Arquivo da categoria: Selo Grand Record Brazil
Adelaide Chiozzo (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 125 (2014)
Sambas – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 123 (2014)
E prossegue a gloriosa trajetória do Grand Record Brazil. Já estamos na edição de número 123, e nela estamos apresentando uma seleção especialmente dedicada ao samba. São 15 gravações, com sambas de autores consagrados do gênero, interpretados pelos melhores cantores de sua época. Abrindo esta edição, temos “Capital do samba”, de José Ramos (1913-2001), fluminense de Campos, que ajudou a fundar a ala de compositores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, na interpretação do sempre notável Gilberto Alves. Gravação Odeon de 9 de setembro de 1942, lançada em outubro do mesmo ano, disco 12214-A, matriz 7053. Dos cariocas João da Baiana (João Machado Guedes, 1887-1974) e Babaú da Mangueira (Waldomiro José da Rocha, 1914-1993) é “Sorris de mim”, a faixa seguinte, interpretada por Odete Amaral, “a voz tropical do Brasil”. Ela o gravou na Victor em 9 de julho de 1940,com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34657-B, matriz 33463. De Paquito (Francisco da Silva Fárrea Júnior, 1915-1975) e do lendário Paulo da Portela (Paulo Benjamin de Oliveira, 1901-1949), foi escalado “Arma perigosa”, na interpretação de Linda Rodrigues (Sophia Gervasoni, 1919-1995). É o lado A de seu terceiro 78, o Continental 15423, lançado em setembro de 1945, matriz 1136. Na quarta faixa, um clássico indiscutível do mestre Ary Barroso: é “Morena boca de ouro”, na interpretação de Sílvio Caldas, que o imortalizou na Victor em 4 de julho de 1941, com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 34793-A, matriz S-052259. Foi várias vezes regravado,inclusive por João Gilberto, que o incluiu em seu primeiro LP, “Chega de saudade”, em 1959. O dito popular “Quem espera sempre alcança” dá título à nossa quinta faixa, mais uma composição do lendário Paulo da Portela. Quem canta este samba é Mário Reis, em gravação lançada pela Odeon em setembro de 1931, disco 10837-B, matriz 4272, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, do palestino Simon Bountman. “Quem mandou, Iaiá?” é de Benedito Lacerda (também no acompanhamento com sua flauta mágica e inconfundível) e Oswaldo “Baiaco” Vasques, e foi lançado pela Columbia para o carnaval de 1934, em janeiro desse ano, na voz de Arnaldo Amaral, disco 22262-A, matriz 1005. Também de Baiaco, em parceria com João dos Santos, é nossa sétima faixa, “Conversa puxa conversa”, gravação Victor de Almirante (“a maior patente do rádio”) em 24 de abril de 1934, lançada em julho do mesmo ano com o n.o 33800-A, matriz 79615, com acompanhamento da orquestra Diabos do Céu, formada e dirigida por Pixinguinha. Babaú da Mangueira volta em nossa faixa 8, “Ela me abandonou”, samba do carnaval de 1949, em parceria com Taú Silva. Novamente aqui comparece Gilberto Alves, em gravação RCA Victor de 23 de dezembro de 48, lançada um mês antes da folia,em janeiro,disco 80-0591-B, matriz S-078852. Autor de clássicos do samba, Ismael Silva (1905-1978) mostra seu lado de intérprete em “Me deixa sossegado”, que assina junto com Francisco Alves e Nílton Bastos, e foi lançado pela Odeon em dezembro de 1931, disco 10858-B,matriz 4281. De família circense, sobrinho do lendário palhaço Piolim, o comediante paulista Anchizes Pinto, o Ankito (1924-2009), considerado um dos cinco maiores nomes da era das chanchadas em nosso cinema, bate ponto aqui com “É fogo na jaca”, samba de Raul Marques, Estanislau Silva e Mateus Conde. Destinado ao carnaval de 1954, foi lançado pela Columbia (depois CBS e hoje Sony Music) em janeiro desse ano, sob n.o CB-10017-B, matriz CBO-152. Paulo da Portela volta na faixa 11, assinando com Heitor dos Prazeres “Cantar pra não chorar”, do carnaval de 1938. Quem canta é Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”, em gravação Victor de 15 de dezembro de 37, lançada um mês antes da folia, em janeiro, disco 34278-B, matriz 80634. Na faixa 12, volta José Ramos, agora assinando com o irmão, Marcelino Ramos, “Jequitibá”. Gravação de Zé e Zilda (“a dupla da harmonia”), em 1949, na Star, disco 151-B, por certo visando o carnaval de 50. A eterna “personalíssima”, Isaura Garcia, vem com o samba “Mulher de malandro”, de Hervê Cordovil. Gravado na Victor em 23 de outubro de 1945, seria lançado apenas em setembro de 46, sob n.o 80-0431-B, matriz S-078380. Ernani Alvarenga, o Alvarenga da Portela, assina “Fica de lá”, samba do carnaval de 1939, em gravação Odeon de Francisco Alves, datada de 16 de dezembro de 38 e lançada bem em cima da folia,em fevereiro, disco 11700-A,matriz 5995. Por fim, temos o samba “Não quero mais”, samba de autoria de Zé da Zilda (também conhecido por Zé com Fome e José Gonçalves) e Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro, que apareceu no selo com o sobrenome errado, “da Silva”), gravado na Victor por Aracy de Almeida em 9 de setembro de 1936 e lançado em dezembro do mesmo ano, disco 34125-A, matriz 80214, certamente com vistas ao carnaval de 37. Note-se, a respeito deste samba, que Cartola tinha feito duas segundas partes, mas Zé da Zilda fez uma outra segunda parte por conta própria e, assim, eliminou Cartola da co-autoria. Enfim, é uma excelente seleção de sambas que o GRB nos oferece, para apreciação de todos aqueles que apreciam o melhor de nossa música popular.
* Texto de Samuel Machado Filho
Sertanejos – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 122 (2014)
Abrindo esta seleção, um representante da música regional nordestina, Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento, Cajazeiras, PB, 18/12/1908-idem, 2/10/1979). Ele nos apresenta aqui uma bela toada que fez em parceria com José Martins, “Lua bonita”, por ele mesmo interpretada no filme “O cangaceiro”, da Vera Cruz, êxito internacional que, no entanto, não impediu a falência do estúdio, pois tal repercussão beneficiou apenas sua distribuidora, a multinacional Columbia Pictures. Gravação RCA Victor de 29 de janeiro de 1953, lançada em abril do mesmo ano, disco 80-1100-B, matriz SB-093595. Conhecido como “a maravilha negra das Américas”, Edson Lopes (c.1930-?) aqui nos oferece o jongo “Cafuné”, assinado pelo campineiro Dênis Brean (Oswaldo Duarte Ribeiro) em parceria com Gilberto Martins. Originalmente lançado por Aracy de Almeida, em 1955, é revivido aqui por Edson em gravação Odeon de primeiro de fevereiro de 1957, lançada em maio do mesmo ano, disco 14202-A, matriz 11543. Da escassa discografia da dupla Coqueiro e Belinha (apenas cinco discos 78 com dez músicas), foi escalada a guarânia “Lei de um mandamento”, de Coqueiro sem parceria. Foi gravada na Odeon em 13 de junho de 1960, e lançada emjulho do memso ano, disco 14639-A, matriz 50567, sendo que a “marca do templo” o reeditou mais tarde com o selo Orion, sob número R-072. Em seguida apresentamos as faixas do único 78 da dupla Ibirama e Maruí, o RCA Camden CAM-1092, gravado em 17 de outubro de 1961 e lançado em janeiro de 62,com músicas assinadas por Pavãozinho. No lado A, matriz M3CAB-1508, o xote “Linda gaúcha”, em que Pavãozinho tem a parceria de Sereno. No lado B, matriz M3CAB-1509, a canção rancheira “Deixe eu sofrer”, de Pavãozinho sem parceiro. O “trio orgulho do Brasil”, Luizinho, Limeira e Zezinha, aqui bate ponto com o conhecidíssimo baião “Casamento é uma gaiola”, de autoria do Compadre Generoso (muita gente se lembra dessa música na voz do Sérgio Reis, e aqui vai o registro original) , por eles gravado na Odeon em 2 de abril de 1959 e lançado em junho do mesmo ano sob número 14463-B, matriz 50108, sendo depois relançado com o selo Orion sob número R-058, além de figurar em LP sem título. A dupla Mariano e Cobrinha, ambos de Piracicaba, SP, apresentam aqui a toada “Mágoas de carreiro”, de autoria do comediante e ventríloquo Batista Júnior, pai das cantoras Linda e Dircinha Batista. Lançada em 1929 pelo próprio autor, é aqui apresentada em gravação feita por Mariano e Cobrinha na Continental em 6 de abril de 1948 e lançada em maio-junhoi do mesmo ano, disco 15902-B, matriz 10839. O próprio Batista Júnior, aliás, agradeceu pessoalmente a dupla por esta regravação. Do único 78 da dupla Oswaldinho e Vieirinha, o RCA Victor 80-1818, gravado em 25 de março de 1957 e lançado em julho do mesmo ano, aqui está o lado B, a toada “Canção do tropeiro”, de exclusiva autoria de Vieirinha, matriz 13-H2PB-0078. Temos em seguida, as faixas do único disco da dupla feminina Chiquita e Chinita,o Columbia CB-10280, lançado em outubro de 1956, ambas de autoria de Francisco Lacerda com parceiros, um em cada música. No lado B, o valseado ‘Cavalinho pampa”, matriz CBO-821, o parceiro de Lacerda é Ricardo Jardim, e no lado A, o tango “Parabéns, meu amor”, matriz CBO-820, o co-autor é José Maffei. Outra dupla feminina de discografia escassa (seis discos 78 com doze músicas, todos pela Columbia), as Irmãs Cavalcanti (Noemi, que foi vocalista do Trio de Ouro em sua segunda fase, e Odemi) aqui comparecem com as faixas do disco de estreia, número CB-10029. No lado A, delas próprias, matriz CBO-170, o baião “Lumiô, lumiô”, e no lado B, matriz CBO-171, a guarânia “Ponta Porã”, de Pereirinha e Jamir da Silva Araújo. As Irmãs Maria (Thereza Gadotti e Maria Aparecida Oliveira), também de curta carreira discográfica, aqui apresentam o huapango “Por te querer”, de Piaozinho e Maria Aparecida Oliveira, lançadopela Continental, selo Caboclo, em julho de 1961, disco CS-457-A. Silveira e Barrinha, “a dupla dos 22 Estados”, nos oferece a clássica moda campeira “Coração da pátria”, de Silveira, Lourival dos Santos e Sebastião Victor, gravação RCA Camden de 25 de maio de 1962, disco CAM-1133-A, matriz N3CAB-1712. E, encerrando esta seleção, Zé Carreiro e Carreirinho, “os maiores violeiros do Brasil”, apresentam o cururu clássico “Saudades de Araraquara”, de exclusiva autoria de Zé Carreiro, gravado na Continental em 9 de maio de 1952 e lançado entre esse mês e junho do mesmo ano, disco 16580-A, matriz 11381. Enfim, a mais autêntica música do sertão brasileiro, para fazer a gente recordar, como diz meu colega de YouTube Adalésio Vieira, “um tempo em que realmente havia música sertaneja”… Deliciem-se!
*Texto de Samuel Machado Filho
4 Ases & 1 Coringa (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 121 (2014)
Elizeth Cardoso – Elvira Pagã – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 119 (2014)
Linda Batista, Elizeth Cardoso, Onilda Figueiredo & Carmen Barbosa – Seleçào 78 RPM Do Toque Musical Vol. 118 (2014)
A Música De Lupicinio Rodrigues – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol.117 (2014)
Lupicínio Rodrigues – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 116 (2014)
Carlos Galhardo – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 115 (2014)
Chegando à sua edição de número 115, o Grand Record Brazil apresenta a terceira e última parte da retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo (1913-1985), sem dúvida um dos mais queridos e expressivos intérpretes de nossa música popular, um cantor que, de fato, como dizia seu slogan, dispensava adjetivos. Desta feita, estamos oferecendo a nossos amigos cultos, ocultos e associados onze preciosas gravações de Galhardo, verdadeiras joias de seu repertório. Abrindo o programa, temos “Vela branca sobre o mar”, ótimo fox de José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago, gravação Victor de 18 de junho de 1937, lançada em setembro do mesmo ano, disco 34200-A, matriz 80469. Fiel às raízes italianas da família, Galhardo depois nos oferece “Guaglione”, palavra que em italiano quer dizer “rapazola” ou “garoto”. É outro fox, este composto lá mesmo na Itália, por Nicola Salerno, o Nisa, e Giuseppe Fanciulli, com letra brazuca do radialista Júlio Nagib. Foi gravado na já então RCA Victor em 3 de dezembro de 1956, indo para as lojas em março de 57 com o n.o 80-1735-B, matriz BE6VB-1396 (curioso é que, um mês antes, a Odeon pôs nas lojas a gravação de Léo Romano, feita porém três dias depois desta de Galhardo, a 6 de dezembro de 56, sendo nosso focalizado, portanto, o primeiro a gravar a versão). Em seguida, a marchinha “Mercador”, de Wilson Batista e Ari Monteiro, do carnaval de 1953. Outra gravação RCA Victor, esta de 7 de agosto de 52, e que chegou às lojas ainda em dezembro sob n.o 80-1047-A, matriz SB-093392. Da safra de Galhardo na Odeon é “Morena faceira”, samba do mestre Ataulfo Alves, gravado em primeiro de junho de 1937 e lançado em outubro do mesmo ano, disco 11522-B, matriz 5586. “Noite sem luar”, nossa faixa seguinte, é uma das inúmeras e bem-sucedidas valsas dos autores de “Boa noite, amor” (prefixo pessoal de Francisco Alves) , José Maria de Abreu e Francisco Matoso. Abreu já era o “rei da valsa” entre os autores, e Galhardo, “rei da valsa” entre os intérpretes, imortalizando “Noite sem luar” na Victor em 18 de junho de 1937, mas com lançamento apenas em março de 38 com o n.o 34299-A,matriz 80470. “Notícia de última hora”, de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, é um samba do tempo da Segunda Guerra Mundial, em que um pracinha avisa que vai lutar com os países aliados na Itália e retornar vitorioso. De fato, os aliados derrotaram as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), marcando o fim do conflito, em 1945. Destinado ao carnaval de 1943, o samba foi gravado na Victor por Galhardo em 25 de setembro de 42, com lançamento ainda em dezembro, disco 80-0026-A, matriz S-052624. “O homem da valsa”, de Custódio Mesquita e David Nasser, por certo é uma referência ao próprio Galhardo, ele que a registrou na mesmíssima Victor em 11 de fevereiro de 1943, com lançamento em maio do mesmo ano sob n.o 80-0076-B, matriz S-052719. Do início da carreira do cantor é pinçado o samba que vem em seguida, “Para onde irá o Brasil?”, de autoria de Assis Valente, então também iniciante como Galhardo, que o gravou em seu segundo disco, o Victor 33627-A,em 2 de fevereiro de 1933, com lançamento em março do mesmo ano, matriz 65663. Assis havia composto o samba durante a Revolução Constitucionalista de 1932, e foi intimado a dar explicações às autoridades policiais. Seu conteúdo, porém, traz uma mensagem antibélica. O mestre Ataulfo Alves novamente aparece com outro de seus inspirados sambas, ‘Receita”, parceria com João Bastos Filho, gravação Victor de Galhardo em 20 de junho de 1938, porém só lançada em abril de 39, disco 34422-A, matriz 80832. O samba seguinte também é de Ataulfo, agora em parceria com o violonista Claudionor Cruz: o clássico “Sei que é covardia (Mas…)”. E é também gravação Victor do nosso Galhardo, datada de 5 de dezembro de 1938, com lançamento em janeiro de 39 para o carnaval, triunfalmente consagrado como um dos maiores hits dessa folia, disco 34401-A, matriz 80952. Finalizando, a belíssima valsa “Viena do meu coração”, de autoria de dois expoentes do gênero, Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, que nosso “rei da valsa”, Carlos Galhardo, imortalizou na Odeon em 23 de março de 1937, com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11492-A, matriz 5557. De fato, um belo fecho para o retrospecto de Carlos Galhardo feito por nosso GRB. E nossas duas próximas edições serão dedicadas ao grande compositor Lupicínio Rodrigues, cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2014. Até lá!
* Texto de Samuel Machado Filho
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Carlos Galhardo (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 114 (2014)
E estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 114, apresentando a segunda parte da retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo (1913-1985), “o Cantor que dispensa adjetivos”. São mais doze faixas preciosas e imprescindíveis para todos os que apreciam a arte de cantar no que ela tem de mais belo e expressivo. Abrindo nossa seleção desta semana, Galhardo apresenta “Ai, amor”, samba de dois Robertos, Martins e Roberti, gravado na Victor em 25 de agosto de 1939 e lançado em novembro do mesmo ano sob n.o 34508-B, matriz 33153. Roberto Martins também assina, agora com Ari Monteiro, a faixa seguinte, “Vinte e três de abril”, data consagrada a São Jorge, e inspiradora deste samba que Galhardo imortalizou na já então RCA Victor em 27 de fevereiro de 1948, com lançamento em abril seguinte com o n.o 80-0579-A, matriz S-078829. Do carnaval de 1960 é a marchinha “Cachopa”, de Augusta de Oliveira e Madalena Correia, gravada em 14 de setembro de 59 e lançada ainda em dezembro sob n.o 80-2148-B, matriz 13-K2PB-0759, e no LP coletivo “Carnaval RCA Victor”, isso já numa época, sempre é bom frisar, de transição do 78 rpm para o vinil. Recuando no tempo, temos em seguida o samba “Cantar pra não chorar”, de autoria do lendário Paulo da Portela em parceria com um dos pioneiros do gênero, Heitor dos Prazeres, que Galhardo grava na então Victor em 15 de dezembro de 1937, com lançamento bem em cima do carnaval de 38, em fevereiro, sob n.o 34278-B,matriz 80634. Mostrando que foi talvez o cantor do Sul do Brasil mais fiel ao frevo,gênero com o qual estreou em disco, Galhardo apresenta “O frevo é assim”. De autoria de Nélson Ferreira, um craque do gênero, em parceria com o também pernambucano Nestor de Holanda, este frevo-canção do carnaval recifense de 1946 foi gravado na marca do cachorrinho Nipper em 23 de outubro de 45, sendo lançado ainda em dezembro com o número 80-0353-A,matriz S-078302, com acompanhamento da orquestra do maestro paulista Aristides Zaccarias, que também animava os bailes de carnaval pernambucanos. A faixa seguinte, aliás, é do primeiríssimo disco de Carlos Galhardo, o Victor 33625. É a “marcha pernambucana” (como então era chamado o frevo-canção) “Que é que há?”, de Nélson Ferreira sem parceiro., lado B desse histórico 78 do cantor, gravado em 26 de janeiro de 1933 e lançado em março seguinte, matriz 65659. Da primeira safra de Galhardo na Odeon (onde gravaria seus derradeiros discos, nos anos 1970) é a marchinha “Serpente do amor”, do carnaval de 1937. De autoria de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, foi gravada na “marca do templo” em 31 de outubro de 36, com lançamento ainda em dezembro sob n.o 11421-A, matriz 5433. Retornando à Victor, temos a valsa “Mares da China”, da profícua parceria João de Barro (Braguinha)-Alberto Ribeiro, que Galhardo imortaliza em 20 de junho de 1938, com lançamento em outubro do mesmo não,sob número 34365-A, matriz 80831. “Deus no céu, ela na terra”, samba de Wilson Batista e Marino Pinto, é uma daquelas manifestações à chamada mulher ideal, então comuns. Galhardoo imortalizou na marca do cachorrinho Nipper em 14 de junho de 1940, devidamente acompanhado de regional, com destaque para a expressiva clarineta do mestre Luiz Americano, indo para as lojas em agosto seguinte, sob n.o 34643-B,matriz 33443. “Flor do céu”, de autoria creditada a Rômulo Paes e Henrique de Almeida, é na verdade adaptação, em ritmo de fox, de uma modinha de cunho tradicional, “É a ti, flor do céu”, regravada até mesmo pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Esta versão foi gravada por Galhardo na já então RCA Victor em 8 de junho de 1956, sendo lançada em agosto seguinte com o número 80-1654-A, matriz BE6VB-1182. “Cármen”, valsa de Paulo Barbosa e Cristóvão de Alencar, o “amigo velho”, é o lado B do disco de “Cerejeira do Japão” (apresentada em nosso volume anterior), o Victor 34659, gravado em 16 de julho de1940 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz 33473. Também de Paulo Barbosa, agora em parceria com Francisco Célio, é a valsa que encerra nossa seleção desta semana, “Quero a teus pés te adorar”, outra preciosidade da rica safra de Galhardo na Victor, gravada em 27 de janeiro de 1940 e lançada em março do mesmo ano, disco 34585-B, matriz 33320. Na próxima semana, encerraremos esta retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo, um cantor que, de fato, dispensava qualquer adjetivo. Até lá!
Texto de Samuel Machado Filho
Carlos Galhardo (parte1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 113 (2014)
Esta semana,o Grand Record Brazil apresenta a primeira de três partes de uma retrospectiva que homenageia um dos mais queridos cantores da música popular brasileira, considerado um dos “quatro grandes” da década de 1930, ao lado de Francisco Alves, Sílvio Caldas e Orlando Silva, e de carreira lôngeva e expressiva. Falamos, evidentemente, de Carlos Galhardo. Na pia batismal, nosso biografado recebeu o nome de Catello Carlos Guagliardi, e era filho de italianos,Pedro Guagliardi e Savéria Novello. Segundo Norma Hauer em seu livro “Uma voz que é um poema”, sua mãe engravidou no Rio de Janeiro, mas ele veio ao mundo na capital argentina, Buenos Aires, para onde toda a sua família se deslocou em busca de melhor sorte, em 24 de abril de 1913. Quando Galhardo tinha apenas dois meses de nascido, ele e seus familiares (também tinha dois irmãos, nascidos na Itália, e uma irmã, nascida no Rio) mudaram-se para São Paulo, onde permaneceriam apenas outros dois meses, transferindo-se definitivamente para o Rio, e fixando-se no Estácio de Sá, bairro da primeira escola de samba, a Deixa Falar. Enquanto fazia o grupo escolar, o pequeno Catello foi encaminhado para a batalha da vida, como aprendiz de alfaiate. Por algum tempo, trabalhou como balconista de charutaria, ali cultivando uma amizade que seria útil para a primeira oportunidade de sua carreira, como veremos a seguir. Voltando à tesoura e à agulha, em seguida, chega a ser oficial de paletó, a ponto de confeccionar um jaquetão para Getúlio Vargas,quando chefe do governo provisório, logo que assumiu o poder pela primeira vez, em 1930. Aos oito anos, Galhardo perde a mãe, e o pai, que trabalhava no ramo lotérico, casa-se de novo, tendo mais cinco filhos! Galhardo não conheceu dificuldade alguma na carreira artística. Já vinha cantando para os amigos, principalmente músicas italianas, fiel às origens. Numa festa familiar, a que compareceu Francisco Alves, canta exatamente uma página do repertório do Rei da Voz, a canção “Deusa”, de Freire Júnior. Foi devidamente aprovado por Chico Viola, mas precisava de uma oportunidade mais concreta. Aí é que entra em cena Maria Rita de Carvalho, a Mariazinha, manicure que conhecera em um salão de beleza, que funcionava em conjunto com a charutaria em que ele havia trabalhado. Mariazinha, por sua vez, conhecia uma pessoa relacionada com o compositor e violonista Bororó, que então trabalhava na Rádio Educadora do Brasil. Por esse intermédio, Galhardo foi ouvido por Bororó num ambiente inusitado e o mais sossegado naquele momento: o banheiro da rádio! E foi logo escalado para cantar ao microfone da emissora. Nessa apresentação, para sua sorte, estava Leslie Robert Evans, o Mister Evans da Victor, então diretor e engenheiro de gravações no selo do cachorrinho Nipper, que logo manda seu assistente, João Martins, em busca do futuro astro. E Galhardo, com apenas 19 anos de idade, é designado pela Victor para cantar no coro das gravações e ganhar alguma experiência. Finalmente, em janeiro de 1933, grava seu primeiro disco-solo, interpretando dois frevos para o carnaval recifense desse ano: “Você não gosta de mim” e “Que é que há?”. No final desse ano, Galhardo obtém seu primeiro grande hit nacional: a marcha natalina “Boas festas”, de Assis Valente. Grava também na Columbia (futura Continental), e na Odeon, retornando à RCA Victor. Com voz emotiva e bem timbrada, revestida de uma maciez incomum, Galhardo brilhou por décadas em nosso cenário musical, atuando em emissoras de rádio, cassinos, cinema e televisão, percorrendo todo o Brasil, e, em 1952, fez uma vitoriosa excursão a Portugal. Sem contar os LPs, foram cerca de 580 gravações em 78 rpm, e numerosos sucessos. Como “Rei da Valsa” e “O Cantor que Dispensa Adjetivos”, foi grande em todos os gêneros, na canção romântica, nos sambas e nas marchinhas, tanto no meio-de-ano como no carnaval, além de ter gravado as chamadas datas festivas (Natal, aniversários de nascimento e casamento, Dia dos Pais e das Mães, festas juninas…) mais do que qualquer outro intérprete de seu tempo. Residindo no Estácio, Galhardo era evidentemente torcedor do América Futebol Clube. Também teve cavalos no Jockey Club e um sítio, onde descansava da agitação do meio artístico. Casou-se com Eulália, em 1955, na maturidade dos seus 42 anos, dessa união nascendo três filhos: Carla Maria, Sandra Maria e Eduardo César. Era responsável e tranquilo, como ser humano, o que só fazia aumentar a simpatia e a admiração de seus milhões de fãs, que até hoje cultuam carinhosamente sua memória. Foi um dos fundadores, em 1962, e presidente da Socinpro (Sociedade Brasileira de Administração e Proteção dos Direitos Intelectuais). Seu último trabalho em disco foi o LP “Parabéns a mim por ter você”, lançado pela EMI-Odeon em 1978. Em 1983, Galhardo faz sua última apresentação artística, no espetáculo “Alá-lá-ô”, de Ricardo Cravo Albim, dedicado ao compositor Nássara (parceiro de Haroldo Lobo na marchinha homônima, um dos inúmeros sucessos carnavalescos do intérprete, em 1941), realizado na Sala Funarte-Sidney Miller. Carlos Galhardo faleceu em 25 de julho de 1985, no Rio de Janeiro, aos 72 anos. De seu imenso legado na cera, o Grand Record Brazil oferece, para começar, 12 expressivas páginas, a maior parte gravadas na Victor, mais tarde RCA Victor. Abrindo esta seleção, “Linda butterfly”, fox-canção de Georges Moran (russo radicado no Brasil) e Oswaldo Santiago, registro de 26 de janeiro de 1939, que imediatamente vai para as lojas, em fevereiro, sob n.o 34415-A, matriz 80994. Revelando uma postura crítica em relação ao saudosismo de que as épocas sempre padeceram, a valsa ”Antigamente era assim”, de Custódio Mesquita e Ari Monteiro,é levada a disco por Galhardo em 11 de fevereiro de 1943, e a Victor a lança em maio do mesmo ano, disco 80-0076-A, matriz S-052718. Galhardo depois interpreta o fox “Sombras ao luar”, de José Maria de Abreu e Francisco Matoso, em gravação de 9 de abril de 1941, editada em junho do mesmo ano com o n.o 34752-A, matriz 52174. Um dos maiores violonistas brasileiros, Dilermando Reis assina, em parceria com Jair Amorim, a valsa “Se ela perguntar”, imortalizada por Galhardo na já então RCA Victor em 18 de janeiro de 1952, e lançada em abril do mesmo ano com o número 80-0865-B, matriz S-093172. O disco vendeu cerca de duzentas mil cópias, principalmente porque do lado A estava “Mãezinha querida”, outro clássico do repertório de Galhardo, o que por certo ajudou “Se ela perguntar” a ser igualmente sucesso. Na quinta faixa, outro fox, “Perfil”, da festejada parceria Roberto Martins-Mário Rossi (responsável também por outra famosa composição do gênero, “Adeus”, na voz de Gilberto Alves), que Galhardo grava em 16 de abril de 1943 e a Victor lança em junho com o número 80-0089-A, matriz S-052756. “Que importa?” é uma valsa do mesmo Mário Lago que deu a Galhardo os hits “Devolve”, “Não quero saber” e “Será?”, gravação Victor de 13 de julho de 1942, lançada em setembro do mesmo ano, disco 34961-A, matriz S-052580. “Cerejeira do Japão”, fox-canção de Paulo Barbosa e Jorge Ronaldo, é uma nostálgica lembrança da terra do sol nascente bem antes das bombas atômicas que cairiam sobre Hiroshima e Nagasaki, pondo fim (embora trágico) à Segunda Guerra Mundial. Galhardo o imortalizou na Victor em 16 de julho de 1940, com lançamento em outubro do mesmo ano, disco 34659-A,matriz 33472. “Beija-flor”, de Roberto Martins e Torres Homem, é outra das inúmeras valsas que Galhardo tornou clássicas, em gravação Victor de 25 de março de 1940, lançada em maio do mesmo ano, disco 34606-A, matriz 33360. Provando que era também o “Cantor das Efemérides”, Galhardo apresenta a seguir “Bodas de prata”, valsa até hoje lembrada e conhecida, de Roberto Martins e Mário Rossi, gravação de 23 de março de 1945 que a Victor lança em julho do mesmo ano, disco 80-0291-A,matriz S-078140. Tem inúmeras regravações, inclusive do próprio Carlos Galhardo. “Indiferença” é outra valsa, esta de Georges Moran e J. G. de Araújo Jorge (escritor discutido mas muito lido), imortalizada por Galhardo na marca do cachorrinho Nipper em 4 de maio de 1944 e lançada em julho do mesmo ano, disco 80-0191-A, matriz S-052956. “Linda borboleta”, de João “Braguinha” de Barro e Alberto Ribeiro,é outra bela e graciosa valsa que Galhardo tornou célebre, em gravação Victor de 9 de agosto de 1938, lançada em outubro do mesmo ano com o n.o 34365-B, matriz 80859. Tão famosa a ponto de certa vez, quando Galhardo estava se apresentando em seu programa de rádio, alguém lembrar a ele:”Se você não cantar ‘Linda borboleta’, os ouvintes vão telefonar aqui pra emissora reclamando!” Por fim, o primeiro grande êxito romântico de Galhardo, a valsa-canção “Cortina de veludo”, de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, gravada na Columbia em 15 de maio de 1935, sendo lançada com o número 8156-A, matriz 1092, e ganhando mais tarde reedições com os números 55118 (ainda pela Columbia) e 15013 (já pela Continental). Em sua primeira fase na Victor, Carlos Galhardo só podia gravar sambas e marchinhas, e por isso transferiu-se para a Columbia, onde gravaria 20 discos com 19 músicas. Foi quando teve a oportunidade, negada na marca do cachorrinho Nipper, de se lançar como cantor romântico, lançando justamente “Cortina de veludo”. Galhardo, um ano mais tarde, retornaria à Victor, agora registrando também hits românticos, sem se descuidar do samba e da marchinha. Nas próximas duas semanas, teremos mais páginas do repertório do inesquecível Carlos Galhardo. Aguardem!
* Texto de Samuel Machado Filho
Luiz Americano – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 112 (2014)
Castro Barbosa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 111 (2014)
Marlene – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 110 (2014)
Emilinha Borba – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 109 (2014)
A Música De Alvaiade E De Djalma Mafra – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol.108 (2014)
Nuno Roland – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 107 (2014)
João Petra De Barros – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 106 (2014)
A Música De Henricão – Seleção 78 RPB Do Toque Musical Vol. 104 (2014)
Apresentamos anteriormente, aqui no Grand Record Brazil, várias composições de Henricão (Henrique Felipe da Costa, Itapira, SP, 1908-São Paulo, 1984), inclusive duetos dele com Cármen Costa, cantora que ele próprio lançou,na edição de número 75, e que conseguiria maior sucesso de mídia que ele. Como bem se lembram os amigos cultos, ocultos e associados do TM, apresentamos na ocasião um esboço biográfico da obra deste compositor, que ganhou o apelido por causa de sua exagerada estatura (quase dois metros de altura) e, pouco antes de falecer, ficou na história como o primeiro Rei Momo negro do carnaval de São Paulo. Também marcou presença como ator de cinema e televisão e, apesar de ter feito inúmeras composições de sucesso e de toda a sua fama, vivia em dificuldades financeiras, até passando fome, mas sempre ajudado pelos amigos e encarando a vida com otimismo e esperança. Pois nesta centésima-quarta edição do GRB, apresentamos mais um pouco do legado do notável Henricão,tanto como autor quanto apenas intérprete, com uma seleção de nove gravações de valor artístico e histórico inquestionáveis. Abrimos a seleção desta semana com três duetos do compositor com a carioca Sarita, cuja biografia é um mistério para muitos pesquisadores, em gravações Odeon. O primeiro é “Moreninha do sertão”, toada do acordeonista Antenógenes Silva , evidentemente com a participação dele mesmo no acompanhamento (sua popularidade era tão grande que seus discos, mesmo quando cantados, tinham seu nome acima dos de quem interpretava as músicas). A gravação é de 9 de maio de 1936, tendo sido lançada em outubro do mesmo ano com o número 11398-B, matriz 5340. A segunda faixa com Henricão e Sarita é “Noiô noiô”, maracatu dos irmãos Paulo e Sebastião Lopes (autores também de um clássico do gênero, “Coroa Imperial”), destinado ao carnaval pernambucano de 1937. A gravação data de 15 de dezembro de 36, sendo lançada um mês antes dos festejos momescos pela “marca do templo” com o número 11447-A,matriz 5494. Escalou-se também, na faixa seguinte, o lado B, outro maracatu, este de Benigno Gomes e Franz Ferrer, “Chora, meu goguê”, matriz 5495. Em seguida, como solista, Henricão nos traz o samba “Pra que tanto ciúme?”, de Bucy Moreira e Lacy Martins (irmão de Herivelto),.também gravação Odeon, datada de 10 de dezembro de 1937, com lançamento em fevereiro de 38 (para o carnaval, “of course”), disco 11565-A,matriz 5731. O lado B, matriz 5732, também aqui está, e também é samba: “Qual foi o mal que te fiz?”, de Getúlio “Amor” Marinho e O. Patrício. O samba-choro “Casinha da Marambaia”, de Henricão e Rubens Campos (sequência de “Só vendo que beleza”, de 1942), originalmente lançado por Cármen Costa em 1944, é aqui revivido ao solovox (considerado o primeiro sintetizador monofônico da história musical) pelo também maestro Roberto Ferri, à frente de seu conjunto, em raríssima gravação do selo Califórnia (gravadora fundada pelo compositor Mário Vieira e até hoje em atividade, dirigida pela terceira geração da família), datada de 28 de novembro de 1960, disco TC-1191-B, matriz TC-502. A “Marcha dos Democráticos”, interpretada solo por Henricão na faixa seguinte, é de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, mesmos autores do clássico “General da Banda”. Só se sabe que é gravação RCA Victor, possivelmente de disco promocional, não-comercializado. “Não me abandone”, samba do carnaval de 1944, que Henricão fez com Rubens Campos e José Alcides, é interpretado pela cantora que o compositor apadrinhou, Cármen Costa, em gravação Victor de 24 de novembro de 43, lançada um mês antes da folia, em janeiro, disco 80-0153-B, matriz S-052889. O multi-instrumentista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955) executa ao cavaquinho, em ritmo de baião, “Está chegando a hora”, adaptação de Henricão e Rubens Campos para a valsa mexicana “Cielito lindo”, escrita em 1882 por Quirino Mendoza y Cortés. A música teve seu título mudado para “Chegou a hora” nesta gravação Odeon de 26 de maio de 1953, lançada em julho seguinte sob número 13472-B, matriz 9716. A faixa seguinte, “Dever de um brasileiro”, com o próprio Henricão, outra parceria sua com Rubens Campos, é um samba da época da Segunda Guerra Mundial, relatando a despedida de um pracinha da FEB (Força Expedicionária Brasileira) para lutar na Itália, Gravação Victor de 4 de maio de 1943, lançada em julho do mesmo ano, disco 80-0095-A, matriz S-052762. Por fim, “Será possível?”, samba também de Henricão e Rubens Campos e outra gravação Victor, agora do “Formigão’ Cyro Monteiro, datada de 5 de junho de 1941 e lançada em agosto seguinte com o número 34781-A, matriz S-052234. É a faixa que encerra esta pequena-grande retrospectiva de Henricão, apresentando músicas seja de outros autores, por ele interpretadas solo ou acompanhado, e composições próprias apresentadas por outros expressivos nomes da MPB. Divirtam-se!
Sylvinha Mello – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 103 (2014)
Dick Farney – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 102 (2014)
Trio De Ouro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 101 (2014)
Ultrapassando a barreira das 100 edições , o Grand Record Brazil chega justamente à centésima-primeira. E, para abrilhantá-la em grande estilo, eis aqui um dos grupos vocais mais queridos e populares de nossa música popular: o Trio de Ouro. A história do trio começa em 1932, ocasião em que Herivelto Martins e Francisco Sena faziam parte do Conjunto Tupi, de J. B. de Carvalho, e ao mesmo tempo formaram a Dupla do Preto e do Branco. Com a morte prematura de Sena, em 1935, Herivelto reorganiza a dupla, agora com Nilo Chagas. No ano seguinte, Herivelto conhece Dalva de Oliveira, e esta, a seu convite, passa cantar junto com o duo. Inicialmente conhecidos como Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, foram depois rebatizados como Trio de Ouro. O grupo estreou em gravações na Victor, em 1937, interpretando “Ceci e Peri” e “Itaquari”. Nessa ocasião, Herivelto e Dalva se casam, e dão a seu primeiro filho o nome de Pery (o excelente cantor Pery Ribeiro), tirado justamente da marchinha “Ceci e Peri” (se fosse menina, claro, seria Ceci, conforme combinado com os ouvintes de rádio). O Trio de Ouro, em sua primeira fase, deixou um acervo de mais de 50 gravações, a maioria na Odeon, com passagem também pela Columbia, futura Continental, repertório esse de grande valor artístico, sem as exigências comerciais que se registrariam tempos depois. Entretanto, o grupo se desfez em 1949, com a ruidosa separação de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Um ano mais tarde, o Trio de Ouro retoma suas atividades, ainda com Nilo Chagas (já com as relações bastante estremecidas com Herivelto) e, agora, com Noemi Cavalcanti, descoberta por Príncipe Pretinho, que a ouvira no programa de César de Alencar, na Rádio Nacional, levada pelo também compositor Raul Sampaio, capixaba de Cachoeiro de Itapemirim. Ele desempenhou papel decisivo para que o trio não acabasse de vez com a retirada de Dalva, e tem mais de 250 músicas gravadas como autor, entre elas clássicos como “Eu chorarei amanhã”, “Nono mandamento” e “Meu pequeno Cachoeiro” (que seu conterrâneo Roberto Carlos converteu em hit nacional, em 1970). O primeiro disco dessa segunda formação, lançado em agosto de 1950, trouxe o samba “A Bahia te espera” e o samba-canção “Caminho certo”. Essa fase, porém, dura pouco, pois, no começo de 1952, Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti abandonam Herivelto Martins em definitivo, deixando um saldo artístico de 15 discos gravados, todos pela RCA Victor. Uma noite, Herivelto Martins e Raul Sampaio foram à casa de Nélson Gonçalves, a fim de entregar uma nova composição de Herivelto para o “metralha do gogó de ouro” gravar. É quando a então mulher de Nélson, Lourdinha Bittencourt, se oferece para cantar no Trio de Ouro. Assim começa a terceira fase do grupo vocal, com Lourdinha, Herivelto e Raul. O primeiro disco do novo trio sai pela RCA Victor em agosto de 1952, trazendo uma regravação do clássico “Ave-Maria no Morro”, e o bolero “Se a saudade falasse” (este último aqui incluído). Aqui, já se registra, de forma mais acentuada, a necessidade de sucesso imediato, e até versões como “Índia”, “Luzes da ribalta” (ambas nesta seleção) e “Vaya com Diós” são gravadas pelo trio, atendendo a interesses comerciais, mas o grupo nunca deixou de cultivar nossas origens. Nessa fase, o Trio de Ouro gravou 32 discos em 78 rpm, quase todos pela RCA Victor, e a formação duraria bem mais tempo: até 1979,com o falecimento de Lourdinha Bittencourt. Contudo, para matar as saudades de seus fãs, Herivelto e Raul continuaram a recompor o Trio de Ouro em ocasiões especiais, com a colaboração da excelente cantora Shirley Dom. A morte de Herivelto Martins, em 1992, encerraria definitivamente a longa trajetória do Trio de Ouro. Trajetória esta que agora o GRB revive, apresentando 13 gravações de suas três fases (principalmente da primeira, com Herivelto, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas), sempre se mantendo em alto nível artístico. A seleção abre com uma gravação da terceira fase, a conhecidíssima guarânia paraguaia “Índia”,de José Asunción Flores e Manuel Ortiz Guerrero, em versão de José Fortuna. Como todos sabem, este foi um dos carros-chefes da dupla Cascatinha e Inhana, que lançou a versão com êxito arrebatador em 1952. Aqui, a gravação do terceiro Trio de Ouro, na RCA Victor, datada de 13 de março de 1953, e lançada em maio seguinte com o número 80-1120-A, matriz BE3VB-0045. Pulamos depois para a primeira fase, com o batuque “Lamento negro”, de Constantino “Secundino” Silva e Humberto Porto (este falecido prematuramente, em 1943, aos 35 anos), lançado pela Columbia em maio de 1941, sob número 55270-B, matriz 385. Lourdinha Bittencourt e Raul Sampaio voltam a cantar com Herivelto na faixa seguinte, “Luzes da ribalta” (“Limelight”), de Charles Chaplin, do filme de mesmo nome, o último em que ele interpretou Carlitos, só lançado nos EUA em 1972, uma vez que o comediante estava na lista negra do macartismo. A versão de Antônio Almeida e João de Barro, o Braguinha, teve inúmeros registros, e o do Trio de Ouro, na RCA Victor, em ritmo de bolero, é de 14 de agosto de 1953, lançada em outubro seguinte com o número 80-1216-A, matriz BE3VB-0239. Já do final da primeira fase do trio é a marchinha “Minueto”, sucesso do carnaval de 1948. De autoria de Herivelto Martins e Benedito Lacerda, é gravação Odeon de 27 de novembro de 47, lançada um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, disco 12830-A,matriz 8299. Dessa fase também é o samba “Calado venci”, que, segundo o próprio Herivelto Martins, foi a única parceria dele com Ataulfo Alves. É do carnaval de 1947, gravado na Odeon em 6 de dezembro de46, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob número 12758-B, matriz 8145. Waldemar de Abreu, o Dunga, e Mário Rossi assinam o samba “Fantasia”, que o Trio de Ouro grava na “marca do templo” em 2 de outubro de 1945 e é lançado em novembro do mesmo ano com o número 12644-A,matriz 7915. Lauro “Gradim” dos Santos e Príncipe Pretinho vêm em seguida com outro samba, “Sorri”, para o carnaval de 1941, que o trio grava na Columbia em 11 de novembro de 1940, com lançamento ainda em dezembro, disco 55252-B, matriz 343. “Adeus, Estácio”,outro samba, é de Benedito Lacerda e Gastão Viana,para o carnaval de 1939, numa gravação Odeon do primeiro Trio de Ouro, feita em 8 de dezembro de 38 e lançada bem em cima da folia momesca, em fevereiro, disco 11696-B, matriz 5989. Da terceira fase do grupo é a regravação, em ritmo de baião, do samba-canção “Um caboclo apaixonado”, da parceria Herivelto Martins-Benedito Lacerda, originalmente lançado em 1936 por Sílvio Caldas. Herivelto, Raul Sampaio e Lourdinha Bittencourt o reviveram na RCA Victor em 13 de março de 1953, com lançamento em maio do mesmo ano, disco 80-1120-B, matriz BE3VB-0046. Voltando à primeira fase, temos o interessante samba-crônica “Bom dia, Avenida”, dando boas vindas à Avenida Rio Branco, antiga Central, como novo palco dos desfiles das escolas de samba cariocas, em substituição à Praça Onze de Junho, demolida para dar lugar a outra avenida, a Presidente Vargas (nem se sonhava com o atual Sambódromo da Rua Marquês de Sapucaí!). De autoria de Herivelto Martins e do ator Grande Otelo (Sebastião Bernardes de Souza Prata), que também fizeram pouco antes o clássico “Praça Onze” (glosando tal demolição), foi gravado pelo trio na Odeon em 23 de novembro de 1943, sendo lançado um mês antes do carnaval de 44, janeiro, disco 12406-B, matriz 7425. Voltando à terceira fase, temos outro samba de Herivelto, agora em parceria com David Nasser: “Maria Loura”, gravação RCA Victor de 14 de agosto de 1953, lançada em outubro seguinte com o número 80-1216-B, matriz BE3VB-0240. Da segunda fase do trio (Herivelto, Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti) é a penúltima faixa, o samba-canção “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues, gravado na mesmíssima RCA Victor em 10 de abril de 1951, e lançado em junho do mesmo ano, disco 80-0776-B, matriz S-092932. Este registro original, porém, passou em branco, pois, como todos sabem, “Vingança” só fez sucesso meses mais tarde, na interpretação de Linda Batista, que o tornou um clássico, sendo talvez o maior de todos os hits de Lupicínio como autor (com os direitos autorais da música, ele até comprou um carro que apelidou de “Vingança”!). Foi inspirado numa mulher com quem Lupi viveu seis anos, e a quem ele abandonou ao descobrir que ela o traía (quando ela tentou uma reconciliação, Lupi compôs “Nunca”, hit de Dircinha Batista, irmã de Linda, um ano mais tarde). Encerrando esta seleção do GRB, temos justamente o lado A do primeiro disco da terceira fase do Trio de Ouro, o RCA Victor 80-0957, do qual falamos lá atrás: o bolero “Se a saudade falasse”, de Herivelto sem parceiro, gravação de 11 de junho de 1952, lançada em agosto do mesmo ano, matriz SB-093321. Uma seleção que traz aos amigos cultos, ocultos e associados do GRB e do TM um pouco da trajetória do Trio de Ouro, que, durante todos esses anos, sempre fez por merecer seu nome. Ouçam e confirmem!
* Texto de Samuel Machado Filho
Maysa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 100 (2014)
Jackson Do Pandeiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 99 (2014)
Jackson Do Pandeiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 98 (2014)
A Música De Buci Moreira (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 97 (2014)
A Música De buci Moreira – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 96 (2014)
Cantoras – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 95 (2014)
Em sua edição de número 95, o Grand Record Brazil volta a apresentar uma seleção apenas com cantoras, muitas delas de marcante presença na história de nossa música popular. Algumas das dezesseis faixas desta edição foram conseguidas por mim mesmo graças à imprescindível colaboração de colecionadores e pesquisadores como Beto de Oliveira, Gilberto Inácio Gonçalves e Marcelo Bonavides de Castro, este último do Acervo Nirez, de Fortaleza, CE, e também administrador do blog Estrelas que Nunca se Apagam. A eles (e também ao próprio Nirez) nossos mais sinceros agradecimentos. Abrindo nossa seleção desta semana, temos Dora Lopes, cantora e compositora nascida (1922) e falecida (1983) no Rio de Janeiro. Ela comparece aqui com o disco Sinter 00-00.214, lançado em abril de 1953, apresentando dois sambas-canções. Na faixa 2 está o lado A, matriz S-458, “Baralho da vida”, composto por Ulisses de Oliveira, mineiro de Juiz de Fora e personagem marcante na história dessa cidade. E na primeira faixa temos o lado B, “Você morreu pra mim”, matriz S-459. Uma faixa histórica, pois constituiu-se na primeira composição gravada de Newton Mendonça , também nascido (1927) e falecido (1960, prematuramente, aos 33 anos, de infarto fulminante) no Rio de Janeiro. Pianista, compositor, gaitista e violinista, ele seria parceiro de Tom Jobim em várias composições de sucesso, entre elas “Desafinado”, verdadeiro hino da bossa nova. Em “Você morreu pra mim”, Newton tem a parceria de Fernando Lobo, outro notável compositor da MPB (fez, entre outras,“Chuvas de verão”, “Nêga maluca”, “Chofer de praça”, “Preconceito”, etc.) e pai de outro grande cantor-compositor brasileiro, Edu Lobo. Portuguesa de Vizeu, Vera Lúcia Ermelinda Balula (1930-?) naturalizou-se brasileira e foi eleita Rainha do Rádio em 1955, derrotando Ângela Maria (vencedora desse concurso um ano antes) por decisão do apresentador Manoel Barcelos, da Rádio Nacional, como homenagem a Cármen Miranda, que também era portuguesa como ela e falecera nesse mesmo ano nos EUA. Vera Lúcia aqui comparece com a gravação original de um samba-canção clássico de Tito Madi, “Cansei de ilusões”, lançada pela Continental em agosto-setembro de 1956 sob número 17323-A, matriz C-3845. “Cansei de Ilusões” foi várias vezes regravado, inclusive pelo próprio Tito Madi, e está finalmente aqui em seu primeiro registro, com Vera Lúcia. Possivelmente o saxofone que se ouve na gravação é de Zé Bodega, então atuando na Orquestra Tabajara de Severino Araújo. Em seguida, tiramos do esquecimento a excelente cantora mineira Daisy Guastini. Ela iniciou sua carreira nos anos 1950, como locutora e atriz da Rádio Inconfidência e apresentadora da TV Itacolomi, ambas de Belo Horizonte, capital de Minas. Casou-se com o compositor e guitarrista Nazário Cordeiro, com quem teve a filha Daisy Cordeiro, também cantora, e atuou também em emissoras do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Deixou, porém, uma discografia muito aquém de seu potencial como intérprete: apenas dois compactos duplos, um pelo selo Arpège, do tecladista Waldir Calmon, dono da boate carioca de mesmo nome, em 1959, e outro pela RGE, em 1964. Do primeiro deles, o Arpège AEP-1003, é a gravação aqui escalada, e por sinal sua faixa de abertura: o famoso samba-canção “O que tinha de ser”, da profícua parceria Tom Jobim-Vinícius de Moraes, bastante conhecido e com inúmeros outros registros. A carioca Dalva de Andrade (n.1935) aqui comparece com um disco de 1959, o Polydor 305. No lado A, matriz POL-3504, gravado em 3 de março desse ano, está o samba “Brigas, nunca mais”, outro produto de sucesso da dupla Tom Jobim-Vinícius de Moraes, e com inúmeras gravações. No lado B, matriz POL-3487, gravado em fevereiro do mesmo ano (talvez no dia 20), está o samba-canção “História”, de Fernando César em parceria com o cantor Luiz Cláudio, falecido no ano passado sem qualquer divulgação por parte da mídia, tanto que fiquei sabendo de sua morte através do Toque Musical, quando foram repostados vários álbuns por ele gravados. Ambas as gravações, com acompanhamento concebido e dirigido pelo maestro Peruzzi, também figuraram no primeiro LP da cantora, “Eis Dalva de Andrade”. Dalva teve de abandonar a carreira prematuramente, em meados da década de 1960, por problemas de deficiência auditiva, lançando, depois disso, apenas dois compactos de produção independente. Gaúcha de Porto Alegre, Luely da Silva Figueiró (1936-2010) mudou-se para São Paulo em 1957, após ser eleita Rainha do Rádio gaúcho, atuando nas Emissoras Unidas (Rádio e TV Record). Foi também atriz de cinema, aparecendo em filmes como “A doutora é muito viva” (1956), “Casei-me com um xavante” (1957) e “Marido de mulher boa” (1960). Viveu alguns anos com o cantor-compositor Sérgio Ricardo (aquele do violão quebrado em festival), no Rio de Janeiro, voltando a morar em São Paulo na década de 1970 e abandonando a carreira artística. Retomando seus estudos, formou-se professora de ensino de segundo grau, exercendo a profissão durante anos até se aposentar, na virada do século XXI. De Luely Figueiró escalamos outro clássico da dupla Tom Jobim-Vinícius de Moraes: o samba “A felicidade”, do filme “Orfeu negro” (nos cinemas, “Orfeu do carnaval”), produção franco-italiana filmada no Rio de Janeiro e premiada com o Oscar de filme estrangeiro, e nele interpretado por Agostinho dos Santos. A gravação de Luely saiu pela Continental em agosto de 1959, sob número 17713-A, matriz C-4191. A carioca Iracema de Souza Ferreira, aliás, Nora Ney (1922-2003), de marcante presença em nossa música popular como intérprete essencialmente romântica, aqui comparece com dois sambas-canções de sucesso, ambos do disco Continental 16726, gravado em 23 de janeiro de 1953 e lançado em março-abril desse ano, com acompanhamento orquestral de Copinha. Abrindo-o, matriz C-3043, o inesquecível ‘De cigarro em cigarro”, de Luiz Bonfá, e no verso, matriz C-3044, “Onde anda você?”, de Antônio Maria e Reynaldo Dias Leme. Outro resgate importantíssimo é o de Laís Marival (Maria Neomézia Negreiros, 1911-?), paulista de Taquaritinga, e de curta carreira fonográfica: apenas sete discos 78 com catorze músicas, entre 1936 e 1938, todos pela Columbia, futura Continental. Do penúltimo deles, número 8296-B, matriz 3510, de 1937, é o samba aqui escalado, “Saudades do morro”, de H. Celso e A. Santos. Nos anos 1980/90, Laís ainda participava de corais em São Paulo. “Molambo”, de autoria do violonista Jayme Florence (o Meira dos regionais) em parceria com Augusto Mesquita, é um dos clássicos do samba-canção brasileiro, tendo recebido inúmeras gravações ao longo dos anos. O que quase ninguém sabe, porém, é que “Molambo” foi lançado pela cantora Julinha Silva no lado A de seu disco de estreia, o Todamérica TA-5334, gravado em 18 de junho de 1953 e editado em setembro do mesmo ano, matriz TA-487. Julinha é outra que teve curta carreira fonográfica, deixando apenas sete discos 78 com catorze músicas, entre 1953 e 1962, nos selos Todamérica, Guanabara, Mocambo e Continental. Onilda Figueiredo, pernambucana do Recife, comparece aqui com seu primeiro disco,feito justamente numa gravadora de lá, a Mocambo dos irmãos Rozenblit, por sinal a primeira instalada fora do eixo Rio-São Paulo. Lançado em junho de 1956, com Onilda ainda adolescente, o 78 abre com o tango “Nunca! Jamais! (Nunca! Jamás!)”, de Lalo Guerrero em versão de Nélson Ferreira (compositor de frevos de sucesso e então diretor artístico da Mocambo), matriz R-694, depois faixa de abertura do único LP da cantora, o dez polegadas ‘A voz de Onilda Figueiredo”. Também está aqui o lado B, matriz R-695, o bolero “Desespero”, de Ângelo Iervolino, que não entrou no LP. Apesar de seu potencial como cantora, Onilda é outra com discografia escassa. Além do LP já mencionado, só gravou quatro discos 78 com oito músicas, tudo na Mocambo. Uma das melhores cantoras brasileiras, a carioca Claudette Soares (n. 1937) iniciou-se ainda na infância, no programa “A raia miúda”, apresentado na Rádio Nacional por Renato Murce, passando mais tarde a apresentar-se no “Programa do guri”, de Silveira Lima, na Rádio Mauá. Na Rádio Tamoio, quando atuava no programa ‘Salve o baião”, conheceu Luiz Gonzaga, que a chamou de “princesinha do baião”. E foi com dois baiões que Claudette estreou em disco, através da Columbia, futura Sony Music. Editado em junho de 1954 com o número CB-10049, com Claudette na plenitude de seus 17 anos, o 78 apresenta “Você não sabe”, de Castro Perret e Jane (matriz CBO-218, faixa 15) e, no verso, matriz CBO-219 (faixa 14), “Trabalha, Mané”, de José Luiz e João Batista da Silva. Dos dois baiões, por certo “Trabalha, Mané” ficou mais conhecido, uma vez que foi regravado pelos grupos Os Cangaceiros e Os Três do Nordeste. No entanto, após fazer outros discos 78 na Columbia e na Repertório, Claudette Soares só conseguiu gravar seu primeiro LP em 1964, na Mocambo, com o nome de “Claudette é dona da bossa”, pontapé inicial para inúmeros outros trabalhos de sucesso. Para encerrar, apresentamos nada mais nada menos que Marta Rocha. Eleita Miss Brasil em 1954, a baiana causou comoção em todo o país ao perder o título de Miss Universo, no mesmo ano, para a americana Myrian Stevenson. Marta teria perdido porque teria duas polegadas a mais nos quadris. Entretanto, no livro “O império de papel – Os bastidores de O Cruzeiro”, o jornalista Accioly Neto, ex-diretor da revista, garante que as tais polegadas foram inventadas pelo fotógrafo João Martins, inconformado com o resultado, com a cumplicidade de outros jornalistas presentes ao concurso, realizado na cidade americana de Miami, na Flórida. Boato ou não, o fato é que o Brasil inteiro cantou com Marta Rocha ‘Duas polegadas”, marchinha de Pedro Caetano, Carlos Renato e Alcyr Pires Vermelho, lado B do primeiro dos dois únicos discos 78 que ela gravou pela Continental, número 17134, lançado em agosto-setembro de 1955, matriz C-3610. É com esta curiosidade que encerramos mais esta edição do GRB dedicada a vozes femininas. Até a próxima e divirtam-se!
*Texto de Samuel Machado Filho