3044, “Onde anda você?”, assinada por um mestre da dor-de-cotovelo, Antônio Maria, junto com Reinaldo Dias Leme. No acompanhamento, a orquestra do maestro Copinha.

A sempre lembrada Linda Batista (Florinda Grandino de Oliveira, São Paulo, 1919-Rio de Janeiro, 1988) dá prosseguimento a esta seleção com dois discos. Primeiro, um do auge de sua carreira, o RCA Victor 80-0802, gravado em 19 de maio de 1951 e lançado em agosto seguinte, com dois sambas-canções do mestre Lupicínio Rodrigues e acompanhamento do conjunto do violinista Fafá Lemos. O lado A, matriz S-092961, é o famoso “Vingança”, uma verdadeira coqueluche na interpretação de Linda. Já havia sido gravado anteriormente pelo Trio de Ouro, já sem Dalva de Oliveira, substituída por Noemi Cavalcanti e mantendo Nilo Chagas e Herivelto Martins, seu fundador, porém o sucesso foi mesmo de Linda. E acredite: teve gente que até se suicidou ao som de “Vingança”! No verso, a matriz S-092962 nos traz “Dona Divergência”, parceria de Lupi com Felisberto Martins, também sucesso, embora um pouquinho menor que o de “Vingança”. Em seguida, seremos transportados para o início de carreira de Linda, mais exatamente sua estreia fonográfica, na Odeon, com o disco 11631, gravado em dupla com Fernando Alvarez no dia 20 de junho de 1938, com acompanhamento orquestral do palestino Simon Bountman, e lançamento em agosto do mesmo ano, trazendo duas rumbas de Djalma Esteves, um especialista nesse gênero cubano. No lado A, matriz 5868, “Churrasco”, de Djalma com Augusto Garcez, e no verso, matriz 5869, “Chimarrão”, só de Djalma. Bah, tchê!

A carioca Irlan Figueiredo Passos, aliás Lana Bittencourt (n. 1931), aqui comparece com o disco Columbia CB-10388, lançado ao apagar das luzes de 1957. Abrindo o disco, a matriz CBO-902 apresenta sua personalíssima interpretação de “Little darlin’”, de Maurice Williams, em ritmo de rumba, que fez muito mais sucesso que o registro original americano, em ritmo de calipso, com o grupo The Diamonds, sendo depois incluída no LP “Lana em musicalscope”. No verso, matriz CBO-1206, uma regravação em ritmo de fox da canção “Feliz Natal”, da dupla Klécius Caldas-Armando Cavalcanti, originalmente lançada por Dick Farney em 1949. Este registro de Lana também saiu no LP-coletânea “Nosso Natal”. Passado o dito cujo, o 78 de “Little darlin”” foi relançado com o número CB-10395, e no verso foi relançado o baião “Zezé”, de Humberto Teixeira.

Embora mais conhecida como compositora, a carioca Dolores Duran (Adiléa Silva da Rocha, 1930-1959) foi também uma intérprete versátil, cantando em todos os idiomas (até mesmo em esperanto!). É o que comprova o disco desta seleção, o Copacabana 5917,lançado em junho de 1958, com acompanhamento do conjunto de Severino Filho, fundador do grupo Os Cariocas. O lado A, matriz M-2236, apresenta o clássico fox italiano “Nel blu dipinto di blu”, mais conhecido como “Volare”, primeira palavra do estribilho, com o qual Domenico Modugno venceu o Festival de San Remo daquele ano. No verso, matriz M-2237, o clássico samba-canção ‘Quem foi?”, de Nestor de Holanda e Jorge Tavares, originalmente lançado em 1947 por Aracy de Almeida, ao lado dos Vocalistas Tropicais. As duas faixas saíram também em LP (era uma época de transição de formatos), ou seja, nos dois volumes de “Dolores Duran canta para você dançar”, sendo “Quem foi?” do primeiro e “Nel blu dipinto di blu” do segundo.

A sempre lembrada Dalva de Oliveira (Vicentina de Paula Oliveira, Rio Claro, SP, 1917-Rio de Janeiro, 1972) comparece aqui com uma marcha-rancho de Pereira Mattos e Mário Rossi, composta em homenagem a Francisco Alves, morto em trágico acidente automobilístico na Via Dutra, em 27 de setembro de 1952. Seis dias depois, a 3 de outubro, Dalva, recém-chegada de uma longa excursão à Europa, compareceu ao estúdio da Odeon para gravar “Meu rouxinol”, matriz 9451, e o disco chegou às lojas em dezembro com o número 13350, sem gravação no lado B, em sinal de luto pela morte de Chico Viola, com direitos revertidos a instituições de caridade auxiliadas pelo cantor, se houvesse registro dele nesse disco.

Neide Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987) nos apresenta sua gravação da “Canção de aniversário”, de Joubert de Carvalho, feita na Odeon em 16 de outubro de 1953 e lançada em dezembro seguinte com o número 13562-B, matriz 9919. Originalmente a música saiu em 1950, pela Sinter, com a orquestra e o coral de Lírio Panicalli. Quatro versos apenas, mas isso é apenas um detalhe, pois afinal boa música não é Lusíadas.

Finalmente, temos a paulistana Vitória de Martino Bonaiutti, aliás, Marlene, interpretando um baião junino de Rômulo Paes e Haroldo Lobo, “Canção das noivas”, lançado em maio-junho de 1952 pela Continental com o número 16556-B, matriz C-2843. No acompanhamento, o conjunto do sempre eficiente Radamés Gnatalli. Mais uma diversão garantida para nossos amigos cultos e ocultos!

 
* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Alfredo Moretti, Blackout, Carlos Galhardo, Cauby Peixoto, Francisco Alves – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 17 (2012)

Esta já é a décima-sétima edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Uma trajetória excelente, mas olha, certamente iremos muito além, se Deus quiser. Aqui temos, treze fonogramas raros, a maior parte de cantores bastante conhecidos e que deixaram sua marca na história da música popular brasileira. Exceção feita, claro, ao paulistano Alfredo Moretti (c.1925-?). Com timbre semelhante ao de Francisco Alves (também aqui lembrado), ele ficou esquecido com o passar do tempo, talvez pela escassa discografia que deixou: apenas nove discos 78 com dezoito músicas, entre 1953 e 1957, nos selos Columbia (oito) e Todamérica. (o último). Nesta edição do GRB, eis seu sexto disco, o Columbia CB-10182, lançado em agosto de 1955. No lado A, matriz CBO-543, o samba-canção “Violão amigo”, de Ítalo Moretti, e no verso, matriz CBO-541, o bolero “Porque te quero”, de autoria do acordeonista Mário Gennari Filho em parceria com Joamar (quem seria?), e certamente é o próprio Gennari quem o acompanha com seu acordeão e seu conjunto, ambos não-creditados no selo original.
Já que falamos anteriormente de Francisco Alves, o eterno e eclético Rei da Voz, cuja trágica morte em acidente rodoviário completa 60 anos em setembro próximo, ele aqui comparece com cinco faixas bastante apreciadas. Uma delas é seu eterno carro-chefe, a “canção brasileira” “A voz do violão”, melodia sua e versos de Horácio Campos, feita para uma revista teatral chamada “Não isso é que eu procuro”, encenada no Teatro Carlos Gomes, no Rio. E foi a música que Chico mais gravou de todo o seu repertório: “apenas” quatro vezes, a primeira em 1928 (selo Parlophoin), a segunda em 1929 (feita a pedido do letrista Horácio, que não gostou de ter seu nome omitido na primeira gravação), a terceira em 1939 e esta aqui, a quarta e última, todas pela Odeon. O registro daqui é de 5 de abril de 1951, matriz 8943, lançado em julho seguinte com o número13143-A. No verso, matriz 8941, outra regravação, a da canção “Lua nova”, também com melodia dele próprio e versos de Luiz Iglésias, lançada originalmente por Chico em 1928, e aqui com o subtítulo de “Lua nova”, com versos do homem de teatro Luiz Iglésias, que inclusive foi marido da atriz Eva Todor, estrela de sua companhia teatral. Em seguida, o disco Columbia 55248-B, de 7 de novembro de 1940, lançado em dezembro seguinte, matriz 338, apresentando a lírica marcha-rancho “A flor e o vento”, da parceria João “Braguinha” de Barro-Alberto Ribeiro, com acompanhamento orquestral de Radamés Gnatalli. O lado A, já revivido aqui anteriormente, é “Onde o céu azul é mais azul”, dos mesmos autores mais Alcyr Pires Vermelho. Em seguida temos uma versão, das muitas que Haroldo Barbosa fez para o Rei da Voz, gravação Odeon de 8 de setembro de 1944, lançada em agosto seguinte com o número 12505-B, matriz 7647 (o outro lado de “Para sempre adeus”, também já revivida aqui), com acompanhamento orquestral de Fon-Fon. É o fox “Lagoa adormecida (Sleepy lagoon)”, de Eric Coates e J. Lawrence, do filme “Minha secretária brasileira (Springtime in the rockies)”, da 20th Century Fox, dirigido por Irving Cummings (tendo nada mais nada menos do que Cármen Miranda no elenco!). Nele, a música é executada pela orquestra do bandleader Harry James. Encerrando a participação do Rei da Voz nesta edição, temos a primeiríssima e originalíssima gravação do samba-canção “Marina”, de autoria do mestre baiano Dorival Caymmi. Ela foi feita por Chico na sua Odeon de sempre em 11 de março de 1947, com lançamento em maio seguinte com o número 12773-B, matriz 8191 (é o outro lado do fox-canção “Maria”, que já oferecemos antes também). Um mês mais tarde, Dick Farney também gravou “Marina”, na Continental, acompanhando-se ao piano, com lançamento em junho seguinte, e esse acabou sendo o registro de maior sucesso, fazendo muitos pensarem que foi Dick o lançador do samba-canção de Caymmi (ele regravaria a música outras quatro vezes). Ainda em 1947, Nélson Gonçalves e o próprio Caymmi fizeram seus registros de “Marina”, ambos pela RCA Victor.
Falemos agora de Otávio Henrique de Oliveira. Quem? É nada mais nada menos que Blecaute, o eterno “general da banda” (Espírito Santo do Pinhal, SP, 1919-Rio de Janeiro, 1983), que recebeu esse apelido do Capitão Furtado, radialista e compositor, sobrinho de Cornélio Pires, por causa dos apagões frequentes na época do pós-guerra. São três gravações relacionadas a datas comemorativas. Pra começar, o baião junino “Santo Antônio não gosta”, da profícua parceria Haroldo Lobo-Mílton de Oliveira (também responsável por muitos hits carnavalescos), gravado na Continental em 10 de abril de 1952, com lançamento em maio-junho desse ano sob número 16556-A, matriz C-2834, com acompanhamento do conjunto do trombonista Astor Silva, o Astor do Trombone. Em seguida o Copacabana 5502, lançado em dezembro de 1955. No lado A, matriz M-1273, um clássico natalino brasileiro: a “valsinha de roda” “Natal das crianças”, de autoria dele mesmo e ainda hoje muito lembrada. No verso, matriz M-1272, Blecaute homenageia as noivas com a marcha “Noiva querida”, de Silvino Neto, também humorista de rádio e autor dos clássicos “Cinco letras que choram” e “Valsa dos namorados”, ambos hits de Francisco Alves.
Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”, está de novo presente no GRB, com mais uma homenagem às noivas: é a valsa “Aniversário de casamento (Anniversary waltz)”, do romeno Ian Ivanovici em versão do especialista Lourival Faissal. Gravação RCA Victor de 4 de agosto de 1950, lançada em agosto seguinte com o número 80-0697-B, matriz S-092727. Essa mesma gravação foi reeditada em dezembro de 1952 com o número 80-1060-B, e é mais uma prova que as datas comemorativas (aniversário, Natal, bodas de prata, etc.) foram gfravadas por Galhardo mais que qualquer outro intérprete.

Para encerrar, um intérprete que tem resistido ao tempo, e já octogenário, ainda em franca atividade: é o grande Cauby Peixoto, que aqui comparece com um disco “internacional”, o Columbia CB-11000. Ele foi gravado em Hollywood, Califórnia, EUA, em 1955, quando da primeira temporada do “professor da MPB” naquele país, com acompanhamento orquestral de um dos mais expressivos maestros da época, Paul Weston. No lado A, matriz RHCO-33427, o samba-canção “Final de amor”, composto pelo empresário do cantor, Di Veras, em parceria com Haroldo Barbosa. No verso, matriz RHCO-33426, o bolero “A pérola e o rubi (The ruby and the pearl)”, da dupla Jay Livingstone-Ray Evans, vertida por outro especialista na matéria, Haroldo Barbosa. Ambas as gravações também saíram no primeiro LP de Cauby, o dez polegadas “Blue gardenia”, junto com outras duas também gravadas por ele nessa temporada americana, “Sem porém nem porquê” e “Nossa rua”. Enfim, mais um presente do TM para todos os amigos ocultos e ocultos que apreciam o que é bom. Diversão garantida!

 
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Ademilde Fonseca – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 16 (2012)

No dia 27 de março de 2012, o Brasil perdeu uma de suas cantoras mais expressivas, e um autêntico ícone da chamada era do rádio: Ademilde Fonseca Delfim. E o Grand Record Brazil presta merecida e expressiva homenagem a esta que foi conhecida como “rainha do chorinho”, reunindo 40 preciosas gravações em 78 rpm, selecionadas entre as mais de 80 deixadas pela cantora nesse formato. Ademilde nasceu em Macaíba, RN, em 4 de março de 1921. Aos quatro anos de idade mudou-se com a família para a capital potiguar, Natal, ali vivendo até 1941. Gostava de cantar desde criança, e ainda na adolescência começou a se interessar por serestas, travando conhecimento com músicos lá de Natal. Foi com um desses seresteiros, Naldimar Gedeão Delfim, que Ademilde contraiu núpcias, indo morar com ele no Rio de Janeiro. Em 1942, após um teste na Rádio Clube do Brasil, apresentou-se no programa de calouros “Papel carbono”, de Renato Murce. Nesse mesmo ano cantou em uma festa, acompanhada pelo regional do flautista Benedito Lacerda, o choro clássico “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu, com letra do dentista Eurico Barreiros, que a havia feito especialmente para sua filhinha Ely cantar, onze anos antes, sendo tal letra conhecida por Ademilde desde menina. Benedito gostou tanto de sua interpretação que a levou à gravadora Columbia (futura Continental), cujo diretor artístico era o grande João “Braguinha” de Barro, para registrar seu primeiro disco. Isso se deu em 10 de agosto de 1942, e foi a primeira vez que o “Tico-tico” foi gravado com letra, e sete anos depois da morte de Zequinha de Abreu. Lançado em setembro seguinte com o número 55638, o disco trouxe no verso o samba “Volte pro morro”, do próprio Benedito Lacerda com Darcy de Oliveira. Nele também comparece como sanfoneiro o grande Luiz Gonzaga, certamente não creditado no selo por ser contratado da RCA Victor. E os chorinhos cantados por Ademilde foram se sucedendo, sempre com sucesso: “Apanhei-te, cavaquinho”, “Urubu malandro”, “Brasileirinho”, “Teco-teco”, “O que vier eu traço” “Pedacinhos do céu”, “Pinicadinho”, etc., dando à cantora o título incontestável de “rainha do chorinho”. Em 1944, levada pelo cantor Déo, Ademilde foi para a Rádio Tupi (“o cacique do ar”), apresentando-se com os regionais de Claudionor Cruz e Rogério Guimarães. Em 1952, ela seguiu para a França, junto com a Orquestra Tabajara de Severino Araújo para participar de um espetáculo produzido em Paris pelo jornalista e empresário de comunicação Assis Chateaubriand, dono dos Diários e Emissoras Associados. Em 1954, transferiu-se para a então poderosa Rádio Nacional, onde se apresentou com os regionais de Canhoto (Waldomiro Frederico Tramontano), Jacob do Bandolim e Pixinguinha, e também das orquestras de dois “cracões” da emissora da Praça Mauá, Radamés Gnatalli e Chiquinho. Em 1964, a cantora fez uma excursão pela Península Ibérica (Portugal e Espanha), ao lado de nada mais nada menos que Jamelão, sendo que em Lisboa Ademilde ficou cerca de seis meses em cartaz. Após quinze anos de afastamento, em 1975, Ademilde voltou ao disco, lançando um bem cuidado LP na marca Top Tape, apresentado-se, durante essa década, em shows no Teatro Opinião, do Rio. Participou do CD coletivo ‘Café Brasil”(2001) e do espetáculo “As eternas cantoras do rádio”, ao lado de Violeta Cavalcanti, Carmélia Alves e Ellen de Lima. Nos últimos anos de vida, Ademilde vinha fazendo shows juntamente com a filha, Eymar Fonseca, mostrando que ainda estava em plena forma. Dias antes de falecer, aos 91 anos de idade, a cantora havia gravado uma entrevista para o programa “Sarau”, da emissora de TV paga Globo News. Nesta décima-sexta edição do GRB, inúmeros momentos expressivos da carreira de Ademilde Fonseca. “Tico-tico no fubá”, claro, está nesta seleção, e é a primeira faixa. Ao lado de outros chorinhos famosos, como “Apanhei-te, cavaquinho”, “Doce melodia”, “Galo garnizé”, Dinorah”, tem também samba de carnaval (“Sentenciado”), baião (“Meu Cariri”, co-autoria de Dilú Mello, também responsável pelo hit “Fiz a cama na varanda”, sendo que na época do lançamento desse baião, 1953, havia uma gravíssima seca no Nordeste), toada (a bem-feitinha “Se amar é bom”, melodia de José Maria de Abreu e letra de Antônio Domingues, o lado B do disco de “Meu Cariri”), música de festa junina (“Fogueira”, também de Abreu com Jair Amorim), e até mesmo a curiosa “Baião em Cuba”, mostrando a nítida semelhança do baião com os ritmos afro-caribenhos então em moda, tipo rumba, mambo, etc. O clássico baião “Delicado” também marca ponto, e dada a tessitura rítmica, só Ademilde poderia gravá-lo, posto ser um “baião -choro”, com a vertiginosa rapidez que lhe era peculiar. Enfim, uma riquíssima e expressiva retrospectiva da carreira desta insubstituível cantora que é Ademilde Fonseca.

Pra terminar, eu gostaria de fazer uma solicitação que nada tem a ver com esta resenha, mas que o próprio Augusto me sugeriu. Estou à procura da música “Maria da Piedade”, de Evaldo Ruy, que foi a primeira gravação do cantor Mauricy Moura (Santos, SP, 1926-São Paulo, 1977). Ela saiu pela Sinter em maio de 1952, no 78 de número 142-A (com um monte de zero antes!). Teve inclusive um blogueiro chamado Marcos Massolini, também jornalista e poeta, que administra o blog Almanaque do Malu (é o apelido dele) que comprou em um sebo da Av. Duque de Caxias, centro de São Paulo, um LP de 10 polegadas chamado “Meia-noite”, também da Sinter, claro, que reproduz a gravação do Mauricy pra “Maria da Piedade”, mostrou a capa do disco no blog, tudo, mas não o disponibilizou para download. Cheguei a escrever ao tal Malu pedindo uma cópia em mp3 do “Maria da Piedade”, ele até me respondeu dizendo que ia mandar, mas já se passaram três semanas… e nada! Talvez seja precipitação minha, mas duvido de que ele cumpra sua promessa. Por essa razão, solicito aos amigos cultos e ocultos do TM, que acompanham estas minhas resenhas do GRB, que se alguém tiver o “Maria da Piedade” com Mauricy Moura, enviem uma cópia em mp3 pro email do TM, que aí o Augusto me repassa. Combinado? Por ora, curtamos a inesquecível Ademilde…


* texto de Samuel Machado Filho



Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 15 (2012)

Luzes, câmera, ação… e música! Sim, esta décima-quinta edição do Gran Record Brazil é dedicada à música de cinema, apresentando temas de filmes nacionais e também de produções hollywoodianas, estas em versões para o idioma tupiniquim.

Começamos com dois temas do filme “Rua sem sol”, dirigido por Alex Viany para a Brasil Vita Filmes, e estrelado por Glauce Rocha, Carlos Cotrim, Dóris Monteiro (ainda de tranças, no papel de uma deficiente visual) e Modesto de Souza. Ambos os sambas-canções são cantados por Ângela Maria, que também participou do filme, claro, interpretando-os, no disco Copacabana 5170, lançado em dezembro de 1953. Abrindo o disco, a faixa-título do filme, “Rua sem sol”, matriz M-641, assinada por Mário Lago e Henrique Gandelmann, e no verso, matriz M-642, o clássico “Vida de bailarina”, de Chocolate (também humorista de rádio e TV) e Américo Seixas. Música muitíssimo gravada (Elis Regina, Zizi Possi, Quarteto em Cy, Agnaldo Timóteo, etc.).

Já que falamos em Adelina Dóris Monteiro (sim, é esse o nome completo dela), ela aqui comparece com o disco Todamérica TA-5220, gravado em 8 de setembro de 1952 e lançado em outubro seguinte, no qual interpreta duas músicas de outro filme de Alex Viany no qual ela também atuou, “Agulha no palheiro”, co-produzido por Moacyr Fenelon (um dos fundadores da lendária Atlântida) e pela Flama Filmes, da família Berardo (em cujos estúdios, situados no bairro carioca das Laranjeiras, instalou-se mais tarde a TV Continental, Canal 9). Primeiro, a música-título do filme, “Agulha no palheiro”, matriz TA-366, de César Cruz e Vargas Jr., e no verso, matriz TA-365, “Perdão”, também de César Cruz, mas sem parceiro.

O eterno Rei da Voz Francisco Alves era um cantor eclético, versátil, e interpretava de tudo que fazia sucesso em sua época em matéria de música. E nesta cinematográfica edição do GRB, ele comparece com três gravações bastante apreciadas: do disco Columbia 55248-A, gravado em 7 de novembro de 1940 e lançado em dezembro seguinte, matriz 339, o samba-exaltação de Braguinha, Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho, “Onde o céu azul é mais azul”, que Chico também cantou no filme “Céu azul”, da Sonofilms, dirigido pelo lusitano Ruy Costa (que como compositor assinava J. Ruy) e tendo no elenco Jaime Costa, Déa Selva, Heloísa Helena (homônima da famosa política), Oscarito e Grande Otelo. Completando a participação do grande intérprete, duas versões gravadas na Odeon, ambas de Haroldo Barbosa, compositor, produtor e redator de programas de rádio (entre eles o de Francisco Alves aos domingos) e TV, jornalista, etc. Do disco 125o5-A, gravado em 8 de agosto de 1944, matriz 7628, o fox “Para sempre adeus (It can’t be wrong)”, de Max Steiner e Kim Gannon, do filme americano “A estranha passageira (Now voyager)”, produzido pela Warner em 1942 sob a direção de Irving Rapper e estrelado por Bette Davis, Paul Henreid, Gladys Cooper e Claude Rains. A película venceu, inclusive, o Oscar de melhor escore de filme não-musical. Do filme francês “Inquietação (Fièvres)”, Chico Viola interpreta o fox-canção “Maria”, de Luchesi e Feline, gravação de 21 de setembro de 1946, porém só lançada em maio de 47 com o número 12773-A, matriz 8098. No selo original, a versão é erroneamente creditada a Haroldo Lobo, mas o Haroldo que a fez é mesmo o Barbosa!

Nesta edição também comparece o grande Jorge Goulart, recentemente falecido, com um disco de seu período áureo na Continental, o de número 16816, lançado em julho-agosto de 1953, no qual igualmente interpreta versões de filmes famosos internacionalmente. No lado A, matriz C-3164, a célebre canção “Luzes da ribalta (Limelight)”, composta por Charles Chaplin para o filme de mesmo nome (só lançado nos EUA em 1972, uma vez que Chaplin estava exilado na Suíça por pressão do Comitê de Atividades Anti-Americanas) e vertido por João “Braguinha” de Barro e Antônio Almeida. Versão muito gravada, inclusive por sua mulher, Nora Ney. No verso, matriz C-3165, a “Canção do Moulin Rouge”, de uma produção britânica de 1952 dirigida por John Huston e distribuída pela United Artists (portanto nada a ver com o “Moulin Rouge” de Baz Luhrman). É um a valsa de Georges Aurick e William Engoick, com letra brasileira de Carlos Alberto.

Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987), hoje esquecida mas que tinha uma bela voz de veludo, comparece aqui com uma faixa do disco Odeon 13562-A, matriz 9920,gravado em 16 de outubro de 1953 e lançado em dezembro seguinte. É o clássico “Lili (Hi´lili, hi´lo)”, de Bronislau Kaper e Helen Deutsch, com letra brasileira do sempre eficiente Haroldo Barbosa. É do clássico musical americano “Lili”, da MGM, protagonizado por uma das mais famosas atrizes do estúdio do leão, a francesa Leslie Caron. Foi regravada até mesmo em versão “disco music”, por Nalva Aguiar, em 1977!

Sílvio Caldas, o eterno “caboclinho querido”, bate ponto com duas músicas do filme “Maria Bonita”, da Sonoarte Filmes, dirigido por Julian Mandel e baseado no romance homônimo de Afrânio Peixoto, por ele gravadas na Odeon em primeiro de junho de 1937, com acompanhamento da Orquestra Copacabana do palestino Simon Bountman, e lançadas em julho seguinte com o número 11487. No lado A, matriz 5587, o conhecido tema folclórico “Meu limão, meu limoeiro”, adaptado para “samba sertanejo” por José Carlos Burle, também cineasta, e com a participação vocal de Gidinho. No final dos anos 1960, este seria um dos carros-chefes de Wilson Simonal, que só aproveitou o estribilho, mas mesmo assim muita gente cantou isso junto com ele. No verso, matriz 5588, também de José Carlos Burle em parceria com o escritor J. G. De Araújo Jorge (tão discutido quanto lido), esta joia de canção, “Confessando que te adoro”.

Para encerrar, músicas do filme “O cangaceiro”, produção da Vera Cruz dirigida por Lima Barreto e vencedora da Palma de Prata no Festival de Cannes, na França, como melhor filme de aventuras (naquele tempo ainda não tinha a Palma de Ouro e sim o Grande Prêmio da Crítica, vencido na ocasião por “O salário do medo”, de Henri Georges-Clouzot). Vanja Orico, que também esteve no elenco do filme, interpreta a lírica toada “Sodade, meu bem sodade”, feita por Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento, Cajazeiras, PB-1908-idem, 1979) ainda na adolescência. No acompanhamento, o violonista Aymoré e orquestra dirigida por Gabriel Migliori, também responsável pela direção musical do filme, em gravação RCA Victor de 29 de janeiro de 1953, lançada em abril seguinte com o número 80-1101-B, matriz SB-093597. O Trio Marabá, cujos integrantes eram provavelmente mexicanos (afinal chamavam-se Pancho, Panchito e Cármen Durán) vem com sua versão de “Muié rendera”, o tema principal de “O cangaceiro”, lançada pela Copacabana em março-abril de 1953 com o número 5044-A, matriz M-332. No acompanhamento, a curiosa presença do conjunto de Alberto Borges de Barros, o Betinho, filho de Josué de Barros, descobridor de Cármen Miranda, e intérprete do conhecido fox “Neurastênico” (seu e de Nazareno de Brito) e do rock “Enrolando o rock”(dele e de Heitor Carillo), entre outras. Apesar do sucesso, Betinho deixou a carreira para cumprir missão evangelizadora. O próprio Zé do Norte vem com o lado A de “Sodade, meu bem sodade”, com Vanja Orico, matriz SB-093598, interpretando o coco “Meu pinhão”, ou “Meu pião”, de sua autoria, também cantado por ele próprio em “O cangaceiro”. Apesar do êxito internacional do filme, a maior parte dos lucros ficou com a distribuidora, a multinacional americana Columbia Pictures (mais tarde vendida à Coca-Cola e repassada à nipônica Sony), e a Vera Cruz, que tencionava ser uma Hollywood tupiniquim em São Bernardo do Campo (SP), acabou fechando suas portas em 1954, retomando suas atividades em ocasiões esporádicas. Enfim, esta cinematográfica edição do GRB vai enriquecer as coleções de muitos amigos cultos e ocultos com um pouco do melhor que a música produziu para a chamada sétima arte. É ouvir e colecionar!

 
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO
 
 
 

Trio De Ouro, Trio Melodia, Trio Madrigal, Trio Marabá, Trio Nagô – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 14 (2012)

Encontros a três… vozes! É o que apresenta esta décima-quarta edição do Gran Record Brazil, apresentando trios vocais que marcaram época na história da música popular brasileira. Logo de saída, temos o Trio de Ouro. E em sua primeira fase, com o “rouxinol do Brasil” Dalva de Oliveira (Rio Claro, SP-1917-Rio de Janeiro, 1972), Herivelto Martins, seu fundador (Engenheiro Paulo de Frontin, RJ, 1912-Rio de Janeiro, 1992), e Nilo Chagas (Barra do Piraí, RJ-1917-Rio de Janeiro, 1973). O disco escolhido foi o Odeon 12185, gravado em 5 de junho de 1942 e lançado em agosto do mesmo ano, com acompanhamento da orquestra do maestro Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro, Santa Luzia do Norte, AL, 1908-Atenas, Grécia, 1951). O lado A, matriz 6964, é simplesmente um clássico: o samba-canção “Ave Maria no morro”, uma das mais famosas obras-primas de Herivelto. Foi muitas vezes gravada, até mesmo em… esperanto! Uma joia apresentada em seu registro original, daqueles indispensáveis para quem não conhece. No verso, matriz 6965, o curioso “lamento negro” “Festa de preto”, de autoria de Humberto Porto (Salvador, BA, 1908-Rio de Janeiro, 1943), parceiro de outros dois grandes compositores, Assis Valente e Benedito Lacerda. A composição é característica da obra de Porto, que trata muito da religiosidade baiana e da história de escravidão dos negros. Porto morreu uma semana depois de seu pai… se suicidando! E o primeiro Trio de Ouro acabaria em 1949, com a ruidosa separação de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, que organizaria mais duas formações do grupo vocal: a segunda ainda com Nilo Chagas mais Noemi Cavalcanti, e a terceira com Raul Sampaio e Lurdinha Bittencourt.

Em seguida temos o Trio Madrigal, formado na Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, em 1946, pelo maestro Alceu Bocchino. Sua primeira formação tinha Edda Cardoso, Magda Marialba e Margarida de Oliveira (irmã de Dalva), que seis meses depois abandonou o trio para se casar, sendo substituída por Lolita Koch Freire. É esta a formação que aparece nos discos Continental aqui incluídos, com acompanhamento instrumental dirigido pelo maestro gaúcho Radamés Gnatalli, sob o pseudônimo de Vero. No primeiro, de número 16554, gravado em 10 de abril de 1952 e lançado em maio-junho do mesmo ano, elas estão junto com o Trio Melodia (integrado por Albertinho Fortuna, Nuno Roland e Paulo Tapajós e formado na lendária Rádio Nacional para apoio do programa “Um milhão de melodias”) acompanhando vocalmente o cantor Jorge Goulart, que por uma triste coincidência acaba de falecer, aos 86 anos, em sua cidade natal, Rio de Janeiro. São regravações de dois hits de João de Barro, o Braguinha, então diretor artístico da gravadora dos irmãos Byington, intimamente ligados às festas juninas. No lado A, matriz C-2836, a marchinha “Noites de junho”, parceria com Alberto Ribeiro e criação de Dalva de Oliveira em 1939, e, no verso, matriz C-2835, uma obra-prima de Braguinha sem parceiro: o samba-canção ‘Mané Fogueteiro”, originalmente lançado em 1934 por Augusto Calheiros. O segundo disco do Trio Madrigal aqui incluído, também de 1952, com lançamento em julho, leva o número 16586. No lado A, matriz C-2903, uma versão do especialista Lourival Faissal para o fox “Bom dia, mister Eco” (“Good morning, mister Echo), de Bill e Belinda Putman. Aqui, nota-se a criatividade do técnico de gravação Norival Reis, o Vavá, que até idealizou uma câmara de eco, fato que ajudou este registro, inclusive, a receber prêmio da Associação Brasileira de Discos naquele ano. No verso, matriz C-2809, a valsa “Convite ao amor”, na verdade uma versão com letra para “Sobre as ondas” (“Sobre las olas”), do uruguaio Juventino Rosas, versos de Lourival Faissal e Luiz de França. Valsa bastante gravada instrumentalmente no Brasil, e seu primeiro registro entre nós surgiu em 1910, com o rancho Ameno Resedá, sob o selo (olha só a coincidência)… Gran Record Brazil!!!

Em seguida temos os Trios Madrigal e Melodia novamente juntos no Continental 20106, lançado para os festejos natalinos de 1951, matrizes 2720 e 2721-R. Evidentemente, como diz o próprio título, é um popurri das mais expressivas”Cantigas de Natal”, de vários autores e/ou de origem folclórica, em arranjo de Paulo Tapajós e Radamés Gnatalli, com o sempre eficiente acompanhamento orquestral deste último, igualmente como Vero.

O Trio Marabá era formado por Pancho, Panchito e Cármen Duran (seriam mexicanos?). Aqui comparece com seu oitavo disco, o Copacabana 5044, lançado em março-abril de 1953, com regravações de dois hits da época: no lado A, matriz M-332, o baião “Mulher rendeira”, de origem folclórica, internacionalmente conhecido graças ao filme “O cangaceiro”, e nele interpretado pelos Demônios da Garoa. A película ganhou a Palma de Prata no festival de Cannes, França, como melhor filme de aventuras, mas quem mais se beneficiou de seu sucesso foi a distribuidora Columbia Pictures, sendo que a produtora, a lendária Vera Cruz, com estúdios em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, acabou falindo um ano depois. No verso, matriz M-333, o clássico samba-canção “Ninguém me ama”, de exclusiva autoria de Antônio Maria, mas com parceria de Fernando Lobo, por acordo que havia entre ambos. Originalmente saiu na voz de Nora Ney, em 1952.

Encerrando, vamos encontrar o Trio Nagô, integrado por Mário Alves de Almeida, Epaminondas de Souza e Evaldo Gouveia. Mário e Epaminondas cantavam na Rádio Clube do Ceará, quando conheceram o então estreante Evaldo Gouveia. Os três logo se tornaram amigos e passaram a cantar juntos na noite de Fortaleza. O grupo se chamava, a princípio, Trio Cearense, nome depois mudado para Trio Iracema e, finalmente, para Trio Nagô. Seu primeiro disco saiu em janeiro de 1953, pela Sinter, com o rasqueado “Moça bonita” e o maracatu “Paisagem sertaneja”. Eles estão aqui com o disco RCA Victor 80-1951, gravado em 24 de março de 1958 e lançado em junho do mesmo ano, com duas composições de Paulo Borges. No lado A, matriz 13-J2PB-0387, o conhecido e clássico rasqueado “Cabecinha no ombro”, lançado em fins do ano anterior por Alcides Gerardi e regravado inúmeras vezes, sendo conhecido até os dias de hoje (quem nunca ouviu?). No verso, matriz 13-J2PB-0388, o belo samba-canção “Cartão postal”. Enfim, uma edição do GRB que irá enriquecer o acervo de muitos amigos cultos e ocultos com algumas das melhores interpretações a três vozes. Divirtam-se!

* TEXTO SAMUEL MACHADO FILHO


Pedro Raimundo – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 13 (2012)

Pois é, amigos cultos e ocultos! Esta décima-terceira edição do Gran Record Brazil vem regada a churrasco e chimarrão! É com muita satisfação que trazemos de volta o inesquecível Pedro Raimundo, “o gaúcho alegre do rádio”. Apesar de ter esse slogan, Pedro Raimundo era catarinense de Imaruí, nascido em 29 de junho de 1906, e falecido no Rio de Janeiro em 9 de julho de 1973. Era filho de um pescador e sanfoneiro, e aos oito anos começou a “afufar o fole”. Mais tarde, lá mesmo em Imaruí, fez parte da banda Amor à Ordem, além de se apresentar em festinhas. Aos 17 anos, Pedro largou o anzol e foi trabalhar na construção da Estrada de Ferro Esplanada-Rio Deserto. Casou-se em 1926, e morou nas cidades catarinenses de Lauro Muller, Blumenau e Laguna, fixando-se, em 1929, na capital gaúcha, Porto Alegre, onde foi condutor de bonde e inspetor de tráfego, e em seus momentos de folga se apresentava nos cafés do Mercado. Em 1939, ingressou na Rádio Farroupilha, onde fundou o Quarteto dos Taúras, atuando em quase todas as rádios portoalegrenses, e sendo muito solicitado para excursões, uma delas, em 1942, pelo interior riograndense. Um ano mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, a convite de Almirante, que o levou para a lendária Rádio Nacional. Ainda em 1943, gravou o primeiro disco, na Columbia, mais tarde Continental, com o choro “Tico-tico no terreiro” e o xote “Adeus, Mariana”, hits imediatos. Em suas apresentações, Pedro Raimundo alternava músicas alegres com outras sentimentais, e foi o primeiro artista típico gaúcho a alcançar fama nacional, inclusive com vestimentas típicas (bombachas, lenço no pescoço, botas, esporas, chapéu e guaiaca). Nesta edição do GRB, alguns dos melhores momentos da vitoriosa carreira de Pedro Raimundo, a maior parte em gravações Continental, e mais um disco de sua fase na Todamérica. Em ordem cronológica de lançamento, as músicas são as seguintes, quase todas de sua autoria com ou sem parceiros: do Continental 15127, lançado em abril de 1944, a toada “O carreteiro” (dele com Pirajá), matriz 734, e a valsa “Contigo no pensamento”, matriz 735. Em seguida, o disco 15404, lançado em agosto de 1946, com a toada “Gauchada”, matriz 1176, e o tango “Mágoas de amor”, matriz 1175. No 78 de número 15599, gravado em 12 de setembro de 1945 com acompanhamento do regional de Nélson Miranda e lançado apenas em março de 46, apareceram o xote “Gaúcha malvada” (dele com Mutt), matriz 1278, e a valsa “Sofrer sorrindo”, matriz 1279. Em seguida, o disco 15790, gravado em 30 de maio de 1947 e lançado em junho-julho do mesmo ano, com o chorinho “Chico da Ronda”, matriz 1673, e a polca “Na casa do Zebedeu”, matriz 1672. Ainda na Continental, vem em seguida o disco 16190, lançado em março-abril de 1950, trazendo a polca “Festa na fazenda”, de Pedro Sertanejo, ocupando os dois lados do 78 (matrizes 2265-2266) e com acompanhamento de conjunto. Por fim, do tempo em que Pedro Raimundo estava na Todamérica, o disco TA-5054, gravado em 16 de fevereiro de 1951 e lançado em abril do mesmo ano, com acompanhamento do conjunto do violonista Pereira Filho, trazendo a valsa “Pingo Mulato”, matriz TA-88, e o baião “Oriental”, matriz TA-87. Esta edição do GRB é a prova de que as canções, a sanfona e a alegria de Pedro Raimundo ficarão para sempre em nossa memória. Aproveita, tchê!


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO


Vários Sertanejos – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 12 (2012)

Ê trem bão! A décima-segunda edição do Gran Record Brasil chega em clima bem caipira e sertanejo! Em dezesseis fonogramas raros e históricos, teremos uma amostra de como era o gênero sertanejo de antanho. Aqui comparecem duplas bastante conhecidas e lembradas, além de outras que o implacável passar do tempo foi esquecendo. É nesse último caso que se enquadram as Irmãs Cavalcanti, Noemi e Odemi. Elas deixaram uma discografia escassa: apenas seis discos 78 com doze músicas, todos pela Columbia. Eis aqui o primeiro deles, lançado no comecinho de 1954, janeiro, com o número CB-10029. De um lado, matriz CBO-170, o baião “Lumiô lumiô”, delas próprias, e no verso, matriz CBO-171, a guarânia “Ponta Porã”, de Jamir da Silva Araújo e Pereirinha. Em seguida iremos nos encontrar com uma dupla muito querida e lembrada: Nenete (Waldemar de Franchesi, 1919-1989), natural de Pirassununga, e Dorinho (Isidoro Cunha, Bernardino de Campos, SP, 1933-Campinas, SP, 2011), apelido que ele carregava desde a infância. Gravaram seu primeiro disco em 1955, na RCA Victor, com a toada “O milagre das rosas” e o cururu “Toca sino”. Em 78 rpm, na mesma marca, foram mais de trinta discos, além de 13 Lps de carreira, nos selos RCA Victor, RCA Camden, Caboclo/Continental e Beverly, onde gravaram o último, em 1976. Depois disso, Nenete afastou-se do meio musical por motivo de saúde, e faleceu em uma tentativa de assalto! Nenete e Dorinho aqui comparecem com um disco gravado em 19 de junho de 1962, o RCA Victor 80-2485. No lado A, matriz N2CAB-1748, uma regravação do tango “Ouvindo-te”, lançado em 1935 por seu autor, Vicente Celestino. No verso, matriz N2CAB-1749, a moda campeira “Goiano valente”, de Nenete com Piraci (de famosa dupla com Diogo Mulero, o Palmeira). Ambas as composições também fizeram parte do LP “Pescadores de sucesso”, do mesmo ano. Por falar em Palmeira (Agudos, SP, 1918-São Paulo, 1967), eis que ele ressurge aqui em sua memorável dupla com Luizinho (Luiz Raimundo, São Paulo, 1916-idem, 1983) com dois discos RCA Victor, gravados em 12 de fevereiro de 1951 e lançados em maio do mesmo ano. O de número 80-0763 apresenta duas composições da própria dupla: a moda campeira “Chão de Minas”, matriz S-092841, e a valsa “São Judas Tadeu”, matriz S-092842. Já o disco 80-0764 apresenta a moda campeira “Santa Fé do Paraná”, de Palmeira e Ado Benatti, matriz S-092843, e o motivo folclórico mineiro “Peixe vivo”, adaptado por Palmeira e Mário Zan, por sinal a música predileta do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que era mineiro de Diamantina. Em seguida, uma dupla que ainda hoje está em atividade e muito querida: Pedro Bento (José Antunes Leme, n.1934), nascido em Porto Feliz, e Zé da Estrada (Waldomiro de Oliveira, n.1929), que é de Botucatu. Acrescentando elementos da música regional mexicana, sem no entanto abandonar as raízes sertanejas, eles ficaram conhecidos como “os amantes da rancheira”, o que fica claro no disco aqui presente, de 1964, o Caboclo/Continental CS-652. De um lado, matriz 55-035-A, o huapango “Tens que beber”, de Zé da Estrada e Caçula, da dupla com Marinheiro, e no verso, matriz 55-035-B, a rancheira “Bebendo e chorando”, de Milano e Serafim, ainda hoje uma das mais aplaudidas criações da dupla. De longa carreira na música brasileira, Raul Torres (Botucatu, SP, 1906-São Paulo, 1970) aqui comparece em dupla com seu inseparável parceiro Florêncio (José Batista Pinto, 1909-1972), natural de Barretos, a atual capital brasileira do rodeio. No disco Todamérica TA-5617, de 1956, foram regravados dois hits de Raul como compositor e intérprete: no lado A, matriz TA-1318, em ritmo de baião, a pungente moda de viola “Boi amarelinho”, originalmente gravada pelo próprio Raul Torres em dupla com Ascendino Lisboa, em 1933. No lado B,matriz TA-1319, o valseado “Meu cavalo zaino”, originalmente gravado por Raul em dupla com Serrinha, em 1939. Em seguida, dois discos RCA Victor: o primeiro de número 80-0516, gravado em dezembro de 1946 mas só lançado em maio de 47. No lado A, matriz S-078685, a moda de viola “Égua branca”, em que Raul tem como parceiros Nhô Pai (autor de “Beijinho doce”) e Godoy, e no verso, matriz S-078686, o curiosíssimo “samba baiano” “Nêga, sai do sereno”, de Raul Torres sem parceiro. Em seguida o disco 80-0285, gravado em 13 de junho de 1944 e só lançado em maio de 45,. No lado A, matriz S-052992, um superclássico, “Moda da mula preta”, inúmeras vezes regravado, inclusive por Luiz Gonzaga (na voz dele por sinal a música fez ainda mais sucesso!). No verso, matriz S-052993, o corrido “No recanto onde eu moro”, de Raul Torres e Júlio Lopes. Encerrando esta edição sertaneja do GRB, a dupla Sucupira e Rosa Amélia, de discografia escassa: apenas cinco discos 78 rpm com nove músicas, gravados entre 1960 e 1963. Aqui está o último deles, do selo Orion, da Odeon, número R-138, do início de 63. No lado 1, matriz 51292, a canção rancheira “Passado feliz”, de Sotero Silveira e Ulisses Nascimento, e no verso, matriz 51291 , o bolero “Esqueça, meu amor”, de Álvaro Alvim e Joel Honorato. Existe também um LP de 1983, “Garça branca”. Enfim, uma boa oportunidade para as novas gerações conhecerem o estilo sertanejo de outros tempos, bem diferente do atual, que, com raríssimas exceções, é mais para público urbano. Ouçam, recordem e divirtam-se com esta edição bem sertaneja do GRB!


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Muraro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 11 (2012)

E chegamos à décima-primeira edição do Gran Record Brazil. Aqui apresentamos algumas das melhores gravações do pianista, maestro e compositor Heriberto Leandro Muraro (La Plata, Argentina, 1903-Rio de Janeiro, 1968). Este ilustre “hermano” aportou em terras brasileiras em 1932, logo se apaixonando pela nossa terra. Por décadas a fio percorreu todo o país exercendo sua arte de exímio pianista, excursionando em seguida por Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Itália com repertório de música brasileira. No rádio, atuou nas emissoras cariocas Mayrink Veiga, Nacional e Globo, na Record de São Paulo e na Farroupilha de Porto Alegre. Dirigiu a lendária Nacional por 18 anos, impulsionando a carreira de nomes como Dircinha Batista, Nélson Gonçalves, Joel e Gaúcho, e as irmãs Cármen e Aurora Miranda. Gravou seu primeiro disco na Victor, em 1939, solando ao piano, em ritmo de fox, os sambas “O homem sem mulher não vale nada” e “Meu consolo é você”, hits do carnaval daquele ano na voz de Orlando Silva. Foram mais de trinta discos gravados, entre 78 rpm e Lps. Nesta edição do GRB, um pouco da arte deste talentoso pianeiro portenho-brasileiro, em doze fonogramas. Pra começar, o disco Continental 15887, gravado em 18 de março de 1948 e lançado em maio-junho do mesmo ano, com duas conhecidas marchinhas do mestre João de Barro, o Braguinha, em ritmo de fox. No lado A, matriz 1813, “A mulata é a tal”, parceria com Antônio Almeida, e no verso, matriz 1812, “Tem gato na tuba”, que Braguinha fez com Alberto Ribeiro. Em seguida, registros certamente realizados fora do país. O Odeon 2987 apresenta no lado A, matriz 14719, o fox “Dragões canadenses” (“Canadian capers”), dos americanos Gus Chandler, Bert White e Henry Cohen, composto em 1915. No verso, matriz 14466, e igualmente como fox, “Estudo em vermelho” (“Study in red”), do também americano Larry Clinton, trompetista, trombonista e bandleader. De volta ao Brasil, a interpretação de Muraro para o fox “Narcissus”, do americano Ethelbert Nevin, lançada pela Continental em agosto de 1944 com o número 15182-A, matriz 835. No verso, matriz 836, outra interpretação de Muraro em tempo de fox para “Gigolette”, trecho da opereta homônima de Franz Lehar, nascido na cidade de Komárom, no antigo Império Austro-Húngaro, e hoje situada na Eslováquia, com o nome de Komarno. Prosseguindo, mais um disco gravado no exterior, o Odeon 2947. Abrindo-o, matriz 15662, “Linda flor” (na verdade o famoso “Ai, ioiô”, de Henrique Vogeler, cuja letra mais famosa foi a de Luiz Peixoto e Marques Porto, gravada por Aracy Cortes em 1929). No verso, matriz 15578, o chorinho “Tangará na dança”, de autoria de Lina Pesce, compositora, cantora, bandolinista e pianista, lançado em 1946 pelo acordeonista George Brass. Portanto, este disco, assim como outros dois aqui incluídos, deve ser de 1947, mais ou menos. Em seguida, mais um disco de Muraro aqui gravado, o Odeon 13043, de 22 de maio de 1950, lançado em setembro do mesmo ano. De um lado, matriz 8704, o famoso “Baião”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e no verso, matriz 8705, o célebre “Moto perpétuo”, de Paganini, que mais tarde recebeu outra ótima interpretação, a cargo de Edu da Gaita. Finalizando, mais duas gravações internacionais de Muraro, em disco Odeon 2912, apresentando dois chorinhos muito conhecidos. No lado A, matriz 14573, “Não me toques”, do mestre Zequinha de Abreu, e no verso, matriz 14465, “Bem-te-vi atrevido”, outra composição de Lina Pesce. Enfim, um resgate mais que oportuno, deste grande músico que foi o argentino-brasileiro Heriberto Muraro. Bom divertimento!

* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Branca De Neve E Os Sete Anões – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 10 (2012)

O Grand Record Brazil, em sua décima edição, convida todos os amigos e ocultos do Toque Musical a voltarem a seu feliz tempo de criança! Aqui trazemos um dos mais famosos contos infantis de todos os tempos: “Branca de Neve e os sete anões”, escrito pelos irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm, e brilhantemente adaptado para desenho animado por Walt Disney, em 1937, tendo sido, aliás, o primeiro cartoon de longa metragem produzido, e ainda em cores! Deu início a uma série memorável de longas animados da Disney: “Pinóquio”, “Dumbo”, “Bambi, “Cinderela”, “A bela adormecida, “Alice no país das maravilhas” e muitos, muitos outros, praticamente com a mesma característica: para serem vistos e também ouvidos.

A dublagem com que o filme foi lançado nos cinemas brasileiros, feita pela Cinelab, foi supervisionada por João de Barro, o Braguinha, então diretor artístico da gravadora Columbia, mais tarde Continental. Apesar dos recursos técnicos limitados, o resultado foi tão bom que o próprio Walt Disney, em reconhecimento, presenteou Braguinha com um relógio de ouro, especialmente dedicado a ele. Para dublar “Branca de Neve”, recrutou-se a nata da música popular brasileira daqueles tempos: Dalva de Oliveira (a personagem-título), Carlos Galhardo, (o príncipe), Almirante (a voz do Espelho Mágico), além do comediante Batista Júnior, pai das cantoras Linda e Dircinha Batista (o anão Soneca) e dos atores Túlio de Lemos (o caçador), Cordélia Ferreira (a rainha), Estephana Louro (a bruxa), Edmundo Maia (o anão Atchim) e Aristóteles Pena (o anão Zangado), entre outros. Esta dublagem antiga, infelizmente, se perdeu, tanto que em 1965 teve de ser refeita pela extinta Riosom, sob a supervisão de Aloysio de Oliveira e com outro elenco de vozes (foi com esta última dublagem que o filme foi exibido pela Rede Globo de Televisão, no Natal de 2010).

Em 1945, a Continental, ex-Columbia, decidiu gravar historinhas infantis em disco, e com a supervisão e adaptação do próprio Braguinha. Para isso, ele reuniu nos estúdios da gravadora, situados no Edifício Cineac-Trianon (Avenida Rio Branco esquina com Rua Bethencourt Silva, em frente ao lendário Café Nice, no centro do Rio), praticamente todos os artistas que gravaram a primeira versão dublada brasileira de “Branca de Neve” quando do lançamento em nossos cinemas, em 1938, com o apoio do grupo vocal Os Trovadores. A orquestração e a regência ficaram a cargo do maestro Guerra Peixe (Petrópolis, RJ, 1914-Rio de Janeiro, 1993). Segundo o próprio Braguinha, era impossível naquele tempo gravar uma história completa num único 78 rpm. O jeito então foi gravar “Branca de Neve” em dois discos de selo vermelho especial, números 30103 e 30104, matrizes 1371-2-3-4. Esta versão apresenta todo o escore musical original do cartoon clássico de Disney. A narração, não creditada, parece ser da radialista e também cantora Sõnia Barreto, sendo as canções (oito) escritas por Frank Churchill (melodia) e Larry Morey (letra original). Três delas são lembradas até hoje: “Assobie enquanto trabalha”, “Cavando a mina”(“Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou”…) e a valsa “Quando o meu príncipe vier”, incluída no repertório de vários solistas de jazz. Este lançamento iniciava a série Discoteca Infantil Continental, que seria o embrião, nos anos 1960, do célebre e bem-sucedido selo Disquinho, aquele dos compactos de vinil coloridos, e que seriam entretenimento de gerações seguidas de crianças (inclusive, claro, a minha!). Foram mais de setenta títulos, o primeiro deles agora oferecido pelo GRB na versão original em 78 rpm, o que de certa forma serve de consolo para a possível perda da dublagem brasileira original do longa animado de Disney. Recordemos com muito carinho a bela história de “Branca de Neve e os sete anões”.

TEXTO: Samuel Machado Filho

Orlando Correia, Ronaldo Lupo E Solon Sales – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 09 (2012)

A alegria do reencontro! Assim é que se pode definir esta nona edição do Grand Record Brazil, após duas semanas de ausência involuntária. Apresentamos nesta edição três cantores de muito sucesso em suas épocas, ainda que sejam pouco lembrados atualmente. São eles:

Orlando José Correia (Niterói, RJ, 1928-Rio de Janeiro, 2002). Antes de ser cantor, era mecânico de motores à explosão, diplomado pela General Motors, tendo sido dono até de uma oficina mecânica, além de um hotel e um restaurante, isso após deixar a carreira.. Ciro Monteiro, o “Formigão”, foi quem o descobriu cantando em um parque de diversões de lá de Niterói e o levou para o rádio carioca, atuando primeiro na Mayrink Veiga, depois na Guanabara, na Clube do Brasil e, por 28 anos, na Tupi. Orlando aqui comparece com o disco Todamérica TA-5325, gravado em 16 de junho de 1953 e lançado em agosto do mesmo ano. Na faixa de abertura, matriz TA-485, o samba-canção “Sistema nervoso”, que Wilson Batista, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr. compuseram em uma noite nas escadarias do Palácio Monroe, mais tarde demolido, com a presença de Orlando. Note-se a criatividade do técnico de gravação, Norival Reis, que, para a sonoplastia, usou um carrilhão e um despertador, além de fazer de câmara de eco o banheiro do estúdio! Completando, matriz TA-486, o belo fox “Dançando com você”, da parceria José Maria de Abreu-Jair Amorim, marcada por inúmeros hits inesquecíveis, bastando lembrar, por exemplo, “Alguém como tu”, um marco na carreira de Dick Farney. Dos anos 1980 até 2002, quando morreu, Orlando Correia residiu em Maricá, litoral norte fluminense.

Ronaldo Lupo (São Paulo, 1913-Rio de Janeiro, 2005). Pseudônimo de Ronaldo Lupovici. De origem judaica, foi também compositor, produtor e ator de cinema, tendo presidido o Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica. Ronaldo marca presença aqui com outra preciosidade do acervo da Todamérica, o disco TA-5040, gravado em 4 de dezembro de 1950 e lançado em fevereiro de 51, com duas músicas de sua autoria, No lado A, matriz TA-81, “Baião em Paris”, parceria com o baiano Duque (Antônio Lopes de Amorim Diniz), também dentista e dançarino, responsável pela divulgação do maxixe na Europa e nos EUA, a partir dos anos 1910. Ao parar de dançar, Duque inaugurou, em 1932, a Casa de Caboclo, de arquitetura rústica, na Praça Tiradentes, destinada a divulgação de música brasileira regional e folclórica. Completando o disco, matriz TA-82, Ronaldo apresenta o divertido fox “Depois eu conto”, que fez com Nestor Tangerine, A participação do coro pedindo “Conta! Conta!” é um dos pontos fortes desta composição, que Ronaldo voltaria a gravar em 1958, desta vez pela Columbia. Sua discografia em 78 rpm como intérprete tem apenas 13 discos com 45 fonogramas, nos selos Continental, Todamérica, Columbia e Mocambo.

Solon Hanser Sales (Sorocaba, SP, 1923-São Paulo, 1995). Era conhecido como o “seresteiro da Paulicéia”. Foi trapezista, acrobata e mágico no circo Irmãos Hanser, no qual trabalhavam o pai, a mãe e mais cinco tios, dando espetáculos em Sorocaba e cidades próximas. Já em São Paulo, formou com um amigo a dupla caipira Samburá e Chapinha (Sólon era este último), que atuou nas rádios Bandeirantes e Cultura, nesta última protagonizando uma novela sertaneja. Desfeita a dupla, prosseguiu sozinho a carreira. Aqui, as músicas do primeiro disco de Sólon Sales, gravado na Continental em 2 de janeiro de 1948 e entregue às lojas em maio-junho daquele ano com o número 15908, logo de saída emplacando dois estrondosos sucessos. Abrindo o disco, matriz 10804-1R, o tango brejeiro “Segue teu caminho”, de Mário Zan e Arlindo Pinto, uma verdadeira apoteose, que receberia inúmeros outros registros. O próprio Mário o acompanha com seu acordeon, ao lado do violonista Aymoré. O lado B, matriz 10803-1R, é a valsa “Belo Horizonte”, homenagem à “capital das Alterosas”, concebida por Arlindo Pinto e Anacleto Rosas Jr., autores de inúmeros hits sertanejos, mais uma vez com Mário Zan ao acordeom, à frente de seu conjunto, no acompanhamento. Sólon Salles nos oferece ainda outros quatro fonogramas raros: abrindo o terceiro disco do cantor, o Continental 16100, gravado em 20 de maio de 1949 e lançado entre julho e setembro desse ano, o balanceio “Cabeça inchada”, do mineiro (de Viçosa) Hervê Cordovil sobre motivo folclórico, matriz 11010. Um clássico que seria regravado inúmeras vezes, destacando-se os registros de Carmélia Alves e da dupla Adelaide Chiozzo-Eliana Macedo, também estrelas do cinema nacional, ambos de 1951. Completando o disco, matriz 11012, mais um tango brejeiro, “Perambulando”, de Mário Zan e Arlindo Pinto. Mais uma vez Mário comparece com sua sanfona e seu conjunto. Por fim, mais um disco Continental, o de número 16274, gravado em 23 de junho de 1950 e lançado em setembro-outubro do mesmo ano, com acompanhamento da orquestra do também médico Antônio Sergi, o Totó (por isso ele aparece no selo como “doutor”). No lado A, matriz 11148-R, o samba-canção “Meu castigo”, de autoria de José Nicolini, maestro e compositor paulistano de origem italiana. E, completando, matriz 11149-R, a conhecida valsa (ou corrido) “Beijinho doce”, de Nhô Pai, originalmente lançada em 1945 pelas Irmãs Castro, e muitíssimo regravada, inclusive por Nalva Aguiar, quando mereceu um arranjo mais “jovem”. Enfim, o GRB nos oferece, com músicas ditas “waves”, mais agradáveis momentos de alegria e recordação!

*TEXTO SAMUEL MACHADO FILHO

dançando com você – orlando correia
sistema nervoso – orlando correia
baião em paris – ronaldo lupo
depois eu conto – ronaldo lupo
beijinho doce – solon sales
belo horizonte – solon sales
cabeça inchada – solon sales
meu castigo – solon sales
perambulando -solon sales
segue teu caminho – solon sales


Trigêmeos Vocalistas, Vocalistas Modernos, Zé Fidelis, Zé Gonzaga, Jorge Loredo – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 08 (2012)

Rir é o melhor remédio. E é o bom humor que marca a seleção desta oitava edição do Grand Record Brazil, apresentando dez fonogramas raros e, claro, bem alto astral.

Para começar, temos os Trigêmeos Vocalistas, um trio que era formado por três irmãos: Armando Carezzato, o mais velho, e os gêmeos Raul e Humberto, três anos mais novos (originalmente o nome do grupo era Trio Carezzato). Eles aqui comparecem com duas gravações Odeon: o corrido em estilo mexicano “Don Pedrito”, de Djalma Esteves (autor de rumbas como “Escandalosa”) e Célio Monteiro, gravação de 12 de maio de 1949, matriz 8491, lançada só em novembro seguinte com o nº 12958-A, matriz 8491, e o fox “Eu vou sapatear”, de Nicola Bruni, gravado em 29 de setembro de 1949 mas só lançado em maio de 1950 com o nº 12997-B, matriz 8558.
Outro grupo vocal dessa mesma época aqui comparece: os Vocalistas Tropicais. Formado na capital cearense, Fortaleza, em 1941, teve diversos componentes e, em 1946, surgiu a formação definitiva: Nilo Xavier da Motta (líder, violonista e arranjador), Raimundo Evandro Jataí de Souza (vocal, viola americana e arranjos), Artur Oliveira (percussão e vocal), Danúbio Barbosa Lima (percussão), estes quatro cearenses, e o pernambucano do Recife Arlindo Borges (violão e vocal solo). Eles aqui comparecem com dois grandes sucessos carnavalescos gravados na Odeon: as marchinhas “Jacarepaguá”, que cita no estribilho a rumba “El cumbanchero”, da folia de 1949, gravada em 21 de outubro de 48 e lançada um mês antes da folia em janeiro (12893-A, matriz 8427) e “Tomara que chova”, crítica à crônica falta d’água que acontecia no Rio de Janeiro na época, para os festejos momescos de 1951. Este é o registro original, datado de 6 de setembro de 1950 e lançado ainda em dezembro daquele ano com o nº 13066-A, matriz 8792. Pois, como se sabe, Emilinha Borba fez outra gravação, em outubro de 50, perla Continental, creio que a mais lembrada. Ambas as composições são de Paquito e Romeu Gentil, com o reforço de Marino Pinto em “Jacarepaguá”.
O comediante carioca Jorge Loredo também aqui comparece com o disco Columbia 3129, lançado em agosto de 1960. No lado A, matriz CBO-2424, ele aparece na pele de seu mais famoso personagem, Zé Bonitinho, “o perigote das mulheres”, surgido naquele mesmo ano no programa “Noites cariocas”, da extinta TV Rio. É uma composição de Fernando César (autor também de hits como “Dó-ré-mi” e “Joga a rede no mar”) e do maestro e pianista gaúcho João Leal Brito, o Britinho, que também acompanha o comediante com sua orquestra neste disco, que se completa com “Nobre colega”, de Édison Borges, matriz CBO-2425.
Outro comediante que marcou época bate ponto aqui no GRB 8: o “inimigo número um da tristeza”, Zé Fidélis (São Paulo, 1910-idem, 1985), um dos pioneiros do humor no rádio brasileiro e que, embora fizesse de papel de português, era descendente de italianos (!), tanto que sue nome verdadeiro era Gino Cortopassi. Famoso por suas paródias, ele aqui comparece com a da valsa “Alza, Manolita”, do provavelmente francês Léo Daniderff, e então sucesso na versão brasileira de Eduardo das Neves cantada por Osny Silva. Originalmente, “Manuelita” saiu pela Columbia, em junho de 1943, com o nº 55438, matrizes 10146-A/B, ocupando os dois lados do 78. Naquele ano, porém, a Byington & Cia. perdeu a representação da Columbia americana para a Odeon, e, em seu lugar, surgiu a marca Continental. Para marcar o início das atividades da nova marca, foram relançados cem discos da antiga Columbia, entre eles “Manuelita”, que voltou às lojas com o nº 15046.
Finalmente, temos Zé Gonzaga (José Januário Gonzaga do Nascimento, Exu, PE, 1921-Rio de Janeiro, 2002), que, como você já percebeu, era irmão de Luiz Gonzaga e também sanfoneiro. Ele inclusive se apresentou no exterior, substituindo o irmão famoso em uma excursão pela França, promovida pelo empresário de comunicação Assis Chateaubriand, em 1952, atuando também no Uruguai e na Argentina. Zé aqui está com um disco Copacabana de 1956, de nº 5601, sem indicação exata de mês de lançamento. No lado A, matriz M-1556, uma composição dele próprio com Amorim Roxo, o xote “O cheiro da Carolina”, uma coqueluche na época, também gravado por Carlos Antunes e pelo próprio irmão famoso, o Gonzagão (talvez o registro de maior sucesso entre os três). No verso, matriz M-1557, vem o “Xote da vovó”, também do próprio Zé Gonzaga com Nelinho, um solo de sanfona “bão da mulésta”, sô! E que encerra esta bem humorada seleção do GRB 8, com a qual você poderá desfrutar de agradáveis momentos de descontração e alegria. Bom divertimento!
* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

manuelita (parte 1) – zé fidelis
manuelita (parte 2) – zé fidelis
o cheiro da carolina – zé gonzaga
xote da vovó – zé gonzaga
nober colega – jorge loredo
zé bonitinho – jorge loredo
dom pedrito – trigemeos vocalistas
eu vou sapatear – trigemeos vocalistas
tomara que chova – vocalistas tropicais
jacarepaguá – vocalistas tropicais

Carmélia Alves, Marlene, Violeta Cavalcante, Zezé Gonzaga E Zilah Fonseca – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 07 (2012)


Amigos cultos e ocultos, já chegamos à sétima edição do Grand Record Brasil. Sete, dizem, é conta de mentiroso, mas a diversão que você vai ter aqui é cem por cento verdadeira! Aqui focalizamos cinco das mais importantes cantoras brasileiras, em fonogramas raros e autênticos itens de colecionador.

Para início de conversa, aqui está Carmélia Alves, a “rainha do baião”. Nascida na Quarta-Feira de Cinzas de 1923 (14 de fevereiro), estreou em disco na Victor, em 1943, interpretando “Deixei de sofrer” (Popeye do Pandeiro e Dino Sete Cordas) e “Quem dorme no ponto é chofer” (Assis Valente), sendo que a própria Carmélia pagou os custos de gravação e prensagem (quatrocentos mil-réis!). O disco fez sucesso, mas Carmélia só voltaria às gravações em 1949, através da Continental. É dessa fase o disco que apresentamos aqui, de número 16413, lançado entre julho e setembro de 1951. “No mundo do baião” é um delicioso popurri que ocupa os dois lados do disco (matrizes 2607-08), no qual foram inseridas músicas dos mais variados autores desse gênero. No lado A, apenas músicas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, tipo “Asa branca“ e “Paraíba”, e no verso composições de outros autores que se dedicaram ao baião: Hervê Cordovil, Mário Vieira, e Braguinha, o “João de Barro”. Tudo com o reforço do grande acordeonista Sivuca e de seu conjunto. Outra cantora aqui apresentada também era de baião: a paulistana Vitótia de Martino Bonaiutti, aliás Marlene, tida como rival de Emilinha Borba, mas na realidade ambas eram muito, muito amigas (não é de hoje que tem marqueteiro, não é mesmo?).E eis Marlene interpretando um baião do mestre Haroldo Lobo em parceria com Rômulo Paes: a “Canção das noivas”, disco Continental 16556-B, lançado em maio-junho de 1952, matriz C-2843. Em seguida encontramos a amazonense (de Manaus) Violeta Cavalcante. E desta vez em clima de carnaval, apresentando duas músicas para a folia de 1955. Gravado na Odeon em 28 de setembro de 1954, com lançamento ainda em dezembro sob número 13741, o disco traz no lado A, matriz 10309, a “Marcha do cacoete”, de Paulo Menezes e Mílton Legey, e no verso, matriz 10308, o samba “Madrugada”, que tem como parceira a“pianeira” Carolina Cardoso de Menezes, uma das melhores que o Brasil já teve, conhecida por seu jeito brasileiríssimo de dedilhar as notas do piano, e que assina a música ao lado de Jota Leite e Orlando Reis. Bem apropriado para estes dias pré-carnavalescos atuais… Zezé Gonzaga, que já havia aparecido anteriormente na coletânea de Natal do GRB (e com uma faixa de fins de 1951 que também aqui aparece, “Um sonho que sonhei”, Sinter 10.00.114-B,matriz S-245) agora volta com dois discos, aliás dois e meio: o Sinter 265, lançado em setembro de 1953,trazendo no lado A, matriz S-575, um baião muito conhecido de Miguel Gustavo: “É sempre o papai”. Naquele ano, inclusive, o Dia dos Pais foi instituído no Brasil por iniciativa do jornal carioca “O Globo”, visando atrair anunciantes do comércio (em São Paulo só chegaria dois anos mais tarde). “É sempre o papai” foi também gravado por Marlene e Jorge Veiga. O lado B, na verdade, é um relançamento, pois originalmente foi o lado A do 78 de “Um sonho que sonhei”, matriz S-244, de 1951. E a “Valsa de aniversário”, composta por Joubert de Carvalho. Autor de clássicos da MPB como “Taí”, “De papo pro á” e “Minha casa”. Prudentemente, o selo do original de 51 está aqui reproduzido. O outro disco de Zezé aqui apresentado é o Columbia (hoje Sony Music) CB-10273,lançado em agosto de 1956. No lado A, matriz CBO-777, a versão do radialista paulista (de Sorocaba) Júlio Nagib para o beguine italiano “Arrivederci, Roma”, grande hit de Teddy Reno naquele ano. Esta mesma versão foi gravada também por Rogéria (seria o famoso travesti?), Neuza Maria e Wilson Roberto. No verso do disco, matriz CBO-778, uma simpaticíssima toada de Bruno Marnet, “Moreno que desejo”, em ambas as faces acompanhada de conjunto e coro. Finalmente, vem à nossa lembrança o nome de Zilah Fonseca (Yolanda Ribeiro Angarano, São Paulo, 1929-Rio de Janeiro, 1992). Ela aqui comparece, assim como Violeta Cavalcanti, em clima bem carnavalesco, através de um disco que lançou pela Columbia, mais tarde Continental, em janeiro de 1940, número 55197, com duas marchinhas para a folia daquele ano: o lado A, matriz 3776, tem “Pulga maldita”, de Francisco Malfitano sobre tema popular. No verso, matriz 3777, “Pigmalião”, também de Francisco Malfitano em parceria com Eratóstenes Frazão (pra quem não sabe, ele também é co-autor do clássico carnavalesco “Cordão dos puxa-saco”).Este, portanto, é o sétimo e feminino volume do GRB, que certamente irá proporcionar agradáveis momentos de recordação e entretenimento. Divirtam-se!
 
marcha do cacoete – violeta cavalcante
madrugada – violeta cavalcante
é sempre o papai – zezé gonzaga
festa de aniversário – zezé gonzaga
um sonho que eu sonhei – zezé gonzaga
moreno que desejo – zezé gonzaga
arrivederci roma – zezé gonzaga
pulga maldita – zilah fonseca
pigmalião – zilah fonseca
canção das noivas – marlene
no mundo do baião I – carmélia alves e sivuca
no mundo do baião II – carmélia alves e sivuca
 
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Raul De Barros, Ruy Rey, Risadinha E Roberto Ferri – Seleção 78 RPM Do Toque Musical (2012)

Amigos cultos e ocultos do Toque Musical, espero que vocês tenham tido uma excelente passagem de ano. E é com muita alegria que lhes apresentamos a sexta edição do Grand Record Brasil, a primeira deste novo ano de 2012. Para começar, aqui está um músico que foi também chefe de orquestra: Roberto Ferri. Junto com o pai, Orlando Ferri, ele animava bailes por todo o Estado de São Paulo, apoiado por músicos bastante qualificados e experientes. O disco desse notável músico escolhido para esta seleção foi o Odeon 13327, gravado no dia 29 de maio de 1952 e chegado às lojas em setembro seguinte. Ferri, atuando ao solovox (instrumento considerado o primeiro sintetizador monofônico da história da música) e apoiado por regional, executa no lado A, matriz 9325, dois clássicos do inesquecível poeta do mar da Bahia, Dorival Caymmi: ”A jangada voltou só” e “É doce morrer no mar” (esta última é uma parceria com o escritor, também baiano, Jorge Amado, que às vezes, como aqui, era omitido nos selos dos discos). No lado B, matriz 9324, por conseguinte gravada antes, Ferri executa o choro “Levanta poeira”, do mestre de Santa Rita do Passa Quatro, Zequinha de Abreu (1880-1935), editado como “chorinho sapeca”, e cuja primeira gravação só se deu em 1942, na Victor, pela Orquestra do maestro Passos. Em seguida, iremos relembrar Domingos Zeminian, que ganhou a imortalidade com o pseudônimo de Ruy Rey (São Paulo, 1915-Rio de Janeiro, 1995). Ator, cantor, compositor e “band-leader”, especializou-se na interpretação de ritmos hispânico-americanos (bolero, rumba, mambo, guaracha, chá-chá-chá, etc.). E também era de carnaval (quem não se lembra, por exemplo, da marchinha “A mulata é a tal”?). Tanto que o disco apresentado aqui é o Continental 15974, gravado em outubro de 1948 e lançado em janeiro de 49, claro, um mês antes da folia, com duas marchinhas. Com acompanhamento da Orquestra Tabajara de Severino Araújo, ele interpreta no lado A, matriz 1978, gravado no dia 8, “Espanhola diferente”, composta por Nássara, autor de inúmeros êxitos carnavalescos, e pelo alagoano Peterpan, que no gênero também nos deu hits como “Apanhador de papel” e “Marcha do caracol”. No lado B, gravado no dia 6, portanto dois dias antes, matriz 1974, temos “Legionário”, de João “Braguinha” de Barro, outro nome que muito contribuiu para engrandecer nosso repertório carnavalesco, em parceria com José Maria de Abreu, paulista de Jacareí, que concebeu vários hits clássicos de nosso cancioneiro, bastando lembrar “Alguém como tu”, “E tome polca”, “Se amar é bom” e “Boa noite, amor”, o prefixo pessoal de Francisco Alves. Aliás o carnaval de 1949 foi um dos mais ricos em termos musicais, bastando lembrar, por exemplo, “Chiquita bacana”, “Pedreiro Valdemar”, “Jacarepaguá”, “A Lapa”, “Nêga maluca”, “A coroa do rei”, “Balzaqueana”… A seguir, um mestre do trombone: Raul de Machado de Barros (Rio de Janeiro, 1915-Itaboraí, RJ, 2009). Músico e maestro dos mais notáveis, ele aqui executa dois choros à frente de seu regional, gravados na Odeon em 15 de junho de 1949 e lançados em setembro seguinte no disco 12948. No lado A, matriz 8521, temos “Eu, hein!”, de autoria de Felisberto Martins, à época também diretor artístico da Odeon. E o lado B, matriz 8520, é simplesmente um dos clássicos do chamado “repertório de gafieira”: “Na Glória”, composto pelo próprio Raul em parceria com Ary dos Santos. Um sucesso inesquecível, por ele regravado em outras oportunidades com a mesma competência. Até eu estava esperando para ter este registro original em minha coleção, tenho que confessar! Encerrando, temos Francisco Ferraz Neto, aliás, Risadinha (São Paulo, 1921-Rio de Janeiro, 1976), que evidentemente ganhou esse apelido por seu temperamento alegre. Ele marcou presença sobretudo no carnaval, com hits do porte de “O doutor não gosta” e “Se eu errei”. Risadinha aqui comparece com o disco Odeon 13599, gravado logo no comecinho de 1954 (4 de janeiro) e ido para as lojas em março seguinte. Acompanhado de regional, ele regravou dois sucessos: no lado A, matriz 10017, o rojão (espécie de baião mais acelerado) “Forró em Limoeiro”, de Edgar Ferreira, lançado no final do ano anterior por Jackson do Pandeiro em seu primeiro disco. No lado B, matriz 10018, um clássico do samba: “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, primeiro sucesso nacional de Lupi, originalmente lançado em 1938 pelo também estreante Ciro Monteiro. Samba esse que receberia inúmeros outros registros de sucesso, e que projetaria, em 1959, Elza Soares. Enfim, o GRB começa o ano novo com o pé direito, e faço votos que todos tenham um ótimo 2012, repleto de alegrias, realizações e conquistas!

*SAMUEL MACHADO FILHO


Januário De Oliveira, Quinteto Instrumental Columbia, Sirlene Brandão Nery – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 5 (2011)

Em sua quinta edição, o Grand Record Brazil nos leva ao início das atividades da gravadora Columbia. Na verdade, a Columbia, firma de origem americana, era representada, nessa época, pela empresa Byington & Cia., e tal concessão só foi possível graças ao empenho do também americano Wallace Downey, mais tarde produtor de filmes musicais para a Cinédia. Desta fase, oGRB nos apresenta seis raríssimas gravações. A primeira é do disco 5108, matriz 380338 (repare que nessa época, o número de catálogo dos discos Columbia era seguido da letra B, em ambos os lados, e este na verdade é o lado A), lançado em outubro de 1929, apresentando a valsa “Piraporinha”, de Alberto Candelízio, executada pelo Quinteto Instrumental Columbia. Esse disco seria relançado mais tarde, em 1939, com o número 55053. No verso, matriz 380339, temos a “Valsinha sertaneja”, de autor desconhecido. Em seguida, um disco de Januário de Oliveira (Rio de Janeiro, 1902-São Paulo, 1963). Sua discografia é quase toda na Columbia, com passagens pela Victor e Arte-Fone, num total de 59 discos com 103 músicas, entre elas a marchinhacarnavalesca “Quebra, quebra, gabiroba” , o motivo folclórico “Engenho novo” e a valsa “Cauã”, esta última de Sinhô. Januário aqui comparece com o disco 5208, e dois sambas. De um lado, matriz 380659, “Falsa jura”, de Pedro de Sá Pereira, também autor da clássica modinha “Chuá,chuá”. No verso, matriz 380660, “Macumbeiro”, composição de Mílton Amaral, autor também da célebre valsa “Folhas ao vento”. No acompanhamento, a Jazz-Band Columbia, liderada pelo maestro e pianista Gaó (Odmar Amaral Gurgel, 1909-1994), paulista de Salto. Foi lançado emjunho de 1930. Para encerrar, temos um raríssimo disco gravado por Silene Brandão Nery, filha da pianista Amélia Brandão Nery, mais conhecida por Tia Amélia. Ela só gravou dois 78 rpm para o carnaval de 1932, lançados bem em cima da folia, em fevereiro: um pela Victor e este pelaColumbia, todos interpretando composições da “mãezona” Tia Amélia. Aqui ela interpreta de um lado, matriz 381155, a marchinha “Não vá”, e no verso, matriz 381156, o samba “Reticências…”. Em ambos os lados, ela é acompanhada pela orquestra do maestro palestino Simon Bountman, que gravava na Odeon como Grupo Cassino Copacabana, Orquestra Pan American e OrquestraCopacabana. Na Parlophon, subsidiária da Odeon, gravava com o nome de Orquestra Parlophon(é claro), e na Columbia como “Simão e sua Orquestra Columbia”. Quer dizer, todas eram a mesmíssima orquestra… Enfim, mais três preciosidades para colecionadores que o GRB nos apresenta. Os irmãos Byington continuaram representando a Columbia americana até 1943, quando perderam a concessão da mesma para a Odeon, e isso levou o então diretor artístico da gravadora, João “Braguinha” de Barro, a criar um novo selo: Continental. E a matriz americana voltou ao Brasil, desta vez por conta própria, em 1953, transformando-se depois na CBS e convertendo-se na atual Sony Music.


macumbeiro – januário de oliveira e jazz band columbia
falsa jura – januário de oliveira e jazz band columbia
valsinha sertaneja – quinteto instrumental columbia
piraporinha – quinteto instrumental columbia
não vá – silene brandão nery
reticências – silene brandão nery

*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Januário De Oliveira, Quinteto Instrumental Columbia, Sirlene Brandão Nery – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 5 (2011)

Em sua quinta edição, o Grand Record Brazil nos leva ao início das atividades da gravadora Columbia. Na verdade, a Columbia, firma de origem americana, era representada, nessa época, pela empresa Byington & Cia., e tal concessão só foi possível graças ao empenho do também americano Wallace Downey, mais tarde produtor de filmes musicais para a Cinédia. Desta fase, oGRB nos apresenta seis raríssimas gravações. A primeira é do disco 5108, matriz 380338 (repare que nessa época, o número de catálogo dos discos Columbia era seguido da letra B, em ambos os lados, e este na verdade é o lado A), lançado em outubro de 1929, apresentando a valsa “Piraporinha”, de Alberto Candelízio, executada pelo Quinteto Instrumental Columbia. Esse disco seria relançado mais tarde, em 1939, com o número 55053. No verso, matriz 380339, temos a “Valsinha sertaneja”, de autor desconhecido. Em seguida, um disco de Januário de Oliveira (Rio de Janeiro, 1902-São Paulo, 1963). Sua discografia é quase toda na Columbia, com passagens pela Victor e Arte-Fone, num total de 59 discos com 103 músicas, entre elas a marchinhacarnavalesca “Quebra, quebra, gabiroba” , o motivo folclórico “Engenho novo” e a valsa “Cauã”, esta última de Sinhô. Januário aqui comparece com o disco 5208, e dois sambas. De um lado, matriz 380659, “Falsa jura”, de Pedro de Sá Pereira, também autor da clássica modinha “Chuá,chuá”. No verso, matriz 380660, “Macumbeiro”, composição de Mílton Amaral, autor também da célebre valsa “Folhas ao vento”. No acompanhamento, a Jazz-Band Columbia, liderada pelo maestro e pianista Gaó (Odmar Amaral Gurgel, 1909-1994), paulista de Salto. Foi lançado emjunho de 1930. Para encerrar, temos um raríssimo disco gravado por Silene Brandão Nery, filha da pianista Amélia Brandão Nery, mais conhecida por Tia Amélia. Ela só gravou dois 78 rpm para o carnaval de 1932, lançados bem em cima da folia, em fevereiro: um pela Victor e este pelaColumbia, todos interpretando composições da “mãezona” Tia Amélia. Aqui ela interpreta de um lado, matriz 381155, a marchinha “Não vá”, e no verso, matriz 381156, o samba “Reticências…”. Em ambos os lados, ela é acompanhada pela orquestra do maestro palestino Simon Bountman, que gravava na Odeon como Grupo Cassino Copacabana, Orquestra Pan American e OrquestraCopacabana. Na Parlophon, subsidiária da Odeon, gravava com o nome de Orquestra Parlophon(é claro), e na Columbia como “Simão e sua Orquestra Columbia”. Quer dizer, todas eram a mesmíssima orquestra… Enfim, mais três preciosidades para colecionadores que o GRB nos apresenta. Os irmãos Byington continuaram representando a Columbia americana até 1943, quando perderam a concessão da mesma para a Odeon, e isso levou o então diretor artístico da gravadora, João “Braguinha” de Barro, a criar um novo selo: Continental. E a matriz americana voltou ao Brasil, desta vez por conta própria, em 1953, transformando-se depois na CBS e convertendo-se na atual Sony Music.

 
macumbeiro – januário de oliveira e jazz band columbia
falsa jura – januário de oliveira e jazz band columbia
valsinha sertaneja – quinteto instrumental columbia
piraporinha – quinteto instrumental columbia
não vá – silene brandão nery
reticências – silene brandão nery
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO