Olá amigos cultos e ocultos! Continuando… segue aqui mais um volume de coleção. Mais um raro entre os mais raros. “Eternamente te amarei” faz parte da série que vinha em ‘box’, ou seja, em uma caixa com outros volumes, como foi também o “Bem Bolado – Gravado Ao Vivo Na Boate Uai”. Esses discos, como vocês poderão perceber, não traziam nenhuma informação sobre seu conteúdo além da relação das músicas. Ficha técnica, nem pensar. Talvez alguma outra informação na caixa ou mais certo ainda no selo. Aqui temos uma coletânea que, por sorte, nos traz pelo menos os nomes dos artistas. Embora eu não me lembre, acredito que os artistas aqui são nomes de verdade. Seriam músicos mineiros, paulistas? Não se sabe… Pelo título do álbum a gente logo pensa que se trata de um disco com músicas suaves, românticas e até orquestradas, mesmo sendo a capa um tanto quanto psicodélica. Na verdade, em se tratando da Paladium, não se pode prever nada. O que temos aqui é uma salada mista que reúne bandas de rock, jovem guarda, pop internacional e um cantor chamado Jomar, que à ouvidos leigos irão dizer que é o Nelson Gonçalves versão pão de queijo. Infelizmente duas das faixas apresentam problemas. Foram atacadas por cupins, juro! Quem pensa que cupim come só madeira se enganou. Bichinho voraz! Isso é o que se pode chamar literalmente de um ‘jantar musical’. Confiram aí antes que ele coma mais… 🙂
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Conjunto Paladium – Parada De Sucessos (S/D)
Olá amigos cultos e ocultos! Como eu havia informado, continuaremos nesta semana apresentando mais alguns discos da série Paladium. Vamos assim, a cada dia, descobrindo um pouco mais sobre essa incrível aventura fonográfica nascida em Minas Gerais.
Ainda trabalhando com suposições, temos para hoje o Conjunto Paladium, nome dado ao grupo de instrumentistas (anônimos) que realizaram as gravações do volume “Parada de Sucessos”. Pensando um pouco melhor, ao conhecermos o exato sentido das Coleções Paladium e a maneira como tudo era feito, entendemos que realmente pouca importância faria na época os seus discos trazerem uma ficha técnica verdadeira, ou mais completa. Como já foi dito, a Bemol/Paladium não trabalhava exatamente com artistas renomados, não tinha em sua folha de pagamentos artistas contratados e exclusivos. Segundo as minhas investigações, os músicos eram recrutados para fazerem um ‘bico’, um trabalho musical sem grandes pretensões (para eles, claro!). Nos primeiros momentos da Paladium as gravações eram feitas em estúdios de São Paulo e com músicos paulistas. Depois, para reduzir as despesas, Dirceu Cheib e sua equipe, passaram a fazer as gravações em Belo Horizonte mesmo. Ele já estava planejando a criação de seu estúdio, que entrou em funcionamento a partir de 1967. Mas antes que o estúdio se tornasse uma realidade, ele adotou a capelinha de São Francisco de Assis, na Pampulha, criada por Oscar Niemayer, como o local ideal para suas gravações. Muitos desses discos do selo Paladium nasceram na igrejinha e foram concebidos de madrugada. Nessas aventuras pela noite a dentro participaram músicos que hoje são artistas mineiros famosos. Entre eles temos o maestro e arranjador Aecio Flávio de quem eu incluo parte de um texto onde ele descreve esse momento, leiam:
Havia um grupo de empresários mineiros liderados por Dirceu Cheib, que fabricava e distribuia de casa em casa, por todo o estado de M.G., Coleções de Discos LP como, por exemplo: “As melhores músicas romanticas italianas”,”Sucessos musicais do Cinema”, por aí a fora… Tinham um Selo próprio de nome Palladium; Aquilo devia vender mais que chuchú na feira. As gravações eram feitas em Estúdios de São Paulo, com arranjos e músicos de lá.
Com o surgimento de músicos da nossa geração, que “resolviam a parada”, esse pessoal resolveu gravar em Belo Horizonte mesmo, o que inclusive devia baratear a produção.
Um belo dia, fui chamado para participar da gravação de um desses LPs tocando acordeon, meu instrumento na época (anos 50). O mais curioso é que como ainda não existia Estúdio de gravação em Belô, O Dirceu Cheib teve a feliz ideia de experimentar a Acústica da famosa Igrejinha da Pampulha, projetada pelo Oscar Niemeyer, já famosa no Brasil e no exterior, não pela sua Acústica, mas pelo próprio Niemeyer e pelas pinturas de Portinari, que decoravam a Igreja, ao invez das tradicionais Imagens de Santos.
Pois bem, o pessoal da “Palladium” tinha lá um acordo com o padre responsável pela igreja, que a liberava para as gravações, desde que fossem realizadas depois da meia-noite e depois de verificar que as músicas do repertório não eram tão profanas assim. Se fosse nos dias de hoje seria todo mundo excomungado, por causa do repertório, com certeza, haja visto o que faz sucesso por aí! E lá fomos nós (violinos, metais, percussão violões, acordeon, etc) em várias Kombis, saindo do “Ponto dos músicos”, pra desembarcar na frente da Igrejinha da Pampulha, depois de meia-noite, que nem um bando de Saltimbancos (Eu disse “saltimbancos…). E não é que a acústica era boa mesmo? Principalmente para os violinos, violas e cellos. Tinha uma reverberação natural muito boa que, só era m pouco exagerada pra os instrumentos de rítmo (os santos deviam olhar desconfiados praqueles “instrumentos de Carnaval”) mas que com uma dinâmica caprichada de orquestra, não comprometia o resultado. Eu estava que nem “Pinto no lixo”né, gravando pela 1ª vez, com orquestra de cordas, na Igreja da Pampulha, era a glória! O repertório naquela noite era de músicas italianas de sucesso na época, tipo “Yo che no vivo sensa te” e outras do gênero. O Maestro que dirigia a gravação, responsavel pelos arranjos, era o falecido e engraçadíssimo pianista Zé Guimarães, que atuava tambem comigo na Orquestra do Delê, o dono dos bailes em B. Hte!
No final da gravação, percebendo que ainda faltavam algumas músicas pra completar o LP de italianas, eu me enchí de coragem e pedí pro Zé Guimarães:-“Oh Zé,deixa eu fazer um desses arranjos aí pra te ajudar?” (Na maior cara de pau, porque eununca tinha ousado fazer um arranjo pra ser gravado, só mesmo pro meu grupo de bailes, com 2 instrumentos de sopro e a cozinha) “Claro… disse o Zé, …ainda faltam esta e esta aquí, escolhe uma e manda brasa! E assim fiz e gravei , em outra sessão, o meu primeiro arranjo pra orquestra. Fiquei na maior emoção quando ouví o resultado. Algumas passagens soaram melhor do que eu esperava, mas outras, se eu pudesse mexia, melhorava… Mas, do “alto” dos meis 18 anos e em frente aqueles senhores, violinistas da Sinfônica, não tive coragem de parar a gravação e consertar alguma partitura. Mas mesmo assim, me orgulho mais daquele arranjo do que eu fiz anos mais tarde para a Grande Orquestra da Rede Globo, num dos extintos “Festivais Internacionais da Canção”, no Maracananzinho, já então como maestro-arranjador, contratado, onde tive a honra de conviver com os Maestros Radamés Gnatalli (grande figura), Kachimbinho, Leonardo Bruno Ferreira, Geraldo Vespar, Guto Graça Melo, Cipó, Mário Tavares e outros…
Pouco tempo depois das experiências na Igrejinha da Pampulha, Dirceu Cheib (não disse que vendia feito chuchú na feira?) construiu e inaugurou o primeiro estúdio de gravação de B Hte, o estúdio da “Gravadora Bemol”que existe até hoje e onde, convidado, trabalhei muitos anos como arranjador, aprendí muito, fazendo, experimentando; e levei o garôto Antônio Maurício Horta de Melo, pra fazer sua estreia como violonista em Estúdio de gravação… lembra, Toninho Horta ?*
Como podemos ver, a Bemol/Paladium tem muitas histórias para contar. Essa em especial, acho que tem a ver com o disco do dia. Seria o Aecio Flávio um dos músicos participantes desta “Parada de Sucessos”?