Cyro Monteiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – parte 2 – Vol. 67 (2013)

 “Uma criatura de qualidades tão raras que eu acho improvável qualquer de seus amigos não se haver dito, num dia de humildade, que gostaria de ser Cyro Monteiro. Pois Cyro, pra lá do cantor e do homem excepcional, é um grande abraço em toda a humanidade”. Foi assim que o eterno Poetinha Vinícius de Moraes (1913-1980) se referiu ao “Formigão”, ou ainda “o cantor das mil e uma fãs”, na contracapa do LP “Senhor samba”, lançado em 1961 pela Columbia, hoje Sony Music.  Coincidentemente, estamos comemorando neste 2013 o centenário de ambos, Vinícius e Cyro.
E é com muita alegria e prazer que o GRB traz a segunda parte da retrospectiva que iniciamos semana passada, em comemoração ao centenário do nascimento de Cyro Monteiro.  Desta feita, apresentamos mais 16 preciosos e históricos fonogramas, todos da RCA Victor,  incluindo clássicos de seu repertório, e por tabela, da própria MPB.
Pois, mais uma vez, Cyro está aqui muitíssimo bem servido, apresentando composições de alguns dos monstros sagrados do samba nessa época. Caso, por exemplo, de Wilson Batista (outro cujo centenário estamos comemorando neste 2013).  Ele assina com mestre Ataulfo Alves de Miraí a faixa de abertura de nossa seleção da semana, “Você é o meu xodó”, gravação de 5 de junho de 1941 lançada em agosto do mesmo ano, disco 34781-B, matriz S-052235. Temos em seguida “Você está sumindo”, de Geraldo Pereira  (de quem Cyro foi assíduo freguês) e Jorge de Castro, gravado em 2 de abril de 1943 e lançado em junho do mesmo ano sob n.o 80-0085-A, matriz S-052742. De Alcides Rosa e Djalma Mafra  é “Abriu-se o pano”, gravação de 22 de janeiro de 1946, lançada em abril seguinte com o n.o 80-0389-A, matriz S-078417. “A mulher que eu gosto”, de Wilson Batista e Cyro de Souza, é um clássico do repertório do “Formigão”, que o imortalizou em 28 de março de 1941, com lançamento em junho desse ano sob n.o 34745-A, matriz 52164. Wilson assina depois, mais uma vez com mestre Ataulfo, “Mania da falecida”,  registro de 30 de maio de 1939, lançado em agosto com o n.o 34470-A, matriz 33077. Em seguida vem um clássico dos clássicos do samba brasileiro: “Falsa baiana”, obra-prima de Geraldo Pereira, em gravação de 3 de abril de 1944, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0181-A, matriz S-052940. Obrigatório na lista dos maiores sambas de todos os tempos, foi inspirado na fantasia de baiana que a esposa do compositor Roberto Martins usava no carnaval do ano anterior, 1943. Ela não sabia sambar, e estava longe de ser uma baiana cem por cento. Foi o que levou Geraldo Pereira a fazer este clássico, inicialmente oferecido a Roberto Paiva, que não quis gravá-lo, estranhando seu ritmo “quebrado”. Azar dele, porque com Cyro Monteiro estourou! Tem várias regravações, inclusive de João Gilberto e Gal Costa. Geraldo assina, em parceria com Príncipe Pretinho (autor de outro samba clássico, “Só pra chatear”), a faixa seguinte, “Voltei  mas era tarde”, gravação do “Formigão” em 13 de setembro de 1944 lançada em novembro seguinte com o n.o 80-0228-B, matriz S-078053. Outro grande nome do samba, Ismael Silva (1905-1978), responsável por clássicos como “Se você jurar”, “Novo amor”, “Arrependido” e “Antonico”, assina aqui “Não vá atrás de ninguém”, gravação de 3 de setembro de 1941, lançada em novembro desse ano com o n.o 34822-B, matriz S-052346. Ernâni Alvarenga, conhecido como “o samba falado da Portela”, assina com Jardel Noronha “Linda Iaiá”, que o “Formigão” irá imortalizar no dia 14 de agosto de 1940, e será lançado em outubro do mesmo ano com o n.o 34666-A, matriz 33486. Cyro volta a interpretar Ismael Silva na próxima faixa, “Eu sou um”, que, como exceção ao repertório essencialmente sambístico desta edição, é uma marchinha, visando o carnaval de 1940, gravação de 11 de outubro de 39 lançada ainda em dezembro, disco 34529-A, matriz 33184. Ainda no setor carnavalesco, e voltando ao samba, temos “Golpe errado”, do trio Geraldo Pereira-Cristóvão de Alencar (o “amigo velho”)-David Nasser, da folia momesca de 1946, gravado em 4 de novembro de 45 e editado bem em cima dos festejos, em fevereiro, sob n.o 80-0383-A, matriz S-078405. Em seguida outro inesquecível clássico da parceria Ataulfo Alves-Wilson Batista: “O bonde São Januário”, hit absoluto no carnaval de 1941, gravado em 18 de outubro de 40 e lançado ainda em dezembro sob n.o  34691-A, matriz 52022. Foi inclusive o samba vencedor do concurso oficial de músicas carnavalescas promovido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), da ditadura getulista, superando até mesmo “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, inscrito por motivos políticos. Até uma paródia foi feita ironizando os torcedores do Vasco; “O bonde São Januário/ leva um português otário/ pra ver o Vasco apanhar”…, Logo depois, Geraldo Pereira e Ari Monteiro assinam “Ai, mãezinha”, gravação de 28 de maio de 1946, lançada em setembro do mesmo ano com o n.o  80-0437-A, matriz S-078529. De Geraldo é também, parceria com J. Portela, “Até hoje não voltou”, gravado por Cyro na mesma sessão, matriz S-078530, sendo o lado B de “Ai, mãezinha”. Numa prova de que estava mesmo com a corda toda nessa época, Geraldo Pereira assina com Elpídio Viana outro clássico do samba, “Pisei num despacho”, que o “Formigão” imortaliza em 17 de abril de 1947 com lançamento em junho seguinte sob n.o 80-0518-A, matriz S-078745. É outra peça que tem regravações aos cachos, com destaque para as de Roberto Silva e Jackson do Pandeiro. E, para encerrar este autêntico show de criações do grande Cyro Monteiro, Wilson Batista e Germano Augusto assinam “Tá maluca”, gravação de 10 de maio de 1940, lançada em julho com o n.o 34627-B, matriz 33428. Esta é a justíssima homenagem do GRB ao grande Cyro Monteiro, para sempre um monstro sagrado do samba e da música popular brasileira!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Cyro Monteiro (parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 66 (2013)

Esta semana, em sua sexagésima-sexta edição, o Grand Record Brasil apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos maiores cantores que o Brasil já teve, e cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2013: Cyro Monteiro, o “Formigão” (apelido que lhe foi dado pelo compositor Eratóstenes Frazão), também conhecido como “o cantor das mil e uma fãs”.
Sobrinho do pianista Nonô (Romualdo Peixoto), o “Paderevsky do samba” e, por  tabela, primo de Cauby Peixoto, Cyro Monteiro era carioca da gema, nascido no subúrbio do Rocha em  28 de maio de 1913, em uma família de nove irmãos, todos com nomes começados com a letra C! O pai de Cyro era dentista, capitão do Exército e funcionário público. O futuro astro passou a infância e a juventude em Niterói, litoral fluminense, para onde se mudou com a família quando tinha só dois anos de idade. Fez seus estudos no Grupo Escolar Alberto Brandão, na Escola Profissional Washington Luiz e no Instituto de Humanidades. Costumava cantar informalmente para os amigos, no conforto de seu sacrossanto lar, doce lar, e em festas, acompanhado do irmão Careno, até que um dia, em 1933, Sílvio Caldas, que frequentava sua casa, chamou-o para substituir Luiz Barbosa, com quem cantava em dupla, em um programa da Rádio Educadora. Um ano depois, Cyro foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, escalado de início para um programa diurno mas logo subindo para os noturnos, marcando o ritmo com sua indefectível caixa de fósforos, assim como Luiz Barbosa fazia com o chapéu de palha.
 Grava seu primeiro disco na Odeon, para o carnaval de 1936, com dois sambas que na tiveram muito sucesso, até porque o ano  foi concorridíssimo: “Vê se desguia” e “Perdoa”. Um ano depois, grava dois discos particulares na RCA Victor, por encomenda, a fim de promover a tradicional Festa da Uva de Jundiaí, SP.  E finalmente, em 1938, vem o primeiro grande sucesso, com um clássico do samba: “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, seu primeiro disco comercial na marca do cachorrinho Nipper. E esse foi o pontapé inicial para inúmeros outros hits inesquecíveis:” Os quindins de Iaiá”, “Falsa baiana”, “Deus me perdoe”, “Oh! Seu Oscar”, “Botões de laranjeira”, “Beija-me”, “A mulher que eu gosto”, “O bonde São Januário”, “Boogie-woogie na favela”, “O que se leva dessa vida”, “Escurinho”, “Quatro loucos num samba”, “Tem que rebolar” (dueto com Mariúza), e muitos, muitos mais.
Cyro foi casado com a cantora Odete Amaral (“a voz tropical do Brasil”), com quem teve um filho, dela separando-se em 1949. Além da voz, do ritmo e da  capacidade de modular e improvisar, ele também sabia fazer amigos, com seu calor humano e bondade infinitos. Em 1956, participou, como ator, da peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes com música de Tom Jobim, interpretando o personagem Apolo. Na fase áurea da TV Record de São Paulo, era cadeira cativa no programa “Bossaudade”, apresentado por Elizeth Cardoso.  Gravou também vários LPs, o último deles ao lado de Jorge Veiga,  em 1971, “De leve”. Torcedor convicto do Flamengo, de quem torcedores de outros clubes também gostavam, certa vez mandou de presente para a recém-nascida filha de Chico Buarque e Marieta Severo, Sílvia (hoje atriz), então residentes na Itália, uma camisa do Flamengo. Chico, que sempre torceu para o Fluminense, respondeu de forma bem-humorada com a música “Ilmo. Sr. Cyro Monteiro ou Receita para virar casaca de neném”.
Cyro Monteiro faleceu no dia 13 de julho de 1973, em seu Rio de Janeiro natal, aos 60 anos de idade. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, ao som do hino do Flamengo, cantado pela torcida jovem do clube, com o caixão coberto com a bandeira do mesmo e também com a de sua escola de samba de coração,  a Mangueira.
Começamos, então, a relembrar o grande “Formigão”, apresentando  treze joias de seu repertório, todas em gravações RCA Victor.  A presente seleção inclui os primeiros sambas gravados do mestre Nélson Cavaquinho (1911-1986), lançados justamente por Cyro, a saber:  “Apresenta-me aquela mulher” (faixa 12), parceria com Augusto Garcez e G. de Oliveira, gravação de 25 de maio de 1943, lançada em setembro seguinte com o n.o 80-0107-B, matriz S-052779, “Não te dói a consciência” (faixa 11), parceria de Nélson e Augusto Garcez com Ari Monteiro, também de 1943, gravada a 6 de julho com lançamento em outubro sob n.o 80-0119-B, matriz S-052799, “Aquele bilhetinho’ (faixa 6), também de Nélson e Garcez mais Arnô Canegal, gravado em 13 de abril de 1945 e lançado em maio seguinte com o n.o  80-0282-A, matriz S-078154, e, por fim, o clássico “Rugas” (faixa 3), outra parceria do poeta Nélson com Augusto Garcez e Ari Monteiro, gravação de 21 de março de 1946 lançada em maio seguinte com o n.o 80-0406-A, matriz S-078450. De Alvaiade (Oswaldo dos Santos, 1913-1981) Cyro nos apresenta quatro sambas: “A saudade me devora” (faixa de abertura desta seleção), parceria com Djalma Mafra, gravado em 25 de janeiro de 1945 e lançado em abril do mesmo ano com o n.o 80-0264-B, matriz S-078121, “Meu trabalho” (faixa 7), parceria com Alberto Maia, gravado em 17 de abril de 1947 e lançado em agosto seguinte com o n.o 80-0529-B, matriz S-078746, “Pensando no futuro” (faixa 8), outra parceria de Alvaiade com Djalma Mafra, gravação de 10 de maio de 1944 lançada em julho do mesmo ano com o n.o 80-0193-B, matriz S-052961, e “Aliança de casada” (faixa 10), outra parceria de Alvaiade com Alberto Maia, gravação de 17 de julho de 1946 lançada em outubro seguinte, disco 80-0456-A, matriz S-078563. Geraldo Pereira (1918-1955), que deu a Cyro Monteiro o clássico “Falsa baiana”,  aqui comparece com outros dois sambas, ambos em parceria com Augusto Garcez:  “Acabou a sopa” (faixa 2), gravação de 11 de setembro de 1940 lançada em novembro do mesmo ano, disco 34671-B, matriz 33499, e “Ela não teve paciência” (faixa 4), gravado em 24 de junho de 1941 e lançado em setembro do mesmo ano sob n.o 34800-A, matriz S-052251. Djalma Mafra (c.1900-1974) também assina outras três composições nesta seleção:  o samba “Domine a sua paixão”  (faixa 5), parceria com João Bastos Filho, que o “Formigão” grava na marca do cachorrinho Nipper em 10 de maio de 1943 com lançamento em  julho seguinte sob n.o 80-0098-A, matriz S-052770, a batucada “Tire a mão do meu bolso” (com Nicola Bruni, faixa 9), gravação de Cyro a 13 de dezembro de 1943 lançada bem em cima do carnaval de 44, em fevereiro, disco 80-0163-A, matriz S-052906, e a faixa de encerramento desta primeira parte, a marchinha “Op op op”, do carnaval de 1947, parceria com Ari Monteiro, gravação de 26 de outubro de 46 que a Victor lançará ainda em dezembro, sob n.o 80-0480-B, matriz S-078612. É o que o GRB oferece com muito prazer e alegria para comemorar o centenário de nascimento do eterno “Formigão”, com o compromisso de retornar com mais Cyro Monteiro na próxima semana. Encontro marcado!
. * Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 65 (2013)

E aqui vamos “nóis” para mais uma edição caipira do Grand Record Brazil, a de número 65, oferecendo, como já aconteceu anteriormente, uma parcela do rico acervo da música regional brasileira, a chamada música caipira, que, como os ouvintes irão perceber, é bem diferente do sertanejo dito “universitário” , tão divulgado pelos meios de comunicação nos dias atuais. São, como sempre, 13 gravações preciosas, representativas de um gênero e daqueles tempinhos “bãos” em que se ouvia músicas como essas no radinho, tomando o café da manhã…  E começamos justamente com os eternos “reis do riso”, Alvarenga e Ranchinho.  São duas gravações Odeon com a formação original da dupla, Murilo Alvarenga (Itaúna, MG, 1991-São Paulo, 1978) e o primeiro dos três Ranchinhos, Diésis dos Anjos Gaia  (Jacareí, SP, 1911-São Paulo, 1991). Eles aqui nos apresentam a moda de viola “Você já viu o cruzeiro?”, do Capitão Furtado, seu descobridor, mais outra dupla, Palmeira e Piraci, gravada a 15 de setembro de 1943 e lançada em novembro do mesmo ano com o n.o 12376-B, matriz 7384. É uma alusão à então nova unidade monetária brasileira, instituída um ano antes e que, após passar por mudanças e ser substituída até mesmo pelo cruzado, deixaria de existir em 1994, com o início do Plano Real. Também tem a primeira gravação com letra do clássico choro “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu (1880-1935), feita por Alvarenga, tendo  como subtítulo “Vamos dançar, comadre”, datada de 27 de julho de 1942 e lançada em  outubro do mesmo ano com o n.o 12202-A, matriz 7021. A 10 de agosto desse mesmo ano, em seu primeiro disco, Ademilde Fonseca incluiu este choro clássico em seu primeiro disco, com os versos assinados pelo dentista Eurico Barreiros, e sua gravação foi talvez a de maior sucesso. Focalizamos em seguida a acordeonista Carmela Bonano, mais conhecida como Zezinha, nascida  em São Paulo no dia 16 de janeiro de 1928 e que formou com Luizinho e Limeira (os irmãos, também paulistanos,  Luiz  e  Ivo Raimundo) um trio ainda hoje lembrado com muitas saudades por seus contemporâneos. Zezinha gravou seu primeiro disco como solista de acordeon em 1951, na Todamérica, com duas composições suas em parceria com Luizinho: a valsa  “Brejeira” e a mazurca “Alegria”. Para este volume do GRB foram escalados o arrasta-pé “Oito baixos”, dela mesma e de Messias Garcia, gravação Odeon de 11 de março de 1960 lançada em outubro seguinte com o n.o 14681-A, matriz 50478 (relançado com a marca Orion sob n.o R-079),  e o baião “Saudade que machuca”, de Vicente Lia e do radialista Nino Silva, lançado pela Todamérica em agosto de 1955 com o n.o TA-5563-B, matriz TA-1315, ambas com vocais de Luizinho e Limeira, sem crédito nos selos. Na faixa 6, ela, agora com Luizinho e Limeira devidamente creditados, acompanha-os no arrasta-pé “Casamento é uma gaiola”, do Compadre Generoso, gravado na Odeon em 2 de abril de 1959 e lançado em junho seguinte sob n.o 14463-B, matriz 50158, depois relançado com a marca Orion sob n.o R-058. Música que seria regravada com sucesso  por Sérgio Reis, anos mais tarde. Com o falecimento de Luizinho, em 1982, Zezinha abandonou de vez a carreira, por isso muitas biografias dizem ter ela falecido nesse ano, a  11 de maio, em Perdizes, São Paulo (outras dizem que a morte da acordeonista aconteceu em 2002, nesse mesmo dia). A maranhense (de Viana) Dilu Mello (Maria de Lourdes Argolo Oliver, 1913-2000) também deixou sua contribuição para a história de nossa música popular. Tocava diversos instrumentos: sanfona, piano, violão, harpa, violino e até serrote, causando o maior escândalo ao executar nele uma peça de Schumann! É co-autora e intérprete da clássica toada “Fiz a cama na varanda”, que já apresentamos em edição anterior do GRB, e apenas uma de suas mais de cem composições.  Para esta edição, foi escalado o xote “Qual o valor da sanfona?”, composição sua em parceria com J. Portela (o jota seria de Jeová), gravação Continental de 31 de julho de 1948, porém só lançada em março-abril de 49 sob n.o 16024-B, matriz 10916. A faixa 7 nos apresenta a gravação original de uma balada humorística que muitos conhecem na interpretação dos irmãos Sandy e Júnior: é nada mais nada menos que “Maria Chiquinha”, de autoria de Geysa Bôscoli e Guilherme Figueiredo. Ela saiu pela RGE em agosto de 1961, sob n.o 10336-B, matriz RGO-2218, num divertido dueto entre Evaldo Gouveia (compositor, cearense de Orós, autor de vários hits, sobretudo em parceria com Jair Amorim, e que integrou como cantor o Trio Nagô) e a comediante Sônia Mamede (1936-1990), “a garota do biquíni vermelho”. Bonita e de corpo escultural, Sônia foi estrela das chanchadas da Atlântida (“Garotas e samba”, “De vento em popa”), tendo feito outros 14 filmes nesse e em outros estúdios,  e ficou famosa na televisão como a Ofélia do programa humorístico “Balança mas não cai”, da Globo (seu bordão era “eu só abro a boca quando tenho certeza!”), ao lado de Lúcio Mauro, o Fernandinho. “Maria Chiquinha” foi um sucesso absoluto em 1961, e nesse ano também seria gravada por Marinês, em dueto com Luiz Cláudio, na RCA Victor. Os trios Melodia (Albertinho Fortuna, Paulo Tapajós e Nuno Roland) e Madrigal (Edda Cardoso, Magda Marialba e Lolita Koch Freire) interpretam aqui, em ritmo de baião, “Maricota, sai da chuva”,  motivo folclórico adaptado por Marcelo Tupinambá, em gravação Continental de 19 de março de 1952, lançada em julho desse ano com o n.o 16600-A, matriz C-2813. A primeira gravação, ainda na fase mecânica, foi do Grupo O Passos no Choro, em 1919, apenas instrumental.  Recordaremos em seguida outra dupla sertaneja famosa: Silveira (Nivaldo Pedro da Silveira, 1934-1999) e Barrinha (Abílio Barra, 1929-1984) ambos mineiros, Silveira, de Uberaba, e  Barrinha, de Conquista.  Aqui eles interpretam a moda campeira “Coração da pátria”, de Silveira, Lourival dos Santos e do também radialista Sebastião Victor, em gravação RCA Camden  de 25 de maio de 1962, disco CAM-1133-A, matriz N3CAB-1712, uma exaltação ao estado de Goiás, que já abrigava, desde 1960, nossa atual capital, Brasília (lembrando que o Distrito Federal é um município nêutro). Teve regravações por Nalva Aguiar e até mesmo por Beth Guzzo, filha do humorista Valentino Guzzo (a Vovó Mafalda do programa do Bozo, lembram-se?). Apresentamos logo depois as duas músicas do primeiro dos três únicos 78 rpm da dupla Biá e Biazinho no selo Sertanejo da Chantecler, o PTJ-10087, gravado junto com o acordeonista Alberto Calçada, e lançado em maio de 1960, apresentando duas canções rancheiras ao estilo mexicano:  “Nunca mais” de Fernando Dias, matriz S9-173, e “Só Deus castiga”, de Nízio e Teddy Vieira, matriz S9-174. E reservamos para o final a joia da coroa desta edição: o único disco gravado por Tonico e Tinoco (“a dupla coração do Brasil”) junto com Aracy de Almeida (“ o samba em pessoa”, “a dama da Central”, “a dama do Encantado”), todos três já relembrados pelo GRB. Uma autêntica preciosidade que chega a nossos amigos cultos, ocultos e associados por generosa cortesia do amigo  Indalêncio, grande e notório restaurador de rádios antigos.  É o Continental  17251, gravado em 28 de julho de 1955, mas só lançado em fevereiro-março de 56, com dois cateretês. Abrindo-o, matriz 11764, “Ingratidão”, de autoria de Mário Vieira, parceiro de Hervê Cordovil no clássico “Sabiá na gaiola” e mais tarde fundador e proprietário da gravadora e editora musical Califórnia, que existe até hoje, no bairro paulistano do Tatuapé, dirigida pela terceira geração da família. Mário assina também o lado B, matriz 11765, “Tô chegando agora”, desta vez em parceria com Juracy Rago, primo do violonista Antônio Rago. Uma preciosidade que o Indalêncio mui gentilmente nos cedeu e que encerra com chave de ouro esta edição regional do GRB., para alegria e deleite dos “cumpades” e cumades” de todas as idades e deste Brasilzão!

*Texto de Samuel Machado Filho

Aracy De Almeida – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 64 (2013)

Muita gente se lembra de Aracy de Almeida apenas como a jurada ranzinza, implacável e exigente dos programas de calouros da televisão  (Chacrinha, Sílvio Santos, etc.), sempre imperdoável. Mas era um tipo que forçava mais para estimular a plateia a dar sonoras vaias, e o público, no fundo, a amava. Além disso, como cantora, a “Araca” escreveu um importantíssimo capítulo da história de nossa música popular. O próprio Noel Rosa (1910-1937) a considerava a melhor intérprete de suas composições, e foi quem primeiro a incentivou na carreira.
É justamente a Aracy-cantora que focalizamos nesta sexagésima-quarta edição do Grand Record Brazil. Aracy Teles de Almeida (ou d’Almeida, como aparecia sem seus primeiros discos)nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de agosto de 1914, no subúrbio do Encantado, no seio de uma família evangélica (era de confissão Batista).  Tanto que começou sua carreira cantando no coro de sua igreja, e para ser também fiel ao samba, também se apresentava em festinhas, escola de samba e até terreiro de candomblé!
Em 1932, levada por um amigo lá mesmo do Encantado, Aracy apresentou-se pela primeira vez numa estação radiofônica, a Rádio Educadora do Brasil, interpretando a marchinha “Bom dia, meu amor”, de Joubert de Carvalho, do repertório de Cármen Miranda. Sua estreia em disco dá-se na Columbia, que, em janeiro de 1934, lança para o carnaval duas marchinhas por ela interpretadas: “Em plena folia”, de Julieta de Oliveira, e “Golpe errado”, de Jaci, uma em cada disco. No terceiro e último disco de Aracy nessa marca, já aparece um samba de seu amigo Noel, “Riso de criança”.  Em 1935, vai para a RCA Victor, passando a lançar sucessos sobre sucessos, tanto de Noel (“Palpite infeliz”, “Triste cuíca”, “Cansei de pedir”, “Último desejo”, “Século do progresso”) quanto de outros autores (Wilson Batista, Cyro de Souza, Ary Barroso etc). Grava também na Odeon, na Continental, na Polydor, na Sinter (e sua sucessora, a Philips), na Elenco, enfim, em vários selos, lançando também LPs e compactos. Outros de seus hits são “Não me diga adeus” (Paquito, Luiz Soberano e João Corrêa da Silva), “Fez bobagem’ (Assis Valente), “Louco, ela é seu mundo’ (Wilson Batista e Henrique de Almeida), e mais os presentes nesta edição do GRB, que comentaremos a seguir. Embora fosse mestra da gíria e gostasse de frequentar a noite, Aracy não comentava sua vida sentimental. Teve um romance com o goleiro Rey, do Vasco da Gama, seu time de coração, e foi casada com um médico, do qual se separou amistosamente, sem filhos. Chamada de “O samba em pessoa” , receberia do estilista de moda Dener Pamplona de Abreu, seu grande amigo, um outro apelido, “Dama da Central”, pois ela só viajava de trem, por medo de acidente de avião.  “Araca” lia os melhores autores e gostava de um bate-papo inteligente.
Nos anos 1950, Aracy praticamente fez sua base em São Paulo, mas sem abandonar seu querido Encantado (tanto que era também “A dama do Encantado”, título de um álbum que Olívia Byington dedicou a ela).  Sempre muito querida e reverenciada, apresentava-se nas melhores casas noturnas paulistanas e cariocas, e tornou-se uma espécie de musa de círculos artísticos e sociais. Em 1954, por exemplo, foi-lhe oferecido um jantar comemorativo de seus 23 anos de carreira, do qual compareceu até mesmo o então governador paulista Lucas Nogueira Garcez.
Com o passar do tempo, a Aracy-cantora daria lugar à Aracy-jurada. Sempre foi muito grata a Sílvio Santos: “Bom patrão, é gente que sabe tratar. Esse é em cima. Tudo que a gente quer, ele dá”. Em 1988, Aracy tem um edema pulmonar e se interna em São Paulo, sendo transferida para o hospital do SEMEG, no bairro da Tijuca, em seu Rio de Janeiro natal. Após dois meses em coma, recuperou a lucidez, mas, após dois dias, a 20 de junho, tem um súbito aumento de pressão e vem a falecer,  deixando infelizmente para as novas gerações apenas a imagem da jurada de TV.
Pois nesta edição do GRB, apresentamos dezesseis dos melhores momentos  da Aracy cantora, que não pode nem deve ser esquecida,  sendo ontem, hoje e sempre, “o samba em pessoa”.  Começando a seleção com o pé direito, “Tenha penha de mim”, de Cyro de Souza e Babaú, gravação Victor de 17 de agosto de 1937 lançada em novembro desse ano com o número 34229-A, matriz 80596, e um dos maiores hits do carnaval de 38. Também da Victor e de um ano antes, é a faixa seguinte, “Contentamento”, de Bucy Moreira e Raul Marques, que ela gravou em  9 de setembro de 1936 com lançamento em novembro seguinte, disco 34106-A, matriz 80215. A faixa seguinte, o samba-rumba ou sambatuque “Nasci para bailar, nasci para sambar”, ostenta uma curiosidade: foi composta e gravada por Joel de Almeida na época em que ele morava na Argentina, período esse que ele próprio considerava o melhor de sua vida. Com letra em espanhol do próprio Joel e de Tasiro, recebeu versão por Fernando Lobo, que Aracy grava na Odeon em 19 de julho de 1948, com lançamento em setembro desse ano sob número  12876-A, matriz 8390. Um ano depois, Fernando Lobo escreveu novos versos para a música, e essa outra letra seria gravada por Marlene com o título reduzido para “Nasci para bailar”, e sem o nome de Tasiro no selo.  Retornando à Victor, temos uma dupla “braba”, Ataulfo Alves e Wilson Batista, assinando “Eu não sou daqui”, gravação de 3 de abril de 1941, lançada em julho do mesmo ano com o n.o 34757-A, matriz 52170. Wilson assina a faixa seguinte com Cyro de Souza, “Ganha-se pouco mas é divertido”, gravação de 2 de junho de 1941 lançada em agosto seguinte com o n.o 34780-A, matriz S-052232. Wilson Batista também fez com Rubens Soares “Gênio mau”, que Aracy imortaliza na marca do cachorrinho Nipper na mesma sessão de “Ganha-se pouco…” e é lançado em  setembro do mesmo ano no disco 34787-A, matriz S-052230. Não para por aí: também em 2 de junho de 1941 a “Araca” imortaliza “Falta de sorte”, de Geraldo Pereira e Marino Pinto, matriz S-052233, e será o lado B de “Ganha-se pouco mas é divertido”. Em janeiro de 1953, Aracy lança na Continental, para o carnaval desse ano, outro samba, “Por que é que você chora?”, de Bucy Moreira  e do cantor Ary Cordovil, com o número 16695-B, matriz C-3017. Retornando à Victor, temos “Oh! Dona Inês”, da dupla Wilson Batista-Marino Pinto, gravação de 27 de março de 1940 que vai para as lojas em junho com o n.o 34609-A, matriz 33364, disco do qual também foi escalado o verso, da mesma dupla, matriz 33365, “Brigamos outra vez”.  “Mal agradecida”, também de Wilson Batista, aqui com Bucy Moreira, por sinal neto da lendária Tia Ciata, é gravado na Odeon pela “Araca” em 9 de junho de 1948, com lançamento em julho sob n.o  12867-B, matriz 8378. Outro nome lendário do samba, João da Baiana, assina com o ex-pugilista Kid Pepe “Pra que tanto orgulho?”, batucada que Aracy grava na Victor em 2 de outubro de 1939 e lança em novembro sob n.o 34518-B, matriz 33169, visando o carnaval de 40. A faixa seguinte é um autêntico clássico do mestre Ary Barroso: “Camisa amarela”, imortalizado pela “Araca” na mesma Victor em 31 de março de 1939 com lançamento em junho seguinte sob n.o  34445-A, matriz 33047, e que o próprio Ary considerava a melhor gravação deste seu samba. Temos depois a sensível e comovente interpretação de Aracy para a “canção regional” “Mamãe baiana”, de Xerém e do teatrólogo Joracy Camargo, autor da famosa peça “Deus lhe pague”, imortalizada em 14 de fevereiro de 1940 com lançamento em abril do mesmo ano com o n.o 34586-A, matriz 33322. Foi também escalada outra canção, constante do verso desse disco e gravada na mesma sessão, matriz 33325: “Minha saudade”, concebida pelo violonista Laurindo de Almeida (1920-1995), que mais tarde passaria a residir nos EUA, onde desenvolveu uma carreira repleta de prestígio e prêmios. Encerrando esta seleção, um samba de Haroldo Barbosa, também jornalista, roteirista e produtor de programas de rádio e televisão, inclusive de cunho humorístico: “Quando esse nêgo chega”, gravação Odeon de 19 de julho de 1948, lançada em setembro desse ano com o n.o  12876-B, matriz 8389, o outro lado de ‘Nasci para bailar, nasci para sambar”. Uma seleção assinada, como se vê, por grandes autores, e que comprova a observação feita pelo pesquisador Abel Cardoso Júnior: “Se Aracy de Almeida não perdoava falsos valores, é porque ela mesma  jamais deu ao público nada menos que o melhor”. Ouçam e comprovem!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
 .

Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Oscarito – Pimentinha E Arrelia (2013)

E  aqui estamos com mais uma edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. É a de número 63, desta feita apresentando músicas cuja característica é o bom humor, interpretados por comediantes que marcaram época em nossa mídia. São treze gravações como sempre preciosas, que por certo vão deixar lembranças muitíssimo agradáveis em quem vivenciou a época deles, e surpresa igualmente agradável para quem não conhece, e tem à disposição, portanto, uma oportunidade rara de conhecer.
Muitos se lembram com saudade, inclusive eu próprio, do palhaço Arrelia, aliás, Waldemar Seyssel  (Jaguariaíva, PR, 1905-São Paulo, 2005). Ele começou a atuar no circo aos seis meses de idade, e não parou mais. Veio de uma família circense tradicional, cujo avô, Júlio Seyssel, era  nascido e residente na França, tendo sido até mesmo professor da famosa Universidade de Sorbonne.  Nessa ocasião, Júlio conheceu uma jovem espanhola, artista de circo, claro, que fazia acrobacias em cima de um cavalo. Os dois se casaram, e Júlio trocou a universidade pelo picadeiro.  O casal veio ao Brasil durante uma temporada do Grande Circo Inglês, dos irmãos Charles, e resolveu ficar por aqui mesmo. Já Arrelia (apelido que lhe foi dado por seu tio,  Henrique)começou no circo saltando, passando depois pelo trapézio, cama elástica e outras acrobacias.  Quando seu pai, cansado, deixou o picadeiro, passou a dedicar-se à arte de divertir o público. Seu primeiro parceiro foi o ator Feliz Batista, que fazia o palhaço de cara branca, vindo depois o irmão, Henrique Sobrinho.  Após anos de trabalho no picadeiro, Arrelia troca o circo pela televisão, por questões financeiras. Seu “Circo do Arrelia”, iniciado em 1953, passou pela TV Paulista (hoje Globo) e pela Record, e é aí que surge seu parceiro mais famoso:  seu sobrinho Walter Seyssel, o Pimentinha (Juiz de Fora, MG, 1926-Itu, SP, 1992). É com ele que Arrelia interpreta as faixas escaladas para esta edição do GRB. Para começar, a marchinha “Muito bem (Como vai?)”, utilizando um bordão famoso do grande Arrelia: “Como vai, como vai, vai, vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!” O próprio Arrelia, mais Manoel Ferreira e Antônio Mojica, transformam esse bordão clássico em marchinha de sucesso no carnaval de 1957, lançada pela Copacabana em seu selo Carnaval, com o número 051-A, matriz M-1831. Um ano mais tarde, em janeiro de 1958, a Copacabana lança para a folia desse ano outra marchinha por eles interpretada: “Hom’essa!”, do próprio Arrelia e José Saccomani, matriz M-2075, curiosamente em dois 78 rpm diferentes: 5855 e 5861, ambos no lado A!  Temos ainda outros registros do Pimentinha em dueto: com Déo Maia (cantora e atriz que foi professora primária antes de se dedicar ao teatro de revista), ele canta o samba ‘Dengo”, de autoria do mestre Ary Barroso, gravação Odeon de 3 de junho de 1953, lançada em agosto seguinte com o n.o 13483-B, matriz 9747. Ainda com o tiozão Arrelia, ele interpreta outra marchinha, “Cacho de banana”, do próprio Arrelia mais José Saccomani e Ercílio Consoni, para o carnaval de 1958, e que a Copacabana lança em janeiro desse ano também em dois 78 rpm diferentes:  5855-B, e 5862-A, com a mesmíssima matriz, M-2094! Como solista, Pimentinha interpreta outra marchinha, por ele próprio assinada em parceria com José & Emílio Saccomani: “Na bodega”, para o carnaval de 1960, editada pela mesma Copacabana ainda em dezembro de 59 com o n.o  6067-B, matriz M-2548. Déo Maia ainda canta com ele o choro “Vou a Paris”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, lado A do 78 de “Dengo”, o Odeon 13483, matriz 9745, e obviamente registrado na mesma sessão.  Encerrando sua participação neste volume, Pimentinha canta a “Marcha do Cacareco”,de Elzo Augusto, Edaor e Romaris,  lançada pela Copacabana no lado A de “Na bodega”, matriz M-2547, para o carnaval de 1960. O Cacareco em questão é um rinoceronte que foi trazido do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro para o de São Paulo, e houve uma polêmica generalizada na época sobre se ele deveria permanecer em Sampa ou voltar pro Rio. Enquanto isso, nas eleições de 1959, os paulistanos, decepcionados com os políticos candidatos  a vereadores (como até hoje), acabaram votando, em sinal de protesto, no Cacareco, que recebeu mais de 100 mil votos (todos nulos, claro), mais até que o vereador mais votado, que teve 95.000 votos! Isso aconteceria em 1978 com o jogador de futebol Biro-Biro, então no Corinthians, que mais tarde candidatou-se a vereador por São Paulo e se elegeu de verdade.  Dois casos impossíveis de se repetir nestes tempos de urna eletrônica…
Em seguida relembraremos Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Tereza Díaz (Málaga, Espanha, 1906-Rio de Janeiro, 1970), que ganhou a imortalidade com o pseudônimo de Oscarito.  Filho de pai alemão e mãe portuguesa, veio para o Brasil com um ano de idade, mas só se naturalizou brazuca em 1949. Começou nos picadeiros de circo, aos cinco anos (afinal ele, como Arrelia e Pimentinha, era membro de família circense), como palhaço, trapezista, acrobata e ator, além de aprender a tocar violino! Foi marcante figura no teatro de revista, onde começou em 1932 na peça “Calma, Gegê” (sátira a Getúlio Vargas) e no cinema, onde debutou três anos mais tarde, atuando em “Noites cariocas”. Seu nome está ligado à história da Atlântida, estúdio que se caracterizava por suas chanchadas, onde atuou em inúmeros filmes,  alguns em parceria com Grande Otelo, como “A dupla do barulho’ (1953) e “Matar ou correr” (1954). Outros títulos de destaque em sua filmografia são “Carnaval no fogo” (1949), “Aviso aos navegantes” (1950), “Barnabé, tu és meu” (1952), “Nem Sansão nem Dalila’ (1954), “De vento em popa” (1957), “Esse milhão é meu” (1958) e “Os dois ladrões” (1960). Seu último trabalho no cinema foi em “Jovens pra frente”,  de 1968. Foi casado com a também atriz Margot Louro, com quem teve dois filhos. Oscarito teve seu nome como paralelo aos maiores cômicos do cinema internacional, como o  americano Charles Chaplin e o mexicano Cantinflas. Evidentemente, Oscarito também gravou algumas músicas, predominantemente carnavalescas, que também interpretava em seus filmes. E eis aqui nesta edição do GRB seis delas. Pra começar, a famosa “Marcha do gago” (“Tá, tá, tá tá na hora/ Va-va-vale tudo agora”), de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas , indiscutivelmente seu maior sucesso musical, lançado em dezembro de 1949 pela Star com o número 177-A, e um dos maiores sucessos da folia de 1950, fazendo inclusive referência a Carlo Pintacuda, um famoso automobilista da época. Da mesma dupla, agora com o reforço de David Nasser, é o lado B, a marchinha “Greve no harém”, que apresentamos na faixa 10. O disco também saiu com o selo Carnaval, com o número 049, e ambas as músicas fizeram parte do filme ‘Carnaval no fogo”. Completando este programa, quatro gravações Sinter:  a marchinha “Toureiro de Cascadura” (faixa 12), de Armando Cavalcanti e David Nasser, matriz S-39, e o samba “Garota boa”, (faixa 9), de Saint Clair-Senna, matriz S-40, do disco 00-00.018, editado em dezembro de 1950 para a folia de 51, para a qual também saiu o disco 00-00.019, em seguida mesmo, com duas composições dos mesmos Armando Cavalcanti e Klécus Caldas: a famosa “Marcha do neném” (“Ié, ié, ié, faz o neném”, faixa 13), matriz S-41, e a também marcha “Pouca roupa” (faixa 11), todas quatro do filme “Aviso aos navegantes”, outro estouro de bilheteria na época.  Enfim, música e bom humor mais uma vez encontram-se nesta edição do GRB, para alguns lembrarem, outões conhecerem, e para todos se divertirem muito!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Coletânea Compactos Do Toque Musical – Vol. 2 (2013)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Há tempos eu venho querendo ‘desovar’ alguns compactos e continuar a série “Coletânea Compactos”, mas vou sempre adiando. Desta vez consegui preparar o segundo volume e dentro do possível, logo teremos outros… Compacto é em postagem como fazer um lanche rápido, satisfaz no momento, mas depois deixa a gente com fome. Por isso é que dependendo dos disquinhos, prefiro postá-los em blog, como uma coletânea.
Nesta leva, reuni quatro grupos de música pop. Digo pop, porque aqui a coisa fica na base das versões, ou bem influenciado por essas e porque não dizer, a música estrangeira, moderninha da época. Temos aqui o grupo Brazilian Boys em disco de 1974, apresentado duas versões, para “Mrs. Vandebilt”, de Paul MacCartney e “Cecilia”, de Paul Simon. Depois temos o grupo Impacto com a versão para “Dreamin`”, de B. Kinsley e uma autoral, “Conselho de amigo”, bem na mesma linha pop. Este compacto, inclusive, já havia sido postado anteriomente no Toque Musical. Na sequência temos o Lee Jackson, que entre os demais se destaca pela qualidade e aqui vem num compacto duplo com os temas tão variados quanto a prórpia trajetória do conjunto. De “Adelita”, “El Bodeguero”, passando por “Allah lá o”, Hino do Flamengo, dois clássicos do Jorge Ben (“Mais que nada” e “Xica da Silva) e finalizando com “Only You” e “There’s a kind of hush”. Completando a coletânea, temos outro grupo de destaque, o Light Reflections. Este último com dois temas originais (autorais), cantados em inglês, como manda o figurino 🙂
eu pensei – brazilan boys
cecília – brazilian boys
sonho – impacto
conselho de amigo – impacto
adelita – lee jackson
mas que nada – xica da silva – lee jackson
only you – there’s a kind of hush – my pledge of love – lee jackson
el bodeguero – allah la o – hino do flamengo – lee jackson
welcome welcome – light reflections
that love – light reflections
.

Francisco Alves 2:2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 62 (2013)

Estamos de volta com a segunda parte da  retrospectiva que o Grand Record Brazil dedica ao inesquecível Francisco Alves, o Rei da Voz (1898-1952). Desta feita, mais treze gravações preciosas e imprescindíveis para colecionadores, pesquisadores e apreciadores em geral.
Abrindo nosso roteiro, três sambas de Sílvio Fernandes, o Brancura, histórico malandro carioca, de quem falamos na edição anterior. O primeiro é “Coração volúvel”, lançado pela Odeon em junho de 1929, disco 10399-A, matriz 2532, do qual também foi escalado o lado B, matriz 2531, “Mulher venenosa”, na faixa 3, ambas com acompanhamento da Orquestra Pan American de Simon Bountman. Antes dele virá “Você chorou”, subintitulado “Me admiro é você”, primeiro verso da letra, gravação Victor de 8 de julho de 1935 (ano do falecimento de Brancura), lançado em agosto seguinte com o número 33959-A, matriz 79968, e incluído na burleta teatral “Da Favela ao Catete”, de Freire Júnior. O acompanhamento é da Orquestra Diabos do Céu, formada e dirigida pelo mestre Pixinguinha.Voltando à Odeon, o samba “Olê-lê-ô”, da santíssima trindade Francisco Alves-Ismael Silva-Nílton Bastos, gravado em 27 de novembro de 1930 e lançado em janeiro de 31 para o carnaval, disco 10745-B, matriz 4068 (o lado A é “Nem é bom falar”, da nossa edição anterior). Ismael e Nílton faziam parte do grupo Bambas do Estácio, que acompanha Chico Alves neste registro. Neto da lendária Tia Ciata,  Bucy Moreira assina em parceria com Norival Reis, o Nazinho (ou Nozinho), o samba “Em uma linda tarde”, que Chico Alves gravou com os Diabos do Céu na Victor em 16 de abril de 1935, com lançamento em julho seguinte sob n.o 33946-B, matriz 79877. Autêntica raridade vem em seguida, o samba “Meu batalhão”, também da trindade Chico (acompanhado de seu “Esquadrão”)-Ismael Silva-Nílton Bastos, lançado pela Odeon em janeiro de 1931 para o carnaval com o n.o 10748-B, matriz 4091. E quem não conhece a marchinha junina “Pula a fogueira”? Só quem nunca foi numa festa junina… Da parceria Getúlio “Amor” Marinho-João Bastos Filho, foi imortalizada pelo Rei da Voz na Victor em 21 de maio de 1936, matriz 80163, com lançamento em julho seguinte (o que tem sua lógica, pois as festas juninas em algumas cidades costumam se estender até esse mês) sob n.o 34068-A. A marchinha “Você gosta de mim”, da parceria Francisco Alves-Ismael Silva, saiu pela Parlophon em dezembro de 1931, disco 13377-B, matriz 131307, visando o carnaval de 32. Outro clássico é o samba “Para me livrar do mal”, da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa, imortalizado por Chico Alves na Odeon em 29 de junho de 1932, disco 10922-B, matriz 4467, e que ele também interpretou no segundo show da série “Broadway cocktail”, um espetáculo palco-tela encenado no recém-inaugurado Cine Broadway, do qual também participaram Cármen Miranda, Almirante e Noel. Destaque, na gravação, para o piano de Nonô (Romualdo Peixoto), tio dos cantores Cyro Monteiro e Cauby Peixoto. “Choro, sim”, samba de Ismael Silva sem parceiro, foi gravado por Chico na Victor com os Diabos do Céu em 21 de novembro de 1934, matriz 79784. Destinava-se ao carnaval de 1935,  segundo consta da edição, mas só foi para as lojas em julho desse ano, com o número 33946-B. Dando um salto no tempo, vem em seguida outro samba, “Cidade de São Sebastião”, de Wilson Batista e Nássara, gravação Odeon de 10 de julho de 1941, lançada em agosto do mesmo ano com o número 12028-A, matriz 6710, com acompanhamento da orquestra do maestro Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro, 1908-1951). A música fez parte do segundo espetáculo da série “Joujoux e Balangandãs”, levado à cena no Teatro Municipal do Rio, no qual a então primeira-dama da Nação, Darcy Vargas, convocava a alta-sociedade carioca a apresentar seus dotes artísticos no palco e demonstrar generosidade na bilheteria, em prol de suas obras assistenciais. Nele, “Cidade de São Sebastião” foi interpretado por Jenny Hime e Roberto Rocha. “Fica de lá” é de Ernâni Alvarenga, “o samba falado da Portela”, e este aqui destinou-se ao carnaval de 1939, lançado pela Odeon bem em cima da folia, em fevereiro, com o número 11700-A, tendo sido gravado em 16 de dezembro de 38, matriz 5995. Por fim, uma marcha natalina do mestre Ary Barroso em parceria com nosso Chico Alves, “Meu Natal”, da safra do Rei da Voz na Victor, com o devido apoio instrumental dos Diabos do Céu de Pixinguinha & Cia., gravada em 19 de outubro de 1934 e lançada, claro, em dezembro, com o número 33857-A, matriz 79762. Ela encerra, e com chave de ouro, esta retrospectiva que o GRB dedica ao imortal Francisco de Moraes Alves, e entrega com muita alegria aos amigos cultos, ocultos e associados do GRB. Até a próxima e obrigado pelo prestígio!
Texto de  SAMUEL MACHADO FILHO.

Januário E Luiz Gonzaga – Seleção 78 RPM Do Toque Musical (2013)

O Grand Record Brazil chega à sua sexagésima edição apresentando uma seleção musical com dois grandes nomes da cultura popular nordestina: Luiz Gonzaga e seu pai Januário.
Lavrador, sanfoneiro e consertador de sanfonas, Januário José dos Santos, autêntico rei dos oito baixos, nasceu em 25 de setembro de 1888, não se sabe se em Flores ou Pajeú das Flores, em Pernambuco. Adolescente, fugindo da seca, ele chegou, em 1905, à Fazenda Caiçara, nascente do Riacho da Brígida, a 12 quilômetros de Exu, na Serra do Araripe, bem na divisa Norte de Pernambuco com o Ceará, ao lado de seu irmão Pedro Anselmo. Era motivo de alegria e admiração para quem escutava a sua sanfona, sendo sempre respeitado por onde quer que passasse. Só falava o necessário e tinha grande entendimento intelectual, apesar de nunca ter sentado em um banco de escola. Além de exímio sanfoneiro, foi durante toda a vida um homem dedicado à família. Ao lado da primeira esposa, Dona Santana, soube muito bem educar seus nove filhos (Gonzagão foi o segundo) na tradição religiosa e no respeito humano.
O “Vovô do Baião” sempre amou seu querido Araripe. Prova disso é que, em 1960, com o falecimento de Dona Santana e já com os nove filhos radicados no Rio de Janeiro, ficou morando sozinho por lá de junho a novembro, quando contraiu segundas núpcias com Dona Maria Raimunda de Jesus. O novo casal adotou, em 1962, um bebê com três dias de nascido, e registrado como filho legítimo com o nome de João Batista Januário, ainda hoje residindo em Exu.
Grande exemplo de pai e bom vizinho, “seu” Januário partiu para a eternidade no dia 11 de junho de 1978, deixando imensa saudade em todos que o conheceram lá em Exu, apreciando suas performances sanfoneiras todo final de tarde. As tradições religiosas do município forma preservadas por muito tempo recebendo a colaboração do “Vovô do Baião”.
Já Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu, a 13 de dezembro de 1912, lá mesmo na Fazneda Caiçara, onde ele e seus irmãos foram criados, e ainda menino se interessou pelos oito baixos do pai, a quem ajudava na animação de forrós e festas. Aos 17 anos, saiu de casa e se alistou como voluntário no Exército, em Fortaleza, Ceará, e em 1930 rumou com seu batalhão de caçdores, o 22, para a Paraíba, agitada com a revolta de Princesa. Com a vitória de Getúlio Vargas, a tropa se desloca para Belém do Pará, Teresina, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a fim de pacificar os resistentes. Corneteiro, recebeu em BH o apelido de “Bico de Aço”. E soprando a corneta seguiu para São Paulo, em 1932, no movimento constitucionalista, e para Mato Grosso, a fim de proteger nossa fronteira da Guerra do Chaco, entre Paraguai e Bolívia. Já em tempos mais clamos, Gonzagão serviu em Juiz de Fora e Ouro Fino, em Minas Gerais, e deu baixa em 1939, após dez anos de Exército (uma nova lei impedia o reengajamento além desse tempo). Em vez de voltar a sua Exu, resolve ficar no Rio de Janeiro, onde desembarcara na companhia de uma sanfona branca comprada em São Paulo pouco antes. Nas ruas, nos bares e no Mangue, passando o pires, apresentava um repertório bem ao gosto dos marinheiros e suas acompanhantes: tangos, boleros, valsas, canções, foxes. Certa noite, um grupo de universitários cearenses pede para ele tocar alguma coisa lá do Nordeste. Aí, Gonzagão tira da memória xaxados, cocos, xotes, xamegos, e é aí que alimenta o ideal de um dia tocar tudo isso para todo o povo do Sul. Inscreve-se no programa de calouros do temível Ary Barroso tocando seu xamego “Vira e mexe”, sendo aplaudidíssimo pela plateia e obtendo nota máxima! Em 1941, é levado à RCA Victor para acompanhar Genésio Arruda na gravação de “A viagem do Genésio”, e tem a oportunidade de tocar seu “Vira e mexe” para o diretor artístico, sendo de pronto escalado para gravar dois discos como acordeonista-solo: “Véspera de São João”/”Numa serenata” e “Saudades de São João del Rey”/”Vira e mexe”. A oportunidade de gravar como cantor só aparece em 1945, com “Dança, Mariquinha”, mazurca sua e de Miguel Lima. Em pouco tempo tornou-se ídolo nacional, de ponta a ponta, também como compositor, tendo parceiros expressívos: Miguel Lima, Humberto Teixeira, Zé Dantas, e sucessos sem conta, seja como autor, seja apenas como intérprete: “Baião”, “Asa branca”, ‘Vozes da seca”, “Chofer de praça”, “Paraíba”, “Macapá”, “Lorota boa”, “Riacho do Navio”, “Boiadeiro”, “Cigarro de páia”, “Xanduzinha” e muitos, muitos mais. Com o aparecimento do rock e da bossa nova, Gonzagão ficou praticamente esquecido no Sul do País, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, mas continuou a se apresentar pelo interior do Brasil, onde sempre teve grande público. Em 1968, o espertíssimo Carlos Imperial planta um boato de que o quarteto britânico The Beatles iria gravar “Asa branca”. Isso, claro, não aconteceu, mas chamou a atenção das novas gerações de então para sua obra, sendo então redescoberto e novamente experimentando o sucesso em discos e shows nos grandes centros urbanos, tendo inclusive se apresentado no exterior. O trono de Rei do Baião é e sempre será seu. Gonzagão morreu em 2 de agosto de 1989, no Recife, de osteoporose seguida de pneumonia (sofria também de câncer na próstata), deixando um legado imortal que até hoje influencia a MPB. Seu corpo foi sepultado, conforme seu desejo, ao lado de seus pais, em Exu.
Nesta edição do GRB, apresentamos uma seleção dedicada a Januário e Gonzagão, pai e filho, com oito fonogramas originais RCA Victor. Para começar, quatro gravações do mestre Januário, com participação expressiva dos filhos, inclusive, claro, Luiz Gonzaga: o xote dele mesmo “Januário vai tocar”, gravação de 3 de agosto de 1955, lançada em outubro do mesmo ano com o número 80-1498-A, matriz BE5VB-0823. No verso, matriz BE5VB-0824, o “Calango do Irineu”, também do próprio Januário, que apresentamos logo em seguida. Depois, as faixas do disco 80-1322, gravado em 18 de maio de 1954 e lançado em agosto: o baião “O balaio de Veremundo”, da parceria Luiz Gonzaga-Zé Dantas, espirituosa  alusão a um “coronel” da cidade pernambucana de Salgueiro, famosa por suas carnes de bode salgadas, e inventor da dança do balaio. Da mesma parceria é o lado B, matriz BE4VB-0456, outro baião: “Pronde tu vai. Luí?”, com solo vocal do próprio Gonzagão, “of course”. Completando este pequeno grande programa, quatro expressivas gravações de Gonzagão de seu início como cantor-solo. Na faixa seis, exatamente sua estreia nessa área, após 24 discos como solista de sanfona: a mazurca “Dança, Mariquinha”, gravada em 11 de abril de 1945 e lançada em maio seguinte, matriz S-078152. Luiz Gonzaga chegou a dizer ao então diretor artístico da RCA Victor, Vittorio Lattari, brincando, que a Odeon queria lançá-lo como cantor em disco. Mas Vittorio, claro, decidiu que ele ficaria na Victor, e perguntou: “Como é? Já tem repertório pra cantar?” Isso, claro, não faltava… Na faixa oito, o chamego “Penerô xerem”, chamego da parceria Luiz Gonzaga-Miguel Lima, gravação de 13 de junho de 1945, lançada em agosto do mesmo ano (80-0306-A, matriz S-078189). A 6 de setembro do mesmo ano, Gonzagão grava, de sua autoria mais Miguel Lima e J. Portela (o jota é de Jeová), outra mazurca de sucesso, “Cortando pano”, expressiva homenagem aos alfaiates, que a Victor lançara em novembro seguinte com o número 80-0344-B, matriz S-078283. Nessa época, quase todos os cantores brasileiros costumavam lançar músicas para o carnaval, pois, como então se dizia, eram “da fuzarca”. E mostrando o lado carnavalesco do Rei do Baião, foi escalada a faixa 7 desta nossa edição do GRB, a marcha-tarantela “Festa napolitana”, do compositor Sereno, para a folia de 1946, que a Victor lançou em janeiro desse ano, em gravação de 14 de novembro de 45, disco 80-0374-A, matriz S-078389. Enfim, uma pequena grande amostra que certamente irá agradar aos fãs de Luiz Gonzaga, de seu pai Januário e da boa música nordestina, deixando na boca aquele irresistível gostinho de quero-mais…
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Elvira Pagã – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 59 (2013)

E eis de volta o Grand Record Brazil, para alegria dos amigos cultos, ocultos e associados do TM. Nesta quinquagésima-oitava edição, estamos trazendo de volta, mais uma vez graças ao esforço do amigo e colecionador Beto de Oliveira, parcela substancial da carreira-solo de Elvira Pagã.
Nossa biografada, cujo nome de batismo era Elvira Olivieri Cozzolino, nasceu na cidade paulista de Itararé, divisa de São Paulo com o Paraná, no dia 6 de setembro de 1920. Ainda pequena, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou num colégio de freiras, o Imaculada Conceição. Ainda estudante, organizava com a irmã, Rosina, inúmeras festas onde travariam inúmeras relações com o meio artístico da então Capital da República, sobretudo com os integrantes do Bando da Lua. Ainda na década de 1930, Rosina e Elvira atuaram em um espetáculo de inauguração do Cine Ipanema, ao lado dos Anjos do Inferno. Nessa ocasião receberam, de Heitor Beltrão, o apelido de Irmãs Pagãs (como a dupla ainda não tinha nome, Heitor a considerava “pagã”), que adotariam para o resto da vida.
As Irmãs Pagãs se apresentaram em inúmeras emissoras de rádio, como a Mayrink Veiga, e gravaram juntas um total de treze discos. Por quatro meses, excursionaram pela Argentina, Peru e Chile. Atuaram nos filmes  “Alô, alô, carnaval”(1935), “O bobo do rei”, “Cidade-mulher” (ambos de 1936), “Favela” (1939), “Laranja da China” (1940) e a produção argentina “Trés anclados em Paris” (1938).
A dupla encerrou-se em 1940, com o casamento de Elvira, e ambas passam a seguir carreiras independentes. Elvira Pagã tornou-se uma das maiores estrelas do teatro de revista, disputando com Luz del Fuego (Dora Vivacqua, Cachoeiro de Itapemirim, ES, 1917-Rio de Janeiro, 1967) o papel de destaque entre as mulheres brasileiras mais ousadas de seu tempo: foi a primeira a trajar biquini em Copacabana e, nos anos 1950, posou nua para uma foto, que distribuiu, vejam vocês, como cartão de Natal! Elvira foi também responsável direta por uma das tentativas de suicídio do compositor Assis Valente (ele cortou os pulsos, mas foi salvo), ao cobrar dele uma dívida escandalosa de 4.000 cruzeiros. Sua beleza e sensualidade lhe fizeram a fama (e lhe causaram até mesmo inúmeras prisões), tornado-a uma das “sex symbols” mais cobiçadas da época. Seu fã mais ardoroso era o perigosíssimo bandido Carne Seca, cuja cela na prisão estava abarrotada de fotos de Elvira, com destaque para uma na qual a vedete estava deitada sobre uma pele de onça, e onde se lia a dedicatória: “Para Carne Seca, um consolo de Elvira Pagã”.  Foi a primeira rainha do carnaval carioca – uma inovação nos festejos de Momo, que até hoje se mantém. No cinema, participou dos filmes “Carnaval no fogo” e “Dominó negro”, ambos de 1949, e “Aviso aos navegantes”, de 1950, também fazendo pontas em “Vegas nights” (1948) e “Écharpe de seda” (1950).
A partir dos anos 1970, passou a dedicar-se à pintura, adotando um estilo esotérico, mas não obteve muito destaque nessa atividade. Com a maturidade, Elvira foi se tornando misantropa e temperamental, evitando qualquer tipo de contato pessoal, principalmente com jornalistas e pesquisadores.
Elvira Pagã faleceu no Rio de Janeiro, em 8 de maio de 2003, fato este só divulgado três meses depois pela irmã, Rosina, então residindo nos EUA.
Como cantora-solo, Elvira gravou, em 78 rpm, doze discos com vinte e três músicas, onze delas de sua própria autoria (sendo a primeira delas o samba-jongo “Batuca daqui, batuca de lá”), entre 1944 e 1959. Desta produção, o GRB apresenta 16 preciosíssimos fonogramas. Para começar, as músicas de seu disco de estreia como solista, o Continental 15174, lançado em junho de 1944, apresentado os sambas “Arrastando o pé”, de Peterpan e Afonso Teixeira, matriz 829, e “Samburá”, de Gadé e Walfrido Silva, matriz 830. Em seguida,, os sambas de seu terceiro disco, também na então “marca dos três sininhos”, lançado em junho de 45 sob número 15353: “Na Feira do Cais Dourado”, de Nélson Teixeira e Nélson Trigueiro, matriz 1112, e “Um ranchinho na lua”, de Babi de Oliveira, matriz 1111. Em dezembro de 1949, Elvira lança pela Star, para o carnaval de 50, disco 169, duas composições de Sebastião Gomes e Nélson Teixeira: a “Marcha do ré” e o samba “Sangue e areia”. Ainda de 1950, apresentamos o disco Star 217, com o baião “Vamos pescar”, da própria Elvira mais Valentim, e o baião “Sururu de capote”, de José Cunha e Ramiro Guará, referência a uma iguaria gastronômica muito apreciada em Alagoas, em que o sururu, um molusco, é cozido ainda dentro da concha com leite de coco, tomate, cheiro verde e outros temperos. Depois, retira-se o caldo e serve-se o sururu, tanto como petisco como refeição, acompanhado de muita pimenta, pirão e purê de macaxeira (“Sururu de capote” deu título até mesmo a uma música do alagoano Djavan, por ele gravada em seu primeiro álbum, e à banda que o acompanhava em seus shows).
Para a folia de 1951, Elvira lança sob o selo Carnaval, da Star, disco 038, a marchinha “A rainha da mata”, dela própria com Valentim (referência direta à sua eleição para rainha do carnaval carioca, a primeira de longa dinastia) e o samba “Pau rolou”, de Sátiro de Melo e Manoel Moreira. Ainda em 51, a mesma Star lança, com o número 269, duas composições da própria Elvira: no lado A, o samba ”Cassetete, não!”, sem parceiro, ironizando os maus-tratos por ela sofridos em uma delegacia depois de uma de suas muitas passagens pela polícia, dada sua postura, então considerada imoral e agressiva por muitos. A música fez tanto sucesso que era cantada por travestis, que sofriam (como ainda hoje sofrem) perseguições policiais. Os “travecos”, quando davam as caras com os homens da lei, cantavam a música imitando os trejeitos de Elvira! No verso desse disco, apareceu o baião “Saudade que vive em mim”, parceria dela com Valentim.

Apresentamos depois as músicas do único 78 de Elvira Pagã no selo Ritmos, para o carnaval de 1956, número 20-0060, com duas composições próprias: a marchinha “Marreta o bombo” e o samba “Condenada”. Por fim, as músicas de seu penúltimo disco, o Marajoara MA-10009, para o carnaval de 1959, também da própria Elvira: a marchinha “Papel pintado”, matriz M-17, com parceria de Orlando Gazzaneo, e o samba “Você partiu”. Matriz M-18, que ela fez com Airão Reis e Nélson de Oliveira. Enfim, é com muita alegria que apresentamos esta retrospectiva de Elvira Pagã, e quem tiver as cinco músicas que ainda faltam para completar sua discografia-solo, entre em contato com o amigo Beto pelo email:betodec39@yahoo.com.br, que ele está no aguardo!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Linda Rodrigues 3 1/2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 58 (2013)

Como vocês bem se recordam, os três últimos volumes do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil apresentaram a discografia quase completa em 78 rpm da cantora Linda Rodrigues, fruto de esforçadíssimo trabalho do nosso amigo e colaborador Alberto de Oliveira. Pois bem: para este último volume, reservamos uma surpresa bastante agradável: as cinco gravações de Linda que faltavam! Afinal, quem deve tem que pagar, e só agora é que o Beto conseguiu essas faixas, porém nunca é tarde, não é mesmo? Portanto, é com muita alegria que completamos a coleção de Linda Rodrigues em 78 rpm com estas cinco faixas: “Enxugue as lágrimas”, samba lançado em janeiro de 1945, de Elpídio Viana e Carneiro da Silva, lado A do primeiro disco da cantora, o Continental 15222, matriz 892; “Os dias que lhe dei”, samba-canção de Newton Teixeira e Ayrton Amorim, lado A do disco Star 243, de 1951; “De mão em mão”, samba de Lecinho e Jaú, lançado também pela Star em dezembro de 1951 para o carnaval de 52 (disco 308-B); “Fique em casa”, samba-canção de Raymundo Olavo e Benê Alexandre, lançado em abril de 1954 (disco 16944-A, matriz C-3327); e “Chorar pra quê?”, samba de Aldacir Louro e Silva Jr., gravado na RCA Victor em 9 de outubro de 1957, com lançamento em janeiro de 58 para o carnaval (disco 80-1901-A, matriz 13-H2PB-0265). E, como complemento, apresentamos uma das últimas gravações da cantora: o samba-canção “Maldade”, extraída do primeiro dos dois compactos simples por ela gravados em esquema de produção independente. Aliás, o Beto conseguiu essa faixa graças a uma sugestão que dei a ele: o Beto viu no canal do MC Paulinho, no YouTube, um vídeo com essa gravação, e sugeri a ele que baixasse o vídeo, convertendo o áudio para mp3. Deu certo, como vocês ouvirão. Enfim, serviço completo para nossos amigos cultos, ocultos e associados! Afinal, quem espera sempre alcança… Lembrando que as músicas “Parceiro de Schubert” e “Escrava Isaura”, que revivemos no primeiro volume desta retrospectiva, são de Paulo Marques e Aylce Chaves, sendo que na “Isaura” eles têm Napoleão Alves como parceiro. Até a próxima, pessoal!

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

.

Linda Rodrigues 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 57 (2013)

E chegamos, nesta edição do Grand Record Brazil, a de número 57, à terceira e última parte da retrospectiva por nós dedicada à cantora e compositora Linda Rodrigues. E, de acordo com reportagem publicada pela “Revista do Rádio” em 1963, Linda era mesmo carioca, do bairro da Tijuca. Formou-se em enfermagem pela Escola Ana Nery, atendendo a um pedido de sua mãe, mas jamais exerceu a profissão. Linda se apresentou artisticamente como cantora pela primeira vez em 1935, na Rádio Transmissora carioca, sob a orientação de Renato Murce, atuando com outros futuros astros da MPB e então também amadores como ela: Emilinha Borba, Ciro Monteiro, Orlando Silva e Odete Amaral. Linda atuou dois anos na Rádio Clube do Pará, em Belém, cidade onde também iniciou seus estudos de enfermagem, e ao regressar a seu Rio de Janeiro natal, cantou na Rádio Cruzeiro do Sul. Em 1939, fez sua primeira viagem artística, atuando na Feira de Amostras do Recife (PE), e também passou dois meses na Bahia. Voltando ao Rio, foi contratada pela lendária Rádio Nacional. Também atuou em São Paulo, na PRG-2, Rádio Tupi (então “a mais poderosa emissora paulista”) e em shows, no ano de 1940. De volta a seu Rio natal, foi contratada para cantar nos cassinos da Urca e Icaraí. Em 1943, Linda transfere-se para a PRG-3, Rádio Tupi do Rio (“o cacique do ar”) e troca a Urca pelo Cassino Atlântico. Volta mais tarde ao Icaraí, onde fica até a proibição do jogo no Brasil, em 1946. De 1945 a 1957, com uma interrupção durante um período em que adoecera, Linda atuou na Rádio Mayrink Veiga, para a qual voltou em 1962, desta feita ficando um ano, transferindo-se para a Rádio Mauá, onde encerrou sua trajetória radiofônica.

E é com este volume que encerramos o retrospecto da carreira de Linda Rodrigues em disco, iniciada, como vocês bem se lembram, em 1945. Desta feita, apresentamos 13 preciosas e históricas gravações. Abrindo nossa seleção da semana, as faixas de seu segundo 78 rpm na RCA Victor, n.o 80-1798, gravado em 21 de março de 1957 e lançado em junho seguinte, ambas sambas-canções: “Pianista”, de Irany de Oliveira e Ari Monteiro, matriz 13-H2PB-0067 (curiosamente regravado por Cauby Peixoto em 1989), “Comentário barato”, de autoria do violonista Jayme Florence, o Meira dos regionais, e J. Santos, matriz 13-H2PB-0068. De seu terceiro disco na marca do cachorrinho Nipper, destinado ao carnaval de 1958, n.o 80-1901, apresentamos o lado B, o samba “Quando o sol raiar”, de Mirabeau Pinheiro (também co-autor dos clássicos “Cachaça”, “Jarro da saudade” e “Tem nêgo bebo aí”, entre outras), Sebastião Mota e Urgel de Castro. Gravado em 9 de outubro de 1957 e lançado em janeiro de 58, matriz 13-H2PB-0272, também fez parte do LP coletivo “Carnaval RCA Victor – volume 1” (não esquecendo de que esta era uma época de transição de formatos, do 78 para o vinil, que desbancou de vez a quebradiça bolacha de cera em 1964). A 28 de janeiro de 1958, Linda grava “Sereno no samba”, de Aldacir Louro  e Dora Lopes, matriz 13-J2PB-0345, e, fiel à dor-de-cotovelo que era sua especialidade, um bolero dela mesma em parceria com o mesmo Aldacir, “Nada me falta”, matriz 13-J2PB-0346. Gravações estas que foram para as lojas em abril do mesmo ano com o n.o 80-1935.  Já para o carnaval de 1959, a primeiro de outubro de 58, Linda Rodrigues grava duas composições próprias com parceiros: o samba “Tem areia” (com José Batista), matriz 13-J2PB-0499, e a “Marcha da folia” (com Aldacir Louro e Silva Júnior), matriz 13-J2PB-0500, lançadas um mês antes da folia, em janeiro, com o n.o 80-2025. Em 27 de janeiro de 1959, Linda grava seu último disco na RCA Victor, n.o 80-2054, lançado em abril seguinte. Abrindo-o, um bolero que fez com Aldacir Louro, “Meu romance”, matriz 13-K2PB-0577 (regravado por Francisco Carlos em 1985). No verso, matriz 13-K2PB-0578, o samba-canção “Mesa discreta”, de Elias Cortes. Em seguida, por causa de mudanças na direção artística da RCA Victor, Linda Rodrigues teve rescindido seu contrato com a empresa. Um ano mais tarde, lança seus dois últimos 78 rpm, pela Chantecler: em agosto, sai o disco 78-0297, que abre com o clássico samba-canção “Negue”, de Adelino Moreira em parceria com o radialista Enzo de Almeida Passos (criador dos programas “Telefone pedindo bis” e “A grande parada Brasil”), matriz C8P-593, lançado em janeiro do mesmo ano por Roberto Vidal e inúmeras vezes regravado (em 1978, Maria Bethânia o reviveu com sucesso em seu LP “Álibi”). No verso, matriz C8P-594, um samba-canção da própria Linda mais um certo Castelo: “Tenho moral”. E, em novembro de 1960, sai o disco 78-0357, que abre com o samba-canção “Companheiras da noite”, dela mesma com Aylce Chaves e William Duba, matriz C8P-713, e no verso, matriz C8P-714, apareceu a segunda gravação que fez para o clássico “Lama”, de Paulo Marques e Aylce Chaves. “Companheiras da noite”, por sinal, deu título àquele que, ao que parece, seria seu único LP gravado (Chantecler CMG-2119), editado em 1961, e no qual as três outras faixas que gravou na “marca do galinho madrugador” também apareceram, sendo a regravação de “Lama” a faixa de abertura. Enfim, é com muita satisfação e a alegria do dever cumprido, que encerramos esta retrospectiva que o GRB dedicou a Linda Rodrigues, agradecendo a imprescindível colaboração do amigo Alberto Oliveira. Como percebem vocês, um esforço que valeu a pena, e muito!

Texto de Samuel Machado Filho

Linda Rodrigues 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 56 (2013)

Em sua quinquagésima-sexta edição, o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil apresenta a segunda de três partes que resgatam parcela substancial do legado da cantora Linda Rodrigues, uma personagem tão fascinante quanto misteriosa da história de nossa música popular. Ninguém sabe por que razão pouco ou nada se sabe a respeito desta talentosa cantora-compositora. Mas o GRB aqui está para oferecer tudo o que foi possível reunir das gravações de Linda em 78 rpm, por iniciativa do amigo e colaborador Alberto Oliveira.

Nesta segunda parte de nosso retrospecto, oferecemos vinte preciosos fonogramas de Linda. Abrindo-a, o bolero “Nossos caminhos”, de Ayrton Amorim e Nogueira Xavier, gravado na Continental em 10 de abril de 1952 e lançado em maio-junho seguintes, matriz C-2840, o lado B do disco 16559 (cujo lado A, o clássico “Lama”, encerrou nosso volume anterior). Na sequência, os dois lados do Continental 16742,  lançado em maio-junho de 1953: os sambas-canções, ambos de Paulo Marques, “Fui amigo”(parceria de David Barcelos, matriz C-3065) e “Mesa de bar” (parceria da notável Dora Lopes, matriz C-3066). No Continental 16822, lançado em setembro-outubro de 1953, Linda interpreta o fox “O homem que eu amo”, matriz C-3178, versão de Mayu Atty (quem seria?) para o standard americano “The man I love”, dos irmãos Ira e George Gershwin, publicado em 1927 e desde então muito gravado, e o samba-canção “Flor do lodo”, de Ary Mesquita, matriz C-3179, cuja gravação original saiu em março do mesmo ano, na interpretação da já veterana Aracy Cortes. Em seguida, vêm duas músicas que Linda gravou na Sinter para o carnaval de 1953, e lançadas em janeiro desse ano com o número 00-00.182: o samba “Sombra e água fresca”, de Ruço do Pandeiro e Geraldo Mendonça, matriz S-391, e a marchinha “Bambeio mas não caio”, de seus inseparáveis amigos e parceiros Paulo Marques e Aylce Chaves, mais a vedete Elvira Pagã, que formou dupla de sucesso com a irmã Rosina (eram as famosas Irmãs Pagãs), matriz S-392.  Vem mais carnaval em seguida, agora o de 1954, no Continental 16888, lançado em janeiro desse ano: o samba “Sereno cai”, de Raul Sampaio (cantor e compositor que integrou a terceira formação do Trio de Ouro, ao lado de seu fundador, Herivelto Martins, e de Lourdinha Bittencourt) em parceria com Ricardo Galeno, matriz C-3224, e a marchinha “Tá tão bom”, assinada por um trio chamado Os Três Amigos (quem seriam?), matriz C-3223. Do Continental 16944, lançado em abril de 1954, apresentamos o lado B, o samba-canção “Farrapo de calçada”, matriz C-3328, composição da própria Linda Rodrigues sem parceria, mais tarde regravado pelo cantor Roberto Muller. Em seguida, as duas faixas do Continental 17058, lançado em janeiro de 1955, ambas sambas-canções. Abrindo-o, “Ninguém me compreende”, matriz C-3456, de autoria de Peterpan (José Fernandes de Almeida, Maceió, AL, 1911-Rio de Janeiro, 1983). Autor de clássicos como “Última inspiração”, “Se queres saber” e “Fita meus olhos”, Peterpan era cunhado da cantora Emilinha Borba, que, curiosamente, regravaria “Ninguém me compreende” em 2003, em seu último disco, o CD independente “Emilinha pinta e Borba”. No verso, matriz C-3457, outro hit de Linda Rodrigues, por ela composto em parceria com José Braga, “Vício”, regravado em 1980 por Cármen Costa. Depois temos os dois lados do Continental 17158, gravado em 18 de março de 1955 e lançado em outubro do mesmo ano. Abrindo-o, matriz C-3604, o samba “Olha no espelho”, da dupla Zé e Zilda (José Gonçalves, o Zé da Zilda, havia falecido em outubro de 1954, de AVC). No verso, matriz C-3606, o fox “Aquilo que eu vejo”, de Vicente Paiva e Chianca de Garcia, amigos e colegas desde os tempos do Cassino da Urca. Para o carnaval de 1956, Linda Rodrigues grava na Todamérica, a 18 de outubro de 55, com lançamento ainda em novembro sob número TA-5591, a marchinha “Rico é gente bem”, de Ari Monteiro, A  Rebelo e J. Rupp, matriz TA-889, e o samba ‘Folha de papel”, também de Ari Monteiro em parceria com Paulo Marques e Sávio Barcelos, matriz TA-890. Linda despediu-se de vez da Continental com o disco 17279, editado em abril-maio de 1956. De um lado, um samba-canção dela própria em parceria com Aylce Chaves, “Farrapo humano”, matriz C-3796, certamente inspirado no filme americano de mesmo nome (no original, “The lost weekend”), de 1945, produzido pela Paramount e estrelado por Ray Milland. No verso, matriz C-3797, um samba de Noel Rosa (1910-1937) em parceria com Henrique Brito, seu companheiro no Bando de Tangarás, “Queimei teu retrato”, até então inédito em disco e cujo ano de composição é ignorado. Para finalizar, apresentamos as faixas do disco de estreia da cantora na RCA Victor, número 80-1705, gravado em 13 de setembro de 1956 e lançado em novembro seguinte, visando o carnaval de 57, ambas marchinhas: “A dona da casa”, de Arnô Canegal (Rio de Janeiro, 1915-idem, 1986) e uma certa Dina, matriz BE6VB-1301, e “Barca da Cantareira”, de Arnaldo Ferreira e J. Rupp, matriz BE6VB-1302. A barca do título fazia na época o trajeto do Rio de Janeiro a Niterói, antes da construção da ponte fixa. Das duas faixas, “A dona da casa” foi a única a chegar também ao LP, no álbum coletivo “Carnaval RCA Victor”. Na próxima semana, encerraremos esta nossa retrospectiva dedicada a Linda Rodrigues. Até lá!

*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Cyro Monteiro – 100 Anos – Coletânea Comemorativa Toque Musical (2013)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Ontem, dia 28, eu por descuido, deixei passar em branco a comemoração de centenário de Cyro Monteiro. Se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Como foi dito por alguns, nesta data poucos foram aqueles que lembraram do grande artista. Afinal, Cyro Monteiro não foi apenas mais um cantor de samba. Muito aliás, foi cantor e compositor. Teve uma atuação marcante na música popular brasileira, sendo responsável por inúmeros sambas de sucessos, que se tornaram clássicos.
Para celebrar este centenário, montei aqui agora, meio às pressas, essa coletânea, trazendo doze momentos ainda da fase do bolachão. Cyro Monteiro até merecia mais, uma coletânea de peso, equivalente a um álbum triplo. Mas para que tenhamos em outras oportunidades novas postagens com o artista, vou limitando a seleção, que por certo irá agradar. Vamos conferir?
.

Jacob Do Bandolim – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 51 (2013)

E chegamos à edição número 51 do Grand Record Brazil, apresentando a quarta e última parte desta retrospectiva dedicada a este mestre das cordas que foi Jacob do Bandolim. E neste volume, o acervo do pesquisador Sérgio Terra nos revela 20 gravações que nunca foram lançadas comercialmente, feitas em gravador doméstico durante os antológicos “saraus” que o mestre promovia em sua casa, no bairro carioca de Jacarepaguá, semanalmente. Abrindo esta seleção, a valsa “Quando me lembro”, de outro bandolinista famoso, Luperce Miranda (1904-1977), por ele próprio gravada originalmente em 1932. O choro “Murmurando”, que vem em seguida, não é a famosa composição do maestro Fon-Fon, parece ser um outro choro do próprio Jacob. “O voo da mosca”, também do mestre, é uma réplica ao “Voo do besouro”, de Rinsky e Korsakov, e seria por ele gravada na RCA Victor em 1962, no álbum “Primas e bordões”. “Mariposa da luz” é da pianista e professora de música Neusa França, só gravado comercialmente em 1973, pelo citarista Avena de Castro. Na faixa 6, outro clássico do choro, “Flor do abacate”, de autoria de Álvaro Sandim (1862-1919), surgido em 1913, na fase mecânica de gravação, em registros do Grupo Faceiro e dos Chorosos do Abacate. Jacob do Bandolim o gravou duas vezes pela RCA Victor, em 1949 e 1960. E já que, neste 2013, comemoramos os 150 anos de nascimento do compositor e pianista Ernesto Nazareth (1863-1934), ele comparece nesta seleção de inéditas do mestre Jacob com uma de suas obras mais famosas, a polca-choro “Apanhei-te cavaquinho”, faixa 4, surgida em disco no ano de 1916, na gravação do flautista Passos, e inúmeras vezes regravada, inclusive pelo próprio Nazareth em solo de piano. Temas clássicos também batem ponto nesta seleção: a “Valsa número 7 de Chopin” (temos também a “número 1”) e as “Czardas”, do italiano Vittorio Monti (1868-1922). “Noites cariocas” é outro choro clássico do mestre Jacob, por ele lançado em 1957 e com inúmeras regravações, sendo até hoje peça obrigatória no repertório de qualquer “chorão”. “Receita de samba” e “Vibrações” são outras composições muito apreciadas do mago do bandolim, e foram por ele gravadas na RCA Victor em 1967, no excelente álbum “Vibrações”. Um certo doutor Formiga (quem seria?) recita um “Poema para Jacob”, por ele feito em justa homenagem ao mestre. Chico Buarque comparece aqui com “Carolina”, composição surgida em 1967 no Terceiro Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, defendida por Cynara e Cybele, recém-saídas do Quarteto em Cy. Jacob muito admirava Chico, e previu, acertadamente, que ele “atravessaria os anos”. O mestre também apresenta sua valsa “Santa Morena”, cuja gravação comercial, de 1954, está no volume 3 de nosso retrospecto. A clássica valsa “Velho realejo”, de Custódio Mesquita e Sadi Cabral, é outro clássico de nosso cancioneiro, e foi lançada em 1940 na voz de Sílvio Caldas, sendo várias vezes regravada. Outro clássico é “Três estrelinhas”, de autoria de Anacleto de Medeiros (1866-1907), músico, compositor, fundador e regente da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Recebeu depois letra de Catulo da Paixão Cearense, sendo rebatizada como “O que tu és”. Antônio d’Áuria (1912-1988) aparece como uma espécie de convidado especial, nas faixas “Poesia e amor”, de Mário Álvares Conceição, só gravada comercialmente em 1976 por outro bandolinista, Déo Rian, e “Helena”, valsa de Albertino Pimentel, surgida ainda no tempo da gravação mecânica, em 1909, em execução da já mencionada Banda do Corpo de Bombeiros carioca. Encerrando esta seleção tempos “Marilene”, choro de Pixinguinha e Benedito Lacerda, por eles próprios lançado em 1950, com o mestre Pizindim ao saxofone e Benedito à flauta (na verdade a música é só de Pixinguinha, e Benedito entrou como parceiro por acordo comercial entre ambos). Enfim, um tesouro raro, de notável importância histórica, que o GRB oferece a tantos quantos apreciem a boa música instrumental brasileira. As 122 fitas cassetes gravadas por Jacob do Bandolim durante seus “saraus” foram doadas ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, e aqui apresentamos uma preciosíssima amostra deste trabalho. Bom divertimento!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

Jacob Do Bandolim 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol 50 (2013)

É com muita alegria que estamos de volta com o Grand Record Brazil, a divisão de 78 rpm do TM, para alegria de nossos amigos cultos, ocultos e associados. E nesta quinquagésima edição, apresentamos a terceira parte desta retrospectiva de gravações do genialíssimo Jacob do Bandolim, este que sem nenhuma dúvida foi um autêntico mestre das cordas. Todas as gravações, evidentemente, são da RCA Victor, feitas entre 1953 e 1955, do acervo do colecionador Sérgio Prata, a quem novamente agradecemos a cortesia. Em ordem de lançamento, são estas as 13 joias que lhes apresentamos: para começar, o lado B do disco 80-1163 (faixa 11 de nossa sequência), o choro “Pardal embriagado”, de Patrocínio Gomes, gravação de 14 de maio de 1953, lançada em julho seguinte, matriz BE3VB-0122. Em seguida, o disco 80-1214, gravado em 13 de agosto de 1953 e lançado em outubro seguinte: abrindo-o, matriz BE3VB-0235, o baião “Brotinho”, faixa 12 de nossa sequência, composto por nada mais nada menos que seu filho Sérgio Bittencourt, que seria também cantor e compositor (autor de clássicos como “Eu quero”, “Canção a medo”, “Modinha” e, naturalmente, “Naquela mesa”, em homenagem póstuma a seu pai), além de colunista de jornais e revistas. Jacob o executa ao vibraplex (instrumento que ele mesmo criou, um violão-tenor ligado a um órgão Hammond, que tinha som parecido com os dos atuais sintetizadores), e esta foi a primeira composição gravada do filho Sérgio. No verso, matriz BE3VB-0236, uma primorosíssima execução de Jacob para a clássica valsa “Rapaziada do Brás”, de Alberto Marino (faixa 13 de nossa sequência), que homenageia o bairro de São Paulo de mesmo nome, cuja população era basicamente de imigrantes italianos e seus descendentes. Surgida em 1926, na gravação dos irmãos saxofonistas Jota e O.Pizarro (quem seriam?), esta valsa teve maior repercussão a partir de 1932, nos registros dos Sextetos Piratininga e Bertorino Alma (anagrama do autor, Alberto Marino), e em 1960 ganhou letra do filho do autor, Alberto Marino Jr., gravada com êxito por Carlos Galhardo. Temos depois o frevo “Sai do caminho”, do próprio Jacob, disco 80-1226-B, gravado em 10 de setembro de 1953 e lançado em novembro seguinte para a folia de 54, matriz BE3VB-0254 (faixa 8 de nossa sequência), no qual ele mostra a admiração que tinha pelo carnaval do Recife, embora não-folião. A mazurca “Vidinha boa”, do próprio executante, faixa 9 desta seleção, foi gravada em 15 de fevereiro de 1954, com lançamento em abril seguinte sob número 80-1269-B, matriz BE4VB-0346. O samba-canção “Santa morena”, também de Jacob, e faixa 10 de nossa sequência, foi gravado pelo mestre em 13 de abril de 1954, com lançamento em julho seguinte sob número 80-1295-A, matriz BE4VB-0411. No verso, matriz BE4VB-0412, outra primorosa execução ao vibraplex, a do samba-canção “Saudade”, composição própria do mestre e faixa 5 de nossa sequência. As faixas 6 e 7 são do disco seguinte, o RCA Victor 80-1344, gravado em 12 de julho de 1954 e lançado em setembro seguinte com dois choros do nosso próprio mestre: abrindo-o, matriz BE4VB-0503, “Bola preta”, e, completando-o, matriz BE4VB-0504, “Saliente”, ambos bastante conhecidos e apreciados. Do disco 80-1390, gravado em 14 de setembro de 1954 e lançado em dezembro seguinte, apresentamos as duas faixas, que novamente demonstram o apreço de Jacob pelo carnaval recifense, sendo evidentemente frevos: abrindo-o, “Toca pro pau”, matriz BE4VB-0577 (faixa 4 de nossa seleção) e, completando-o, matriz BE4VB-0578, “Rua da Imperatriz” (faixa 3), visando, claro, a folia pernambucana de 1955. Em seguida, primeira faixa da nossa sequência, o samba “Meu segredo”, gravação de 13 de janeiro de 1955 lançada em março seguinte (80-1418-B, matriz BE5VB-0642). E encerrando cronologicamente nossa seleção, sendo na sequência a faixa 2, outro primoroso choro do próprio executante, “Benzinho”, gravação de 14 de março de 1955, matriz BE5VB-0699, lançada em maio do mesmo ano sob número 80-1434-A. Enfim, mais uma bela amostra do talento e da maestria deste mágico das cordas que foi Jacob do Bandolim! Gostaria inclusive de dedicar esta nossa retrospectiva ao Daniel Soares, o SenhorDaVoz, meu colega de YouTube, grande admirador de Jacob do Bandolim e do choro, cujo canal lá no YT pode ser visitado. Lá você vai encontrar vídeos com hits da MPB de várias épocas, inclusive diversos registros do grande Jacob do Bandolim, de quem continuaremos este retrospecto. Até lá!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Top 19 – O Melhor Da Música Feita Em Minas Em 2012 (2013)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Olha sexta-feria chegando aí… E foi agora que eu me lembrei que tradicionalmente na sexta é que fazemos as postagens de discos/artistas independentes e coletâneas especiais do Toque Musical. Assim sendo, vou logo postando aqui esta coletânea criada no final do ano passado pelo meu amigo Edu Pampani. Na verdade é a segunda edição, pois no ano passado também tivemos outro “Top 19“, com os melhores da música independente mineira de 2011. Desta vez vamos com aquilo que, segundo o Pampani, foi o melhor da música feita em Minas em 2012. Eu, cá, só tenho a endossar 🙂

macaxeira fields – alexandre andrés
rap’ente – bilora
estação 104 – chico amaral
felicidade certa – dudu nicácio
burian – frederico heliodoro
estrela cadente – gabriel guedes
let me do it – gabriela pepino
juriti – gustavito
aurora – luiza brina
mar deserto – paula santoro
qualquer palavra – quarteto cobra coral
baião do caminhar – rafael martini
carne boa – roberta campos
vida no interior – rubinho do vale
de volta a delegacia – thiago delegado
rui macacada – tiãoduá
burn fya – uai sound system
cúria – urucum na cara
zé da guiomar – retrato da bahia

Jacob Do Bandolim 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musucal – Vol. 49 (2013)

Em sua quadragésima nona edição, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva dedicada a este genial instrumentista que foi Jacob Pick Bittencourt, o notável Jacob do Bandolim (1918-1969). Aqui apresentamos mais doze preciosas gravações, do acervo do pesquisador Sérgio Prata, que por certo farão a alegria e o deleite de todos aqueles que apreciam a boa música instrumental brasileira. Como já informado anteriormente, é na RCA Victor, a partir de 1949, que Jacob irá registrar toda a sua discografia em 78 rpm e quase toda em LPs (nesse formato, gravou na CBS o álbum “Retratos”, em 1964).
Evidentemente, as doze faixas desta segunda parte são registros RCA Victor. Para começar, um choro de outro mestre, Pixinguinha, “Teu aniversário”, originalmente intitulado “Recordando” e com gravação original pelo próprio Pizindim com sua flauta, em 1935. Jacob o regravou com o novo título em 30 de junho de 1950, com lançamento em setembro seguinte sob n.o 80-0688-B, matriz S-092700 (o lado A é “Mexidinha”, que está em nosso volume 1 deste retrospecto). Temos depois um choro do próprio mestre, “Por que sonhar?”, gravado em 16 de março de 1953 e lançado em maio seguinte, com o n.o 80-1122-B, matriz BE3VB-0050. No lado A, matriz BE3VB-0049, mais um choraço dele mesmo, “Tatibitate”. E é como compositor que Jacob comparece na maior parte das faixas deste volume 2. Caso do choro “Biruta”, gravado em 19 de junho de 1952 e lançado em outubro seguinte, disco 80-0987-B, matriz SB-093331, do qual também apresentamos a faixa de abertura, o coco “Forró de gala”, matriz SB-093300, dele mesmo, claro. Do compositor e instrumentista carioca Mário Álvares da Conceição, também conhecido como Mário Cavaquinho (1861?-1906?), Jacob resgata o choro ‘Teu beijo”, gravação de 11 de setembro de 1950, lançada em novembro seguinte com o n.o 80-0711-B, matriz S-092750 (ao que parece o registro original). Temos em seguida outra bela e conhecida obra-prima do choro, concebida pelo próprio Jacob: “Doce de coco”, em antológica gravação de 18 de dezembro de 1950, lançada em março de 51 (80-0745-B, matriz S-092813), sendo até hoje número obrigatório em qualquer roda de choro. Depois iremos travar contato com a primeira gravação que Jacob fez do choro clássico “Lamento”, de Pixinguinha (que depois teve o título mudado para o plural, “Lamentos”), originalmente lançado em 1928 pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Jacob o registrou pela primeira vez em 14 de março de 1951 com lançamento em junho seguinte (80-0767-A, matriz S-092905), e voltaria a gravá-lo primorosamente, em 1967, para o álbum “Vibrações”. Na faixa 10 está o verso desse disco, a polca “Siri tá no pau”, matriz S-092906, de autoria de Miguel de Vasconcellos, originalmente lançada em 1914 pelo grupo O Passos no Choro e também bastante conhecida. Na faixa 9, Jacob executa à violinha (!) outro belo choro seu, “Nostalgia”, gravação de 23 de julho de 1951, lançada em outubro seguinte sob n.o 80-0813-B, matriz S-092986. “Eu e você” é outro choro do próprio mestre, gravado em 5 de maio de 1952 e lançado em julho seguinte (80-0931-B, matriz S-093263). Para encerrar esta segunda parte, temos “Choro de varanda”, no caso, certamente, a varanda da casa de Jacob, em Jacarepaguá, que é o lado A de “Teu beijo”, de Mário Cavaquinho, matriz S-092749 (claro que essa outra música é do Jacob mesmo). Enfim, mais uma amostra da magia, do talento e da maestria do eterno Jacob do Bandolim. E vem muito mais por aí, esperamos…

*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO.

Tarancón – Ao Vivo No Villaggio Café 2009 (2013)

Olá amigos cultos e ocultos! Carnaval acabou, vamos retornando à realidade, trocando as máscaras e fantasias. 2013 nos espera. Ainda há muito o que rolar por aí, inclusive os discos do Toque Musical. Este é o primeiro post do ano para as nossas produções exclusiva. Vamos com um registro de show do grupo Tarancón realizado em 2009 no bar Villaggio Café, em São Paulo. Esta gravação me foi enviada pelo amigo Daniel Vergueiro há mais de uns três anos. Não fosse eu buscar em meus arquivos os discos do Tarancón para reposição de novos links, nem lembraria desta gravação. Daniel, demorou, mas chegou! Com direito a capa e contracapa 😉

 

Jacob Do Bandolim 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 48 (2012)

Em sua edição de número 49, o Grand Record Brazil inicia uma retrospectiva dedicada àquele que, certamente, foi um dos maiores bandolinistas brasileiros, senão o maior: o carioca Jacob Pick Bittencourt, que ganhou a imortalidade como Jacob do Bandolim.

Nascido no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1918, de pai capixaba e mãe polonesa, Jacob estudou no Colégio Anglo-Americano e serviu no CPOR. Quando já “arranhava” o bandolim, trabalhou no arquivo do Ministério da Guerra, e depois fez carreira como serventuário da Justiça do Rio, onde chegou até mesmo a ser escrivão de vara criminal. Sua casa no bairro de Jacarepaguá, avarandada e com jardim, era palco de memoráveis rodas de choro (os “saraus”), e nelas Jacob recebia seus grandes amigos chorões. Entre seus ídolos estavam Almirante, Noel Rosa, o pianista Nonô, Luiz Vieira, Pixinguinha e Ernesto Nazareth. Mesmo não sendo lá grande entusiasta do carnaval, gostava bastante de frevo. Foi “guru” de Sérgio Cabral (pesquisador e produtor musical, pai do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho), Hermíno Bello de Carvalho e Ricardo Carvo Albim. Autor de clássicos do choro (“Vale tudo”, “Noites cariocas”, “Assanhado”, “Doce de coco” e muitos mais), Jacob formou, nos anos 1960, o conjunto Época de Ouro, que mesmo após sua morte, em 13 de agosto de 1969, permaneceu na ativa, e existe até hoje. Seu último espetáculo público aconteceu em 1968, no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro, onde se apresentou ao lado de Elizeth Cardoso e do Zimbo Trio, além, é claro, do Época de Ouro. Teve dois filhos: Sérgio Bittencourt (jornalista e também compositor, sendo inclusive autor do clássico “Naquela mesa”, em homenagem ao pai) e Elena Bittencourt, que tornou-se depois presidente do Instituto Jacob do Bandolim.

As gravações de Jacob do Bandolim que compõem esta retrospectiva são do acervo do pesquisador Sérgio Prata, e abrangem o período de 1947 a 1959. Nesta primeira parte, composta de doze fonogramas, apresentamos as músicas de seus quatro primeiros discos, gravados na Continental. Jacob estreou com o 78 de número 15825, gravado em 9 de julho de 1947 e lançado entre agosto e outubro desse ano. Abrindo-o, matriz 1693, um choro dele mesmo, “Treme-treme” (a faixa 11 da nossa sequência), e no verso, matriz 1686, a bela valsa “Glória”, de Bomfiglio de Oliveira (faixa 12), lançada originalmente em 1931 por Gastão Formenti, com letra de Branca Coelho. O segundo disco de Jacob levou o número 15872, sendo lançado em março de 1948. No lado A, gravado em 23 de junho de 47, matriz 1687, a bela valsa, dele próprio, “Salões imperiais” (que abre a sequência). No lado B, gravado em 9 de julho de 47, matriz 1694, outra composição do trompetista Bomfiglio de Oliveira, o conhecido choro “Flamengo” (a faixa 2), originalmente gravado pelo autor em 1931, sendo este registro de Jacob também muitíssimo apreciado. Curioso é que, nessas quatro primeiras gravações, Jacob é acompanhado pelo conjunto do violonista César de Faria, pai do grande Paulinho da Viola. Em seguida, do terceiro disco, número 15957, gravado em 18 de setembro de 1948 e lançado entre outubro e dezembro seguintes, outras duas composições do próprio Jacob: o choro “Remelexo” (faixa 4), matriz 1943, e a valsa “Feia” (faixa 3), matriz 1944 (vocês vão perceber que a música não faz nenhuma jus ao título, sendo de fato primorosa). Do quarto e último disco de Jacob na Continental, número 16011, lançado em março-abril de 1949, o choro “Cabuloso”, de sua autoria (faixa 5), matriz 1942, e a conhecida “Flor amorosa”, matriz 1945, de Joaquim Antônio da Silva Callado, originalmente polca e aqui choro, cujos primeiros registros, no início do século passado (fase mecânica de gravação) foram apenas instrumentais, apesar de Catulo da Paixão Cearense ter lhe posto versos em 1880, mesmo ano da morte de Callado.

As outras quatro faixas foram gravadas por Jacob do Bandolim já na RCA Victor, onde o mestre passa a registrar praticamente toda a sua discografia. Sua primeira sessão de estúdio na “marca do cachorrinho” dá-se em 12 de maio de 1949, com o disco 80-0602, lançado em julho daquele ano, e do qual apresentamos a faixa de abertura: o famoso tango “O despertar da montanha”, de Eduardo Souto, matriz S-078881. Temos depois “Sorrir dormindo”, ou “Por que sorris”, valsa de Juca Kalut lançada ainda nos tempos do disco mecânico, levada a disco por Jacob em 9 de janeiro de 1950 com lançamento em junho do mesmo ano (80-0653-B, matriz S-092605), uma valsa do próprio Jacob, “Encantamento”, por ele gravada na mesma sessão e lançada em julho de 1950 (80-0667-B, matriz S-092607), e uma deliciosa polca também de autoria do próprio mestre Jacob, “Mexidinha”, gravação de 30 d ejunho de 1950 e lançada em setembro seguinte com o número 80-0688-A, matriz S-092699. Está muito bom para começar, não é mesmo? Então aguardem que vem mais por aí, tá combinado? Então até lá…

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

Pedro Sorongo – Sorongando – Uma Coletânea Toque Musical (2012)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje eu atrasei, mas não vacilei. Ainda no último momento do dia, aqui estou trazendo sempre uma boa surpresa. Passei duas horas preparando esta coletânea especial e exclusiva em homenagem ao grande músico, o compositor e percussionista Pedro Santos, ou mais conhecido como Pedro ‘Sorongo’.

Ao ler uma mensagem postada hoje no blog pela Lys Araújo, filha de Pedro, acabei me empolgando e passando a tarde toda ouvindo diversos discos onde o artista deu lá a sua contribuição. Discos de diversos e diferentes artistas e também trabalhos seus. Não foi fácil selecionar apenas 35 gravações. Aliás, difícil foi reduzir a apenas esse número. O cara gravou muito e com muita gente. Separei aqui o que me pareceu mais interessante. Gosto pessoal, mas com toda certeza irá agradar a muita gente. Como são muitas músicas, podemos considerar este ‘webdisco’ um álbum duplo, ou triplo se fosse o caso de ser vinil. Para embrulhar o presente, fiz também a capa e contracapa. Como todos sabem, gosto de serviço completo. O bom de coletâneas como essa é que ela só seria possível nessas circunstâncias. Comercialmente isso nunca iria acontecer. Então, não percam tempo, vamos a mais “Uma Coletânea Toque Musical”. São tantas as músicas que eu fiquei com preguiça de lista-las como de costume. Mas vocês poderão checar na contracapa, ok? Vamos lá…

 

Nilo Sérgio, Dick Farney, Lúcio Alves, Tito Madi, Bill Farr, Johnny Alf – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 43 (2012)

E chegamos à quadragésima-terceira edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Esta semana, apresentamos gravações de alguns intérpretes considerados precursores da bossa nova, e feitas antes da eclosão oficial do movimento, em 1958, com o LP “Canção do amor demais”, de Elizeth Cardoso, e o 78 rpm “Chega de saudade”/”Bim bom”, com João Gilberto.
Começamos com Nilo Sérgio, pseudônimo de Nilo Santos Pinto. Também compositor, arranjador e maestro, iniciou sua carreira nos áureos tempos da lendária Rádio Nacional, e gravou seus primeiros discos em 1943/44, com músicas americanas. Após gravar na RCA Victor, onde se iniciou, na Continental e na Todamérica, fundou, em 1953, sua própria gravadora: a Musidisc, por sinal uma das pioneiras do LP no Brasil. Embora pequena, a gravadora tornou-se notável no período em que atuou, e por lá passaram nomes do quilate de Ed Lincoln, Orlandivo, Eliana Pittman e o também maestro Léo Peracchi. Teve também o selo Nilser (iniciais de seu nome artístico). A Musidisc notabilizou-se por álbuns temáticos tipo “Música para adormecer”, “Datas felizes”, etc., e lançou orquestras ditas “grandiosas”, como Violinos Mágicos e Românticos de Cuba (ambas, na verdade, eram a Tabajara de Severino Araújo), esta última a de maior êxito, que executava versões aboleradas de hits nacionais e internacionais, até mesmo de Roberto Carlos. Este último álbum, de 1979, foi a última produção de Nilo, que faleceria dois anos mais tarde. Para esta seleção, o GRB escalou seu primeiríssimo disco interpretado em português, o Continental 16085, lançado entre julho e setembro de 1949. No lado A, matriz 2122, a “Canção de aniversário” (“Hoje é o dia do teu aniversário, parabéns, parabéns”…), de José Maria de Abreu e Alberto Ribeiro. No verso, matriz 2123, o samba (que na verdade é samba-canção) “Falta-me alguém”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz. No acompanhamento, a mesma Tabajara de Severino Araújo que se converteria na Violinos Mágicos (também conhecida como “Orquestra Romântica de Severino Araújo”) e na Românticos de Cuba, anos mais tarde.
Farnésio Dutra e Silva, aliás Dick Farney (Rio de Janeiro, 1921-São Paulo, 1987) é outro que também começou em disco interpretando músicas americanas, tendo inclusive feito longas temporadas nos EUA. Foi o primeiro, inclusive, a gravar um clássico da música popular americana, o fox ‘Tenderly”. E o disco escalado para esta edição do GRB, também da Continental, é o primeiro no qual interpretou música brasileira, com o número 15663, gravado em 2 de junho de 1946 e lançado em agosto do mesmo ano, com dois sambas. A faixa de abertura, matriz 1509, é o clássico “Copacabana”, de João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro, e justamente a que chamou mais atenção, principalmente pela maneira de interpretar, calcada em cantores americanos como Bing Crosby (inevitavelmente criticada por conservadores da época), e pelo acompanhamento de orquestra de cordas, no caso a de Eduardo Carmelo Patané (São Paulo, 1906-idem, 1969), que passaram, desde então, a constituir modelo de sofisticação para a MPB. O verso, matriz 1508, é “Barqueiro do São Francisco”, também de Alberto Ribeiro, agora em parceria com Alcyr Pires Vermelho, que também teve repercussão, ainda que um pouquinho menor que a de “Copacabana”. Ambas as músicas seriam regravadas por Dick Farney inúmeras vezes ao longo de sua carreira, assim como outras expressivas páginas de seu repertório: “Marina”, “Alguém como tu”, “Somos dois”, “Ponto final” etc.
Lúcio Ciribelli Alves (Cataguazes, MG, 1927-Rio de Janeiro, 1993), de longa e vitoriosa carreira como intérprete, começou a tocar seu violão na mais tenra idade, estimulado pelo pai, maestro da banda de música de sua cidade natal, mudando-se com a família para o Rio de Janeiro quando tinha sete anos. Foi ironicamente apelidado pelo compositor e humorista Silvino Neto de “cantor das multidinhas” (em comparação a Orlando Silva, “o cantor das multidões”). Aos 14 anos, fundou o conjunto Namorados da Lua, do qual era cantor, violonista e arranjador, que fez grande sucesso e desfez-se em 1947 (já sem Lúcio Alves, passaria a chamar-se Os Namorados). Como compositor, seu maior hit foi o samba “De conversa em conversa”, em parceria com Haroldo Barbosa, que gravou junto com os Namorados da Lua mais Isaura Garcia. Outras páginas expressivas de seu repertório são “Nunca mais” (Dorival Caymmi), “Reverso” (Gilberto Milfont e Marino Pinto), “Valsa de uma cidade” (Ismael Neto e Antônio Maria), “Tereza da praia” (dueto com Dick Farney, de Tom Jobim e Billy Blanco), etc. De Lúcio, eis aqui o disco Continental 16730, gravado em 25 de fevereiro de 1953 e lançado em maio-junho do mesmo ano. Abrindo-o, matriz C-3056, o beguine “Cedo para amar”, dos compositores americanos Sidney Lippman e Sylvia Dee, em versão de Bruno Gomes, no original intitulado ‘Too young”e sucesso dois anos antes com Nat King Cole. Esta mesma versão teve outro registro em seguida, com Dóris Monteiro, na Todamérica. Bruno também assina, em parceria com Fernando Lobo, a música do lado B, matriz C-3057, o samba “Procurando meu bem”. Ambas as faixas com acompanhamento dirigido pelo notável maestro gaúcho Radamés Gnattali, com o pseudônimo de Vero.
Radamés também acompanha Chaiki Madi, aliás Tito Madi, paulista de Pirajuí (n.1929), em outro disco Continental, o de número 17416, gravado em 4 de setembro de 1956, porém só lançado em março-abril de 57, apresentando dois clássicos do repertório de Tito. No lado A, matriz C-3917, a valsa “Chove lá fora”, que mereceria inúmeras outras gravações, inclusive do próprio compositor, tendo até uma versão em inglês com os Platters, “It’s raining outside”. No verso, matriz C-3916, o samba-canção, com tendência mais para toada, “Gauchinha bem querer”, composto por Tito quando participou de festejos promovidos pela Rádio Farroupilha de Porto Alegre. Tito Madi teve inúmeros outros sucessos como compositor e intérprete, destacando-se “Não diga não” (dele com Georges Henry), “Sonho e saudade”, “Carinho e amor”, “Balanço Zona Sul” e “Menina moça” (esta última de Luiz Antônio).
Em seguida temos Bill Farr, pseudônimo de Antônio Medeiros Francisco (Sapucaia, RJ, 1925-Rio de Janeiro, 2010). Passou a infância em Petrópolis, e organizou um grupo vocal quando ainda estudava no Colégio Werneck, ingressando na carreira artística ao terminar o curso científico. Começou como vocalista no Hotel Quitandinha, e depois passou a atuar na Rádio Nacional carioca, por intermédio de César de Alencar. Gravou seu primeiro disco na Sinter, em 1952, com o samba-canção “Abraça-me”, de Luiz Bittencourt, e o bolero “Depois do amor”, de José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago. Nos anos 1960, deixou a carreira de cantor, mudando-se para Madri, capital da Espanha, onde trabalhou em um escritório de comércio exterior. De Bill Farr apresentamos o disco Continental 16941, lançado em abril de 1954. No lado A, matriz C-3334, aquele que foi certamente o maior sucesso de sua carreira: o fox “Oh!”, de Byron Gay e Arnold Johnson, em versão de Haroldo Barbosa. No verso, matriz C-3335, um samba-canção do então estreante Billy Blanco, “Maria Tereza”.
E para encerrar com chave de ouro, apresentamos Johnny Alf, pseudônimo de Alfredo José da Silva (Rio de Janeiro, 1929-Santo André, SP, 2010). Cantor, compositor, pianista, autor de inúmeras músicas de sucesso (quem não se lembra, por exemplo, de “O que é amar” e “Eu e a brisa”?), gravou seu primeiro disco, apenas instrumental, em 1953, na Sinter, exectando ao piano com seu trio o samba-canção “De cigarro em cigarro” (Luiz Bonfá) e o choro “Falseta”, dele mesmo. De Alf apresentamos o disco Copacabana 5568, de 1956, com duas composições próprias. Abrindo-o, a matriz M-1392 traz o samba “Rapaz de bem”, autêntico precursor da bossa nova, não só pela maneira de Alf interpretá-lo, como também pela letra, que traduzia bem o modo de vida da juventude da Zona Sul do Rio de Janeiro. A música daria título, em 1961, ao primeiro LP do compositor, lançado pela RCA Victor. No verso desse 78 da Copacabana, matriz M-1391, o samba-canção “O tempo e o vento”, que aproveita apenas o título da famosa trilogia de romances do escritor gaúcho Érico Veríssimo, na época com dois volumes já publicados (“O continente”, de 1949, e “O retrato”, de 1951, sendo o terceiro e último, “O arquipélago”, de 1961). Um fecho realmente de ouro para esta edição do GRB, focalizando intérpretes precursores da bossa nova, inovadores para a época em que surgiram. Bom divertimento!

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Hebe Camargo – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 37 (2012)

No último sábado, 29 de setembro de 2012, fomos dolorosamente surpreendidos por mais uma perda em nosso meio artístico: a de Hebe Maria Camargo, de parada cardíaca enquanto dormia em sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo. Hebe vinha lutando contra um câncer no peritônio, uma membrana que cobre as paredes abdominais, diagnosticado em 2010. Chegou a curar-se, mas nos últimos tempos o câncer voltou a se manifestar, deixando-a debilitada. Chegou até a assinar um novo contrato com o SBT, onde trabalhou por 25 anos (havia deixado a Rede TV!, onde antes estava, por problemas de salário atrasado), mas o desfecho foi o esperado. E o resultado foi o que todos viram e/ou ouviram: uma comoção geral em todo o país. Afinal, Hebe era como a tia querida, como alguém da família, que transbordava alegria e descontração em seus programas, recebendo entrevistados de diversas atividades em seu sofá (sem esquecer, claro, do selinho), e, quando necessário, demonstrando sua indignação com a situação político-econômica do país. Das grandes emissoras de TV brasileiras, Hebe só não trabalhou na Globo, mas mesmo assim participou de programas da mesma como convidada e homenageada.
Porém, o que poucos sabem é que Hebe começou sua vida artística como cantora. Nascida na cida paulista de Taubaté, em 8 de março de 1929, teve origem pobre, e chegou a trabalhar como arrumadeira aos 12 anos de idade. Em 1943, com os pais e seus seis (!) irmãos, mudou-se para São Paulo. Lá, antes dos 15 anos, começou como cantora, interpretando músicas brejeiras, inclusive chorinhos, na PRG-2, Rádio Tupi, onde assinou seu primeiro contrato profissional. Em 1944. Inspirada nas americanas Andrews Sisters, formou com sua irmã Stela e as primas Helena e Maria o Quarteto Dó-Ré-Mi-Fá (o ré era a Hebe). Quando uma das primas casou, o grupo passou a se chamar As Três Américas. Por fim, com sua irmã, Hebe formou a dupla caipira Rosalina e Florisbela, alcançando sucesso no programa “Arraial da curva torta”, apresentado pelo Capitão Furtado na Rádio Difusora, coligada da Tupi. Mais tarde, por sugestão do diretor das Emissoras Associadas, Gilberto Martins, Hebe optou pela carreira-solo, ganhando o título de “moreninha do samba” (ela só tingiria os cabelos de loiro pela primeira vez em 1957). Gravou seu primeiro disco na Odeon, em 1950, interpretando os sambas “Oh! José” (Esmeraldino Sales e Ribeiro Filho) e “Quem foi que disse?” (Gabriel Aguiar e Valadares do Lago). Em 78 rpm, foram 32 discos com 64 fonogramas, nesse selo e também na RGE e na Polydor. Hebe também lançou seis compactos (quatro duplos e dois simples), e sete LPs, em sua primeira fase como cantora, o último deles em 1967, abandonando o disco em função de seu trabalho na TV. Mas, no final dos anos 1990, Hebe voltaria a gravar, lançando três CDs: “Pra você” (1998), “Como é grande o meu amor por vocês” (2001) e “Mulher” (2010), tendo também participado do CD/DVD “Elas cantam Roberto Carlos”.
Em sua trigésima-sétima edição, o Grand Record Brazil homenageia a querida e agora pranteada Hebe Camargo, apresentando treze gravações por ela realizadas, assim permitindo que se conheça mais a fundo seu trabalho como cantora, ainda hoje pouco conhecido e divulgado. Começamos nossa seleção com o samba “Você quer voltar”, para o carnaval de 1952, de Francisco Alves, Oswaldo Monello e José Roy, gravado na Odeon ainda em 51, no dia 10 de setembro, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 13223-A, matriz 9110. Na faixa seguinte, a marchinha “Sem tambor e sem corneta”, de Dênis Brean e Oswaldo Guilherme, para a folia de 1951, gravada em 18 de novembro de 1950 e lançada também um mês antes daquela folia, em janeiro, com o n.o 13091-A, matriz 8857. Em seguida saltamos para o carnaval de 1955, apresentando o samba “Madalena”, de Oswaldo França e Blecaute (o “general da banda”), gravado em 7 de outubro de 54 e lançado ainda em dezembro, com o n.o 13747-B, matriz 10328. Recuamos depois para a folia momesca de 1954, com outro samba, “Eu não sou Deus”, de José Roy e Fernando Lobo, gravação de 2 de dezembro de 53 lançada um mês antes do carnaval, janeiro é claro, com o n.o 13596-B, matriz 9990. Em seguida, a marchinha “Eu vou de touca”, de Dênis Brean em parceria com outro grande nome do rádio e da TV brasileiros, Blota Júnior, da folia de 1952, que corresponde ao lado B de “Você quer voltar”, matriz 9111. O samba “Cansada de sofrer”, de José Roy e Doca, é o lado A de “Madalena”, matriz 10327. Da Odeon passamos depois para a RGE, apresentando o rock “Serafim”, versão de Clímaco César para “Oh! Josephine”, de Heinz Gietz e Kurt Feltz, lançado em novembro de 1958 com o número 10130-A, matriz RGO-791, e também integrando o compacto duplo “Hebe canta e encanta”. Voltando à Odeon, a clássica marcha natalina “Boas festas (Papai Noel)”, de Assis Valente, originalmente lançada por Carlos Galhardo em 1933, e que Hebe canta aqui junto com Os 4 Amigos. O registro data de 3 de setembro de 1953, lançado em dezembro seguinte com o n.o 13548-A, matriz 9871. Em seguida o samba “Testemunha”, de J. Piedade e Alfredo Godinho, gravado em 28 de maio de 1952 e lançado em julho seguinte com o n.o 13289-B, matriz 9318. Temos depois uma releitura de Hebe para o clássico samba “Não me diga adeus”, de Paquito, Luiz Soberano e João Corrêa da Silva, originalmente lançado para o carnaval de 1948 na voz de Aracy de Almeida. A gravação de Hebe saiu originalmente pela Odeon em um LP coletivo de 10 polegadas, “Carnaval de sempre – Sambas e marchas”, em 1955. Em seguida, mais samba: “Tintim por tintim”, de Portinho e Wilson Falcão, gravação de 17 de julho de 1956 que a Odeon só lançou em abril de 57 com o n.o 14192-B, matriz 11253, incluída também no LP de dez polegadas “Festa de ritmos”. Outra faixa que só saiu em LP, a exemplo de “Não me diga adeus”, é a do samba “Mundo mau”, de Sidney Morais e Júlio Rosemberg, que encerra o álbum “Sou eu”, de 1960. E o encerramento, aqui, fica por conta da polca-dobrado “São Paulo quatrocentão”, de Garoto e Chiquinho, com letra de Avaré (não creditado no selo), que Hebe registrou cantada em 26 de novembro de 1953, com lançamento em janeiro de 54, disco 13594-B, matriz 9986. Enfim, uma seleção em que predominam a alegria e a descontração que Hebe, em todos esses anos de carreira no rádio, no disco e sobretudo na televisão, deu ao público brasileiro, como ninguém!

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

Alceu Valença e Jackson do Pandeiro – Projeto Pixinguinha 1978 (2012)

Olá, amigos! Em dias em que eu não estou para muito papo, ou um tanto quanto preguiçoso, nada melhor que uma postagem do Projeto Pixinguinha. Pois nesta, eu só tomo mesmo o trabalho de editar ‘as faixas’ e criar a capinha. Querem saber mais sobre este show memorável de Alceu Valença e Jackson do Pandeiro? Eu indico com prazer. Vai lá no site da Funarte, a página é “Brasil – Memória das Artes – Projeto Pixinguinha”. Quem ainda não conhece, com certeza, vai adorar 🙂

Alceu Valença apresenta neste show praticamente todas as músicas que estão em um de seus primeiros álbums, o “Vivo”. Jackson do Pandeiro não faz por menos e nos traz alguns de seus maiores sucessos. Gravação muito boa. Vale conferir no GTM 😉

vou danado pra catende – alceu valença

forró em limoeiro – jackson do pandeiro

sol e chuva – alceu valença

vou de tutano – jackson do pandeiro

maria dos santos – alceu valença

alegria do vaqueiro – jackson do pandeiro

agalopado – alceu valença

anjo de fogo – alceu valença

pisa na fulo – alceu valença

eu sou você – alceu valença

quando eu olho para o mar – alceu valença

espelho cristalino – alceu valença

a rainha de tamba / o canto da ema / um a um – jackson do pandeiro

tambor de criola / meu boi não pode carriar / sebastiana – jackson do pandeiro

chiclete com banana – jackson do pandeiro

lágrima / vou gargalhar / vou ter um troço – jackson do pandeiro

amigo do norte – jackson do pandeiro

papagaio do futuro – alceu e jackson

papagaio do futuro (bis) – alceu e Jackson

Tonico E Tinoco 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 34 (2012)

Ê trem bão… Eis a segunda parte da retrospectiva que o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil dedica aos eternos e inesquecíveis Tonico e Tinoco. Dupla que tem em seu respeitável currículo, inclusive, atuações no cinema. Estrearam na sétima arte em 1949, participando de “Luar do sertão”, primeiro filme brasileiro do italiano Mário Civelli (1923-1993), que teve um remake em 1971, sob a direção de Oswaldo de Oliveira, e do qual a dupla também participou. Também atuaram em “Lá no meu sertão” (1963), “Obrigado a matar” (1965), “Os três justiceiros” (1972), “A marca da ferradura” (do mesmo ano), “O menino jornaleiro” (1982) e “A marvada carne” (1983). Enfim, caipiras versatilíssimos.

Prosseguindo esta retrospectiva da eterna “dupla coração do Brasil”, apresentamos onze preciosos fonogramas, todos originalmente da Continental. Em ordem cronológica de lançamento são estes: para começar, a primeiríssima gravação da dupla: o cateretê “Em vez de me agradecer”, de autoria do Capitão Furtado (Ariowaldo Pires, sobrinho de Cornélio Pires, pioneiro na divulgação da música caipira em disco), em parceria com Jayme Martins e o violonista Aymoré. Feita em 26 de novembro de 1944, matriz 10324, era só um teste, uma “prova”, como se dizia na época. Quando eles foram gravar o verso do 78, cantaram tão alto (como faziam lá na roça)… que o microfone estourou! E a Continental os puniu com seis meses de aulas de canto para educar a voz e voltar a gravar… Para sorte deles, uma música que deveria entrar no último disco lançado pela dupla Palmeira e Piraci, que teria no lado B “Salada internacional”, foi proibida pela censura do Estado Novo, e o jeito foi usar justamente “Em vez de me agradecer” como lado A desse disco, o Continental 15385. Agradaram em cheio!

Depois apresentamos o lado B do primeiro disco completo da dupla, de n.o 15417,  gravado em 4 de agosto de 1945 e lançado em setembro seguinte, matriz 10453: a moda de viola “Porto Esperança”, mesmo nome de um distrito da cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul, onde se passa a narrativa.

O 78 seguinte é o de número 15447-B, gravado em 8 de agosto de 1945 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz 10470: outra moda de viola das boas, “Moreninha”, de Tonico sem parceiro.

Temos depois as duas faixas do disco 15655, gravado em 10 de abril de 1946 e lançado em junho seguinte. O lado A, matriz 10581, é outro modaço de viola, “Destino de caboclo”, de Tonico e Aldo Renatti, No verso, a matriz 10580 nos traz o recortado mineiro “Ai, meu bem”, de Piraci e Geraldo Costa.

Completamos depois o disco 15706, gravado em primeiro de junho de 1946 e lançado em setembro seguinte, apresentando o lado B, correspondente à matriz 10605, o rasqueado “Adeus, morena, adeus”, de Piraci e Luiz Alex, este último não creditado no selo original como co-autor.

Nossa próxima faixa é o lado A do disco 15795, gravado em pleno feriado de Tiradentes, 21 de abril de 1947, e lançado em julho seguinte, matriz 10707, a moda de viola ”A cruz do caminho”, de Anacleto Rosas Júnior (autor de inúmeros hits do sertanejo de raiz, como “Baldrana macia”, “Os três boiadeiros” e “Burro picaço”) e Arlindo Pinto, outro compositor bastante considerado no gênero, tendo em seu currículo parcerias com Mário Zan (“Chalana”, “Balanceio”) e Palmeira (“Baile na tuia”). Confira em nossa edição anterior o lado B, que é o clássico “Tristeza do jeca”.

Passamos em seguida às duas músicas do Continental 15796, gravado também em 21 de abril de 1947, e lançado no mesmíssimo suplemento de julho daquele ano. No lado A, matriz 10705, Arlindo Pinto entra novamente em cena, desta vez assinando em parceria com Geraldo Costa a moda de viola “Boiadeiro entrevado”. No verso, matriz 10704, Geraldo Costa assina com o acordeonista Mário Zan (o consagrado autor de “Nova flor”, “Quarto centenário”, “Chalana”, “Festa na roça” etc.)o recortado mineiro “Que lucro dá?”, inclusive com o próprio Mário puxando o fole no acompanhamento.

Por fim, o disco que encerra esta nossa segunda parte é o de número 15819, gravado em 30 de junho de 1947 e lançado entre agosto e outubro do mesmo ano. No lado A, matriz 10727, o cateretê “Você sabe onde eu moro”, de Piraci e Geraldo Costa, de novo com a sanfona do mestre Mário Zan no acompanhamento, mais o violão do co-autor, Piraci. No verso, matriz 10726, a moda de viola “Destinos iguais”, de autoria do mesmo Capitão Furtado que os descobriu, em parceria com o professor Ochelcis Laureano, paulista de Sorocaba e autor do clássico “Marvada pinga”, um dos eternos carros-chefes de Inezita Barroso. Curiosa, aliás, é a composição de seu nome: “O” (artigo masculino), “chel” (segunda sílaba do nome da mãe, Rachel) e “cis” (sílaba do meio do nome do pai, Francisco), ficando “Ochelcis”. Com esta interessante curiosidade, encerramos esta resenha do segundo volume que o GRB dedica a Tonico e Tinoco, a eterna e insubstituível “dupla coração do Brasil”!

* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

MPB-4 – Lembranças Do Magro (2012)

Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Hoje, infelizmente, perdemos mais um grande artista da nossa Música Popular Brasileira, José Waghabi Filho, o Magro do MPB-4. Ele faleceu vítima de um câncer de próstata, o qual já carregada há alguns anos.

É estranho como a gente nunca se acostuma com a morte. Fiquei chocado quando soube que o Magro morreu. Tive a honra de conhecê-lo através do blog. Ele era um grande incentivador do Toque Musical. Enviei várias vezes para o Magro discos que ele procurava para tocar em seu programa de rádio “Vozes Brasileiras”. Hoje posso dizer, foi ele quem me enviou o primeiro disco do MPB-4, um compacto raríssimo, lançado em 1964.

Em homenagem ao maestro, arranjador e multinstrumentisa Magro Waghabi, reuni aqui vinte e uma músicas de fases distintas de seu quarteto. Não sei bem ao certo quais e quantas dessas músicas tiveram os seus arranjos. O importante é que em todos esses momentos ele esteve presente. Fica aqui a nossa saudação.

mudei de ideia

sentinela

amigo é pra essas coisas

menina da ladeira

viva zapátria

benvinda

tereza triste

o cafona

andaluzia

fica

ana luiza (com quarteto em cy)

galope

vera cruz

faz tempo

aparecida

a lua

se meu jardim der flor (com boca livre)

mascarada

samba da minha terra

pout pourri noel rosa

roda viva (com chico buarque)

Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 28 (2012)

Fratura no joelho é um troço bem complicado… O nosso Augusto TM que o diga! Mas depois de mais um período de ausência forçada (até eu senti saudades), eis aqui a vigésima-oitava edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil, apresentando mais dez preciosos fonogramas da era das 78 rotações por minuto para enriquecer os acervos de nossos amigos cultos e associados. E começamos com um sucesso de Patrício Teixeira (1893-1972), carioca da Rua São Leopoldo, na lendária Praça Onze, que começou a gravar ainda pelo processo mecânico e continuou de maneira bem sucedida na fase elétrica, até quando saiu seu último disco, em 1944. (depois disso, ainda gravaria a canção “Azulão”, de Hekel Tavares e Luiz Peixoto, para um LP da Sinter).  Foi até professor de violão, e entre suas alunas mais ilustres estão Nara Leão e as irmãs Linda e Dircinha Batista. E Patrício aqui comparece com um clássico: o samba “Gavião calçudo”, do mestre Pixinguinha, com letra de Cícero “Baiano” de Almeida, cujo sucesso desaguaria no carnaval de 1930. Saiu em duas gravações de Patrício: a primeira no selo Parlophon, em março de 1929, e esta segunda, com o selo Odeon, lançada em agosto do mesmo ano com o n.o 10436-A, matriz 2685, na qual o intérprete canta a letra completa, acompanhado de piano e violão (no registro original era com orquestra, e nele só foram apresentados o estribilho e uma das estrofes). “Azulão” também está aqui, mas no registro original do “cantor das noites enluaradas”, Paraguassu (Roque Ricciardi, 1894-1976), lançado pela Columbia em fevereiro de 1930, disco 5141-A, matriz 380474.

Em seguida, um monólogo divertidíssimo interpretado pelo ator Pinto Filho. Trata-se de “Guerra ao mosquito”, de Luiz Peixoto e Marques Porto, lançado pela Parlophon em agosto de 1929 com o n.o 12989-A, matriz 2670. Mais atual impossível, uma vez que o Brasil tem sido, nos últimos tempos, atingido por endemias tropicais como a dengue, especialmente no verão. Não faltam farpas a políticos de prestígio na época, como o então candidato a presidente da República Júlio Prestes.

A próxima faixa vem a ser o primeiro grande sucesso nacional de Ary Barroso como compositor: a marchinha “Dá nela”, interpretada por Francisco Alves com a Orquestra Pan American de Simon Bountman, e um dos hits do carnaval de 1930. Gravação de 9 de janeiro daquele ano, lançada pouco depois sob n.o 10558-A, matriz 3258. No dia 18, a música venceu um concurso promovido no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, e com o dinheiro ganho (cinco contos de réis!), Ary Barroso teve condições de se casar (com Yvonne Belfort Arantes) e ainda recebeu seu diploma de advogado. De letra extremamente machista (característica da época), “Dá nela” também deu nome a uma revista do Teatro Recreio, nela interpretada (de calça comprida!) por Zaíra Cavalcanti.

Um dos clássicos de Ary Barroso em parceria com Luiz Peixoto, o samba-canção “Na batucada da vida” (subintitulado “A canção da enjeitada”) tornou-se inovador na época do lançamento, pelo realismo com que tratava uma temática de cunho social. Originalmente saiu em 1934, na voz de Cármen Miranda, e aqui é apresentada no registro de Dircinha Batista, feito na Odeon em 14 de abril de 1950 e lançado em agosto seguinte, disco 13031-B, matriz 8685, com acompanhamento de piano do próprio mestre de Ubá. Como bem sabem os fãs de Elis Regina, em 1974 ela também fez um registro memorável desta composição.

O inesquecível Kid Morenguera, o grande Moreira da Silva (1902-2000), insubstituível rei do samba de breque, aqui comparece com o raríssimo disco Star 225, datado de 1951, com acompanhamento do conjunto do violonista Claudionor Cruz, destacando-se o saxofone de Portinho (Antônio Porto Filho), também maestro e arranjador de prestígio. De um lado, o samba-choro “Entrevista”, do próprio Moreira, e no verso, nesse mesmo ritmo, a homenagem do GRB aos motoristas na semana do dia deles e de seu santo padroeiro, São Cristóvão: “Sou motorista”!

Humberto Marsicano fez parte da geração de artistas paulistas surgidos no final dos anos 1920. De sua escassa discografia como cantor (apenas 16 fonogramas distribuídos em nove 78 rpm), apresentamos o disco Columbia 5051, lançado em julho de 1929, com acompanhamento da orquestra de Álvaro Ghiraldini. Abrindo-o, matriz 380143, o samba-choro “Mulher sem coração”, composto por um nome que iniciava então sua carreira, José Maria de Abreu (1911-1966), paulista de Jacareí, responsável por sucessos inesquecíveis, tais como “E tome polca”, “Alguém como tu”, “Dançando com você” e muitos outros. No verso, matriz 380144, o delicioso “sambinha-embolada” Tico-tico vuô”, de Juca Paulista e Juvenal de Abreu.

Para encerrar, uma marchinha do carnaval de 1957, lançada pela Continental em janeiro desse mesmo ano, com o n.o 17375-B, matriz C-3912. É “Seu Romeu”, de João Rosa, Arnaldo Moraes e do paulistano Ruy Rey (1915-1995), sendo este último o intérprete. Ruy, que se chamava Domingos Zeminian, foi também exímio “bandleader”, e especializou-se em ritmos hispano-americanos, precursores da atual salsa. Enfim, um belo apanhado com o qual o GRB mata as saudades de todos que estavam aguardando esta retomada. Divirtam-se e recordem!

*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Sílvio Caldas – Seleção Grand Record Brazil – Vol. 26 (2012)

Nesta vigésima-sexta edição, o Grand Record Brazil começa a nos trazer alguns dos momentos mais expressivos de um cantor e compositor que marcou época: Sílvio Narciso de Figueiredo Caldas, o sempre festejado “caboclinho querido”, também carinhosamente chamado de “titio”. Era carioca do bairro de São Cristóvão, onde veio ao mundo no dia 23 de fevereiro de 1906, mas só seria registrado em 1908, segundo ele próprio declarou ao pesquisador, de saudosa memória, Abel Cardoso Júnior. Seu pai, Antônio (autor da valsa “Neusa”, hit de Orlando Silva), era dono de uma pequena loja de instrumentos musicais, e sua mãe, a gaúcha Dona Neném, era afamada modista. Nosso Sílvio foi um talento precoce, pois já com cinco anos de idade apresentou-se no Teatro Fênix, sendo presença requisitada também nas festas e nos clubes de São Cristóvão. No carnaval, era saudado como “o rouxinol” do bloco Família Ideal. Embora macérrimo, foi o primeiro Rei Momo do carnaval carioca! Após deixar  o grupo escolar, trabalhou como mecânico de automóveis na Garagem Esperança, nessa condição transferindo-se para São Paulo em 1924. Mas não esqueceu o violão. Quando volta ao seu Rio natal, atraído pelo desenvolvimento por que então passavam o rádio e o disco, Sílvio resolve entrar pra valer na carreira artística, e é levado pelo cantor de tangos Milonguita (Antônio Gomes) para cantar na Rádio Mayrink Veiga. No disco, iniciou-se em fevereiro de 1930 na Victor, alternando gravações nessa marca e na Brunswick, até ficar apenas na Victor, em virtude do fechamento da Brunswick. A princípio, Sílvio cantava basicamente marchinhas e sambas, e seu talento seresteiro iria se revelar a partir de 1934, através de sua importantíssima parceria com Orestes Barbosa, que produziu clássicos inesquecíveis, tais como “Serenata”, “Chão de estrelas” e “Suburbana”. Um dos maiores defensores da MPB, Sílvio Caldas jamais deixava de enfatizar a necessidade de sua preservação, e até preconizava a inclusão de seu ensino nas escolas. Nos últimos anos de vida, residiu em um sítio na cidade de Atibaia, interior de São Paulo, onde morreu no dia 3 de fevereiro de 1998.
Nesta nossa primeira edição do GRB com o grande Sílvio Caldas, oferecemos a nossos amigos cultos, ocultos e associados doze preciosíssimas gravações. Abrindo esta seleção, esta joia de valsa, de autoria de Newton Teixeira e Jorge Fáraj, a clássica “Deusa da minha rua”, imortalizada por Sílvio na Victor em 10 de julho de 1939, matriz 33118, e editada em setembro seguinte com o número 34485-A. Muitíssimo gravada, até mesmo por Roberto Carlos. A segunda faixa também é muito conhecida e regravada: o samba (ou choro) “Da cor do pecado”, principal produto da inspiração do carioca Alberto de Castro Simões da Silva, o Bororó (1898-1986). Vem a ser o lado B da faixa anterior, porém gravado quatro dias antes, a 6 de julho de 1939, matriz 33110. Logo depois, da fase de Sílvio na Continental, trazemos o choro “Pastora dos olhos castanhos”, do violonista Horondino Silva, o Dino Sete Cordas, com letra de Alberto Ribeiro, e acompanhamento do regional do clarinetista potiguar (de Taipu) K-Ximbinho (Sebastião de Barros, 1917-1980). Gravação de 5 de agosto de 1946, porém só lançada em julho de 47 com o número 15786-B, matriz 1565. Trazemos também o lado A, que é o samba “Não chores assim”, do próprio Sílvio Caldas mais Alberto Ribeiro, em gravação de 28 de agosto de 46, matriz 1585, e desta vez quem acompanha Sílvio é o regional do violonista Laurindo de Almeida (Miracatu, SP, 1917-Los Angeles, EUA, 1995), que desenvolveu bem-sucedida e premiada carreira nos EUA. Voltando à Victor, um disco com duas regravações, o de número 34496, lançado em outubro de 1939. No lado A, um nome que começa na palma da mão de todo mundo: o samba-canção “Maria”, dos mestres Ary Barroso e Luiz Peixoto, originalmente registrado pelo próprio Sílvio em 1932 e aqui em regravação de 10 de julho de 1939, matriz 33119. O outro lado, gravado em 6 de julho desse ano, matriz 33115, é outro clássico de Ary, e também samba-canção, agora com letra de outro mestre, Lamartine Babo: “No rancho fundo”, originalmente lançado em 1931 por Elisa Coelho e regravado até mesmo por Chitãozinho e Xororó! A preciosidade seguinte é o samba “Algodão”, de Custódio Mesquita com letra do jornalista David Nasser, também parceiro de Francisco Alves em inúmeros hits. Aludindo ao sofrimento dos negros à época da escravidão no Brasil, foi imortalizado por Sílvio na Victor em 7 de junho de 1944 com lançamento em agosto seguinte, disco 80-0200-A, matriz S-052972. No lado B, que apresentamos em seguida, matriz S-052973, “Noturno em tempo de samba”, também de Custódio Mesquita, agora com seu parceiro mais constante, Evaldo Ruy. Em ambas as faixas, Sílvio é acompanhado pela orquestra do próprio Custódio. Recuando no tempo, encontraremos outro clássico da valsa tupiniquim, “Sorris da minha dor”, do niteroiense Paulo Medeiros, compositor e professor falecido prematuramente, aos 30 anos de idade, em 1941. Gravação Victor de 18 de agosto de 1938, lançada em outubro seguinte, disco 34367-B, matriz 80872, do qual apresentamos em seguida o lado A, do mesmo autor, matriz 80871, a valsa-canção “Falsa felicidade”. Encerrando esta primeira parte, duas composições de Joubert de Carvalho, lançadas em outubro de 1946 pela Continental no mesmo disco, o de número 15712, gravado em 2 de agosto desse ano: a conhecida canção “Minha casa”, matriz 1563, clássico regravado aos cachos, até mesmo por Agnaldo Timóteo, e a valsa “Nunca soubeste amar”, matriz 1564. Vocês não acham que está muito bom pra começar uma retrospectiva do grande Sílvio Caldas? Então recordem, apreciem e aguardem, que na semana que vem tem mais. Até lá!

* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO.

Vocalistas Tropicais – Vol. 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical (2012)

E eis aqui a terceira edição (no geral, a de número 25) que o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil dedica a este grande conjunto vocal-instrumental que foram os Vocalistas Tropicais. Mais doze fonogramas raros que certamente irão parar nos arquivos de muitos colecionadores. Continuando nossa retrospectiva, ainda com originais Odeon, abrimos esta terceira parte com o samba “Como é que vai ser?”, de Marino Pinto e Mário Rossi, dupla respeitável da MPB, gravado em 3 de setembro de 1948 com lançamento em novembro seguinte sob número 12883-B, matriz 8410 (o outro lado de “Ester”, de nossa edição anterior). Em seguida, uma versão bastante conhecida: “Trevo de quatro folhas (I’m looking over a four leaf clover)”, de Harry Woods e Mort Dixon, fox composto em 1927 e sucesso na voz de Al Jolson, cantor americano que costumava pintar o rosto de preto, interpretado por Larry Parks em dois filmes da Columbia: “Sonhos dourados” e “O trovador inolvidável”, sendo a música reapresentada neste último. Nilo Sérgio fez a letra brasileira e a gravou na Continental em 1949, com grande sucesso. Logo em seguida, em 13 de maio desse ano, os Vocalistas Tropicais fizeram nosso registro desta edição, lançado pela “marca do templo” em julho seguinte com o número 12934-A, matriz 8493. No verso, matriz 8492, a faixa seguinte, “Irmão do samba”, de Nestor de Holanda (também escritor e jornalista, pernambucano de Vitória de Santo Antão) e Jorge Tavares. Eles também foram parceiros, vale ressaltar, no samba-canção “Quem foi?”, gravado por Aracy de Almeida exatamente com os Vocalistas Tropicais junto. A quarta faixa, que até eu queria ter na coleção, é o samba “A maior Maria”, de Waldemar Ressurreição e Gerôncio Cardoso, lado B do disco de “Minha terra”, de nossa edição anterior, o Odeon 12952, gravado em primeiro de agosto de 1949 e lançado em outubro seguinte, matriz 8540. Temos depois outro samba, agora para o carnaval de 1950: “Supremo poder”, de Fernando Martins e Victor Simon (este último autor dos clássicos “Bom dia, café” e “O vagabundo”), gravado pelos Vocalistas em 4 de novembro de 1949 e lançado um mês antes da folia, em janeiro, com o número 12979-B, matriz 8580 (é o verso de “Ela é falsa”, de nossa edição anterior). A faixa seguinte é o maracatu “Maracatucá”, de Geraldo Medeiros e Jorge Tavares. É o lado B do disco em que saiu a versão “Bebê (Baby face)”, apresentada em nossa edição anterior, o Odeon 12989, gravado em 16 de dezembro de 1949 e lançado bem depois do carnaval de 50, em março, matriz 8608. Depois tem o samba “Não devemos mais brigar”, do cantor Gilberto Milfont em parceria com Mílton de Oliveira, lado B do disco de outra faixa de nossa edição anterior, “Ilha dos amores”, o Odeon 13005, gravado em 13 de junho de 1949 mas só lançado em março de 50, matriz 8519. Continuando a completar os discos de nossa edição anterior, vem o samba “Trinta dinheiro” (assim mesmo, sem “s”!), também de Waldemar Ressurreição, agora em parceria com Amaro Gonçalves. É o lado B do 78 de “Diamante Negro”, o Odeon 13024, gravado em 20 de março de 1950 e lançado em julho seguinte, matriz 8656. Em seguida completamos o 78 de “Desculpa”, o Odeon 13042, apresentando o lado A, “Quem é que não sente?”, samba assinado pelo mestre Ataulfo Alves. Gravação de 3 de julho de 1950, lançada em setembro seguinte, matriz 8718. A próxima faixa é simplesmente um clássico de nosso cancioneiro carnavalesco: a famosa marchinha “Tomara que chova”, de Paquito e Romeu Gentil, da folia de 1951. Foi criada pelos Vocalistas Tropicais na Odeon em 6 de setembro de 1950, com lançamento ainda em dezembro sob número 13066-A, matriz 8792 (como se sabe, Emilinha Borba fez outro registro desta composição na Continental, também com sucesso, e  a cantou no filme “Aviso aos navegantes”, da Atlântida). Apresentamos também o lado B de “Tomara que chova”, o samba “Já é noite”, de Fernando Lobo, Paulo Soledade e Nestor de Holanda, gravado dias depois, em 12 de outubro de 1950, matriz 8823. E, para encerrar esta terceira parte, completamos o disco da “Marcha da vizinhança” (de nossa edição anterior), o Odeon 13081, oferecendo o lado B, outra composição de Waldemar Ressurreição: o samba “Mulher de carnaval”, gravação de 12 de outubro de 1950, lançada em janeiro de 51, matriz 8822, e obviamente também destinada à folia daquele ano. Como vêem os amigos cultos e ocultos do Toque Musical e do GRB, mais doze preciosas gravações dos Vocalistas Tropicais, para enriquecer os acervos de tantos quantos apreciem a boa música brasileira. Imperdível! 


*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Jóia 25 – Seleção Instrumental Do Toque Musical (2012)

Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados de plantão! Pensei que meu feriadão fosse ser mais tranquilo e folgado. Qual nada! Compromisso atrás de compromisso. Mal tive tempo para entrar aqui no blog e fazer uma postagem descente. Embora tenha sido na base do ‘arrastão’, esta vai ser uma coletânea muito boa. Escolhi aqui alguns números instrumentais que eu acho ótimos, feitos para se ouvir em alto e bom som. Música de qualidade para quem sabe apreciar. Uma ótima seleção para se ouvir no carro, em casa e numa boa caminhada ou de bicicleta. Amanhã, já estarei ouvido no meu iPod, com certeza! E vocês, querem ouvir também?

tem dó – rio 65 trio
rio – roberto menescal e seu conjunto
insensatez – eumir deodato
o morro não tem vez – joão donato e seu trio
nanã – sergio mendes and bossa rio
reza – tamba trio
você e eu – roberto menescal e seu conjunto
tristeza de nós dois – tamba trio
diz que fui por aí – dom um romão
samba de verão – meirelles e os copa 5
coisa n. 2 – moacir santos
só danço samba – joão donato
vivo sonhando – walter wanderley
preciso aprender a ser só – tom jobim
samba de uma nota só – baden powell e jimmy pratt
manhã de carnaval –  rio 65 trio
samba carioca – meirelles e os copa 5
chegança – luiz eça
consolação – tenório junior e seu conjunto
berimbau – tom jobim
zimbo samba – zimbo trio
samba em blue – sansa trio
margarida – som três
samadhi – tenório junior
jungle – som três

Elza Soares E Batatinha – Projeto Pixinguinha 1983 (2012)

Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Esses registros de shows do Projeto Pixinguinha tem se tornado uma mão na roda, principalmente quando eu me encontro assim, quase sem tempo para preparar novas postagens. Estão se tornando novos ‘arquivos de gaveta’, aqueles que eu utilizo nas emergências.
Para hoje eu escolhi, entre tantos registros  extraídos do site da Funarte, “Brasil – Memória das Artes“, já devidamente ‘digitalizados’, um show dos mais deliciosos, o encontro de Elza Soares e o baiano Batatinha. Querem saber mais detalhes desse encontro? Então, vão lá nas páginas do “Projeto Pixinguinha“. O som, se alguém quiser ouvir, além de ser no site, basta pedir que o TM envia para o GTM 😉

malandro – elza soares
poema do imperador – elza soares
todo mundo vai ao circo – elza soares e batatinha
homenagem ao mestre cartola – elza soares
hora da razão- batatinha
jardim suspenso – batatinha
zaratempo – batatinha
diplomacia / imitação – batatinha
babá de luxo – batatinha
toalha da saudade – batatinha
segredo – elza soares
grito de prazer – elza soares
oração das duas raças – elza soares
amor até o fim – elza soares
enredo da pirraça – elza soares
alagoas – elza soares
independencia – elza soares
na baixa do sapateiro – elza soares e batatinha