Dick Farney – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 102 (2014)

Prosseguindo sua longa e auspiciosa trajetória de sucesso, o Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, chega à sua centésima-segunda edição reverenciando mais um grande nome de nossa música popular, criador de páginas inesquecíveis de nosso cancioneiro e autêntico precursor da bossa nova. Estamos falando de Dick Farney.  Farnésio Dutra e Silva (seu nome de batismo) nasceu no Rio de Janeiro em 14 de novembro de 1921. Oriundo de família rica, teve apenas um irmão, Cyleno, que viria a ser famoso galã do cinema tupiniquim com o nome de Cyll Farney e chegou a tocar bateria nos primeiros conjuntos do jovem Dick. Seus pais cultivavam a música clássica: o pai era pianista, e a mãe cantava. Dick faria o curso de teoria musical na Escola Nacional de Música, e estudaria canto com Diva Pasternack. Essa formação clássica não o impediria de se passar para o piano jazzístico, já que sempre foi um apaixonado pela música norte-americana, com influências especialmente do piano de Nat King Cole e da voz de Bing Crosby. Em 1934, com 12 anos, o pré-adolescente Dick se apresentou na Rádio Guanabara, executando o “Prelúdio n.o 7” de Chopin. Em 1936, no programa “Picolino”, de Barbosa Júnior, tocou a “Dança ritual do fogo”, de Manuel  de  Falla, e a “Canção da Índia”,  de Korsacov. Um ano depois, estreia como cantor, na  Rádio Cruzeiro do Sul, interpretando “Deep purple”, de  David Rose. Em 1938, foi até a Rádio Mayrink Veiga, levando um disco seu particular, ouvido por César Ladeira, então diretor artístico da emissora (ele pensou que estava ouvindo Bing Crosby, tal a semelhança vocal). A coisa, claro, resultou em contrato, de quatrocentos mil-réis por mês, e um programa exclusivo, “Dick Farney, a voz e o piano” . Dois anos mais tarde, transferiu-se para a poderosa e lendária PRE-8, Rádio Nacional. Entre 1941 e 1944, Dick também se integrou à orquestra de Carlos Machado, no Cassino da Urca, como pianista e cantor. Ainda em 44, gravou seu primeiro disco, pela Continental, com músicas norte-americanas, ao qual seguiram-se mais quatro em inglês. Seu primeiro disco com música brasileira, o sexto, só viria agosto de 1946, com o clássico “Copacabana” (nesta seleção), pontapé inicial para inúmeros outros hits, entre os quais estão “Ponto final”,”A saudade mata a gente”, “Marina”, “Somos dois”, “Um cantinho e você”, “Alguém como tu”, “A fonte e o teu nome’, “Grande verdade”, “Este seu olhar”, “Perdido de amor”, “Tereza da praia” (dueto com Lúcio Alves), “Você” (dueto com Norma Bengell) e os presentes nesta edição do GRB, muitos dos quais regravados por ele mesmo inúmeras vezes. Em fins de 1946, após um encontro com o maestro Bill Hitchcock e o pianista Eddie Duchin no Copacabana Palace Hotel, Dick Farney embarca para os EUA, onde permanece por dois meses, visando conhecer o ambiente musical  de lá e travar amizade com vários artistas, seus ídolos. Quase em seguida, meados de 1947, volta à terra do Tio Sam, preso a um contrato de 56 semanas com os cigarros Philip Morris, então patrocinador de programas da NBC (National Broadcasting Company), entre eles o do prestigiado comediante Milton Berle, no qual atua como intérprete fixo. Nessa ocasião, Dick Farney grava alguns discos na Majestic, vindo a ser o criador de um clássico norte-americano, o  fox “Tenderly”, de Jack Lawrence e Walter Gross. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, já um astro, Dick assina vultoso contrato com a PRG-3, Rádio Tupi (“o cacique do ar”), recebendo a soma de trinta mil cruzeiros por mês! Em 1948, admiradores do jazz norte-americano fundaram o Sinatra-Farney Fã Clube, histórico reduto pré-bossanovista, tendo entre seus frequentadores ilustres o compositor e pianista João Donato, e a cantora Nara Leão. Dick atuou também no cinema, participando dos filmes  “Somos dois” (Cinédia, 1950), no qual contracenava e cantava, mas que não lhe deixaria boas lembranças, “Carnaval Atlântida” (1952) e “Perdidos de amor” (Cinelândia Filmes, 1953). O currículo internacional de Dick Farney inclui também a Argentina, onde esteve duas vezes, em 1949 e 1951, atuando na Rádio El Mundo e na Boate Embassy de Buenos Aires, sendo conhecido pelos portenhos como “el Bing Crosby brasileño”. Em 1956/58 retorna a Nova York, EUA, a fim de se apresentar no Hotel Waldorf Astoria. Durante seis meses, ainda se apresentou  em Cuba, República Dominicana e Porto Rico. Nos anos seguintes, continua somando mais e mais admiradores, com uma discografia de mais de vinte LPs, e apresentações principalmente na noite, chegando até a ser dono de casas noturnas, a Farney’s e a Farney’s Inn, ambas em São Paulo, cidade para a qual se muda em 1959. Nessa época, apresenta o programa “Dick Farney show”, na TV Record, e mais tarde constrói uma bela casa nas cercanias da Represa Billings, projetada por ele mesmo e sua terceira mulher.  É também um dos pioneiros da TV Globo do Rio de Janeiro, inaugurada em 1965, apresentando, ao lado da atriz Betty Faria, o programa ‘Dick e Betty”. Por volta de 1979, Dick Farney deixa de atuar na noite, por achar que o público não era mais o mesmo, porém continuando a gravar e a se apresentar em ocasiões especiais, como em 1981, no Ópera Cabaré, em São Paulo,numa noite recebendo seu amigo Lúcio Alves, com quem gravara, em 1954, o clássico “Tereza da praia”, de Tom Jobim e Billy Blanco. Por essa época, já se dedicava à pintura, uma antiga paixão que finalmente podia desenvolver, e com talento. Dick Farney morreu no dia 4 de agosto de 1987, em São Paulo, aos 65 anos, de edema pulmonar. Deixou, porém, um invejável legado musical. Dele, o GRB foi buscar 14 gravações de seus primeiros anos de carreira, todas feitas na Continental, sua primeira gravadora.  Abrindo a seleção desta semana, temos o fox “What’s new?”, de Bob Haggart e Johnny Burke, de seu segundo disco, número 15186-A, lançado em agosto de 1944, matriz 819, grande hit na voz de Farney entre nós. Do primeiro disco, n.o 15180, lançado em junho do mesmo ano, foi escalado outro fox, também lado A, “The music stopped”, de Harold Adamson e Jimmy McHugh, matriz 839. A faixa 3, já com música brasileira, é o samba-canção “Ela foi embora”, do organista Djalma Ferreira em parceria com Oscar Belandi, lançado pela então “marca dos sininhos” em setembro de 1946, matriz 1543. Na faixa 4, o clássico que abriu definitivamente as portas do sucesso para Dick Farney: “Copacabana”, de João de Barro (Braguinha) e Alberto Ribeiro, gravado em 2 de junho de 46 e lançado em agosto do mesmo ano com o número 15663-A, matriz 1509. O samba tinha sido feito sob encomenda para um filme norte-americano de mesmo nome,mas acabou não entrando no mesmo. Claro que os puristas consideraram a interpretação de Dick Farney por demais americanizada, calcada em Bing Crosby, mas a interpretação e o acompanhamento, feito por orquestra de cordas, com regência de Eduardo Patané, passaram a se constituir modelo de sofisticação para nossa música popular. “Foi e não voltou”, de Oscar Belandi e Chuca-Chuca, é outro samba-canção típico dessa época, que Dick Farney gravou acompanhando-se ao piano em 19 de abril de 1947, com lançamento em junho seguinte sob número 15783-B, matriz 1655. O que ocorre também na faixa seguinte, “Esquece”, de autoria do cantor Gilberto Milfont, sendo que desta vez Dick está acompanhado de Betinho (Alberto Borges de Barros, autor e intérprete de “Enrolando o rock” e do fox “Neurastênico”, entre outras) e Juvenal. Também samba-canção, gravado em 29 de maio de 1948 e lançado entre julho e setembro do mesmo ano, disco 15927-A, matriz 1869. “Meu Rio de Janeiro”, uma das muitas homenagens musicais já prestadas  à “cidade maravilhosa” e então capital do Brasil, é um samba de Oscar Belandi e Nélson Trigueiro, em registro feito na mesma sessão de “Esquece” e editado pela Continental  no mesmíssimo suplemento, sob número 15917-A, matriz 1867. A 24 de maio desse mesmo ano de 1948, Dick grava o samba-canção “Ser ou não ser”, de José Maria de Abreu (também regente da orquestra que o acompanha) e Alberto Ribeiro, outra expressiva página de seu repertório, que a Continental lançará também entre julho e setembro desse ano, com o número 15916-A,matriz 1858. Cinco dias depois, na mesmíssima sessão de “Meu Rio de Janeiro” e “Esquece”, Dick imortaliza o samba “Olhos tentadores”, de Oscar Belandi e  Chico Silva, matriz 1868, mas que a Continental só traz para as lojas em março-abril de 1949, com o número 16008-B. Entre julho e setembro desse mesmo ano de 49, é lançado pela “marca dos sininhos” outro clássico do samba-canção (então predominante nessa época pré-bossa nova, como percebem), “Sempre teu”, da festejada dupla José Maria de Abreu-Jair Amorim, com o número 16083-B, matriz 2099. Para os festejos natalinos desse 1949, entre outubro e dezembro, Dick Farney lança uma canção muito apropriadamente chamada “Feliz Natal” (mais conhecida como “Noite azul”, primeiro verso da letra),um dos inúmeros hits da dupla Klécius Caldas-Armando Cavalcanti, com o número 16123-A,matriz 2173, que a Continental relançará em 1955 sob número 17230-B. Do multi-instrumentista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), verdadeiro mágico das cordas, é o samba-canção seguinte, parceria com José Vasconcelos (seria o humorista?), “Nick Bar” (também  nome de peça teatral e de um bar de São Paulo, então instalado na  Rua Major Diogo, ao lado do TBC, Teatro Brasileiro de Comédia, onde os artistas que lá se apresentavam sempre apareciam para tomar um drinque após as funções). O próprio Garoto está no acompanhamento deste registro de Farney, ao lado de Vero (Radamés Gnattali), Vidal e Trinca, com lançamento pela Continental entre outubro e dezembro de 1951, disco 16479-B, matriz 2718. “Ranchinho de palha”, samba romântico, igualmente tendendo para o samba-canção, é de outro violonista e compositor de renome, Luiz Bonfá, e Dick Farney o imortalizou na Continental em 27 de março de 1951, com lançamento em maio-junho seguintes, sob n.o 16412-A, matriz 2596. Para finalizar, uma gravação feita por Dick em Buenos Aires, capital da Argentina, nos estúdios da TK, gravadora que então representava a Continental naquele país (e que a empresa brazuca, por tabela, representava aqui). É outro samba-canção de Luiz Bonfá, “Sem esse céu”, lançado no Brasil entre setembro e dezembro de 1952 com o número 16659-A, matriz IB-260/52, tendo no acompanhamento o organista Jorge Kenny. Enfim, um pouco do vasto e expressivo legado de Dick Farney, com justiça um dos imortais de nossa música popular.
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Maysa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 100 (2014)

Com muito orgulho, chegamos à centésima edição do Grand Record Brazil. Uma trajetória brilhante e bastante expressiva. Isto só foi possível graças ao prestígio e à acolhida de nossos amigos cultos, ocultos e associados, a quem eu e o Augusto agradecemos de todo o coração. E nesta edição de número 100, reverenciamos a memória de uma das melhores cantoras e compositoras que a música popular brasileira já teve: Maysa.
Batizada como Maysa Figueira Monjardim, nossa focalizada veio ao mundo no dia 6 de junho de 1936, segundo algumas fontes no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo e, segundo outras, em São Paulo, oriunda de família rica e tradicional do Espírito Santo, filha de Inah e Alcebíades Monjardim, este último Fiscal de Rendas. Esta indefinição quanto ao local de nascimento da futura estrela talvez se deva ao fato de seus pais terem fugido de seu estado natal para o Rio de Janeiro, após se casarem, pois a família de sua mãe se opunha ao matrimônio, dada a boemia de Alcebíades. Residiram também em Bauru, interior paulista, voltando depois para a capital bandeirante, onde, mesmo fixando-se na mesma, trocaram de endereço várias vezes. Maysa estudou nos tradicionais colégios paulistanos Assunção, Sacre-Couer de Marie e no Ginásio Ofélia Fonseca (onde foi reprovada por suas notas e comportamento). Sempre foi rebelde e chegava a comparecer às aulas sem uniforme e com trajes ousados, sendo por isso proibida de frequentar os bancos escolares. Bilhetes eram enviados aos pais de Maysa e, como estes viviam na boemia, era difícil encontrá-los, e ela chegava a ficar três dias sem ir à escola, aguardando a assinatura deles.  Tentou se matricular, depois, no Mackenzie, mas foi recusada em virtude de seu currículo, e por isso Maysa parou os estudos na segunda série ginasial. As férias  ela passava em Vitória, onde ia rever seus tios e primos. Seu envolvimento com a música começou bem cedo: aos 12 anos, compôs sua primeira música, o samba-canção “Adeus” (primeira de uma série de 26), e desde a adolescência já gostava de cantar em festas familiares, além de tocar piano. Aos 17 anos, em 1955, Maysa casou-se com o empresário André Matarazzo, 17 anos mais velho que ela, e amigo de seus pais, da união resultando seu único filho, Jayme Monjardim Matarazzo, criado pela avó e posteriormente num colégio interno na Espanha, que iria se converter em  talentoso diretor  de cinema e televisão, realizando novelas e minisséries na extinta TV Manchete e depois na Globo (onde dirigiu inclusive a famosa minissérie sobre a vida de sua mãe, “Maysa – Quando fala o coração”, de 2009, com excelente desempenho de Larissa Maciel no papel-título). Ela não teve mais filhos por complicações no parto. Ainda grávida, Maysa conheceu o produtor Roberto Corte Real, que ficou encantado com sua voz. Combinaram então que, assim que Jayme nascesse, ela gravaria seu primeiro disco. Corte Real tentou, sem êxito, a contratação de Maysa pela Columbia, hoje Sony Music, e o jeito foi lançá-la em disco por uma nova gravadora: a RGE (Rádio Gravações Especializadas), de propriedade de José Brasil Ítalo Scatena, até então apenas um estúdio de jingles publicitários. E é pela RGE que a cantora-compositora  lança, em novembro de 1956, seu primeiro LP, o histórico dez polegadas “Convite para ouvir Maysa”, com oito músicas de sua autoria, e cuja renda foi revertida para o Hospital do Câncer de São Paulo.  Depois, claro, viria muito mais, tendo também gravado em outros selos, inclusive um álbum na mesma Columbia que a recusara, em 1961. Foi inclusive contratada das Emissoras Unidas (Rádio e TV Record). André, porém, se opunha à carreira musical de Maysa, e ao temperamento boêmio que ela herdou de seu pai, daí resultando sua ruidosa separação (em 1958, aos 22 anos, ela chegou a tentar suicídio cortando os pulsos, uma das inúmeras tentativas de liquidar a própria vida, aliás). Namorou depois o jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli (tendo-se mudado, em 1960, para o Rio de Janeiro, a convite dele), o empresário Miguel Azanza (seu segundo marido), o maestro Júlio Medaglia e o ator Carlos Alberto, entre outros. Fez inúmeras temporadas em casas noturnas de São Paulo (como o Juão Sebastião Bar, o restaurante Urso Branco  e as boates Cave, Oásis e Igrejinha) e  Rio de Janeiro (como Au Bon Gourmet e Canecão). O alcoolismo e o uso de moderadores de apetite deixavam seu temperamento instável, o que causou notórios escândalos  em hotéis e aviões de diversos países em que se apresentou. Manteve contato com inúmeros nomes da bossa nova, com os quais pôde expandir experiências musicais. Excursionou pela América Latina, passando várias vezes por Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai) e Lima (Peru), e cumpriu temporadas no Olympia de Paris (França),  Lisboa (Portugal), onde ficou bastante tempo em cartaz no Cassino Estoril, Tóquio (Japão) e  Luanda (Angola), além de ter residido na Espanha. No exterior, Maysa era conhecida como “a condessa descalça”, por sempre tirar os sapatos quando cantava. Participou também de algumas edições do FIC (Festival Internacional da Canção), que aconteceu no Maracanãzinho do Rio de Janeiro entre 1966 e 1972, e ninguém ousava lhe dar uma só vaia, o que a tornou uma das cantoras mais queridas do certame.  Sua discografia abrange 17 LPs no Brasil (e um nos EUA, nunca editado entre nós), sem contar as coletâneas, 21 discos 78 rpm com 41 músicas, e alguns compactos. Maysa faleceu em 22 de janeiro de 1977, em trágico acidente automobilístico na Ponte Rio-Niterói, quando dirigia sua Brasília azul em alta velocidade (estava a caminho de sua casa em Maricá, litoral fluminense). Supõe-se que o efeito de anfetaminas somado à ingestão de álcool tenha causado o desastre, perdendo, assim, a música popular brasileira, uma de suas personalidades mais singulares. Para esta edição em que o GRB reverencia a memória de Maysa, foram selecionadas dez gravações preciosas e importantes histórica e artisticamente. As oito primeiras saíram em LP e também em 78 rpm  (não esquecendo que era uma época de transição de formatos), todas sambas-canções e editadas por sua primeira gravadora, a RGE.  Abrindo esta seleção, o clássico samba-canção “Meu mundo caiu”, uma de suas composições mais conhecidas, lançado em março de 1958 com o número 10083-A, matriz RGO-484, que ela também interpretou no filme “O batedor de carteiras”, da Nova América, distribuído pela Pelmex e estrelado por Zé Trindade (pouco antes de sua morte, em 1976, foi revivido na novela global “Estúpido  Cupido”, de Mário Prata). O lado B, matriz RGO-486, é a faixa 8, “Buquê de Isabel”, também samba-canção e praticamente o primeiro grande sucesso do compositor Sérgio Ricardo (mais tarde famoso como “o homem do violão quebrado” daquele festival da Record, o de 1967). Ambas as músicas saíram, apenas alguns dias depois,também no LP “Convite para ouvir Maysa  número 2” (o terceiro álbum de carreira, apesar do título, e o primeiro da intérprete em doze polegadas).  A faixa 2 é outro clássico indiscutível de e com Maysa, o famoso “Ouça”, lançado em maio de 1957 sob número 10047-A, matriz RGO-220, inesquecível hit por ela também interpretado no filme ‘O camelô da Rua Larga”, da Cinedistri, também estrelado por Zé Trindade, sendo o lado B a faixa 6, “Segredo”, ambas constantes do também do segundo LP da vcantora-compositora, ainda em 10 polegadas e intitulado apenas ‘Maysa”. Na faixa 3, aparece “Suas mãos”, clássico de Pernambuco (Ayres da Costa Pessoa) e Antônio Maria, editado em setembro de 1958 com o número 10117-A,matriz RGO-767.  O lado B está na faixa 5, “Mundo vazio”, de Amaury Medeiros e Antônio Bruno, matriz RGO-774, ambas também incluídas no terceiro volume de “Convite para ouvir Maysa”, sendo “Mundo vazio” a faixa de abertura do vinil.  A faixa  4, originalmente abrindo o segundo LP de Maysa, de 1957, é o clássico “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, lançado na peça teatral “Orfeu da Conceição” e originalmente gravado por Roberto Paiva. O registro de Maysa foi relançado na cera pela RGE em dezembro  de 57 com o número 10074-A, matriz RGO-295. Para o lado B, foi escalado “Tarde triste”, da própria Maysa, matriz RGO-123, que originalmente foi editada em vinil no primeiro “Convite para ouvir Maysa”, de 10 polegadas, em novembro de1956. Completando esta seleção, duas raríssimas faixas extraídas de um compacto duplo gravado por Maysa na marca francesa Barclay, número 70526,  durante uma temporada em Paris, em 1963: o clássico bossanovista “Chega de saudade” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e “Cent-mille chansons”, de Eddy Mamay e Michel Magné, do filme “O repouso do guerreiro”, de Roger Vadim. Enfim, uma seleção que apresenta alguns dos melhores momentos de Maysa, abrilhantando esta centésima edição do nosso GRB (e pretendemos, claro, ir muito além). Ouçam e recordem conosco estes agradáveis momentos!
*Texto de Samuel Machado Filho

Jackson Do Pandeiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 99 (2014)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 99, apresentando a segunda e última parte da retrospectiva que dedicamos ao “rei do ritmo”, Jackson do Pandeiro. Aqui encontraremos mais 14 gravações históricas deste que foi sem dúvida um dos mais expressivos intérpretes da música regional nordestina. Abrindo a seleção desta semana, temos “O desordeiro”, samba de autoria de Maruim (Ricardo Lima Tavares), lançado pela Philips em junho de 1962 com o número P61135H-B, sendo também faixa de abertura do LP “A alegria da casa!”. Em seguida, as músicas do 78 de estreia de Jackson na Philips, número P61021H, lançado em julho de 1960, ambas composições suas: o baião “Os cabelos de Maria”, que fez com Rosil Cavalcanti (lado B), e o rojão (tipo mais acelerado de baião) “O povo falou”, parceria com Elias Soares (lado A), ambas também incluídas no compacto duplo de 45 rpm “O sucesso do momento”. Da safra de Jackson do Pandeiro na Columbia são as faixas seguintes, ambas lançadas por volta de maio de 1959 sob número CB-11146: no lado A, o chamego ‘Forró na gafieira”, de Rosil Cavalcanti, matriz CBO-2025, e no verso, matriz CBO-2027, o baião “Cantiga do sapo”, do próprio Jackson em parceria com o misterioso Buco do Pandeiro. Ambas as músicas também integraram o primeiro LP do “rei do ritmo” na Columbia, sem título (LPCB-37056), e que abre justamente com “Forró na gafieira”. Depois temos um autêntico clássico: o batuque “O canto da ema”, de João do Valle, Ayres Viana e Alventino Cavalcanti, lançado pela Copacabana em 1956 com o número 5661-B, matriz M-1678, regravado inclusive por Gilberto Gil. E, na faixa seguinte, você tem o lado A, “Coco social”, de Rosil Cavalcanti (crônica interessante a respeito da aceitação dos ritmos nordestinos na chamada alta sociedade, citando até mesmo Jacinto de Thormes, colunista social muito lido na época), matriz M-1677, ambas também incluídas no LP de 10 polegadas “Os donos do ritmo” (isto é, Jackson do Pandeiro e Almira Castilho), que abre com “O canto da ema”. O rojão “Ele disse”, de Edgar Ferreira, é uma homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, e foi lançado pela Copacabana em 1956, dois anos após o trágico suicídio do chefe da Nação, sob número 5579-A, matriz M-1503. A música cita inclusive uma frase da carta-testamento de Getúlio: “O povo de quem fui escravo jamais será escravo de ninguém”. Do Copacabana 5553, também de 1956, são as faixas seguintes, o coco “Falso toureiro”, do próprio Jackson com Heleno Clemente (lado B, matriz M-1415), e o baião “Rosa”, de Ruy de Moraes e Silva (lado A, matriz M-1416). Ambas as faixas, mais “Ele disse”, saíram também no LP de 10 polegadas “Forró do Jackson”, sendo “Falso toureiro” a faixa de abertura do mesmo. Nesse vinil também está nossa próxima faixa, “Coco do Norte”, composição de Rosil Cavalcanti lançada em agosto-setembro de 1955 no 78 número 5444-B, matriz M-1168. Depois temos as faixas do primeiríssimo disco de Jackson, o Copacabana 5155, lançado em outubro-novembro de 1953, ambas clássicos inesquecíveis: o rojão “Forró em Limoeiro”, de Edgar Ferreira, matriz M-578, e o divertido coco “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, matriz M-579. E, encerrando com chave de ouro, e aproveitando o atual clima de Copa do Mundo, o rojão “Um a um”, de Edgar Ferreira, lançado em 1954 com o número 5234-A, matriz M-750, curiosamente às vésperas de uma outra Copa, que aconteceu na Suécia, e na qual o Brasil foi eliminado pelo então supertime da Hungria (apesar disso, os húngaros acabaram perdendo o título para a antiga Alemanha Ocidental). Enfim, uma impecável seleção com momentos inesquecíveis do legado de Jackson do Pandeiro, para colecionadores e apreciadores da melhor música nordestina e brasileira. Até a próxima, pessoal!
* Texto de Samuel Machado Filho

Taxi – Dois Em Um (2014)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Mexendo em meus arquivos musicais ontem, topei com dois discos que me foram enviados, nem lembro por quem. Trata-se do grupo carioca Taxi, uma banda de funk e soul que agitava os bailes do Rio nos anos 70. O fato é que ao ouvir, na curiosidade, acabei também indo atrás de alguma informação, pois eu pouco me lembrava deste grupo, a não ser pelo ‘sucesso regional’ da música “Pode chorar”, que chegou a ecoar também entre os ‘blacks’ aqui da minha Beagá.
O Taxi foi uma banda de ‘black music’ formada por ex-integrantes dOs Diagonais, de Cassiano. Os motoristas desse Taxi eram Amaro, Camarão e Max. Camarão é irmão de Cassiano que também andou dando suas ‘palinhas’ nesse taxi. Pelo que eu sei, o grupo gravou apenas dois discos, o “Pode chorar” em 79 e outro, “Um dia no tempo” em 80. Embora apresentando uma música de boa qualidade, o Taxi não conseguiu ir muito longe. Isso talvez tenha a ver com o fato de que ao longo desse curto espaço de tempo muita merda aconteceu. Dois dos integrantes originais (Max e Amaro) morreram, dando assim uma desestabilizada no trabalho, levando o Taxi a parar definitivamente.
Os dois discos do Taxi, pode se dizer, são hoje puras raridades. Não se encontra um exemplar nem no Mercado Livre. As capas então, muito menos. Por essas e por outras é que eu achei de ressuscitá-los aqui, reunindo os dois discos numa embalagem só. Com fragmentos, criei uma nova capa, montando assim um ‘webdisco’ exclusivo para listar em nossa coleção, o qual eu dei o nome de “Dois em Um”. Espero que esteja no agrado daqueles que escutam música com outros olhos 😉
quero dançar
pode chorar
eu não quero esquentar
nosso mundo de sonhos
ame os seus
eu preciso de você
tema do taxi
foi você
tempo de viver
melô da garrafa
um dia no tempo
amor nào vai faltar
só saudade restou
vacilão
o homem
lindo é teu amar
canção de amor
razão de ser
a volta
bobeira
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Jackson Do Pandeiro – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 98 (2014)

Em sua nonagésima-oitava edição, e prosseguindo em sua brilhante e expressiva trajetória, o Grand Record Brazil tem a honra de apresentar a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a um dos nomes mais expressivos da música regional nordestina. Estamos falando de Jackson do Pandeiro.  Nosso focalizado recebeu na pia batismal o nome de José Gomes Filho, e foi o primeiro grande artista paraibano surgido em plena era do rádio. Veio ao mundo na cidade de Alagoa Grande, no dia 31 de agosto de 1919, filho de José Gomes e de Flora Maria da Conceição, uma cantora de cocos que usava o pseudônimo de Flora Mourão, e lhe deu de presente  o primeiro instrumento musical: um pandeiro, é claro. Seu nome artístico veio de um apelido dado por ele mesmo: Jack, inspirado em um mocinho de filmes de faroeste americanos, Jack Perry. Cantava no interior da sua Paraíba natal desde a adolescência, e fez algumas duplas antes de se consagrar como artista-solo, a primeira com Zé Lacerda, em Campina Grande, ainda como Jack do Pandeiro. Em 1947, às vésperas de começar a ganhar popularidade nas rádios locais, e de ser rebatizado artisticamente como Jackson do Pandeiro (por sugestão de um diretor de programa de rádio, pois ficaria mais sonoro e causaria mais efeito quando fosse anunciado), formou a dupla Café com Leite, com Rosil Cavalcanti, em João Pessoa. Esse duo teve apenas um ano de existência, mas a amizade e a parceria refletiriam no início da carreira-solo de Jackson.  Em 1953, foi contratado pela Rádio Jornal do Commercio, do Recife,  (que tinha o slogan “Pernambuco falando para o mundo”), pertencente à família Pessoa de Queiroz. Foi lá que conheceu Almira Castilho de Albuquerque, com quem se casou em 1956, e viveu até 1967. A segunda esposa de Jackson foi a baiana Neuza Flores dos Anjos, de quem ele também se separou pouco antes de morrer.  Ainda em 1953, já ganhando notoriedade nacional e despertando o interessa das gravadoras, Jackson conhece Luiz Gonzaga, que imediatamente propõe encaminhá-lo à direção da RCA Victor. Porém, Jackson acaba preferindo a Copacabana, por ter escritório no Nordeste. Antes do Natal de 1953, sai seu primeiro disco, um 78 com “Forró em Limoeiro” (Edgar Ferreira) e “Sebastiana” (Rosil Cavalcanti), com êxito imediato. E seguiram-se inúmeros outros sucessos, tais como “O canto da ema”, “O crime não compensa”,  “Lapinha de Jerusalém”, “Chicletes com banana”, “Um a um”, “Cantiga do sapo”, além dos que foram reunidos neste primeiro volume e comentaremos a seguir. Após serem agredidos fisicamente durante uma passagem pelo Recife, Jackson e Almira  decidem residir no Rio de Janeiro, onde são contratados pela então poderosa Rádio Nacional, “a estação das multidões”. Mesclando com sabedoria temas carnavalescos, juninos e até natalinos, os discos de Jackson animavam qualquer ocasião, e deixavam os críticos abismados  com sua facilidade em cantar gêneros variados. O longo tempo em que Jackson tocou em cabarés aprimorou sua capacidade jazzística, sendo também famosa  sua maneira de dividir a música. Diz-se até que o próprio João Gilberto aprendeu a dividir com Jackson, que é considerado por muitos o maior ritmista da música popular brasileira, tanto que era conhecido como “o rei do ritmo”. Além de vários 78 rpm, sua discografia inclui mais de 30 LPs, o último deles, “Isso é que é forró”, lançado em 1981. Foram 29 anos de carreira, tendo passado também pelas gravadoras Columbia (e sua sucessora, a CBS), Philips, Continental e Cantagalo, tendo também participado de inúmeros projetos coletivos. Diabético desde os anos 1960, Jackson do Pandeiro faleceu em 10 de julho de 1982, na Casa de Saúde Santa Lúcia, em Brasília, DF, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Ele tinha participado de um show na Capital Federal uma semana antes, e no dia seguinte passou mal no aeroporto antes de embarcar para o Rio de Janeiro. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Caju, no Rio, e hoje seus restos mortais encontram-se em sua cidade natal, Alagoa Grande, em um memorial que a população do município preparou em sua homenagem. Alceu Valença costuma dizer que Luiz Gonzaga é o Pelé da música, e Jackson do Pandeiro, o Garrincha. É o que comprovaremos na seleção deste primeiro volume que o GRB lhe dedica, com 16 gravações, evidentemente preciosas e de valor histórico, a maior parte delas editadas em 78 rpm pela Copacabana, e reunidas depois em LPs de 10 e 12 polegadas. Abrindo este volume, o coco “A mulher do Aníbal”, de Genival Macedo e Nestor de Paula, lançado por volta de abril de 1954 com o n.o 5234-B, matriz M-749. A faixa seguinte é o xote “Cremilda”, de Edgar Ferreira, bem divertido e malicioso, lançado em maio de 1955 sob n.o 5412-A, matriz M-1014. O outro lado, matriz M-885-2, está na faixa 8: é o samba “Falsa patroa” de Geraldo Jacques e Isaías Ferreira. A faixa 3 é da fase de Jackson na Philips, o “Frevo do bi”, de Brás Marques e Diógenes Bezerra, alusivo à conquista do bicampeonato mundial de futebol (Copa do Mundo) pela Seleção Brasileira no Chile, lançado em junho de 1962, disco P61135H-A (inquebrável e de vinil!), e que nessa ocasião também foi gravado na Continental por um certo Papi Galan. Na quarta faixa, voltando à Copacabana, temos o rojão (tipo de baião mais acelerado) “Cabo Tenório”, de Rosil Cavalcanti, por certo inspirado em um polêmico político dessa época, o alagoano Tenório Cavalcanti (1906-1987), aliás interpretado pelo recém-falecido José Wilker no filme ‘O homem da capa preta”, em 1986. O disco recebeu o número 5741-B, e foi lançado por volta de março de 1957, matriz M-1866. Em seguida você tem justamente o lado A, o “Xote de Copacabana”, do próprio Jackson do Pandeiro (que assina com seu nome verdadeiro, José Gomes), matriz M-1865. A sexta faixa é outro  xote,“Moxotó”, também de José Gomes (ou seja,o próprio Jackson), agora em parceria com Rosil Cavalcanti, datado de 1956, disco 5579-B, matriz M-1504. Em seguida, o clássico “Dezessete na corrente”, rojão de Edgar Ferreira e Manoel Firmino Alves, de 1954, disco 5287-A, matriz M-884-2. O lado B está na décima faixa: é o batuque “O galo cantou”, de Edgar Morais, matriz M-883-2. Na faixa 9, o baião “No quebradinho”, de Marçal Araújo e José dos Prazeres, lançado em agosto-setembro de 1955, disco 5444-A, matriz M-1015. Na décima-primeira faixa, o contagiante “Micróbio do frevo”, de Genival Macedo, para o carnaval de 1955, e que saiu ainda em novembro de 54 com o número 5331-A, matriz M-980. E o lado B, matriz M-981, e faixa 15 desta seleção, é “Vou gargalhar”, samba de Edgar Ferreira que foi um dos campeões da folia de 1955. Na décima-segunda faixa, o divertido “Forró em Caruaru”, rojão que tem a respeitável assinatura do pernambucano Zé Dantas (1921-1962), também parceiro de Luiz Gonzaga em inúmeros hits. Foi lançado em março-abril de 1955 sob n.o 5397-A, matriz M-1104, tendo no verso justamente a faixa seguinte, o batuque “Pai Orixá”, de Edgar Ferreira, matriz M-882-3). Para encerrar, as duas faixas são do disco Copacabana 5277, lançado em 1954: “Eta baião!”, de Marçal Araújo (lado B, matriz M-823-2, faixa 14) e o coco “Boi brabo”, de Rosil Cavalcanti (lado A, matriz M-822-2). É a faixa que termina com chave de ouro a primeira parte da retrospectiva que o GRB dedica a Jackson do Pandeiro, fazendo justiça a este notório, expressivo e até hoje lembrado nome da música regional nordestina, prometendo a segunda parte para a próxima semana. Até lá e fiquem com Deus!
* Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Buci Moreira (parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 97 (2014)

E aí vai para todos os nossos amigos cultos, ocultos e associados, mais uma edição do Grand Record Brasil, a de número 97, apresentando a segunda e última parte da retrospectiva dedicada ao compositor Buci Moreira (1909-1982), oferecendo mais dez gravações históricas com suas músicas. Abrimos esta segunda parte com Carlos Galhardo, interpretando o samba “Loucura”, parceria de Buci com Oswaldo Lira e A. F. Conceição, gravado na RCA Victor em 17 de outubro de 1955 e lançado em janeiro de 56, destinando-se evidentemente ao carnaval, sob n.o 80-1539-B, matriz BE5VB-0896. “O cantor que dispensa adjetivos” também está na faixa 8, “Adoro o samba”, em que Buci Moreira tem como parceiro (aliás, um de seus mais constantes) Arnô Canegal, gravação Victor de 26 de agosto de 1941, lançada em novembro do mesmo ano sob n.o  34830-B, matriz S-052344. Prosseguindo, na faixa 2, temos o grande flautista Benedito Lacerda, à frente de seu grupo Gente do Morro, e também cantando, no samba “Preto d’alma branca”, só de Buci Moreira, que mostra a banalidade do preconceito racial. Foi lançado pela Brunswick (marca americana de curta duração no Brasil) em janeiro de 1931, por certo também visando o carnaval, com o n.o 10128-A, matriz 528. Em seguida  vem o misterioso H. G. Americano, intérprete de curta carreira fonográfica (apenas seis discos com dez gravações, em 1929/30), com o samba “Mulher soberba”, em que Buci tem como parceiro Oswaldo Santiago, lançado pela Odeon em agosto de 1930 com o n.o 10657-B. Depois, Francisco Alves nos traz outro samba, “Em uma linda tarde”, parceria de Buci Moreira com Nasinho (apelido de Norival Reis), gravação Victor de 16 de abril de 1935, lançada em julho seguinte com o n.o 33946-A, matriz 79877, com acompanhamento da orquestra Diabos do Céu, do mestre Pixinguinha. O gaúcho Alcides Gerardi vem com “Protesto”, samba em que Buci tem como parceiro Felisberto Martins, então diretor artístico da Odeon, onde o cantor o gravou em 9 de junho de 1952, com lançamento em setembro do mesmo ano, disco 13318-B, matriz 9332. Henricão (Henrique Felipe da Costa, 1908-1984), também compositor de renome, aqui comparece com o samba “Pra que tanto ciúme?”, de Buci Moreira em parceria com Lacy Martins (irmão de Herivelto), gravado na mesma Odeon em 10 de dezembro de 1937 e lançado em janeiro de 38, com vistas ao carnaval, disco 11565-A, matriz 5731. Pioneiro da música country no Brasil, Bob Nélson (Nélson Roberto Perez, Campinas, SP, 1918-Rio de Janeiro, 2009), devidamente acompanhado de seus “rancheiros” (entre eles nada mais nada menos que Luiz Gonzaga à sanfona), apresenta a marchinha “Companheiro de caçada”, em que o parceiro de Buci Moreira é o ator Macedo Neto, que atuou no rádio e na televisão e foi inclusive marido de Dolores Duran. Foi gravada na RCA Victor em 26 de outubro de 1949, e lançada em janeiro de 50 (para o carnaval, claro) sob n.o 80-0634-A, matriz S-078961. O eterno “metralha do gogó de ouro”, Nélson Gonçalves (1919-1998) nos traz o samba “Perfeitamente”, do trio Buci Moreira-Arnô Canegal-Carlos de Souza, gravação Victor de 7 de abril de 1943, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0086-B, matriz S-052749. Tem versos algo confusos, mas merece ser ouvido.  E, para encerrar com chave de ouro, volta Francisco Alves, agora junto com o Trio de Ouro em sua primeira formação (Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas), com o samba “Não é assim que se procede”, do quarteto Bucy Moreira-Arnô Canegal-Raul Marques-Henrique de Almeida, do carnaval de 1945, gravação Odeon de 13 de dezembro de 44 lançada bem em cima da folia, em fevereiro, disco 12550-B, matriz 7735. O próprio Herivelto comanda o acompanhamento, a cargo de sua escola de samba, e no final da gravação comete um erro crasso dizendo “Não é assim que se PORCEDE”! Isso, porém, é apenas é um detalhe. E assim apresentamos a segunda e última parte da retrospectiva do GRB dedicada a Buci Moreira. Até a próxima e muito obrigado pela atenção e carinho!
*Texto de Samuel Machado Filho

João Gilberto – El Concierto Del Dia Seguinte – Madrid 1985 (2014)

Olá amigos cultos e ocultos! Como havia dito, esta é uma semana de surpresas e exclusividades, que fazem do Toque Musical um espaço único e sem igual (ups, até rimou). Para a nossa sexta feira eu estou trazendo uma outra produção da casa. Mais um bom registro do nosso querido João Gilberto, que com toda certeza vai fazer sucesso por aqui.
Há algum tempo atrás, conversando com um amigo espanhol, ele me contou sobre a primeira vez que o João Gilberto se apresentou na Espanha. Me disse que um amigo seu havia gravado todo show e por contingências do destino, ele foi quem acabou ficando com a fita. Uma pepita de ouro para ele. Um registro histórico guardado a sete chaves. Eu, na época dessa conversa bem que tentei convencê-lo a liberar o áudio para o Toque Musical, mas ele foi irredutível. Mas, como dizem, o que é do homem o bicho não come. Foi só esperar e eis que agora me chegou todo o material. Através de uma boa dica de um dos nossos amigos, consegui puxar pelo Torrent o comentado primeiro concerto de João Gilberto na Espanha. Acredito que este arquivo sonoro não seja o mesmo deste amigo espanhol. Provavelmente haviam outros também fazendo o ‘piratex’. O arquivo que baixei no Torrent veio com um áudio baixo, com as músicas separadas de maneira tosca, desmembradas de um áudio linear, um programa da Radio Nacional de España/Radio 3, segundo informação do texto em anexo, veiculado em 2010. Certamente, desde então, muita gente pode ter gravado este programa. E agora ele está aqui. Eu recuperei o áudio, dando um ganho substancial. Criei a arte e capinha, pois afinal a coisa aqui tem que ter uma boa apresentação. Não sei se vou agradar, mas acho que a capa ficou bonitinha.
Para uma melhor compreensão do que foi este show em Madrid, reproduzo a baixo o texto do “Anonymous”:
Show realizado em 19 de julho de 1985, João contava 54 anos de idade. Na noite anterior, portanto aos 18 de julho daquele ano, João havia executado sua mítica apresentação no festival de Montreux, que virou o primeiro disco ao vivo de sua carreira. Organizado pela prefeitura de Madrid, o show fazia parte da programação de “Los Veranos de la Villa”, onde constavam duas noites dedicadas à Bossa Nova. Na programação estavam agendados Antônio Carlos Jobim & Banda Nova para o dia 19/07 e João Gilberto para o dia 20/07. Tom já estava na Espanha, onde se apresentou no IX Festival de Jazz de Vitória-Gasteiz no dia 17/07. Contudo, João e sua equipe solicitaram à organização do evento que invertesse as datas de apresentação – muito possivelmente por motivos de saúde, uma vez que é possível perceber nessa gravação que João começava a transparecer um início de gripe, tossindo entre as canções. Com as entradas esgotadas para os dois dias, os organizadores atenderam ao pedido do artista e trocaram as datas. Assim, quem havia comprado entradas para ver Tom acabou assistindo João e vice-versa. Foram quase 1h30min de espera no sufocante verão de Madrid, e o público recebeu João “en el recinto castrense del Patio Central del Conde Duque de Madrid” com uma algazarra entre o alívio e a indignação. É possível que tenha sido seu primeiro concerto na Espanha. Vestia a mesma roupa que usara na noite anterior na Suíça (paletó cinza de padronagem xadrez, calça bege e tênis branco). Manteve praticamente o mesmo repertório e a mesma máxima potência hipnótica, ainda assim percebe-se um show sensivelmente distinto do anterior, capaz de revelar, no cotejo entre as apresentações, informações preciosas acerca do bruxo de Juazeiro. Para além das canções incluídas no disco de Montreux, podemos escutar nessa gravação de Madrid as canções “Wave”, “Chega de saudade”, “Eclipse”, “Doralice” e “Aos pés da cruz”. O destaque fica para “Você já foi à Bahia?”, escrita por Dorival Caymmi e inédita em toda a discografia oficial ou mesmo dentre as gravações piratas disponíveis na rede.
tim tim por tim tim
você já foi a bahia?
rosa morena
sem compromisso
wave
retrato em branco e preto
pra que discutir com madame
desafinado
chega de saudade
garota de ipanema
o pato
eclipse
adeus américa
a felicidade
estate
isto aqui o que é
doralice
menino do rio
aos pés da cruz
preconceito
aquarela do brasil
.

Rita Lee & Tutti Frutti – Ao Vivo No Teatro Zaccaro SP 1976 (2014)

Olá, amigos cultos e ocultos! Estou tendo uma semana cheia de novidades, porém me falta o tempo necessário para encantar vocês. Nesta semana eu espero ainda apresentar aqui pelo menos duas curiosidades, ao estilo do Toque Musical. Ou melhor dizendo, duas produções exclusivas da casa 😉
Eis aqui a primeira, Rita Lee e sua banda Tutti Frutti em show realizado no Teatro Zaccaro, em Sampa, no ano de 1976. Um ano conturbado para a cantora, quando então enfrentou entre outras uma prisão por porte de maconha. Foi o ano também de lançamento do álbum “Entradas & Bandeiras”. Este show, me parece, foi o último com a banda. Ela depois partiria para uma carreira, digamos, mais solo e pop. O presente registro não é nenhuma coisa muito rara, podendo até ser encontrado no Youtube. Aqui, eu trago para vocês o show todo editado e no formato que a gente gosta, de um autêntico disco. A qualidade do som é razoável, vale mais pelo seu lado histórico. Além de tocar o repertório de “Entradas & Bandeiras”, ela ainda incrementa o show com clássicos dos Stones, Emerson Lake & Palmer, Rick Derringer e até o “Para Lennon e McCartney” de Milton Nascimento.

bruxa amarela
from the beginning
2001
com a boca no mundo (tico tico)
rock and roll hoochie koo
arrombou a festa
superstafa
para lennon e mccartney
corista de rock
posso contar comigo
drift away
esse tal de roque enrow
coisas da vida
superstafa bis
brown sugar
.

A Música De buci Moreira – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 96 (2014)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 96. Desta feita, apresentamos a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada à obra musical de um dos maiores compositores do samba carioca: Buci Moreira. Buci veio ao mundo no dia primeiro de agosto de 1909. Seu pai, Guilherme Eduardo Moreira, era violonista e ele, desde pequeno, mostrou vocação para ritmista. Buci também era neto da lendária Tia Ciata, em cuja residência, nas proximidades da não menos lendária Praça Onze, reuniam-se pioneiros do samba. Em 1917, sem deixar sua casa em São Cristóvão, passou a viver também com outra família no mesmo bairro, fazendo companhia a um menino da casa, e começando seus estudos. Em 1922, foi morar com a avó, até a morte desta, em 1924, e de 1925 a 1927, estudou na Escola Bom Jesus, na Ilha de Paquetá. Com a morte de sue pai, em 1928, Buci foi viver com os tios na Praça Onze, ingressando no Colégio Benjamin Constant. No ano seguinte, desfilou pela única vez naquela que é considerada a primeira escola de samba, a Deixa Falar. Foi justamente na Praça Onze que, em 1930, foi descoberto por Francisco Alves, primeiro a gravar uma composição de Buci, o samba “Palhaço”, parceria com Nélson Januário. Nessa ocasião, começou a atuar como ritmista em gravações na Odeon, formando dupla com Waldemar Silva e, depois, com Arnô Canegal. Entre 1936 e 1940, foi diretor de harmonia da Escola de Samba Vê Se Pode, do Morro de São Carlos, da qual foi um dos fundadores e onde, claro, também desfilou. Trabalhou no cinema, com o cineasta Moacyr Fenelon, e em 1943 participou, ao lado de outros sambistas, do famoso filme inacabado de Orson Welles, “It’s all true”. Entre seus sucessos como compositor destacam-se “Anda, vem cá” (neste volume), “Quem pode, pode”, “Por que é que você chora?”, “Em uma linda tarde” e, o mais conhecido, o samba “Não põe a mão”, parceria com Arnô Canegal e Mutt, gravado pelos Titulares do Ritmo e um dos campeões do carnaval de 1951. Buci Moreira faleceu em seu Rio de Janeiro natal, no dia 28 de março de 1982. Neste primeiro volume, apresentamos dez composições de Buci Moreira, interpretadas por cantores de prestígio em seu tempo. Abrindo-o, temos Linda Batista, interpretando o samba “Casa de cômodos”, parceria de Buci com Carlos de Souza, por ela gravado na Victor em 18 de maio de 1944 e lançado em  agosto seguinte sob n.o 80-0196-A, matriz S-052964. Ela ainda interpreta aqui “Mau costume’ (faixa 3), samba dos mesmos autores mais Chiquinho Sales, gravado também no selo do cachorrinho Nipper em 15 de junho de 1942, com lançamento em agosto do mesmo ano sob n.o 34954-A, matriz S-052554. Por fim, Linda canta, na faixa 5, o samba “Salve a batucada”, do mesmo trio de autores de ‘Mau costume”, também gravação Victor, esta de 11 de maio de 1942, lançada em julho seguinte com o número 34939-B, matriz S-052514. Na faixa 2, a bossa inconfundível da dupla Francisco Alves e Mário Reis, no samba “Anda, vem cá”, gravado na Odeon em 3 de agosto de 1931, disco 10824-B, matriz 4264. O curioso é que Buci Moreira aparece como autor no selo original, mas na edição impressa, da editora Mangione, o samba é creditado a Francisco Alves, Ismael Silva e Nílton Bastos. Na faixa 4, temos o samba “Você foi a culpada”, parceria de Buci Moreira com o ex-pugilista Kid Pepe, na interpretação dos Quatro Diabos,grupo vocal integrado por estudantes de direito. Saiu pela Odeon em agosto de 1935, sob número 11252-B, aliás o único disco do quarteto. Filha do compositor e instrumentista Heitor Leite Sodré, que adotou o pseudônimo de Heitor Catumbi, a carioca Odaléa Sodré (1924-?) interpreta aqui outro samba da parceria Buci Moreira-Kid Pepe, “Romance da morena”, lançado pela Columbia em 1936 no primeiro de seus três únicos discos, número 8165-B, matriz 1112. Aurora Miranda, irmã de Cármen, vem com a marchinha natalina “Blem blau”, em que Buci tem como parceiros Portello Juno e Vicente Paiva (que a acompanha aqui com sua orquestra), gravação Odeon de 3 de novembro de 1936, lançada em dezembro seguinte sob n.o 11414-A, matriz 5434. O Quarteto de Bronze, que tem sido um mistério quanto a seus integrantes, comparece com o samba “Terra do ferro”, parceria de Buci Moreira com Carlos de Souza e Ely de Almeida, lançado pela Victor em maio de 1942 sob n.o 34925-A. Falando em Cármen Miranda, ela aqui nos apresenta “Dance rumba”, que Buci fez em parceria com um especialista nesse ritmo caribenho, Djalma Esteves. Gravação Odeon de 25 de março de 1937, lançada em julho do mesmo ano, disco 11489-A, matriz 5557. Para encerrar esta primeira parte, temos outra Cármen, a Barbosa, de curta carreira e morte prematura, interpretando o samba “Maior prazer”, parceria de Buci Moreira com Miguel Baúso, em gravação Columbia de 13 de maio de 1939, lançada em junho seguinte sob n.o 55069-B, matriz 153. Semana que vem, amigos cultos, ocultos e associados, mais um pouco da obra musical de Buci Moreira. Até lá!
*Texto de Samuel Machado Filho

Cantoras – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 95 (2014)

Em sua edição de número 95, o Grand Record Brazil volta a apresentar uma seleção apenas com cantoras, muitas delas de marcante presença na história de nossa música popular. Algumas das dezesseis faixas desta edição foram conseguidas por mim mesmo graças à imprescindível colaboração de colecionadores e pesquisadores como Beto de Oliveira, Gilberto Inácio Gonçalves e Marcelo Bonavides de Castro, este último do Acervo Nirez, de Fortaleza, CE, e também administrador do blog Estrelas que Nunca se Apagam. A eles (e também ao próprio Nirez) nossos mais sinceros agradecimentos. Abrindo nossa seleção desta semana, temos Dora Lopes, cantora e compositora nascida (1922) e falecida (1983) no Rio de Janeiro. Ela comparece aqui com o disco Sinter 00-00.214, lançado em abril de 1953, apresentando dois sambas-canções. Na faixa 2 está o lado A, matriz S-458, “Baralho da vida”, composto por Ulisses de Oliveira, mineiro de Juiz de Fora e personagem marcante na história dessa cidade. E na primeira faixa temos o lado B, “Você morreu pra mim”, matriz S-459. Uma faixa histórica, pois constituiu-se na primeira composição gravada de Newton Mendonça , também nascido (1927) e falecido (1960, prematuramente, aos 33 anos, de infarto fulminante) no Rio de Janeiro. Pianista, compositor, gaitista e violinista, ele seria parceiro de Tom Jobim em várias composições de sucesso, entre elas “Desafinado”, verdadeiro hino da bossa nova. Em “Você morreu pra mim”, Newton tem a parceria de Fernando Lobo, outro notável compositor da MPB (fez, entre outras,“Chuvas de verão”, “Nêga maluca”, “Chofer de praça”, “Preconceito”, etc.) e pai de outro grande cantor-compositor brasileiro, Edu Lobo.  Portuguesa de Vizeu, Vera Lúcia Ermelinda Balula (1930-?) naturalizou-se brasileira e foi eleita Rainha do Rádio em 1955, derrotando Ângela Maria (vencedora desse concurso um ano antes) por decisão do apresentador Manoel Barcelos, da Rádio Nacional, como homenagem a Cármen Miranda, que também era portuguesa como ela e falecera nesse mesmo ano nos EUA. Vera Lúcia aqui comparece com a gravação original de um samba-canção clássico de Tito Madi, “Cansei de ilusões”, lançada pela Continental em agosto-setembro de 1956 sob número 17323-A, matriz C-3845. “Cansei de Ilusões” foi várias vezes regravado, inclusive pelo próprio Tito Madi, e está finalmente aqui em seu primeiro registro, com Vera Lúcia. Possivelmente o saxofone que se ouve na gravação é de Zé Bodega, então atuando na Orquestra Tabajara de Severino Araújo. Em seguida, tiramos do esquecimento a excelente cantora mineira Daisy Guastini.  Ela iniciou sua carreira nos anos 1950, como locutora e atriz da Rádio Inconfidência e apresentadora da TV Itacolomi, ambas de Belo Horizonte, capital de Minas. Casou-se com o compositor e guitarrista Nazário Cordeiro, com quem teve a filha Daisy Cordeiro, também cantora, e atuou também em emissoras do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Deixou, porém, uma discografia muito aquém de seu potencial como intérprete: apenas dois compactos duplos, um pelo selo Arpège, do tecladista Waldir Calmon, dono da boate carioca de mesmo nome, em 1959, e outro pela RGE, em  1964. Do primeiro deles, o Arpège AEP-1003, é a gravação aqui escalada, e por sinal sua faixa de abertura: o famoso samba-canção “O que tinha de ser”, da profícua parceria Tom Jobim-Vinícius de Moraes, bastante conhecido e com inúmeros outros registros. A carioca Dalva de Andrade (n.1935) aqui comparece com um disco de 1959, o Polydor 305. No lado A, matriz POL-3504, gravado em 3 de março desse ano, está o samba “Brigas, nunca mais”, outro produto de sucesso da dupla Tom Jobim-Vinícius de Moraes, e com inúmeras gravações. No lado B, matriz POL-3487, gravado em fevereiro do mesmo ano (talvez no dia 20), está o samba-canção “História”, de Fernando César em parceria com o cantor Luiz Cláudio, falecido no ano passado sem qualquer divulgação por parte da mídia, tanto que fiquei sabendo de sua morte através do Toque Musical, quando foram repostados vários álbuns por ele gravados. Ambas as gravações, com acompanhamento concebido e dirigido pelo maestro Peruzzi, também figuraram no primeiro LP da cantora, “Eis Dalva de Andrade”.  Dalva teve de abandonar a carreira prematuramente, em meados da década de 1960, por problemas de deficiência auditiva, lançando, depois disso, apenas dois compactos de produção independente. Gaúcha de Porto Alegre, Luely da Silva Figueiró (1936-2010) mudou-se para São Paulo em 1957, após ser eleita Rainha do Rádio gaúcho, atuando nas Emissoras Unidas (Rádio e TV Record).  Foi também atriz de cinema, aparecendo em filmes como “A doutora é muito viva” (1956), “Casei-me com um xavante” (1957) e “Marido de mulher boa” (1960). Viveu alguns anos com o cantor-compositor Sérgio Ricardo (aquele do violão quebrado em festival), no Rio de Janeiro, voltando a morar em São Paulo na década de 1970 e abandonando a carreira artística. Retomando seus estudos, formou-se professora de ensino de segundo grau, exercendo a profissão durante anos até se aposentar, na virada do século XXI. De Luely Figueiró escalamos outro clássico da dupla Tom Jobim-Vinícius de Moraes: o samba “A felicidade”, do filme “Orfeu negro” (nos cinemas, “Orfeu do carnaval”), produção franco-italiana filmada no Rio de Janeiro e premiada com o Oscar de filme estrangeiro, e nele interpretado por Agostinho dos Santos. A gravação de Luely saiu pela Continental em  agosto de 1959, sob número 17713-A, matriz C-4191. A carioca Iracema de Souza Ferreira, aliás, Nora Ney (1922-2003), de marcante presença em nossa música popular como intérprete essencialmente romântica, aqui comparece com dois sambas-canções de sucesso, ambos do disco Continental  16726, gravado em 23 de janeiro de 1953 e lançado em março-abril desse ano, com acompanhamento orquestral de Copinha. Abrindo-o, matriz C-3043, o inesquecível ‘De cigarro em cigarro”, de Luiz Bonfá, e no verso, matriz C-3044, “Onde anda você?”, de Antônio Maria e Reynaldo Dias Leme. Outro resgate importantíssimo é o de Laís Marival (Maria Neomézia Negreiros, 1911-?), paulista de Taquaritinga, e de curta carreira fonográfica: apenas sete discos 78 com catorze músicas, entre 1936 e 1938, todos pela Columbia, futura Continental.  Do penúltimo deles, número 8296-B, matriz 3510, de 1937, é o samba aqui escalado, “Saudades do morro”, de H. Celso e A. Santos.  Nos anos 1980/90, Laís ainda participava de corais em São Paulo. “Molambo”, de autoria do violonista Jayme Florence (o Meira dos regionais) em parceria com Augusto Mesquita, é um dos clássicos do samba-canção brasileiro, tendo recebido inúmeras gravações ao longo dos anos. O que quase ninguém sabe, porém, é que “Molambo” foi lançado pela cantora Julinha Silva no lado A de seu disco de estreia, o Todamérica TA-5334, gravado em 18 de junho de 1953 e editado em setembro do mesmo ano, matriz TA-487. Julinha é outra que teve curta carreira fonográfica, deixando apenas sete discos 78 com catorze músicas, entre 1953 e 1962, nos selos Todamérica, Guanabara, Mocambo e Continental. Onilda Figueiredo, pernambucana do Recife, comparece aqui com seu primeiro disco,feito justamente numa gravadora de lá, a Mocambo dos irmãos Rozenblit, por sinal a primeira instalada fora do eixo Rio-São Paulo. Lançado em junho de 1956, com Onilda ainda adolescente, o 78 abre com o tango “Nunca! Jamais! (Nunca! Jamás!)”, de Lalo Guerrero em versão de Nélson Ferreira (compositor de frevos de sucesso e então diretor artístico da Mocambo), matriz R-694, depois faixa de abertura do único LP da cantora, o dez polegadas ‘A voz de Onilda Figueiredo”. Também está aqui o lado B, matriz R-695, o bolero “Desespero”, de Ângelo Iervolino, que não entrou no LP. Apesar de seu potencial como cantora, Onilda é outra com discografia escassa. Além do LP já mencionado, só gravou quatro discos 78 com oito músicas, tudo na Mocambo. Uma das melhores cantoras brasileiras, a carioca Claudette Soares (n. 1937) iniciou-se ainda na infância, no programa “A raia miúda”, apresentado na Rádio Nacional por Renato Murce, passando mais tarde a apresentar-se no “Programa do guri”, de Silveira Lima, na Rádio Mauá.  Na Rádio Tamoio, quando atuava no programa ‘Salve o baião”, conheceu Luiz Gonzaga, que a chamou de “princesinha do baião”. E foi com dois baiões que Claudette estreou em disco, através da Columbia, futura Sony Music. Editado em junho de 1954 com o número CB-10049, com Claudette na plenitude de seus 17 anos, o 78 apresenta “Você não sabe”, de Castro Perret e Jane (matriz CBO-218, faixa 15) e, no verso, matriz CBO-219 (faixa 14), “Trabalha, Mané”, de José Luiz e João Batista da Silva. Dos dois baiões, por certo “Trabalha, Mané” ficou mais conhecido, uma vez que foi regravado pelos grupos Os Cangaceiros e Os Três do Nordeste. No entanto, após fazer outros discos 78 na Columbia e na Repertório, Claudette Soares só conseguiu gravar seu primeiro LP em 1964, na Mocambo, com o nome de “Claudette é dona da bossa”, pontapé inicial para inúmeros outros trabalhos de sucesso. Para encerrar, apresentamos nada mais nada menos que Marta Rocha. Eleita Miss Brasil em 1954, a baiana causou comoção em todo o país ao perder o título de Miss Universo, no mesmo ano, para a americana  Myrian Stevenson. Marta teria perdido porque teria duas polegadas a mais nos quadris. Entretanto, no livro “O império de papel – Os bastidores de O Cruzeiro”, o jornalista Accioly Neto, ex-diretor da revista, garante que as tais polegadas foram inventadas pelo fotógrafo João Martins, inconformado com o resultado, com a cumplicidade de outros jornalistas presentes ao concurso, realizado na cidade americana de Miami, na Flórida. Boato ou não, o fato é que o Brasil inteiro cantou com Marta Rocha ‘Duas polegadas”, marchinha de Pedro Caetano, Carlos Renato e Alcyr Pires Vermelho, lado B do primeiro dos dois únicos discos 78 que ela gravou pela Continental, número 17134, lançado em agosto-setembro de 1955, matriz C-3610. É com esta curiosidade que encerramos mais esta edição do GRB dedicada a vozes femininas. Até a próxima e divirtam-se!

*Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Príncipe Pretinho – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 94 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva dedicada à obra musical do compositor Príncipe Pretinho (José Luiz da Costa),  uma personalidade tão misteriosa quanto fascinante em nossa música popular. Príncipe Pretinho, como já vimos anteriormente, muito incentivou  o compositor Herivelto Martins no início de sua carreira. Certamente por isso é que o Trio de Ouro, formado por ele, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas, interpreta a maior parte das vinte faixas aqui incluídas, ou seja, nove.  A começar pela primeira, o samba “Todos têm o direito”, parceria de Príncipe Pretinho com J. J. de Oliveira, curiosamente uma das derradeiras gravações da primeira fase do trio, que logo se desfez com a separação ruidosa de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira (e também a última composição gravada de Pretinho). Destinado ao carnaval de 1949, foi gravado na Odeon em 2 de dezembro de 48, e lançado um mês antes do tríduo momesco, em janeiro, sob n.o 12910-B, matriz 8463. Na faixa 4, o trio apresenta a marchinha junina “Toma cuidado”, apenas e tão-somente de Príncipe Pretinho, lançada pela Columbia em junho de 1941 sob n.o 55278-A, matriz 401. No monólogo inicial, Dalva de Oliveira, com singela voz de menina, faz, e muito bem, a personagem  Zefinha, então sucesso no programa de rádio “Piadas do Manduca”.  Na faixa 6, o trio vem com um samba em que Pretinho tem o próprio líder e fundador, Herivelto Martins, como parceiro: “É triste a gente querer”, do carnaval de 1947, gravação Odeon de 6 de dezembro de 46, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 12758-A, matriz 8144. Em seguida, na sétima faixa, vem o batuque “É a lua”, só de Pretinho, gravação também da Odeon, em 4 de junho de 1946, lançada em agosto do mesmo ano, disco 12715-A, matriz 8055. A faixa 9 é uma parceria de Pretinho com José de Sá Roris, a marchinha “Dança la conga”, do carnaval de 1942, gravada em pleno dia de Natal de 41 (25 de dezembro) e lançada às vésperas dos festejos de Momo, em janeiro, sob n.o 55319-B, matriz 490. Em seguida, o trio nos oferece o samba “Maria Cheirosa”, só de Pretinho, gravação Columbia de 12 de maio de 1942, lançada logo em seguida  sob n.o 55338-B, matriz 512. Vem logo depois uma regravação do ponto de macumba “Quem tá de ronda”, só de Pretinho, originalmente lançado em 1935 na voz de Francisco Sena, registro esse que apresentamos em nosso volume anterior. Aqui, veio como batuque no selo, e o Trio de Ouro o regravou na Columbia no lado A de “Maria Cheirosa”, matriz 513. Na faixa 16, temos “Porta afora”, outra parceria de Pretinho com Herivelto Martins, samba do carnaval de 1945. Foi gravado pelo trio na Odeon em  29 de novembro de 44, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, disco 12542-B, matriz 7718. Por fim, na faixa 17, o Trio de Ouro encerra sua participação neste volume com “Quem vem descendo”, outro samba da parceria Príncipe Pretinho-Herivelto Martins, do carnaval de 1944. Gravação Odeon de 23 de novembro de 43, lançada em janeiro seguinte sob n.o 12404-B, matriz 7424. No restante do programa, temos outros grandes intérpretes. Castro Barbosa, que também marcou época no rádio brasileiro com o humorístico “PRK-30”, interpreta, em nossa segunda faixa, o samba “Eu queria um adeus”, da parceria Príncipe Pretinho-Herivelto Martins, destinado ao carnaval de 1941. Foi gravado na Columbia em 11 de novembro de 40, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 55264-B, matriz 346. Ao lado de suas Pastoras, Ataulfo Alves, o sempre lembrado poeta de Miraí, apresenta em nossa terceira faixa o batuque “Alodê”, só de Príncipe Pretinho.  Foi gravado na Victor em 16 de maio de 1946, e lançado em setembro do mesmo ano, disco 80-0433-B, matriz S-078518. Na faixa 5, um clássico interpretado por Zé e Zilda, “a dupla da harmonia”:  o samba “Só pra chatear”, um dos campeões do carnaval de 1948. Gravação Continental de 30 de outubro de 47, lançada ainda em dezembro com o número 15856-A, matriz 1772. Outro inesquecível intérprete de nossa música popular, Francisco Alves, o eterno Rei da Voz, aqui comparece com dois sambas de carnaval da parceria Príncipe Pretinho-Herivelto Martins, gravados na Odeon.  Na faixa 8, “Ela”, da folia de 1943, e também interpretado por Chico no filme ‘Samba em Berlim”, da Cinédia. Gravação de 3 de novembro de 1942, lançada ainda em dezembro com o número 12236-B, matriz 7127. E, na faixa 15, “Se a vida não melhorar”, do carnaval de 1945, registrado em 26 de dezembro de 44 e lançado bem em cima da folia pela “marca do templo”, em fevereiro, sob n.o 12555-B, matriz 7741. Isaura Garcia, a sempre “personalíssima”, apresenta, na faixa 12, outro samba da parceria de Pretinho com Herivelto Martins, “Consciência”, gravação Columbia de 27 de abril de 1942, lançada em maio seguinte com o número 55345-A, matriz 522. Nélson Gonçalves, o eterno “metralha do gogó de ouro” vem com outro samba da profícua parceria Príncipe Pretinho-Herivelto Martins, “Não fiquei louco” (faixa 13), do carnaval de 1945, gravação Victor de 26 de outubro de 44 , lançada um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, disco 80-0244-A, matriz S-078075. O “Formigão”, Cyro Monteiro, aqui comparece, na faixa 14, com o samba “Voltei mas era tarde”, em que Príncipe Pretinho tem a parceria de Geraldo Pereira. Gravação Victor de 13 de setembro de 1944, lançada em novembro seguinte com o número 80-0228-B, matriz S-078053. Na faixa 18, Cármen Costa interpreta “Caramba”, parceria de Pretinho com Henricão, samba destinado ao carnaval de 1943. Outra gravação Victor, esta de 19 de novembro de 42, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 80-0045-A, matriz S-052660. Em seguida, a marchinha “A violeta”, em que Pretinho tem Marino Pinto como parceiro. Destinada ao carnaval de 1943, foi lançada pela Columbia em janeiro desse ano na voz de Déo (“o ditador de sucessos”), sob n.o 55398-B, matriz 589. Para encerrar, o GRB resgata Alfredo Simoney, cantor sobre o qual não existe biografia disponível no momento, mas que deixou uma discografia até razoável, compreendendo, em 78 rpm, 15 discos com 28 músicas, em inúmeros selos, além de uma participação no LP “Boate à beira-mar’ (Copacabana, 1959), do acordeonista Paschoal Melillo, interpretando “Saudade de Itararé”. Aqui, o lado A do único disco de Simoney na Columbia, n.o 55350, lançado em junho de 1942, apresentando o samba “Marambaia”, de Príncipe Pretinho  sem parceria, matriz 532. Enfim, um encerramento com chave de ouro para a segunda e última parte da retrospectiva dedicada pelo GRB a Príncipe Pretinho, que por certo irá enriquecer os acervos de tantos quantos apreciem o que a MPB deixou de melhor e mais expressivo. Até a próxima, pessoal!
* Texto de Samuel Machado Filho

Carnaval A – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 91 (2014)

Ó abre alas que o Grand Record Brazil quer passar! E apresenta para os amigos, cultos e associados do Toque Musical a primeira de duas partes de uma seleção dedicada ao carnaval. Vocês por certo irão se deliciar, e muito, com as músicas que o Augusto escolheu para esta seleção, muitas delas verdadeiros clássicos da folia de Momo, cantadas nos bailes até hoje, nas vozes de intérpretes renomados. Nesta primeira parte, oferecemos catorze gravações, todas elas marchas ou marchinhas. Abrindo esta seleção, temos Blecaute (Otávio Henrique de Oliveira, Espírito Santo do Pinhal, SP, 1919-Rio de Janeiro, 1983), cantor que recebeu esse apelido do Capitão Furtado, apresentador de programas sertanejos do rádio paulistano, por causa dos apagões que havia na época da Segunda Guerra Mundial, a fim de evitar ataques inimigos, nos quais a orla marítima do Brasil ficava às escuras. Com inúmeros hits carnavalescos no currículo, Blecaute,  de início, nos oferece a deliciosa “Maria Escandalosa”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, sucesso absoluto no carnaval de 1955, lançado pela Copacabana em janeiro desse ano sob n.o 5354-B, matriz M-999, e também abrindo o LP coletivo da gravadora com músicas para essa folia, em 10 polegadas. Em 1992, esta marchinha foi revivida na novela “Deus nos acuda”, da TV Globo, na voz de Ney Matogrosso, como tema de uma personagem também chamada Maria Escandalosa, interpretada por Cláudia Raia. Em seguida, o eterno “general da banda” recorda, dos mesmos autores, a “Marcha do gago”, lançada originalmente em 1950 por Oscarito, astro da lendária Atlântida Cinematográfica, que também a interpretou no filme “Carnaval no fogo”. O registro de Blecaute é do LP de 10 polegadas “Carnaval do Rio”, também da Copacabana, lançado em 1955. Bill Farr (Antônio Medeiros Francisco, Sapucaia, RJ, 1925-Rio de Janeiro, 2010), outro intérprete da época áurea do rádio, nos oferece “Maricota Cervejota”, de autoria de João de Barro, o Braguinha, verdadeiro campeão de carnavais. Feita para o carnaval de 1956, a marchinha foi gravada na Continental em 21 de setembro de 55,e lançada ainda em novembro-dezembro sob n.o 17208-A, matriz C-3701, e no LP coletivo de 10 polegadas “Carnaval de 56”. Encontraremos em seguida, na interpretação de Orlando Silva (Rio de Janeiro, 1915-idem, 1978), o eterno “cantor das multidões”, um inesquecível clássico carnavalesco: “A jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, calcada em motivo popular do final do século XIX, e que dominou a folia de 1939.  Teve quatro gravações por Orlando  (que também a interpretou no filme “Banana da terra”, da Cinédia) na Victor: as duas primeiras em 21 de outubro de 1938 (matrizes 80917-1 e 80917-2), a terceira dez dias depois (matriz 80925-R) e finalmente a quarta e definitiva, que ouvimos nesta seleção, em 6 de dezembro de 38, matriz 80917-3, sendo o disco lançado pouco depois com o número 34386-B (dos quatro registros, o primeiro não teria sido lançado). Ainda hoje está presente nos bailes, e é um sucesso permanente de nosso cancioneiro carnavalesco. Outro campeão de carnavais, Lamartine Babo (Rio de Janeiro, 1904-idem, 1963) aqui nos oferece uma de suas marchinhas clássicas, feita em parceria com Paulo Valença: “Aí, hein?”, um dos hits do carnaval de 1933, por ele interpretado em dueto com Mário Reis. Gravação Victor de 25 de novembro de 32, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 33603-A, matriz 65601. Lalá também está na faixa 13, “Grau dez”, de sua parceria com Ary Barroso, em dueto com Francisco Alves, sucesso do carnaval de 1935, gravado na Victor em 16 de outubro de 34, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, disco 33880-B, matriz 79737. Na faixa 6, Carlos Galhardo (1913-1985) nos oferece outro clássico inesquecível e muito cantado nos bailes até hoje: “Alá-lá-ô”, de autoria de outros dois colecionadores de hits carnavalescos, Haroldo Lobo e Nássara. Sucesso absoluto do carnaval de 1941, também interpretado por Galhardo no filme “Vamos cantar”, da Pan-América Filmes, foi por ele imortalizada na Victor em 21 de novembro de 40, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 34697-A, matriz 52055, e ganhou súbita atualidade neste verão de 2014, no qual têm se registrado altíssimas temperaturas, com os desconfortos de praxe. Destaque também  para a introdução instrumental, obra de gênio do mestre Pixinguinha. Outro clássico momesco vem em seguida: “Pierrô apaixonado”, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, do carnaval  de 1936. Gravação Victor de Joel de Almeida (“o magrinho elétrico”) em dupla com Gaúcho, datada de 26 de dezembro de 35 e lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 34012-A, matriz 80060. Logo depois, outra divertida e clássica marchinha do mestre Lamartine Babo, “História do Brasil”, do carnaval de 1934. Foi imortalizada na Victor por Almirante (“a maior patente do rádio”) em 15 de dezembro de 1933, com lançamento um mês antes do tríduo momesco de 34, em janeiro, sob n.o 33740-B, matriz 65917. Talento precoce revelado pela Rádio Record de São Paulo, Mário Ramos de Oliveira, o Vassourinha, teve morte prematura, em 1942, aos 19 anos, de doença óssea, deixando gravados seis discos com doze músicas, todos pela Columbia. De seu terceiro disco, n.o 55308-A, lançado em dezembro de 1941 com vistas ao carnaval de 42, matriz 474, é esta marchinha de Antônio Almeida, “Chic chic bum”, interessante crônica do tempo em que o bonde era o principal meio de transporte no Rio de Janeiro. De Herivelto Martins em parceria com o pistonista Bonfiglio de Oliveira é “Mais uma estrela”, do carnaval de 1935, gravada na Victor por Mário Reis em 5 de outubro de 34, com lançamento ainda em novembro sob n.o 33850-A, matriz 79712. O problema da falta de moradia, já crônico naqueles tempos, é glosado por Peterpan (José Fernandes de Almeida) e Afonso Teixeira na “Marcha do caracol”, sucesso do carnaval de 1951, gravado na RCA Victor pelos Quatro Ases e um Coringa em 4 de outubro de 50 e lançado ainda em dezembro, disco 80-0728-A, matriz S-092771. Traduzindo as dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial, com escassez generalizada de combustíveis e alimentos, vem a marchinha “Eu brinco”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, do carnaval de 1944, imortalizada pelo eterno Rei da Voz Francisco Alves na Odeon em primeiro de dezembro de 43 e lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 12404-A, matriz 7431. A marchinha mostra a disposição de se brincar o carnaval ainda que em tempo de vacas magras, sem pandeiro ou dinheiro…  Para encerrar esta edição carnavalesca do GRB, Sílvio Caldas (1906?-1998), o eterno “caboclinho querido”, apresenta outro sucesso inesquecível  de João “Braguinha” de Barro, “Linda lourinha”. Foi uma das músicas mais cantadas no carnaval de 1934,  gravada por Sílvio na Victor em 15 de novembro de 33, com lançamento um mês antes do tríduo momesco, em janeiro, sob n.o 33735-A, matriz 65889. E, na próxima segunda-feira, tem mais carnaval pra vocês aqui no GRB. Aguardem

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De João Da Baiana – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 90 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, apresenta a segunda e última parte da retrospectiva dedicada a João da Baiana (1887-1974). Semana passada, vocês tiveram oportunidade de conferir músicas de João da Baiana na interpretação dele próprio. Nesta segunda parte, apresentamos dez faixas, como sempre de grande importância histórica, artística e cultural, com música desse notável sambista carioca, interpretadas por outros cantores de seu tempo. Abrindo nossa seleção desta semana, temos Patrício Teixeira, que, a exemplo de João da Baiana, nasceu (1893) e faleceu (1972) no Rio de Janeiro. Um dos pioneiros do rádio e da gravação sonora no Brasil, Patrício foi cantor, compositor, violonista e até professor de violão e canto. Algumas de suas alunas foram  Aurora Miranda, Linda Batista, as irmãs Danusa e Nara Leão, e a atriz Maria Lúcia Dahl. Neste volume do GRB, Patrício comparece com três sambas de João da Baiana em gravações Odeon, a saber:  “Dona Clara (Não te quero mais)”, parceria de João com Ernesto dos Santos, o Donga  (também co-autor  do pioneiro “Pelo telefone”), lançado em dezembro de 1927,bem nos primórdios da gravação elétrica, sob n.o 10084-B, matriz 1385; “Cabide de molambo”, de João sem parceiro, gravado em 23 de janeiro de 1932 (disco 10883-A, matriz 4402) e “Ai, Zezé”, o lado B desse disco, matriz 4403, tendo como parceiro de João da Baiana o próprio Patrício. Considerada pelo diplomata Pascoal Carlos Magno uma  das maiores cantores negras do mundo, a soprano carioca Zaíra de Oliveira (1891-1952) interpreta, da santíssima trindade Pixinguinha-Donga (marido da cantora)-João da Baiana, a batucada “Já andei”, gravação Victor de 24 de novembro de 1931, lançada em janeiro de 32 para o carnaval, disco 33509-A, matriz 65300, com acompanhamento do Grupo da Guarda Velha, formado justamente por Pixinguinha (Rio de Janeiro, 1897-idem, 1973). Também participa da gravação o cantor baiano Francisco Sena (c-1900-1935) primeiro integrante da Dupla Preto e Branco, ao lado de Herivelto Martins, e substituído, após sua morte prematura, por Nilo Chagas. No lado B, matriz 65299, ele e Zaíra interpretam o ponto de macumba “Qué queré”, do mesmo trio de autores. Em seguida, volta Patrício Teixeira, interpretando o interessante samba “Quem faz a Deus paga ao diabo”, de João da Baiana sem parceiro, do carnaval de 1933, lançado pela Columbia em janeiro desse ano sob n.o  22173-B, matriz 381383, e também com acompanhamento orquestral de “São” Pixinguinha. Patrício ainda canta, em dueto com a eterna “pequena notável”, Cármen Miranda,outro samba de João da Baiana e mais ninguém, o delicioso e divertido “Perdi minha mascote”, gravação Victor de 29 de junho de 1933, lançada em dezembro seguinte com o número 33733-B, matriz 65791, com acompanhamento do grupo do violonista Rogério Guimarães, o Canhoto (Campinas, SP, 1900-Niterói, RJ, 1980), também destacado dirigente da marca do cachorrinho Nipper, tendo sido seu primeiro diretor artístico. Cognominado “a maior patente do rádio”, Almirante (Henrique Foréis Domingues, Rio de Janeiro, 1908-idem, 1980), interpreta “Deixa amanhecer”, gravação Odeon de  30 de agosto de 1935, lançada em novembro seguinte com o número 11282-B, matriz 5132. Neste samba, João da Baiana conta com a parceria de outro importante sambista, Alcebíades Barcelos, o Bide (Niterói, RJ-1902-Rio de Janeiro, 1975), que fez com Armando Marçal inúmeros outros clássicos do samba. Carlos Galhardo (1913-1985), o eterno e sempre lembrado “cantor que dispensa adjetivos”, aqui interpreta uma marchinha da parceria João da Baiana-Wilson Batista, “Mariposa” (referência ás mulheres que, como o animal de mesmo nome, só saíam à noite, sendo o sinônimo bem fácil de adivinhar).  Destinada ao carnaval de 1941, foi gravada na Victor em 8 de outubro de 40, sendo lançada ainda em dezembro com o número 34682-B, matriz 52018. Para finalizar, apresentamos os Trigêmeos Vocalistas, grupo paulistano formado  pelos irmãos Carezzato (ou Carrazatto), Armando, Raul e Humberto, os dois últimos gêmeos. Raul é parceiro de João da Baiana no ponto de macumba (no selo, “afro-brasileiro”) “Ogum Nilé”, gravação Odeon de 31 de maio de 1950, lançada em agosto do mesmo ano sob n.o 13033-A, matriz 8633. Ressalte-se que não há nenhuma semelhança com o “Ogum Nilé” que o próprio João da Baiana gravou em 1957 e que apresentamos na edição anterior, apenas o título é semelhante. Enfim, mais uma edição do GRB que irá enriquecer os acervos dos amigos cultos, ocultos e associados do TM com preciosa e histórica parcela de nossa boa música popular do passado. Até a próxima e divirtam-se!
* Texto de Samuel Machado Filho

João Da Baiana – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 89 (2014)

Em sua edição de número 89, o Grand Record Brazil reverencia a memória de um dos pioneiros da música popular brasileira: João Machado Guedes, ou, como ficou para a posteridade, João da Baiana. Filho dos ex-escravos Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança, que tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros, nosso focalizado nasceu no Rio de Janeiro, em  17 de maio de 1887, e era o mais novo e único carioca de uma família de doze irmãos. Sua mãe era conhecida como Baiana, daí seu pseudônimo. Um de seus irmãos, Mané, era palhaço no Circo Spinelli e tocava violão e cavaquinho, e uma de suas irmãs era violinista. João da Baiana cresceu na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, sendo amigo de infância de Donga e Heitor dos Prazeres. Quando criança, frequentava as rodas de samba e macumba que aconteciam clandestinamente nos terreiros cariocas. Participou de blocos carnavalescos e é considerado o introdutor do pandeiro no samba, sendo também especialista no chamado prato-e-faca.  Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao grito “Hoje tem marmelada? Tem, sim, senhor”.  Por essa época, passou a se dedicar à pintura, sua grande paixão.  Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha e deu baixa três anos mais tarde, indo então para o Segundo Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro, sob o comando do marechal Hermes da Fonseca, futuro presidente da República. Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal da Marinha dez anos mais tarde. Por isso, recusou-se a viajar com os Oito Batutas, liderados por Pixinguinha,  a Paris, pois não queria perder o posto. A partir de 1923, passou a compor e a se apresentar em programas radiofônicos. Algumas de suas composições nessa época foram “Pelo amor da mulata”. “Mulher cruel”, “Pedindo vingança” e “O futuro é uma caveira”. Outros de seus sambas conhecidos são “Cabide de molambo” e “Batuque na cozinha”. Como ritmista, João da Baiana integrou  inúmeros grupos, entre eles o Conjunto dos Moles, o Grupo do Louro, o Grupo da Guarda Velha e a orquestra Diabos do Céu, os dois últimos formados e dirigidos por Pixinguinha. Participou, em 1940, da famosa série de gravações organizada por Heitor Villa-Lobos a bordo do navio ‘Uruguai”, onde viajavam o maestro Leopold Stokowski  e sua orquestra (“Native brazilian music”).  Aposentado da Marinha em 1949, João da Baiana apresentou-se, na década seguinte, nos espetáculos do grupo Velha Guarda, organizados por Almirante. Casou-se e teve dois filhos, que morreram ainda na infância. Em 1968, participou do histórico LP “Gente da antiga”, ao lado de Pixinguinha e Clementina de Jesus, produzido por Hermínio Bello de Carvalho. Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde faleceria no dia 12 de janeiro de 1974, aos 86 anos. Hoje, alguns dos pertences de João da Baiana integram o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, inclusive o prato-e-faca  que o consagraram, parte da coleção do cantor, compositor e radialista Almirante. Do legado de João da Baiana como intérprete, o GRB foi buscar dez gravações  históricas, todas pontos de macumba ou corimas dele mesmo, com ou sem parceria, e fundamentais para quem estuda e pesquisa a cultura afro-brasileira, por ele cantados ao lado de seu conjunto ou terreiro.  Abrindo esta seleção, “Sereia”, parceria de João da Baiana com Getúlio “Amor” Marinho, gravação Victor de 21 de março de 1938, lançada em maio do mesmo ano sob n.o  34313-A, matriz 80707. A faixa seguinte é o lado B, matriz 80708, “Folha por folha”, e é da mesma parceria. Depois encontraremos as músicas do disco Odeon 13330, gravado em 2 de julho de 1952 e lançado em setembro do mesmo ano, ambas de João da Baiana sem parceiro: “Lamento de Inhaçã”, lado A, matriz 9368, e “Lamento de Xangô”, lado B, matriz 9367. As faixas seguintes, também só de João,  saíram pela Sinter, disco 496, em maio de 1956. No lado A, matriz S-1079, “Vovó Joana do Aguiné”, e no verso, matriz S-1080, “Vai i-aô”. Temos depois mais dois corimas do próprio João da Baiana sem parceiro, do Odeon  13999, gravado em 5 de dezembro de 1955 e lançado em março de 56: no lado A, matriz 10877, “Qué-qué-ré-qué-qué”, e no verso, matriz 10878, “Saudação a Iemanjá”. Finalmente, do Sinter  548, lançado em maio de 1957, outros dois corimas de João sem parceiro: no lado A, “Ogum nilê”, matriz S-1191, e no verso, matriz S-1192, “Homenagem a Oxalá”.  Enfim, uma amostra interessante do legado do compositor para a cultura afro-brasileira. E vem mais João da Baiana por aí, aguardem
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
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A Música De Monsueto – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 88 (2014)

Esta semana, o Grand Record Brazil reverencia a memória de outro grande compositor e sambista brasileiro, com inúmeros sucessos a seu crédito. Estamos falando de Monsueto. Batizado com o nome de Monsueto Campos de Menezes, nosso focalizado era carioca da gema, nascido na então Capital da República no dia 4 de novembro de 1924. Criou-se na favela do Morro do Pinto, entre partideiros, rodas de samba e batucadas, o que por certo contribuiu para sua formação musical. Foi baterista de inúmeros grupos musicais, inclusive da orquestra de Nicolino Cópia, o Copinha, no Copacabana Palace Hotel. Conseguiu seu primeiro sucesso em um carnaval bastante disputado, o de 1952, com o samba “Me deixa em paz”, gravado por Linda Batista e constante deste volume. Depois, teve várias de suas músicas incluídas no espetáculo “Fantasias e fantasia”, também do Copacabana Palace. No cinema, apareceu em filmes como “Treze cadeiras”, “Na corda bamba”, “O cantor e o milionário”, “Quem roubou meu samba?” e “A hora e a vez do samba”.  Monsueto atuou em vários shows ao lado de Herivelto Martins, antes de formar seu próprio grupo, com o qual excursionou pelo Brasil e outros países da América, Europa e África. Era também conhecido pelo apelido de Comandante, com o qual foi muito popular nos anos 1960, quando participava de um programa humorístico da extinta TV Rio, Canal 13, lançando expressões de gíria que se incorporaram à linguagem popular: “castiga”, “ziriguidum”, “vou botar pra jambrar”, “mora” etc. Só gravou como intérprete um único LP, na Odeon, “Mora na filosofia dos sambas de Monsueto”, em 1962, e alguns 78 rpm, além de participações em registros de outros cantores. A partir de 1965, Monsueto começou a se dedicar também  à pintura primitivista, e até recebeu prêmio do Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro. Sem ter se filiado a nenhuma escola de samba carioca, era bem recebido e respeitado em todas elas, desfilando a cada ano em uma diferente. A última escola em que Monsueto desfilou, em 1972, foi a Unidos de Vila Isabel. Pouco depois, quando participava das filmagens de “O forte” (direção de Olney São Paulo), na Bahia, em que fazia o papel de um diretor de harmonia de escola de samba, Monsueto adoeceu e foi hospitalizado em seu Rio de Janeiro natal, onde morreu no dia 17 de março de 1973, vítima de câncer no fígado. Entre seus hits como autor destacam-se ainda: “Eu quero essa mulher assim mesmo”, “Na casa de Antônio Jó”, “O lamento da lavadeira” (“Para lavar a roupa da minha sinhá”…) e outros presentes nesta seleção do GRB, que perfaz  um total de 14 preciosas gravações, todas, claro, sambas. Vamos a elas, portanto. Linda Batista canta as três primeiras faixas, em gravações RCA Victor. A primeira é “Levou fermento” (parceria de Monsueto com Arnaldo Passos), registro de 30 de agosto de 1956, lançado ainda em novembro para o carnaval de 57, disco 80-1690-B, matriz BE6VB-1286, abrindo também o LP coletivo com músicas para essa folia, uma prática da época também adotada  por outras gravadoras, simbolizando uma época de transição de formatos. Na faixa 2, Linda canta exatamente o primeiro grande sucesso de Monsueto como compositor: “Me deixa em paz”, parceria com Ayrton Amorim, por ela imortalizado em 6 de agosto de 1951 e lançado ainda em outubro sob n.o 80-0825-A, matriz S-093017, tornando-se uma das campeãs do carnaval de 52. E essa folia ainda tinha “Sassaricando”, “Confete”, “Lata d’água” e outras mais. “Me deixa em paz” teve anos mais tarde, em 1971, uma ótima regravação com Alaíde Costa em dueto com Mílton Nascimento, lançada em compacto simples e depois no histórico álbum duplo “Clube da Esquina”. Linda Batista ainda interpreta “O gemido da saudade”, parceria de Monsueto com José Batista,  gravação de 2 de outubro de 1957, lançada em janeiro de 58 também para o carnaval, disco 80-1888-A, matriz 13-H2PB-0257, e igualmente aparecendo no primeiro dos dois LPs coletivos da marca do cachorrinho Nipper com músicas para essa folia. Outra expressiva intérprete de Monsueto, a paulistana Marlene, aqui comparece com  quatro faixas. A primeira é “Na casa de Corongondó”, da parceria Monsueto-Arnaldo Passos, lançada pela Sinter em novembro-dezembro de 1955 para o carnaval de 56, sob n.o 00-00.448-B, matriz S-1000. Dos mesmos autores, Marlene nos traz depois “Canta, menina, canta”, lançado pela mesma gravadora em maio-junho de 1955 sob n.o 00-00.395-A, matriz S-893, entrando mais tarde no LP de 10 polegadas “Vamos dançar com Marlene e seus sucessos”. Em seguida, tem “O couro do falecido”, da parceria Monsueto –Jorge de Castro, também lançado pela Sinter em novembro-dezembro de 1955 para o carnaval de 56, disco 00-00.440-B, matriz S-1001, e incluído no LP coletivo de 10 polegadas “Ritmos brasileiros, vol. 1 – Sambas e marchas”. Este samba seria incluído no já citado espetáculo “Fantasias e fantasia”, do Copacabana Palace, mas seu lançamento, em 1954, coincidiu com o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, e a música foi retirada , em virtude das interpretações que poderiam surgir, só sendo lançada neste registro de Marlene, mais de um ano depois do trágico acontecimento. Pois no lugar do “Couro do falecido”, foi inserida justamente a faixa seguinte, um verdadeiro clássico: “Mora na filosofia”, da dupla Monsueto-Arnaldo Passos, imortalizada pela mesma Marlene na Continental em 29 de outubro de 1954, com lançamento em janeiro de 55 sob n.o 17047-B, matriz C-3517. Foi uma das campeãs desse carnaval, e teve regravações aos cachos, inclusive por Maria Bethânia e Caetano Veloso.  Dircinha Batista, irmã de Linda, aqui interpreta “Não se sabe a hora”, da parceria Monsueto-José Batista, gravação RCA Victor de 25 de setembro de 1957, lançada em janeiro de 58 para o carnaval, sob n.o 80-1899-B, matriz 13-H2PB-0242, e incluída obviamente em LP coletivo com músicas para essa folia.Na faixa seguinte, um delicioso samba de  Monsueto sem parceria, “Ziriguidum”, que ele interpreta ao lado de outra expressiva sambista, Elza Soares. Gravação Odeon de 27 de abril de 1961, um dos destaques do LP “O samba é Elza Soares”, que só chegou ao 78 rpm em fevereiro de 62 com o n.o  14792-A, matriz 14719. Monsueto e Elza também o interpretaram no filme “Briga, mulher e samba”, da Lupo Filmes, dirigido por Sanin Cherques. Depois, Raul Moreno interpreta dois sambas de Monsueto que gravou para a Todamérica em 8 de outubro de 1953, lançados em dezembro seguinte para o carnaval de 54 no disco TA-5387. No lado A, matriz TA-559, “Mulher de mau pensar”, parceria de Monsueto com Elói Marques. Mas no lado B, matriz TA-558, é que estava o maior sucesso: o clássico “A fonte secou”, no qual o próprio Raul Moreno é parceiro com Monsueto e Marcléo, assinando com seu nome verdadeiro, Tufic Lauar. Um dos campeões da folia de 1954, “A fonte secou” também tem várias regravações e é muito lembrado até hoje. Para o carnaval de 1956, Monsueto lançaria uma sequência, em parceria com Geraldo Queiroz e José Batista, “Eu sou a fonte”, que Walter Levita grava na Odeon em 26 de setembro de 1955, e é lançado bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 13949-A, matriz 10766, aparecendo igualmente no LP coletivo de 10 polegadas “Carnaval, carnaval!”.  O Monsueto intérprete-solo aparece nas duas últimas faixas deste volume, ambas gravadas na Odeon. Primeiramente, “Chica da Silva”, de Noel Rosa de Oliveira e Anescar, samba-enredo com o qual a escola Acadêmicos do Salgueiro foi campeã do carnaval carioca, em 1963. Teve duas gravações: uma pela Albatroz, com um coral da gravadora, e esta de Monsueto pela “marca do templo”, feita logo após o carnaval, em 19 de março de 1963, e lançada em abril seguinte sob n.o 14848-A, matriz 15711. O lado B, matriz 15712, é um samba do próprio Monsueto em parceria com José Batista, “Mané João”, encerrando esta retrospectiva que o GRB dedica à sua obra. Divirtam-se e até a próxima vez!

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Ismael Silva & Noel Rosa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol.87 (2014)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, agora em sua edição de número 87, apresentando a terceira e última parte de nosso retrospecto sobre Ismael Silva (1905-1978), um dos grandes nomes do samba. Focalizamos aqui o Ismael intérprete, apresentando sete gravações , com seis músicas de outros autores ( em 78 rpm Odeon) e uma regravação de samba dele próprio (em LP Sinter). Nossa primeira faixa é “Louca”, samba de Bucy Moreira, neto da lendária Tia Ciata, gravado por Ismael na “marca do templo” em  3 de setembro de 1931, disco 10835-B, matriz 4297. Na faixa  3 está o lado A, “Samba raiado”, de Marcelino de Oliveira, matriz 4296. Em seguida temos outro samba, “Escola de malandro”, um dueto de Ismael Silva com Noel Rosa, feito pelo Poeta da Vila em parceria com Orlando Luiz Machado (só este foi creditado como autor no selo). Gravação de 15 de setembro de 1932, disco 10949-B, matriz 131447 (por esse número, a matriz é certamente é uma “sobra” da Parlophon, subsidiária da Odeon, desativada naquele ano).  O lado A, matriz 131292, gravado em 25 de novembro de 1931, é outro samba, que desta vez Ismael canta solo, “Carinho eu tenho”, de autoria do lendário Sylvio Fernandes, o Brancura, célebre malandro do Estácio. Em seguida, mais um dueto de Ismael Silva com Noel Rosa, a marchinha ‘Seu Jacinto”, composição só de Noel, gravada na “marca do templo” em 27 de outubro de 1932 e lançada em janeiro de 33 para o carnaval, disco 10953-A, matriz 4534. No lado B, Ismael e Noel também cantam juntos “Quem não dança”, samba só do Poeta da Vila, gravado dias mais tarde, em 17 de novembro de 1932, matriz 4552. Em ambas as faixas, com acompanhamento do Grupo Gente Boa, está bem destacada no coro a voz de Francisco Alves.
Em seguida, uma regravação de Ismael Silva para um hit seu de 1932, em parceria com Noel Rosa  e Francisco Alves, lançada  originalmente pela dupla Jonjoca-Castro Barbosa: o samba “Adeus”, faixa 2. Teria sido composto em homenagem póstuma a Nílton Bastos, falecido pouco antes, mas a dúvida fica por conta dos versos “Sem teu amor/ esta vida não tem mais valor”. Este registro foi lançado pela Sinter em novembro de 1955, no primeiro LP-solo do compositor, o 10 polegadas “O samba na voz do sambista”.  E, para completar este programa, já que Ismael canta três faixas em dueto com Noel Rosa (1910-1937), ele aqui aparece como nosso “convidado especial”, com cinco antológicas gravações Columbia, todas elas sambas, feitos por ele com a maestria e a genialidade de sempre.  Pra começar, “Felicidade”, parceria de Noel com Renê Bittencourt, lançado em fevereiro de 1932, disco 22083-B, matriz 381159. Na edição impressa, levou o subtítulo “Que bom, felicidade, que vai ser!”, verso final do estribilho. Em seguida, temos o magnífico e não menos genial “Coisas nossas”, em que Noel sintetiza e apreende a alma e os costumes do povo de seu Rio de Janeiro natal,  Teria sido apresentado  também no  filme “Coisas nossas”, um musical de sucesso de bilheteria, cujo título  teria sido tirado exatamente deste samba (informação esta passível de confirmação),  e do qual não restaram cópias. Saiu pela Columbia em março de 1932, sob n.o 22089-B, matriz 381168. O verso, matriz 381176, é ‘Mulher indigesta”, que, se fosse lançado hoje, provocaria a indignação de muitas feministas…  Noel é aqui acompanhado pelo misterioso grupo Os Sete Diabos, nome talvez aleatório.  “Mentiras de mulher” é o outro lado de “Felicidade”, matriz 381158, e é cantado por Noel, que o fez sem parceria, junto com Artur Costa, ator de revistas e também compositor, que no entanto só participa do estribilho, e Noel o interpreta praticamente sozinho. Finalizando a especialíssima participação de Noel nesta edição, ele canta sua obra-prima em parceria com Orestes Barbosa, “Positivismo”, que a Columbia pôs nas lojas em setembro de 1933 sob n.o 22240-B, matriz 381530. Não poderia encerramento com melhor chave de ouro do que este, para esta edição do GRB. Até o nosso próximo encontro, amigos cultos, ocultos e associados!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Beijos – Coletânea 24 Beijos Do Toque Musical (2014)

Olá amigos cultos e ocultos! Há tempos eu não apresento aqui uma produção exclusiva do Toque Musical, além da já tradicional série Grand Record Brazil. Como ‘bola da vez’, o assunto do momento é o beijo. O beijo de um casal gay na novela da Globo. Polêmicas a parte e em partes, achei bem oportuno criar aqui uma coletânea dedicada ao ‘beijo’. Selecionei 24 músicas cujos os títulos e a temática é o tal ‘toque labial’, o beijo, sempre celebrado nas mais diferentes épocas e músicas do cancioneiro popular. Por certo existem milhares de músicas que falam de beijos e devo admitr que não foi fácil escolher essas 24 músicas. Só com títulos onde aparece a palavra ‘beijo’ (e no singular) eu achei mais 200! Mas, selecionei aqui aquelas que me pareceram mais evidentes e também num sentido de ser o mais variável possível. Coincidentemente e por acaso, separei 24 músicas. Um número mais do que expressivo, considerando também o fato de que o beijo celebrado nessa história foi um ato gay. Calma, não estou com isso querendo tirar sarro preconceituoso de ninguém, muito pelo contrário… Pensei mais foi na ideia de um álbum duplo, fosse esse um lançamento fonográfico. E mais ainda, dedico esta coletânea ao Amor, na sua forma mais pura, sem conceito ou preconceito. Beijar e ser beijado é muito bom. É um sinal de carinho. Beijo na boca então é mais… Só love
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me dê um beijo, meu bem – eduardo araújo
a dança do beijo – moacyr franco e the jordans
história de um beijo – vera regina
um beijo e nada mais – zezé gonzaga
beijo exagerado – os mutantes
beijo quente – cleide alves
um beijo é um tiro – erasmo carlos
beijo molhado – belchior
beijo bombom – claymara borges e heuríco fidelis
beijo na boca – cyro monteiro
beijo de amor – moreira da silva
tudo cabe num beijo – seu jorge e almaz
beijo na boca – itamar assumpção e banda isca de polícia
beijo baiano (boca de caqui) – cravo e canela
eu beijo sim – carlos careqa
por um beijo – maria martha
beijo frio – isaura garcia
me dá um beijo – alceu valença e geraldo azevedo
beijo clandestino – lucina
o primeiro beijo – alda perdigão
preso por um beijo – cyro aguiar
aquele beijo que te dei – roberto carlos
beijo roubado – zenildo
último beijo – os cariocas
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Especial De Natal Parte 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 82 (2013)

Vem chegando mais um final de ano, e mais um Natal! Tempo de reunir a família, preparar o presépio, a árvore e a ceia, trocar presentes (com direito até ao chamado “amigo oculto”)… sem, é claro, esquecer que é o aniversário de Jesus. Tempo também de cantar músicas alusivas à chamada festa máxima da cristandade. Evidentemente, o Grand Record Brazil  entra nesta semana em clima natalino, apresentando a primeira de duas partes de uma seleção de músicas gravadas na era do 78 rpm para comemorar a data. Ela foi extraída de uma compilação realizada em 2006, por nosso colega e amigo Thiago Mello, para o seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). Serão ao todo vinte gravações (algumas já aparecidas em nosso volume 4, agora voltando com melhor qualidade sonora), e aqui apresentamos as primeiras dez.  Abrindo esta seleção, temos a introdução, apenas instrumental,  a cargo do grande Radamés Gnattali, de “Cantigas de Natal”, um pot-pourri  de canções do gênero interpretadas pelos Trios Melodia e Madrigal em disco Continental 20106, de 1951, do qual apresentaremos as duas partes em nosso próximo volume.  Em seguida, Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987) apresenta, de seu terceiro disco, o Elite Special (selo então coligado da Odeon) N-1020-A, editado em 1950, a marchinha “Quando chega o Natal”, de autoria de Sereno (Inácio de Oliveira, São Paulo, 1909-idem, 1978), matriz FB-539, muito bem acompanhada pelos Demônios da Garoa (que, como ela, também eram do cast da Rádio Record de São Paulo, então “a maior”) e pela orquestra e coro do maestro Edmundo Peruzzi (Santos, SP, 1918-idem, 1975). Curiosamente, em outra tiragem desse disco, o número da matriz foi alterado para MIB-1097. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, comparece com duas faixas que gravou na Odeon:  “Natal divino”, marchinha de Mílton Amaral, do disco 11288-A, gravado em 4 de dezembro de 1935 e lançado logo em seguida, matriz 5173, e o samba “Sinos de Natal”, de Djalma Esteves e Vicente Paiva, do disco 11174-B, gravado em 18 de outubro de 1934 para lançamento, é claro, em dezembro, matriz 4935. Leny Eversong (Hilda Campos Soares da Silva, Santos, SP, 1920-São Paulo, 1984), notável intérprete de hits nacionais e internacionais, nos brinda com a marchinha “Prece de Natal”, de José Saccomani, Lino Tedesco e Walter Mello, lançada em dezembro de 1953 pela Copacabana sob n.o 5172-B, matriz M-559. “Noite de Natal”, interpretada por Dalva de Oliveira com a orquestra de Roberto Inglez, é o famoso “Noite feliz  (Stille nacht, heilige nacht)”, com letra diferente da que costumamos cantar, assinada por Mário Rossi, em gravação feita em 1952, nos estúdios da EMI, em Londres, durante a longa e vitoriosa excursão da cantora pela Europa, e lançada no Brasil pela Odeon com o n.o X-3372-A (série azul internacional), matriz CE-14164. A música nasceu por um capricho de ratos que, em 1818, entraram no órgão de uma igreja da cidade austríaca de Arnsdorf e roeram seus foles. Preocupado com a possibilidade de um Natal sem música nesse ano, o padre Joseph Mohr foi logo procurar um instrumento para substituir o antigo.  Nessas peregrinações, imaginou como teria sido o nascimento de Jesus, em Belém. Fez anotações, levou-as até o músico Franz Gruber para musicar… e pronto! Assim nasceu “Noite feliz”.  Já que falamos em Aurora Miranda, sua irmã Cármen (1909-1955), ainda hoje uma referência em termos de Brasil no exterior, aqui interpreta a marchinha “Dia de Natal”, de Hervê Cordovil, gravação Odeon de 16 de outubro de 1935, lançada  em dezembro seguinte sob n.o  11289-A, matriz 5170. Ângela Maria e João Dias interpretam, em dueto, a singela toada ‘Papai Noel esqueceu”, da parceria Herivelto Martins-David Nasser, lançada pela Copacabana para o Natal de 1955, sob n.o 20022-B (série “de exportação”), matriz M-1412. Um ano depois, em dezembro de 1956, nessa mesma série (20033-A, matriz M-1706), a Copacabana lançou o registro de Elizeth Cardoso para a canção “Cantiga de Natal”, de autoria da compositora e pianista Lina Pesce (Magdalena Pesce Vitale, São Paulo, 1913-idem, 1995), gravada originalmente por Mário Martins, em 1954, no mesmo selo.  Encerrando esta primeira parte, uma marchinha da dupla Alvarenga e Ranchinho, “Presente de Natal”, interpretada por Zelinha do Amaral com doce voz de menina e delicioso sotaque de caipirinha. Foi sua única gravação, feita na Victor em 12 de novembro de 1936 e lançada em dezembro seguinte sob n.o 34116-B, matriz 80250. Semana que vem, apresentaremos a segunda parte desta seleção natalina do GRB. Até lá!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Geraldo Pereira – Parte 2 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 81 (2013)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 81. Desta vez, focalizamos mais uma substancial parcela da preciosa obra de Geraldo Pereira (1918-1955), interpretada por cantores contemporâneos do compositor.  O programa compõe-se de onze gravações de importância  histórica, artística e cultural indiscutíveis. Abrindo a seleção desta semana do GRB, temos Roberto Paiva (Helim Silveira Neves) interpretando dois sambas do mestre Geraldo, em gravações Victor.  O primeiro é “Lembras-te daquela zinha?” , parceria com Augusto Garcez, em registro de 9 de junho de 1941, lançada em agosto seguinte com o n.o 34784-A, matriz S-0522238. O segundo é “Já tenho outra”, em que Geraldo Pereira conta com a parceria de Augusto Garcez, gravado por Paiva em 11 de junho de 1943 e lançado em  11 de junho de 1943 e lançado em setembro do mesmo ano com o n.o 80-0113-B, matriz S-052791. Bem mais adiante, na faixa 8, Roberto Paiva interpreta “Brigaram pra valer”, parceria de Geraldo com José Batista. É um samba do carnaval de 1949, lançado pela Continental em janeiro desse ano sob n.o 15983-A, matriz 2003. Orlando Silva (1915-1978), o sempre lembrado “cantor das multidões”, comparece com outros dois sambas. “Jurei” é uma parceria de Geraldo Pereira com o “amigo velho” Cristóvão de Alencar,  destinada ao carnaval de 1946. Gravação Odeon ainda de 45, feita a 8 de novembro,  e lançada bem em cima da folia, em fevereiro, disco 12662-B, matriz 7934. Depois, Orlando interpreta um samba de Geraldo sem parceiro, só gravado seis anos após a morte do compositor. É “Vai”, registro RCA Victor (gravadora à qual Orlando havia retornado definitivamente) datado de 20 de abril de 1961, e lançado em maio seguinte sob número 80-2326-A, matriz M2CAB-1254, sendo também  incluído no compacto duplo de 45 rpm “Ontem à tarde”. Outro expressivo intérprete da obra de Geraldo Pereira, Déo (Ferjallah Rizkallah, 1914-1971), “o ditador de sucessos”, interpreta dois sambas só de Geraldo Pereira, que gravou na Continental em 2 de junho de 1946 com lançamento em agosto sob n.o 15660. Abrindo-o, matriz 1507, “Só quis meu nome”, e no verso, matriz 1506, “Ainda sou seu amigo”. No acompanhamento, o regional de Benedito Lacerda, com sua flauta inconfundível. Conhecido como “o príncipe do samba”, Roberto Silva (Rio de Janeiro, 1912-idem, 2012) interpreta aqui um samba de Geraldo Pereira sem parceria, lançado pela Star em 1949 sob número 147-B. É “Minha companheira”, inspirado em Isabel, a grande paixão da vida do compositor. Segundo depoimento dela própria, o samba foi composto por Geraldo bem antes deste registro, quando ambos ainda moravam juntos no bairro carioca da Cruz Vermelha. Um dos pioneiros da gravação em disco no Brasil, o  já veterano Patrício Teixeira (1893-1972) aqui comparece com “Adeus”,  samba da parceria Geraldo Pereira-Augusto Garcez, gravação Victor de 12 de março de 1942, lançada em maio do mesmo ano, disco 34926-A, matriz S-052497. Canto de discografia escassa mas bastante significativa (oito discos 78, um LP e um compacto duplo, Abílio Lessa (Rio de Janeiro, 1926-idem, 1975), morto prematuramente, aos 49 anos, de câncer no esôfago,  aqui comparece com “Liberta meu coração”, samba da parceria Geraldo Pereira-José Batista, destinado ao carnaval  de 1948. Foi gravado na RCA Victor ainda em 47, no dia 27 de outubro, com lançamento em dezembro seguinte sob n.o 80-0563-B, matriz S-078803. E para encerrar, o samba-canção “Promessa de um caboclo”, parceria de Geraldo Pereira com Arnaldo Passos. A referência, na letra, às festas de São João, pode ser lembrança dos tempos de menino de Geraldo, em sua cidade natal (Juiz de Fora, Minas Gerais). Quem canta é Francisco Carlos (Francisco Rodrigues Filho, 1928-2003), o eterno “El broto”, astro da Rádio Nacional e dos filmes da Atlântida, em gravação RCA Victor de 27 de março de 1952, lançada em junho seguinte sob n.o 80-0909-B, matriz S-093229. Enfim, é mais um trabalho do GRB que certamente será bastante apreciado por nossos amigos, cultos, ocultos e associados. Ouçam e desfrutem!
*Texto de Samuel Machado Filho

A Música De Geraldo Pereira – Parte 1 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 80 (2013)

E chegamos a edição de número 80 do nosso Grand Record Brasil. Em edição anterior, como os amigos cultos, ocultos e associados do TM bem se lembram, apresentamos algumas das melhores gravações de Geraldo Pereira (Juiz de Fora, MG, 1918-Rio de Janeiro, 1955) como intérprete, inclusive, claro, composições próprias. E, como prometemos nessa ocasião, estamos voltando a focalizar a obra deste nome importantíssimo de nossa música popular. Desta vez, apresentamos doze gravações (é até chover no molhado falar de suas qualidades e de sua importância histórica) em que cantoras e conjuntos  contemporâneos do compositor interpretam suas obras.  Abrindo nossa seleção desta semana, os Quatro Ases e um Coringa, originários do Ceará, apresentam uma seleção de sambas que  homenageiam a Bahia de todos os santos, que sempre fascinou inúmeros compositores, sejam eles nascidos ou não na chamada boa terra, gravada na RCA Victor em 18 de julho de 1953 e lançada em outubro do mesmo ano sob n.o 80-1204-B, matriz BE3VB-0210. De Geraldo Pereira, aparece um trecho de seu clássico “Falsa baiana”, e neste pot-pourri também foram incluídos sambas de Vicente Paiva e Chianca de Garcia (“Exaltação à Bahia”), Dorival Caymmi (“O que é que a baiana tem?”)  e Ary Barroso (“Faixa de cetim”, “Na Baixa do Sapateiro”).  Na faixa seguinte, os Quatro Ases, que durante toda a carreira deram de fato as cartas,  nos brindam com “Ai! Que saudade dela”, samba de Geraldo Pereira em parceria com Ari Monteiro, gravação Odeon de primeiro de setembro de 1942, lançada em novembro do mesmo ano sob n.o 12221-B, matriz 7044. Mesmo pouco divulgado, é um samba que merece atenção.  Outro importantíssimo conjunto vocal dessa época, os Anjos do Inferno, liderados por Léo Vilar, aqui comparece com três sambas absolutamente imperdíveis. O primeiro é “Sem compromisso”, de Geraldo Pereira em parceria com Nélson Trigueiro, gravação Continental de 29 de maio de 1944, lançada em junho do mesmo ano com o n.o 15184-A, matriz 823. Nessa época, os salões e dancings eram bastante frequentados por certa camada da população carioca, e Geraldo, atento observador do cotidiano, adorava esse ambiente. Portanto, não deixaria mesmo passar em branco a cena – real ou imaginária – relatada neste samba, por sinal muito bem regravado por Chico Buarque em 1974. Outro hit de Geraldo Pereira  imortalizado pelos Anjos do Inferno é “Bolinha de papel”, gravação Victor de primeiro de fevereiro de 1945, lançada em abril do mesmo ano sob n.o 80-0266-B, matriz S-078125. Samba que, como muitos sabem, seria regravado em 1961 por João Gilberto. Em seguida tem “Vai que depois eu vou”, também de Geraldo sem parceiro, em outra gravação Victor, esta de 28 de novembro de 1945, lançada bem em cima do carnaval de 46, em fevereiro, disco 80-0381-B, matriz S-078402, e uma das músicas mais cantadas nessa folia momesca.  A faixa seguinte é “Pode ser?”, samba em que Geraldo Pereira conta com a parceria de Marino Pinto. E tem uma particularidade: foi incluído no disco de estreia da paulistana Isaurinha Garcia, a eterna “personalíssima”, gravado na Columbia em 23 de junho de 1941 e lançado em agosto do mesmo ano sob n.o 55294-B, matriz 440 (no lado A estava “Chega de tanto amor”, de Mário Lago). Como se vê, Isaurinha já mostrava a que veio, e esse seria o pontapé inicial de uma carreira repleta de sucessos. Na época, ela já era contratada da Rádio Record de São Paulo (então “a maior”), sendo inclusive considerada por seu então proprietário, Paulo Machado de Carvalho (“o marechal da vitória”), autêntico patrimônio da casa, fazendo parte até mesmo de seus móveis e utensílios (!), e Isaurinha lá permaneceu por mais de 40 anos.  Outro inesquecível cartaz do rádio e do disco, Dircinha Batista apresenta o samba-choro “Sinhá Rosinha”, parceria de Geraldo com Célio Ferreira, por ela gravado na Odeon em 7 de abril de 1942 e lançado em julho do mesmo ano, disco 12167-B, matriz 6937. Aqui, a temática é a do malandro regenerado, presente em outras composições de Geraldo Pereira, bastando lembrar, por exemplo, o samba-canção “Pedro do Pedregulho”, por ele mesmo gravado e que já apresentamos anteriormente no GRB. Dircinha ainda interpreta o samba “Fugindo de mim”, parceria com Geraldo com Arnaldo Passos e Waldir Machado, destinado ao carnaval de 1952. Gravação também da  Odeon, de 8 de novembro de 51, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 13212-B, matriz 9186. “A minha, a sua, a nossa favorita” Emilinha Borba, fenômeno de popularidade como raramente se viu em nosso país, e outro grande nome da fase áurea do rádio brasileiro, comparece aqui com outros dois sambas de Geraldo Pereira, em gravações Continental. O primeiro deles é “Boca rica”, parceria de Geraldo com Arnaldo Passos, lançado em janeiro de 1950 para o carnaval desse ano, disco 16142-B, matriz 2211. Do carnaval seguinte, de 1951, é “Perdi meu lar”, também da parceria Geraldo Pereira-Arnaldo Passos, gravado pela eterna “Favorita” em 25 de outubro de 50 e lançado um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, sob n.o 16340-B, matriz 2478. Logo depois, temos Marlene (Vitória de Martino Bonaiutti), a que foi rival de Emilinha sem nunca ter sido (naquele tempo, como se vê, já tinha marqueteiro), interpretando outro samba de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos, “Aquele amor”, destinado ao carnaval de 1952 e lançado pela Continental em janeiro desse ano, tendo a gravação sido feita em 5 de novembro de 51, disco 16513-A, matriz C-2783. Finalizando, temos uma cantora hoje pouco lembrada, mas que teve sua época, Heleninha Costa, interpretando aqui outro samba de Geraldo Pereira em parceria com Arnaldo Passos: “Não consigo esquecer”. Destinado ao carnaval de 1953, foi gravado por Heleninha na RCA Victor em 20 de agosto de 52, sendo lançado ainda em novembro sob n.o 80-1007-A, matriz SB-093410 (no lado B apareceu o clássico “Barracão”, de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães). Como se percebe, as músicas destinadas ao carnaval eram então lançadas com antecedência, a fim de serem divulgadas e aprendidas pelos foliões em tempo hábil. Assim, chegando fevereiro, o público poderia escolher suas favoritas e cantá-las nos salões e nas ruas. Na próxima semana, continuaremos a abordar a obra de Geraldo Pereira, apresentando gravações de cantores contemporâneos do autor. Aguardem!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

A Música De Wilson Batista – Parte 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 79 (2013)

E aqui estamos mais uma vez na área, com a terceira e última parte da retrospectiva que o Grand Record Brazil dedica à obra musical de Wilson Batista (1913-1968). Desta feita, apresentamos mais treze preciosíssimas gravações, imprescindíveis para colecionadores e apreciadores da melhor música brasileira. Abrindo a seleção desta semana, temos o grande Gilberto Alves (Rio de Janeiro, 1915-Jacareí, SP, 1992). Ele aqui interpreta duas composições de Wilson Batista, ambas gravadas na Odeon. A primeira é  a marchinha “Gaúcho bom”, parceria com Roberto Martins, destinada ao carnaval de 1942. Gravação de 6 de novembro de 1941, lançada ainda em dezembro com o n.o 12082-A, matriz 6834. A outra é o samba “Um pedaço de mim”, que Wilson fez com o “amigo velho” Cristóvão de Alencar, gravado por Gilberto em 31 de maio de 1941 e lançado pela “marca do templo” em julho do mesmo ano, disco 12014-A, matriz 6678. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, aqui interpreta uma marchinha de meio-de-ano, “Ladrão de corações”, parceria de Wilson Batista com Walfrido Silva. É outra gravação da Odeon, datada de 10 de agosto de 1933 e lançada em setembro do mesmo ano sob n.o 11049-A, matriz 4707. Conhecido como “o cantor que dispensa adjetivos”, Carlos Galhardo (1913-1985) aqui interpreta duas composições de Wilson Batista, por ele gravadas na Victor. Primeiramente, a marchinha “Mariposa” (termo que então designava as mulheres que só saíam de casa à noite, atraídas pela luz artificial, vocês até já devem ter adivinhado o sinônimo), parceria de Wilson com João da Baiana (João Machado Guedes, Rio de Janeiro, 1887-idem, 1974), do carnaval de 1941. A gravação se deu em 8 de outubro de 1940, com lançamento ainda em dezembro sob n.o 34682-B, matriz 52018. Em seguida Galhardo interpreta o bom samba “Deus no céu e ela na terra”, parceria de Wilson Batista com Marino Pinto, gravação de 14 de junho de 1940, lançada pela marca do cachorrinho Nipper em agosto do mesmo ano, disco 34643-B, matriz 33443, com destaque, no acompanhamento, para a clarineta de Luiz Americano. Zilá Fonseca (Iolanda Ribeiro Angarano, São Paulo, 1929-Rio de Janeiro, 1992) aqui comparece com o samba “Carta verde”, do trio Wilson Batista-Walfrido Silva-Armando Lima, gravado por ela na Columbia em 17 de julho de 1940 e lançado em agosto seguinte com o n.o 55237-B, matriz 304. Edmundo Silva (Rio de Janeiro, c. 1910-idem, 1952), irmão mais velho  de Orlando Silva, teve curta trajetória artística (ao contrário do irmão famoso), e gravou apenas onze discos com vinte e uma músicas, entre 1939 e 1944. Em uma reavaliação, porém, é possível reconhecer-lhe méritos.  Ele aqui comparece com o disco Victor 34560, lançado em janeiro de 1940 visando, obviamente o carnaval. Primeiramente o lado B, o samba “A respeito de amor”, da parceria Wilson Batista-Arnô Canegal, gravação de 17 de novembro de 1939, matriz 33277. Exatamente um dia depois, 18 de novembro de 40, Edmundo gravou o lado A, “Formosa argentina”, marchinha da parceria Wilson Batista-Germano Augusto, matriz 33280. Cármen Miranda (1909-1955), a eterna e sempre lembrada “pequena notável”, abrilhanta nossa retrospectiva  da obra musical de Wilson Batista com o samba “Não durmo em paz”, outra parceria de Wilson com Germano Augusto, por ela gravado na Odeon em 15 de abril de 1936 com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11370-B, matriz 5311. Lolita França, cantora sobre a qual pouquíssima coisa se sabe,  gravou apenas oito discos com catorze músicas, entre 1939 e 1942. Aqui, ela comparece com duas gravações Victor para o carnaval de 1940, ambas marchinhas. A primeira é “Casinha pequenina”, da parceria Wilson Batista-Murilo Caldas (irmão de Sílvio), obviamente inspirada na famosa canção de mesmo nome. A gravação é de 11 de novembro de 1939, lançada um mês antes da folia, em janeiro, sob n.o 34550-A, matriz 33265. Depois tem “Vale mais”, outra parceria de Wilson Batista com Marino Pinto, gravada em 18 de outubro de 1939 e lançada ainda em dezembro sob n.o 34531-A, matriz 33192. A notável  Dircinha Batista encerra a terceira  e última parte deste retrospecto do GRB sobre Wilson Batista com os dois sambas que gravou no disco Odeon 11834, em 5 de outubro de 1939, mas que só seria lançado em maio de 40.  O do lado A é outra parceria de Wilson com Germano Augusto (uma dupla da pesada na roda da malandragem), “Inimigo do batente”, matriz 6214. O lado B, matriz 6213, é um dueto com Nuno Roland, “Senhor do Bonfim te enganou”, e aqui Wilson conta com a colaboração de Claudionor Cruz e Pedro Caetano, dupla que deixou sua marca na MPB com inúmeros clássicos. Um encerramento com chave de ouro para o retrospecto do nosso GRB sobre Wilson Batista, com toda a certeza. Até a próxima, e obrigado pela atenção!
*Texto de Samuel Machado Filho

Cartola, Carlinhos Vergueiro & Claudia Savaget – Projeto Pixinguinha 1978 (2013)

E como hoje é domingo e eu estou ligeiramente folgado, vou trazendo aqui mais uma produção da casa,  o Volume 7 da série Projeto Pixinguinha. Coleção esta que eu começei a mostrar no ano passado, buscando divulgar o excelente trabalho do Portal das Artes, da Funarte, um site maravilhoso onde a gente pode encontrar o acervo digitalizado desta Fundação que é uma rica coleção de fotos, arquivos sonoros, textos e documentos de uma boa parte da memória das artes plásticas, cênicas e musical do Brasil. Um verdadeiro tesouro, acessível a todos e o que é melhor, de graça! Infelizmente, em nosso amado país, tudo que é de graça, que é cultural, o povo desconhece ou despreza. Lamentável… Mas é no boca a boca, na informação e no seu compartilhamento é que as coisa funciona. O Toque Musical, além de gostar muito de compartilhar música e outros áudios, adora também divulgar coisas boas. Trazer boas novas é sempre mais gratificante que ser o porta voz de desgraças, embora tenha nesse mundo mais publico para a merda.
“Depois do sucesso em 1977, quando dividiu com João Nogueira um dos espetáculos de abertura do Projeto Pixinguinha, mestre Cartola voltou à estrada em 1978. Desta vez, dividiu o palco com dois novos companheiros: o compositor Carlinhos Vergueiro e a cantora Cláudia Savaget. E, em vez de seis cidades, percorreu um total de dez, distribuídas por quatro regiões do país: Sudeste (Rio de Janeiro e Vitória), Centro-Oeste (Brasília), Nordeste (Salvador, Recife, Maceió, João Pessoa, Natal e Fortaleza) e Norte (Belém)…” Continue a leitura no site Brasil – Memórias das Artes.
como um ladrão – carlinhos vergueiro
camisa molhada – carlinhos vergueiro
mormaço – carlinhos vergueiro
sim – carlinhos vergueiro
alvorada – cartola
tristezas – cartola
o mundo é um moinho – cartola
porque vamos chorando – claudia savaget
valsa – carlinhos vergueiro
apresentando os músicos
brecha – carlinhos vergueiro
orelhão de avenida – carlinhos vergueiro
samambaias – claudia savaget
a cor da esperança – cartola
corra e olha o céu (fragmento) – cartola
a canção que chegou – cartola
as rosas não falam – cartola
as rosas não valam (reprise) – cartola
o sol nascerá – cartola, claudia e carlinhos
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Germano Mathias – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 76 (2013)

Esta semana, o Grand Record Brazil, já em sua edição de número 76, é dedicado a um dos maiores representantes do samba paulista. Estamos falando de Germano Mathias.  Nascido  no Pari, bairro da Zona Leste de São Paulo, no dia 2 de junho de 1934. Passou a infância e a adolescência estudando na zona central da capital bandeirante e, quando saía da escola, dava de cara com as rodas de batucada que os engraxates faziam nas praças Clóvis Bevilacqua e João Mendes. Eles batucavam em suas próprias latinhas de graxa, e Germano passou a acompanhá-los. Revelando espantosa habilidade, Germano  foi logo convidado para tocar frigideira na Escola de Samba Rosas Negras. Incentivado por um amigo batuqueiro, participou, em outubro de 1955, do concurso “À procura de um astro”, promovido pela PRG-2, Rádio Tupi (então “a mais poderosa emissora paulista”), conquistando o primeiro lugar. Foi logo contratado pela emissora Associada como “cantor e executante de instrumentos exóticos” (ou seja, a lata de graxa e a frigideira). Esse estilo de samba, com divisões bem marcadas e batida diferente, tornar-se-ia a marca registrada de Germano.  Em 1956, estreia em disco, através da Polydor, marca que então pertencia ao grupo alemão Siemens, interpretando os sambas “Minha pretinha” e “Minha nêga na janela” (ambos nesta seleção). Um ano depois lança seu primeiro LP, em 10 polegadas, “O sambista diferente”, pelo qual recebe  os troféus Roquette Pinto e Guarani. Em 1958, muda-se para a RGE de José Scatena e lança um de seus maiores hits, “Guarde a sandália dela” , dele próprio em parceria com Sereno, mais tarde regravado ao vivo por Elis Regina e Jair Rodrigues . Quando da primeira aparição de Germano Mathias na televisão, seu sucesso aumentou cada vez mais, pois muitos pensavam que ele fosse negro, e o que se viu na telinha foi um jovem de cor branca, muito bem vestido e bem humorado, que adorava fazer suas “presepadas” no palco.  Em 1959 participou de dois filmes: “O preço da vitória” e “Quem roubou meu samba?”. Foi Germano quem gravou pela primeira vez um samba de Geraldo Filme, “Baiano capoeira”, parceria com Jorge Costa, isso em 1962. Gravou também sambas dos consagrados Zé Kéti (“Malvadeza Durão”, “Nêga Dina”, “Mexi com ela”, entre outros), Nélson Cavaquinho (“História de um valente”), Herivelto Martins (“Vaidosa”), Gordurinha (“Carta a Maceió”) e principalmente dos amigos Elzo Augusto e Jorge Costa. Em 1.o de maio de 1967, ainda no auge da carreira, recebeu o diploma de Bacharel do Samba da Ordem da Palheta Dourada, conferido pela Escola de Samba X-9. Sabendo disso, o apresentador de rádio e TV Randal Juliano logo apelida Germano de “O catedrático do samba”.  Ainda em 67, Germano apresentou o programa “Nosso ritmo é sucesso”, na TV Globo, emissora então em ascensão. Entretanto, no decorrer dos anos 1970, Germano Mathias foi entrando em gradativa decadência, sobretudo por causa de seu gênio intempestivo.  Além disso, foi perdendo todo o dinheiro que ganhou no auge da carreira em farras e jogos.  Voltaria a ser ouvido em 1978, quando foi lançado o LP “Antologia do samba de breque”, no qual foram reaproveitadas antigos registros seus, alternados com regravações feitas por Gilberto Gil.  Depois, nos anos 1980/90, viveu um período de quase total ostracismo. Fez participações especiais em álbuns de outros (caso de “História do samba paulista – vol. 1,editado em 1999 pelo CPC da UMES) e emplacou a música “Jerônimo” na novela “Cambalacho’ (Globo, 1986).                                    Em 2002, 28 anos após lançar seu oitavo e último LP-solo, Germano Mathias lança seu primeiro CD, “Talento de bamba”, pela Atração Fonográfica, feito todo à base de composições de seu amigo Elzo Augusto. O disco recebe elogios da crítica e Germano volta a fazer shows com aqueles sambas rápidos e bem humorados que fizeram sua fama. Em 2005, realizando um velho sonho, lança o álbum “Tributo a Caco Velho”, no qual revive os principais hits desse cantor e compositor gaúcho, tais como “Que baixo” e “Uma crioula”.
 Para esta edição do GRB, foram escolhidas oito das melhores gravações de Germano Mathias, de seu início de carreira, todas na Polydor. Abrindo a seleção, temos exatamente “Minha nêga na janela”, seu primeiro grande sucesso, samba do próprio Germano em parceria com Doca, de seu primeiro disco, número 148, de 1956, matriz POL-1137, correspondente ao lado B. O lado A, matriz POL-1136, é “Minha pretinha”, de Jair Gonçalves e Edson Borges, que encontraremos na faixa 3. A faixa 2 é “Falso rebolado”, de Venâncio e Jorge Costa, gravação de 6 de maio de 1957, e lado B do disco 237, matriz POL-1436. O lado A, matriz POL-1435, está na faixa 4: é “Senhor delegado”, de Ernani Silva e Antoninho Lopes.  Do 78 de número 221, gravado dois dias mais tarde, 8 de maio de 1957, também estão ambas as músicas, a saber: “Eliete vedete”, também da dupla Venâncio e Jorge Costa (lado B, matriz POL-1440) e “Batatinha e cocada”, de Alceu Menezes e Xuxu (o lado A, matriz POL-1439. Para finalizar, as músicas do disco de número 203, gravado em 31 de outubro de 1956: “Rua”, de Jair Gonçalves sem parceiro (lado B, matriz POL-1273) e “A situação do Escurinho”, de Aldacir Louro e Padeirinho (lado A, matriz POL-1272). Este último samba, como indica o título, é uma sequência do clássico “Escurinho”, de Geraldo Pereira, lançado no mesmo ano de sua morte, 1955, por Cyro Monteiro. Uma sequência que o próprio Geraldo tencionava fazer, reabilitando o personagem, o que não se concretizou em virtude de sua morte prematura.  Esta é a homenagem que o GRB presta ao “Catedrático do Samba”, Germano Mathias, que soube dar a volta por cima e continua a receber os aplausos que bem merece, como um dos melhores intérpretes do samba paulista!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.
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Carmen Costa & Henricão – Seleção 78 RPM do Toque Musical – Vol. 75 (2013)

Em sua edição de número 75, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva dedicada à grande cantora Cármen Costa (1920-2007). Agora, apresentamos aqui sete gravações que ela fez com o cantor e compositor Henricão, pessoa importantíssima em sua carreira, e cuja história de vida conheceremos agora. Henrique Felipe da Costa nasceu em Itapira, interior de São Paulo, no dia 11 de janeiro de 1908, e, por conta da alta estatura (quase dois metros!), ganhou o apelido de Henricão. Em certa época, ganhava a vida como motorista de uma “socialite” que morava na Rua Augusta, e considerava sua a família da própria patroa, que muito o admirava. Cantou em circos, parques de diversões, rádios e festas populares do Nordeste, sozinho ou em dupla com algumas parceiras, a mais famosa, evidentemente, Cármen Costa, que obteve muito mais êxito de público e mídia do que ele, seu lançador. Além das adaptações de “Cielito lindo’ (“Está chegando a hora”) e “Caminito” (“Carmilito”), Henricão assina composições juntamente com Rubens Campos (o parceiro mais constante), Bucy Moreira, Caco Velho e Príncipe Pretinho, entre outros.  Entre suas várias parceiras de cantorias, antecessoras de Cármen Costa, destacam-se a paulistana Risoleta – que faria sucesso no teatro de revista, só e desacompanhada – e a carioca Sarita. Embora tenha composto inúmeras músicas de sucesso , tais como “Só vendo que beleza”, e sua sequência “Casinha da Marambaia” (até hoje muitos pensam que é esse o título da primeira música) e mesmo famoso, Henricão sempre enfrentou dificuldades financeiras, passando fome, mas era constantemente ajudado por amigos,  e levava a vida sempre com otimismo e esperança.  Trabalhou também como ator de cinema, em filmes como “Sinhá moça” (1953), “A estrada” (1956), “Uma certa Lucrécia” (1957), “Cidade ameaçada” (1960), “O puritano da Rua Augusta” (1965),  “Betão Ronca Ferro” (1970) e “Jeca e seu filho preto” (1978), os três últimos produzidos e estrelados pelo eterno jeca, Mazzaropi, com quem também contracenou em “O gato de madame” (1956). Na televisão, atuou na novela “Os imigrantes”  (1981), maior sucesso da Rede Bandeirantes no gênero, e na minissérie “O tronco do ipê” (1982), da TV Cultura de São Paulo, Já tinha feito também alguns episódios do “Vigilante rodoviário” (1961-62), primeiro seriado de TV produzido no Brasil. Seu último trabalho em disco foi o álbum “Recomeço”, lançado pela Eldorado em 1980, e no qual reencontrou a antiga parceira Cármen Costa. Em 1984, já no final de sua vida, foi eleito o primeiro Rei Momo negro da história do carnaval de São Paulo. Faleceu em 11 de junho do mesmo ano, também em São Paulo, de enfarte, aos 76 anos.
Neste volume do GRB,  apresentamos sete  gravações que Henricão fez em dueto com Cármen Costa. Abrindo a seleção, “Samba, meu nêgo”, de Bucy Moreira e Miguel Baúso, lançado pela Columbia em julho de 1941 com o n.o 55286-A, matriz 421. Depois tem “Onde está o dinheiro?”, samba de Henricão sem parceria, em gravação Odeon de 24 de maio de 1939, lançada em  agosto seguinte com o n.o 11749-A, matriz 6105. “Não quero conselho”, samba de Príncipe Pretinho e Constantino “Secundino” Silva, foi gravado na Columbia em 19 de julho de 1940 e lançado em agosto do mesmo ano com o n.o 55239-B, matriz 308. “Não posso viver sem você”, samba da parceria Henricão-Rubens Campos, é o lado B de “Samba, meu nêgo”, matriz 422. “Não dou motivo”, de Max Bulhões e Felisberto Martins, é outro  lado B, este  de “Onde está o dinheiro?”, matriz 6106. “Dance mais um bocado”, de Henricão e Príncipe Pretinho, é o  lado A de “Não quero conselho”, matriz 307. E, para encerrar, a marchinha “A festa é boa”, dos inseparáveis Henricão e Rubens Campos, gravação Victor de 19 de dezembro de 1942, lançada um mês antes do carnaval de 43, em janeiro, disco 80-0045-B, matriz S-052661. Esta é a homenagem do GRB a esses dois nomes importantíssimos na história de nossa música popular.  Até a próxima!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Carmem Costa – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 74 (2013)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 74. Desta vez, apresentamos a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada a uma das maiores cantoras do Brasil, Cármen Costa. Carmelita Madriaga, seu nome na pia batismal, nasceu na pequena cidade de Trajano de Morais, Estado do Rio de Janeiro, no dia 5 de janeiro de 1920. Seus pais eram meeiros (agricultores que trabalham em terras que pertencem a outras pessoas) na Fazenda Agulha, onde a nossa Carmelita, ainda criança, começou a trabalhar como empregada doméstica, em casa de uma família de protestantes. Foi lá que aprendeu hinos religiosos, assim demonstrando seu talento de cantora. Em 1935, vem a inevitável mudança para o Rio de Janeiro, e, com apenas 15 anos, empregou-se como doméstica na residência de nada mais nada menos que Francisco Alves.  É ele quem incentivará Carmelita a seguir carreira artística, fazendo-a cantar numa festa para os convidados, entre eles outra Cármen famosa, a Miranda. Carmelita, em seguida, apresenta-se como caloura no programa do sempre rigoroso Ary Barroso, saindo-se vencedora, e em gravações começou participando de coros em gravações dos “medalhões” da MPB de então. Em 1937, Carmelita conhece o compositor Henricão (Henrique Filipe da Costa), que a batiza artisticamente como Cármen Costa e com quem inicia sua carreira profissional, apresentando-se em feiras de amostras como a do Arraial do Rancho Fundo (Juiz de Fora, MG). Em 1939 Cármen e Henricão se apresentam juntos numa feira de amostras da Praça Quinze, no Rio de Janeiro, ao lado dos maiores cartazes da época (Irmãs Pagas, Alvarenga e Ranchinho, Cármen e Aurora Miranda, etc.). Gravam discos em dupla, cujas músicas iremos apresentar em nosso próximo volume. No carnaval de 1942, consegue seu primeiro grande sucesso com “Está chegando a hora”, presente nesta seleção. Alguns de seus hits: “Só vendo que beleza”, “Carmilito” (também aqui presentes), “Chamego”, “Busto calado”, “Quase”, “Marcha do Cordão da Bola Preta (Segura a chupeta)”, “Tem nêgo bebo aí”, “Cachaça”,  “Jarro da saudade”, “Eu sou a outra”, “Obsessão”, etc. Em 1945, casa-se com o americano Hans Van Koehler, e vai viver com ele nos EUA, onde passa uma temporada em Los Angeles e até trabalha como prensadora de discos na RCA Victor! Ela também participou do histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall de Nova York, em 1962, marco da internacionalização do movimento.  Ao voltar para o Brasil, nos anos 1950, conhece o compositor Mirabeau Pinheiro, com quem viveu por cinco anos e teve sua única filha, Silésia, também conhecida como Lu. Entre 1959 e 1963, excursiona por diversos países e passa temporadas no Brasil, voltando aos EUA em 1964, e atua em vários shows ao laod do acordeonista Sivuca.  Cármen retorna definitivamente à nossa terra no início dos anos 1970, cantando em boates do Rio e de São Paulo. Também gravou muitos LPs, inclusive um de ladainhas e benditos.  Apareceu cantando em filmes, tais como “Pra lá de boa” (1949), “Carnaval em Marte” (1955), “Depois eu conto” (1956) e “Vou te contá” (1958). Em 2003, por iniciativa do Museu da República, é “tombada” como patrimônio cultural do Brasil, através de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal do Rio. Sua última gravação foi com o cantor Elymar Santos, de quem era convidada especial em alguns shows. Cármen Costa faleceu em 25 de abril de 2007, no Rio de Janeiro, de insuficiência renal e  parada cardíaca. Mas será sempre lembrada como uma de nossas maiores intérpretes femininas. Nesta primeira parte do retrospecto que a ela dedicamos, apresentamos  onze de suas melhores gravações como solista, todas pela Victor.  E começamos muito bem, com o samba “Só vendo que beleza”, de Henricão e Rubens Campos, gravação de 19 de fevereiro de 1942, lançada em abril seguinte com o n,o 34892-B, matriz S-052483 (regravado inclusive por Elis Regina). É claro que iremos também ouvir, na faixa 5, o lado A, justamente o clássico “Está chegando a hora”, adaptação em ritmo de samba que, feita pelos mesmos Henricão e Rubens Campos, da canção rancheira mexicana “Cielito Lindo”, composta em 1882 por Quirino Mendoza e Cortés (c.1859-1957) e abriu as portas do estrelato para Cármen Costa. Como não conseguissem gravar a música, Henricão e Cármen  pagaram uma tiragem particular na Victor, distribuída somente às emissoras de rádio (gravação de 30 de dezembro de 1941, matriz R-236). Mesmo divulgada precariamente, “Está chegando a hora” obteve sucesso no carnaval de 1942, o que convenceu a Victor a contratar Cármen Costa e a relançar essa mesma matriz, agora em tiragem comercial. Até hoje a música é sucesso no carnaval e em qualquer ocasião em que se precise de uma canção de despedida. Henricão e Rubens assinam também “Siga seu destino”, samba gravado por Cármen em 15 de março de 1946 e lançado em  maio seguinte com o n.o 80-0403-A, matriz S-078443. “Não me abandone”, outro samba dessa dupla inseparável, aqui em companhia de José Alcides, foi gravado por Cármen em 24 de novembro de 1943, com lançamento um mês antes do carnaval de 44, janeiro, sob n.o 80-0153-B, matriz S-052889. Dos mesmos Henricão e Rubens é o samba “Já é de madrugada”, gravação de 10 de fevereiro de 1943 lançada em abril do mesmo ano, disco 80-0071-B, matriz S-052717. De Bucy Moreira (ilustre neto da lendária Tia Ciata), Carlos de Souza e Antônio Morais é o samba “Festa na roça”, gravação de 5 de agosto de 1942 lançada em outubro seguinte com o n.o 80-0004-B, matriz S-052591. “Chorei de dor” é outra adaptação de Henricão e Rubens Campos, em ritmo de samba,  de canção internacional, esta americana, de autoria de Kennedy e Carr, gravada por Cármen em 24 de novembro de 1943 e lançada em janeiro de 44 (para o carnaval, claro) com o n.o 80-0153-A, matriz S-052888. O samba “Casinha da Marambaia” vem a ser a continuação de “Só vendo que beleza”, dos mesmos Henricão e Rubens, e Cármen irá imortalizar esta sequência  no selo do cachorrinho Nipper em  15 de fevereiro de 1944, com lançamento em abril, sob n.o 80-0172-B, matriz S-052927. Em seguida, temos a adaptação sambística, feita por Henricão, para o tango argentino “Caminito”, de Juan de Diós Filiberto. Rebatizada “Carmilito”, é o lado A de “Festa na roça”, matriz S-052590. Depois, Henricão assina com Príncipe Pretinho o samba “Caramba”, destinado ao carnaval de 1943, gravação de 19 de novembro de 42 lançada um mês antes da folia, em janeiro, com o n.o 80-0045-A, matriz S-052660. Completando o programa, o samba-exaltação “Bahia, terra santa”, dos inseparáveis Henricão e Rubens Campos, gravação de 15 de março de 1946, lançada em julho seguinte sob n.o 80-0412-A, matriz S-078445. E na próxima semana, apresentaremos as gravações feitas por Cármen Costa em dueto com Henricão. Encontro marcado! Até lá…
* Texto de Samuel Machado Filho

Odete Amaral (Parte 2) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 73 (2013)

Estamos de volta com o Grand Record Brazil, apresentando a segunda parte da retrospectiva que estamos dedicando à “voz tropical do Brasil”, Odete Amaral  (1917-1984). Desta feita, apresentamos  onze gravações desta intérprete notável, dona de bela voz.  E começamos muito bem, apresentando um samba do grande Geraldo Pereira, em parceria com Ari Monteiro, “Carta fatal”, gravação Odeon de 5 de abril de 1944, lançada em junho do mesmo ano, disco 12450-B, matriz 7537. A faixa seguinte, “Na chave do portão”, é de autoria de Djalma Mafra e Alberto Maia. Este samba foi gravado na Victor em 29 de novembro de 1945, e lançado bem em cima do carnaval de 46, em fevereiro, com o número 80-0382-B, matriz S-078404. O samba “Sorris de mim” é de Babaú da Mangueira (Waldemiro José da Rocha, 1914-1993) e João da Baiana, gravação Victor de 9 de julho de 1940, lançada em setembro seguinte com o número 34657-B, matriz 33463. Voltando à Odeon, apresentamos a marchinha “Salve o inventor da mulher”, gravação de 13 de outubro de 1944, lançada um mês antes do carnaval de 45, em janeiro, com o número 12535-B, matriz 7681. João da Baiana, agora sem parceiro, assina o samba “É melhor confessar do que mentir”, gravado na Victor em 14 de dezembro de 1937 e lançado bem em cima do carnaval de 38, em fevereiro, disco 34283-A, matriz 80626. Geraldo Pereira se faz de novo presente, agora em parceria com Arnô Provenzano, com o samba “Resignação” , lado A do Odeon 12330, gravado em 2 de junho de 1943 e lançado em julho do mesmo ano, matriz 7305. O mestre Ary Barroso também bate ponto aqui com um dos maiores hits da carreira de Odete, o samba “A batucada começou”, por ela gravado na “marca do templo” em 24 de abril de 1941 e lançado em junho seguinte com o número 11999-A, matriz 6627. “Só você” é um samba-canção de Hanibal Cruz (tio de Vinícius de Moraes e parceiro de Vicente Paiva no clássico “Diz que tem”,  hit de Cármen Miranda em 1940), gravado por Odete na Victor em 25 de maio de 1937 e lançado em julho do mesmo ano, disco 34183-B, matriz 80418. De José Alvarenga, o Alvarenguinha, e Marcílio Vieira, é o samba “Lágrimas sentidas”, gravado por Odete na marca do cachorrinho Nipper em 21 de julho de 1937 e lançado em dezembro seguinte, visando o carnaval de 38, sob número 34241-A, matriz 80550. Temos em seguida um retumbante sucesso da cantora nesse mesmo carnaval, a bem-humorada marchinha “Não pago o bonde”, dos mestres J. Cascata e Leonel Azevedo, que Odete imortalizou no dia seguinte, 22 de julho de 1937, e a Victor lançou também em dezembro, com o número 34256-A, matriz 80551. É uma crônica do tempo em que o bonde era o principal meio de transporte no Rio de Janeiro. Se habitualmente os passageiros já procuravam fugir ao pagamento da passagem, em tempo de carnaval era quase inútil atender ao apelo (“por favor”), do cobrador, geralmente português. Alguns se atreviam a desafiar o coitado, pedindo “mande a Light me cobrar”. Na época, a empresa, conhecida como “polvo canadense”, era concessionária do serviço de bondes na então Capital Federal.  Para encerrar, em clima de conto de fada, temos o samba “A bela adormecida”, samba de outra festejada dupla de autores, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr., gravação Victor de 26 de abril de 1938, lançado em junho do mesmo ano sob número 34324-B, matriz 80766, e evidentemente baseado na famosa história do escritor francês Charles Perrault. Em algumas gravações da Victor aqui incluídas, vale ressaltar, quem acompanha Odete Amaral é a orquestra Diabos do Céu, formada e dirigida pelo mestre Pixinguinha. E é com muita alegria que o GRB apresenta a segunda parte desta retrospectiva dedicada àquela que será para sempre “a voz tropical do Brasil”!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO
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Odete Amaral (Parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 72 (2013)

Esta semana o Grand Record Brazil apresenta a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada à cantora que ganhou o slogan de “a voz tropical do Brasil”: Odete Amaral.  Nossa biografada veio ao mundo na cidade de Niterói, litoral fluminense, no dia 28 abril de 1937, e era a filha caçula do casal de lavradores Alfredo Amaral e Albertina Ferreira do Amaral. Quando ela tinha um ano de vida, a família mudou-se para o Rio, então a Capital da República, onde seu pai se empregou como caminhoneiro.  Aos seis anos, ingressou no Colégio Uruguai, onde fez o curso primário completo. Em 1929, empregou-se como bordadeira na Américas Fabril, continuando seus estudos no período noturno. Dona de bela e primorosa voz, era sempre convidada a cantar no teatro da escola, e em festas de aniversário. Foi aí que sua irmã, que sempre a admirava, e muito, levou-a para a Rádio Guanabara, em 1935, para fazer um teste.  Acompanhada pelo pianista Felisberto Martins, interpretou o samba “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente, hit de então na voz de Cármen Miranda. Aprovada pelo diretor da emissora, Alberto Manes, Odete é de pronto escalada para o ”Programa suburbano”,  onde também batiam ponto nomes como Sílvio Caldas, Maríla Batista, Noel Rosa, Linda e Dircinha Batista, e Almirante. Por iniciativa deste último, passa a se apresentar também na Rádio Clube do Brasil. Ainda em 1935, participa da inauguração do Cassino Atlântico e apresenta-se em rádios como Ipanema, Sociedade, Philips e Cruzeiro do Sul, além de atuar em uma revista no Teatro João Caetano interpretando a marchinha “Ganhou mas não leva”, de Mílton Amaral. É ele quem assina as músicas do primeiro disco de Odete, gravado na Odeon em 1936, apresentando os sambas “Palhaço” (parceria com Roberto Cunha) e “Dengoso”.  No mesmo ano, assina seu primeiro contrato profissional, com a Rádio Mayrink Veiga, e participa do filme “Bonequinha de seda”, produção da Cinédia, onde, um ano depois, fará outra produção cinematográfica, “O samba da vida”. Ainda em 1936, participa da inauguração da PRE-8, Rádio Nacional, e é levada por Ary Barroso para a Victor, onde ela estreia com duas músicas do mestre de Ubá  para o carnaval de 1937, a marchinha “Colibri” e a batucada “Foi de madrugada”.  Em 1938, casou-se com o cantor Cyro Monteiro, da união, que durou onze anos, resultando um filho, Cyro Monteiro Júnior. Odete e Cyro fariam inúmeras apresentações juntos por todo o país. A cantora teve também uma curta passagem pela Columbia, voltando à Odeon em 1941. Gravou ainda nos selos Star, Todamérica, Polydor, Copacabana, RMS e Carper, entre outros. Entre seus hits destacam-se “Não pago o bonde”, “Murmurando” , “A batucada começou” e “Chicletes com banana”.  Em 1939, Odete Amaral muda-se para São Paulo, contratada pela Rádio Cultura, onde permanece um ano e meio, e em 1941 volta ao Rio de Janeiro natal e à Rádio Mayrink Veiga, onde permanece seis anos, indo depois para a Mundial e, em 1951, para a Tupi (“o cacique do ar”).  Gravou também LPs, e um dos mais interessantes foi “Do outro lado da vida – Os que perderam a liberdade contam sua história”, ao lado do filho Cyro Monteiro Júnior, em que ambos interpretam músicas compostas por presidiários do Rio e de São Paulo. Em 1968, gravou o álbum “Fala, Mangueira!”, a lado de Cartola, Carlos Cachaça, Nélson Cavaquinho e Clementina de Jesus. Em 1975, participou de uma série de 30 programas da Rádio MEC, “MPB 100 ao vivo”, na qual, ao lado de Paulo Marquês, interpretava hits dos anos 1930. Da série resultaram oito álbuns produzidos por Ricardo Cravo Albim. Em 1977, Odete e Paulo, mais o flautista Altamiro Carrilho, participam do show “Café Nice”, igualmente produzido por Cravo Albim. Falecida no dia 11 de outubro de 1984, aos 67 anos, Odete Amaral, embora não tenha atingido o estrelato de outras cantoras de sua época  (Cármen Miranda, Aracy de Almeida, irmãs Batista), é ainda hoje considerada uma das melhores intérpretes brasileiras dos anos 1930 e de todos os tempos. E isso começaremos a constatar nesta primeira parte da retrospectiva que o GRB lhe dedica, apresentando 12 gravações suas na Odeon e na Victor. Para começar, a divertida marchinha “Vitaminas”, de Amaro Silva, Djalma Mafra e Domício Augusto, gravação Odeon de 11 de novembro de 1942, lançada em janeiro de 43, para o carnaval, logicamente, com o número 12244-A, matriz 7137 (a vitamina T, de trabalho, ainda incomoda muita gente…). Temos também aqui, na faixa 5, o verso desse disco, matriz 7131: o samba “Você quis”, de Nicola Bruni e Alvaiade, gravado seis dias antes, ou seja, a 5 de novembro. A faixa 2 nos traz o sambatucada  “É mato”, também de Alvaiade, agora com Wilson Batista, gravação Odeon de 13 de outubro de 1941, lançada em dezembro seguinte para a folia de 42, disco 12071-B, matriz 6806. Geraldo Pereira e Djalma Mafra assinam o samba da faixa 3, “Jamais acontecerá”, gravado por Odete na “marca do templo” em 9 de novembro de 1943 e lançado em janeiro de 44, também para o carnaval, sob n.o 12398-B, matriz 7421. A faixa 4 é o samba “Vem, amor”, de Jorge de Castro, Isaías Ferreira e Enézio Silva, gravado igualmente na Odeon em 4 de novembro de 1953 e lançado para a folia momesca de 54, em janeiro, disco 13580-B, matriz 9963. Na faixa 6, temos uma marchinha de meio-de-ano, “Eta Rio”, de Nicola Bruni, Alvaiade A. F. Silva, gravada em 20 de agosto de 1943 e lançada pela Odeon em outubro seguinte com o n.o 12359-A, matriz 7365. O samba “Por causa de alguém” leva a respeitável assinatura de Ismael Silva, em gravação de 6 de abril de 1942, lançada pela “marca do templo” em junho seguinte com o n.o 12157-B, matriz 6932. Da fase de Odete Amaral na Victor é “Chinelo velho”, samba de Wilson Batista e Marino Pinto, gravação de 14 de outubro de 1940, lançada ainda em dezembro para o carnaval de 41, disco 34683-B, matriz 52023. O lírico samba-canção “História de criança”, também de Wilson Batista, agora em parceria com Germano Augusto, teve sua gravação em  10 de maio de 1940, com lançamento pela marca do cachorrinho Nipper em julho seguinte sob n.o 34683-B, matriz 33426. Em seguida temos o lado A, matriz 33425, outra composição do mestre Wilson Batista com Marino Pinto, o samba “Depois da discussão”.  Wilson Batista também assina, agora com outro mestre, Ataulfo Alves, o samba “Quando dei adeus”, gravação Victor de 18 de novembro de 1939, lançada em janeiro de 40 para o carnaval sob n.o 34558-B, matriz 33281. Para finalizar, e também em clima carnavalesco, a marchinha “O gato e o rato”, outra música de Wilson Batista, agora acompanhado por Arnô Canegal e Augusto Garcez, também para a folia de 1940, gravada igualmente na Victor em 24 de outubro de 39 e lançada um mês antes do carnaval, em janeiro, sob n.o 34542-A, matriz 33241. E semana que vem a gente se encontra com mais Odete Amaral. Até lá!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

12 Toques Musicais Com Oscar Castro Neves (2013)

Boa noite, amigos cultos e ocultos. Aqui estamos em mais um domingo, hoje, inesperadamente chuvoso. Aproveito que tudo está calmo, para preparar minha homenagem a um dos grandes nomes da geração Bossa Nova, Oscar Castro Neves, falecido há dois dias atrás, Infelizmente, lá se foi mais um importante músico brasileiro. Este é um que eu não poderia deixar de lembrar em nosso toque musical. Criei assim esta pequena coletânea com músicas extraídas de alguns de seus discos. Podia ter sido mais extensa a coletânea, mas preferi me conter em apenas doze músicas, visto que seus discos se encontram a venda (no mercado internacional, claro). O importante é termos deixado aqui a nossa homenagem. Valeu, Oscar Castro Neves!

manhã de carnaval – prelude #3
zelão
caruso
por causa de você
chega de saudade
canto triste
feitico da vila
auda de matemática
coisa mais linda
groovin’ high-whispering
samba de uma nota só
feitio de oração
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Geraldo Pereira – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 70 (2013)

Chegamos à edição de número 70 do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Desta vez focalizamos outro grande sambista que marcou época na história de nossa música popular: Geraldo Pereira.  Geraldo Teodoro Pereira (seu nome completo na pia batismal) nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 23 de abril de 1918. Ainda criança, com 10 ou 12 anos, foi para o Rio de Janeiro, levado por seu irmão mais velho, Mané Araújo, filho do primeiro casamento de sua mãe. Mané era ferroviário e sanfoneiro, residente no lendário morro de Mangueira, onde Geraldo foi criado. Além disso, o Mané era dono de uma birosca e uma espécie de xerife de sua localidade. Ali, seu irmão Geraldo cresceu ouvindo samba e depois participando das rodas no meio dos bambas e valentes. Fez o curso primário (que não se sabe se chegou a concluir) em uma escola da Rua Oito de Dezembro, na Vila Isabel, de onde saía para entregar marmitas. Mais tarde, aos 14 anos, trabalha nas proximidades do morro, até que, por volta de 1936, consegue um emprego de motorista de caminhão da limpeza urbana. Nessa época, já arranhava seu violão – que aprendera a tocar com Aluízio Dias e com o mestre Cartola, moradores da Mangueira -, fazia acompanhamentos e começava a compor seus sambas, segundo depoimentos de contemporâneos.  Em 1939, o cantor Roberto Paiva é procurado por Nélson “Gravatinha” Teixeira, que queria apresentá-lo a um compositor novo, insistindo para que ouvisse a música que tinha composto com ele. Era o samba “Se você sair chorando”, que acabou sendo a primeira composição gravada de Geraldo Pereira, e foi hit no carnaval de 1940. Nesse meio tempo, conhece a grande paixão de sua vida: Isabel, inspiradora de alguns de seus antológicos sambas. De espírito boêmio e mulherengo, Geraldo foi um inovador do samba, e compôs sucessos inesquecíveis, com ou sem parceiros: “Acertei no milhar”, “Falsa baiana”, “Escurinho”, “Chegou a bonitona”, “Pisei num despacho”, “Quando ela samba”, “Escurinha”, “Sem compromisso”, “Você está sumindo”, etc. Geraldo Pereira faleceu em 8 de maio de 1955, em consequência de uma hemorragia, provocada por uma briga mal explicada com Madame Satã, lendário personagem da Lapa, quando teria batido com a cabeça no meio-fio, na porta do restaurante Capela.  Como intérprete, segundo José Ramos Tinhorão, Geraldo Pereira “tinha perfeita noção de ritmo, coerência da forma escolhida para traduzir o sentido dos versos, valorização da melodia e, acima de tudo, caráter e estilo próprio na forma de interpretar”. É o que iremos comprovar nesta edição do GRB, que focaliza o Geraldo cantor, apresentando 12 preciosas gravações de músicas, não apenas dele próprio, como também de outros autores, e todas sambas. Para começar, tem “Olha o pau peroba”, de Bucy Moreira e Albertina da Rocha, lançado pela Columbia em janeiro de 1954 para o carnaval desse ano, disco CB-10010-A, matriz CBO-147. Depois, temos “Domingo infeliz”, de Arnaldo Passos e Abelardo Barbosa (sim, o lendário Chacrinha!), lançado pela Sinter em agosto de 1951, disco 00-00.071-A, matriz S-136. No verso, matriz S-150, Geraldo Pereira mostra sua faceta de cronista do dia-a-dia, como parceiro do mesmo Arnaldo em “Ministério da Economia”, alusão à criação da pasta pelo então presidente Getúlio Vargas, na qual acreditava que com esse ministério tudo ficaria mais barato…  “Ela” é de Arnaldo Passos e Osvaldo Lobo, lançado pela mesma Sinter em dezembro de 1950, disco 00-00.021-B, matriz S-48. Foi em seguida escalado o lado A, matriz S-47, o samba-canção “Pedro do Pedregulho”, do próprio Geraldo sem parceiro. Embora seja considerado uma tentativa de adaptação ao gosto comercial vigente nessa época, é uma das melhores criações de Geraldo Pereira, inspirado em uma figura real, um valente da Mangueira chamado Pedro Veneno, conforme depoimento de Carlos Cachaça. Apresenta também um tema presente em outras obras de Geraldo, o do malandro regenerado. Esteve presente também no segundo LP lançado pela Sinter, o 10 polegadas “Parada de sucessos”, já oferecido aos amigos cultos, ocultos e associados do Toque Musical.  A faixa seguinte, “Fiz tudo”, é de Raimundo Olavo e Geraldo Queiroz, em gravação RCA Victor de 13 de agosto de 1952, lançada em outubro do mesmo ano, disco 80-1003-A, matriz SB-093398. Aqui também está presente o lado B, “Tombo no chapéu”, de Alberto Rego e Arnaldo Passos, matriz SB-093399. “Falso patriota” é de David Raw e Victor Simon (o autor dos clássicos “Vagabundo” e “Bom dia, café”), e foi gravado por Geraldo na RCA Victor em 26 de junho de 1953, indo para as lojas em setembro seguinte com o n.o 80-1192-A, matriz BE3VB-0185. O tema do falso nacionalista, consumidor exclusivamente de produtos importados, presente aqui, seria retomado em 1962 por Billy Blanco no samba “João da Silva”. Desse disco RCA Victor também foi escalado o verso, matriz BE3VB-0186: o divertido “Cabritada mal sucedida”, do próprio Geraldo com Wilton Wanderley. “Maior desacerto”, samba do próprio Geraldo mais Ary Garcia e A. J. C. Silva Jr., é o lado B de “Olha o pau peroba”, disco Columbia CB-10010, editado em janeiro de 1954 para o carnaval, matriz CBO-148. Para finalizar, as duas faixas do Columbia CB-10070, lançado em agosto de 1954: o samba-choro “Professor de natação”, de Avarese (Abimael Nascimento Álvares, pernambucano do Recife) e Maurílio Santos, matriz CBO-269, e  o samba “Juraci”, do próprio Geraldo sem parceiro, matriz CBO-270. É a homenagem do GRB e do TM ao grande sambista que foi Geraldo Pereira. E logo, logo a gente volta a focalizá-lo aqui, tá?
*Texto de  SAMUEL MACHADO FILHO.

A Música De Cartola – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 68 (2013)

Em sua sexagésima-oitava edição, o Grand Record Brazil nos brinda com as primeiras composições gravadas de um grande nome do samba e da MPB. Estamos falando de Cartola. Angenor de Oliveira – que só por ocasião de seu casamento com Zica (Euzébia Silva do Nascimento) descobriria que seu pré-nome era Angenor e não Agenor, como vinha assinando – nasceu em 11 de outubro de 1908, na Rua Ferreira Viana n.o 9, no bairro do Catete, Rio de Janeiro. Era o primeiro dos oito filhos do primeiro casamento de Sebastião, com Aída. Aos oito anos, foi morar na Rua das Laranjeiras e teve despertado seu interesse pela música no contato com ranchos e clubes de operários e, ora, pois, pois, portugueses. Quando ele tinha 11 anos, a situação da família piorou, fazendo com que se mudasse para o morro da Mangueira, então ainda com características rurais e pouquíssimo habitado. Aí conhece Carlos Cachaça (1902-1999), marcando o início de uma estreita e duradoura amizade, inclusive na música, sendo parceiros de grandes sambas. O primeiro emprego de Cartola, primeiro de muitos trabalhos humildes, foi numa modesta tipografia. Na profissão de pedreiro, ele passou a usar um chapéu-coco a fim de proteger o cabelo do reboco, daí nascendo o pseudônimo com que ficou para a posteridade. Com apenas 18 anos, amasia-se com Deolinda (que era casada, tinha uma filha e era sete anos mais velha que ele!). Integrado na roda dos batuqueiros, integra a formação, anos depois, do Bloco dos Arengueiros, cujo maior prazer entre seus componentes era promover arruaças, fazendo jus ao nome. Um dia, porém, seus componentes concluem ser chegada a hora de acalmar os nervos, sem perder a finalidade musical. Assim nasceu, em 1928, a lendária Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, cujas cores, verde e rosa, foram adotadas por sugestão do próprio Cartola (eram as mesmas cores do Rancho dos Arrepiados, por ele frequentado no tempo em que morara na cidade).  Entre 1929 e 1933 teve suas primeiras oito composições gravadas, cinco por Francisco Alves , o maior cantor da época, uma por Cármen Miranda, uma por Sílvio Caldas e uma pelo iniciante Arnaldo Amaral. Essa primeira fase de músicas gravadas seria interrompida, pois os rendimentos eram parcos, e Cartola dedicou-se apenas a compor para sua querida Mangueira, da qual se tornou figura lendária, lançando esporadicamente em disco um ou outro samba, inclusive gravando para o maestro Leopold Stokowski, em 1940, o samba “Quem me vê sorrir” (ou “Quem me vê sorrindo”), parceria com Carlos Cachaça, registro que na época só saiu nos EUA.  Nos anos  40, teve inúmeras dificuldades, tanto financeiras quanto pessoais, abalado pelo falecimento de sua Deolinda e gravemente doente. Nessa ocasião, Cartola se afasta da Mangueira e chega até a ser dado como morto. Em meados da década de 1950, o jornalista e escritor Sérgio Porto o redescobre na penúria, como lavador de carros numa garagem de Ipanema. Sérgio anuncia a boa nova de que Cartola ainda vivia, e lhe arranja um emprego menos árduo. Aos poucos, o mestre mangueirense começa sua reintegração ao meio musical. É quando se casa com sua querida Dona Zica, bela cabrochinha de olhos brilhantes, e também exímia e celebrada cozinheira. Ambos instalam, num antigo casarão da Rua da Carioca, o lendário restaurante Zicartola, que funcionou de 1963 a 1965, tornando-se ponto de encontro de sambistas de morro com nomes ditos elitizados , dando também oportunidade para o surgimentos de novos valores, Cartola comandando o samba e Dona Zica o “rango”. Entre suas composições mais conhecidas destacam-se “O sol nascerá”, “As rosas não falam”, “Acontece”, “O mundo é um moinho”, “Sim” e “Alvorada”. Entre 1974 e 1978, Cartola grava quatro LPs, dois pela Marcus Pereira e outros dois pela RCA, bastante elogiados pela crítica e bem acolhidos pelo público. Cercado do respeito e reconhecimento gerais, faleceu em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, sendo seu corpo velado na sede da Mangueira com todas as homenagens, e sepultado no cemitério do Caju.

Para esta edição do Grand Record Brazil, foram selecionadas nove faixas, gravadas em 78 rpm.  Abrindo esta seleção, temos a primeira composição gravada de Cartola, “Que infeliz sorte!”, lançada pela Odeon em dezembro de 1929, na voz de Francisco Alves, disco 10519-A, matriz 3095. Mário Reis chegou a adquirir os direitos de gravação deste samba por 300 mil-réis, mas preferiu repassá-lo ao Rei da Voz. Em seguida, Cármen Miranda, já então “o maior nome feminino da fonografia nacional”, interpreta “Tenho um novo amor” gravação Victor de 11 de maio de 1932, lançada em julho seguinte sob n.o 33575-B, matriz 65486, com acompanhamento do mestre Pixinguinha, à frente do Grupo da Guarda Velha.  É uma parceria de Cartola com Noel Rosa, não creditado no selo e na edição. Vem também a ser o caso das faixas seguintes, interpretadas por Francisco Alves e por ele gravadas na Odeon: “Não faz, amor”, gravação de 7 de julho de 1932, disco 10927-A, matriz 4481, e “Qual foi o mal que eu te fiz?”, imortalizado pelo Rei da Voz em 30 de dezembro de 32 mas só lançado em maio de 1933 sob n.o 10995-B, matriz 4574. Noel e Cartola, sem dinheiro, procuraram Chico Alves no Largo do Maracanã e lhe pediram algum. Chico concordou, desde que cada um fizesse um samba naquele momento. Foi aí que compuseram “Qual foi o mal que eu te fiz?”, com toda a segunda parte de Noel, que nessa ocasião fez sozinho “Estamos esperando”, gravado por Chico em dupla com Mário Reis. No dia 3 de janeiro de 1933, Francisco Alves retorna aos estúdios da Odeon para gravar outro samba de Cartola, agora sem parceiro: “Divina dama”, que será lançado logo em seguida com o número 10977-B, matriz 4575, constituindo-se no maior sucesso da primeira fase de composições gravadas do poeta mangueirense.  A faixa seguinte, “Na floresta”, foi gravação de Sílvio Caldas, parceiro de Cartola neste samba, em  13 de julho de 1932, matriz 65546, mas a Victor só o lançou em outubro de 33 com o n.o 33712-A. Isso em virtude de atritos entre Sílvio e Francisco Alves. Bucy Moreira compôs um samba chamado ‘Foi um sonho”, do qual Chico Alves gostava da letra, mas não da melodia. Então o Rei da Voz encaixou a de “Na floresta”, deixando a letra de lado. Os versos seriam musicados e gravados por Sílvio Caldas, e Francisco Alves, evidentemente, surtou e quis impedir o lançamento do disco. Mas Sílvio Caldas convenceu o Rei da Voz de que ele tinha comprado apenas a melodia: “Você deixou a letra de lado e o Cartola precisa ganhar dinheiro!” E Chico deixou os atritos também de lado…  A faixa seguinte é “Não posso viver sem ela”, parceria de Cartola com Alcebíades “Bide” Barcelos, gravada na Odeon por Ataulfo Alves, à frente de sua Academia de Samba, em 27 de novembro de 1941, com lançamento bem em cima do carnaval de 42, fevereiro, sob n.o 12106-B, matriz 6870. Entretanto, o hit maior desse disco foi o clássico “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo e Mário Lago, que ofuscou esta aqui. O samba-canção “Grande Deus” foi composto por Cartola em 1946, quando contraiu meningite e demorou mais de um ano para se recuperar. Porém, só em agosto de 1958 é que a música foi lançada em disco, na voz do grande Jamelão, pela Continental, sob n.o 17573-A, matriz C-4099. E, para encerrar mais este pequeno-grande programa do GRB, o samba “Festa da Penha”, parceria de Cartola com Asobert (pseudônimo e anagrama de Adalberto Alves de Souza). Foi gravado em 1958 por Ary Cordovil para o extinto selo Vila, em disco de número 10003-A, matriz V-7801-A. A festa em questão acontecia todo ano no mês de outubro, com romaria de fiéis  percorrendo o longo caminho até a igreja (com escadaria e tudo), que até hoje fica bem em cima do morro da Penha, numa demonstração de fé e oportunidade para apresentação de novas músicas, sempre com um olho profano em direção ao carnaval. Esta é a homenagem do GRB ao mestre Cartola, nome que tem seu lugar garantido entre os imortais de nossa música popular.

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO