“Ama o teu vizinho como a ti mesmo, mesmo que ele faça barulho…” Era com essa máxima que eu, nos meus bons tempos de república, me apoiava para justificar nossos excessos e arroubos estudantis frente a vizinhança, que ficava de cabelo em pé. Estou iniciando nossa postagem por aí, devido ao fato de ser agora 4 horas da manhã e a moçada do andar de baixo nem se tocar que seus vizinhos querem dormir. Aliás, tocar eles querem, o violão. Vocês bem sabem, eu adoro música, mas de madrugada, no meio da semana e em um edifício residencial, aí é foda! Pior ainda é quando os caras não tocam nada, só sabem fazer barulho. Na minha época pelo menos a gente morava em casa e tocávamos muito bem, diga-se de passagem. Me lembro que apenas uma única vez a vizinhança horrorizou, foi quando num dia depois da meia noite, um colega da casa trouxe este disco de samba. Passamos o dia inteiro ouvindo o partido alto de Aniceto e Campolino. Aliás, passamos o dia e também a noite, já nessa altura devidamente ‘mamados e fumados’. Não deu outra, o vizinho foi lá reclamar. Foi só uma vez, para nunca mais. Aqui, pelo jeito, só chamando a polícia, pqp! Como não consegui mais dormir, resolvi então adiantar nossa postagem. Lembrei desses meus tempos, lembrei da música de Sá, Rodrix e Guarabyra e lembrei principalmente do disco do Aniceto e Campolino. Por essa razão, é ele quem vai fazer nossa cabeça no dia de hoje. Este álbum já foi visto em outros blogs, com certeza, mas aqui ele vem à carácter, como cabe a um bom toque musical. Para aqueles que ainda não o conhece, eis aqui a grande oportunidade. Quem gosta de samba de raiz, samba de verdade, não pode perder a chance de ouvir isso, é bom demais!
Este disco, lançado pela Fundação Estadual de Museus do Rio de Janeiro e MIS em 1977 foi o primeiro e talvez o único disco gravado por esses dois sambistas. A produção artística do álbum é de Elton Medeiros. Foi ele o responsável por trazer a tona e ao grande público os dois artistas e também despertar para um tipo de samba que há muito vinha sido esquecido (ou deturpado), o Partido Alto. Falar sobre este tipo de samba não é coisa que se possa fazer numa pequena resenha postal. Além do mais, a definição do que é realmente o Partido Alto é uma coisa em que não há consenso nem mesmo entre os estudiosos do assunto. O que posso dizer à respeito de Aniceto de Menezes e Nilton da Silva é o que está na contracapa e bem resumido. Eles fazem um tipo de samba com uma forte influência rural, um samba criado fora do morro urbano do Rio de Janeiro, onde os elementos temáticos são bem diferentes e até a instrumentação. Tem inclusive viola caipira! A dupla vem acompanhada pelo Grupo Chapéu de Palha e o quarteto vocal As Autênticas. Taí uma raridade que merece toda a nossa atenção. Não deixem de conferir…
O Partido Alto de Aniceto & Campolino (1977)
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